O Medalhão de Sangue

CASO 2 – Parte 1

Ano: 2010

Local: Marselha, França

Era o fim de tarde, e o porto de Marselha exalava o cheiro de maresia misturado ao óleo dos barcos. Nathan e Leonor haviam sido chamados por um contato antigo da polícia francesa — o inspetor René Vallois.

O caso envolvia o desaparecimento de uma jovem de 17 anos chamada Éloise Moreau, filha de um antiquário.

A loja da família, localizada em um beco estreito da cidade velha, estava fechada há semanas. Segundo o inspetor, o último registro de Éloise era uma filmagem de segurança interna: ela sozinha, na madrugada, conversando com algo fora do enquadramento. Segundos depois, a imagem distorceu e a garota simplesmente… desapareceu.

Leonor, com seu caderno no colo, ouvia René explicar enquanto caminhavam pelo beco.

> — O pai dela jurou que tudo começou quando recebeu uma caixa de prata, muito antiga. Não conseguiu abrir, mas desde então… a menina começou a ter pesadelos, falar em latim, e… — René baixou o tom — …ver coisas.

Nathan parou de andar.

— Caixa de prata? — olhou para Leonor.

Ela respondeu com um olhar frio.

Ao entrarem na loja, o ar estava denso e frio, apesar do verão. Prateleiras repletas de objetos antigos se alinhavam como sentinelas silenciosas. Um crucifixo partido repousava no balcão.

Leonor passou os dedos sobre o pó acumulado e viu marcas no chão — símbolos idênticos aos encontrados no quarto das crianças em Londres.

— Ele está aqui… — murmurou ela.

De repente, um ruído veio do porão. Lento, grave… como madeira arranhando pedra.

O inspetor René levou a mão à arma, mas Nathan o deteve.

— Armas não vão ajudar contra isso.

Eles desceram as escadas de pedra, cada degrau rangendo sob seus pés. A luz do porão piscava intermitente.

No centro do chão, havia um círculo de sal… quebrado. E dentro dele, repousava a caixa de prata. Mas agora… estava aberta.CASO 2 – Parte 2

Ano: 2010

Local: Marselha, França

O círculo de sal no chão estava rompido como se algo tivesse saído com força.

A caixa de prata, aberta, revelava apenas um pano de linho escurecido por manchas antigas. Mas, no centro do pano… um pequeno medalhão de metal negro, frio ao toque, com o mesmo símbolo gravado que eles tinham visto no caso de Londres.

Leonor não se aproximou — seus olhos permaneciam fixos nele.

— Nathan… isso não devia estar aberto.

O inspetor René, confuso, perguntou:

— Aberto? Do que vocês estão falando? Isso é só… um colar velho.

Antes que alguém respondesse, a lâmpada do porão explodiu, mergulhando-os na escuridão.

O silêncio que se seguiu não foi natural — parecia sugado, como se o som tivesse sido arrancado do ar.

De repente, passos começaram a ecoar ao redor deles. Não vinham de um único ponto, mas de todos os cantos, alternando entre lentos e corridos. Algo se movia rápido, mas nunca se mostrava.

Leonor sentiu um toque gelado na nuca e virou-se bruscamente — nada.

Nathan, guiado apenas pela luz fraca da lanterna, puxou seu crucifixo e o ergueu.

— Mostre-se! — ordenou com firmeza.

Uma risada infantil ecoou pelo porão, a mesma que eles tinham ouvido no quarto das crianças em 2009. Só que agora… estava mais próxima, mais clara, como se viesse de uma boca real.

No canto, entre duas prateleiras, uma silhueta começou a se formar: pequena, com cabelos longos e desgrenhados, pele acinzentada… e olhos completamente negros.

Ela inclinou a cabeça, olhando fixamente para Leonor, e sussurrou em latim:

> “Non potes effugere.”

(“Você não pode escapar.”)

O inspetor René, apavorado, apontou a arma — mas antes que pudesse atirar, todas as prateleiras do porão caíram ao mesmo tempo, bloqueando a saída.

O medalhão no chão começou a brilhar com uma luz vermelha intensa, pulsando como um coração.

Leonor, com o caderno nas mãos, olhou para Nathan.

— Se não fecharmos essa caixa agora… a coisa que saiu daqui vai seguir a gente.

CASO 2 – Parte 3 (Final)

Ano: 2010

Local: Marselha, França

O medalhão pulsava no chão, cada batida acompanhada por um impacto invisível que fazia o ar vibrar.

A silhueta infantil deu um passo à frente. Seus pés não tocavam o chão, e a sombra que se projetava atrás dela era muito maior que seu corpo — algo desproporcional, monstruoso.

Nathan retirou um pequeno frasco de água benta e o arremessou sobre o medalhão. O líquido chiou ao contato, liberando um cheiro de metal queimado. A criatura gritou, mas o som era distorcido, como se viesse de muitas bocas ao mesmo tempo.

René, com o rosto pálido, tentava afastar as prateleiras caídas.

Leonor ajoelhou-se e pegou o medalhão com um pano grosso, enquanto recitava em latim a oração que havia usado no Caso 1. O objeto queimava através do pano, como se tivesse vida própria.

De repente, uma força invisível os empurrou contra as paredes. A criatura agora estava no centro do porão, erguendo o rosto para o teto. Uma rachadura se abriu na laje, e um vento gelado começou a puxar tudo para dentro dela — poeira, pedaços de madeira, papéis, até o crucifixo quebrado.

— Leonor, fecha agora! — gritou Nathan.

Com esforço, ela colocou o medalhão de volta na caixa de prata e a fechou com um estalo seco. O vento cessou instantaneamente. A silhueta da criança congelou no ar… e, como vidro rachando, se despedaçou em milhares de fragmentos negros, que desapareceram no nada.

O porão ficou em silêncio. Apenas o som da respiração ofegante deles preenchia o espaço.

René encarou o casal, ainda trêmulo:

— O que diabos… era aquilo?

Nathan pegou a caixa e respondeu:

— Uma peça… de algo que não sabemos o tamanho.

Ao saírem para a rua, a noite de Marselha estava estranhamente calma. Mas, enquanto entravam no carro, Leonor notou algo pelo retrovisor: no alto de um prédio distante, a mesma silhueta infantil, imóvel, olhando na direção deles.

O motor foi ligado.

Eles sabiam que o objeto estava contido…

…mas não destruído.

O arquivo estava fechado.

Por enquanto.

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