Levantei devagar, sentindo o mundo girar.
O enjoo veio como uma onda, quente e desconfortável, ameaçando me derrubar de novo.
Toquei o lugar onde o pingente tinha se fundido à minha pele. A marca estava lá — quente, pulsando — mas não era só isso.
Eu também sentia… pressão.
Como se alguém tivesse amarrado uma corda invisível ao meu peito e estivesse puxando.
Não para machucar, mas para me levar.
Para guiar.
— O que tá acontecendo? — murmurei, a voz tremendo mais de confusão do que de medo.
Segui o puxão, hesitante no começo, depois mais rápido, como se meu corpo soubesse exatamente para onde ir.
E foi então que vi.
Dois.
Dois seres caminhando na minha direção.
— Isso só pode ser brincadeira… — sussurrei, sentindo meu estômago se revirar novamente.
O da esquerda era alto. Muito alto.
O tipo de altura que faria qualquer um precisar olhar duas vezes para confirmar que não estava sonhando.
O corpo… musculoso, desenhado como se a própria guerra tivesse esculpido cada linha.
Braços cobertos por tatuagens de símbolos que eu nunca tinha visto, escritos que pareciam se mover quando a luz da lua os tocava.
Asas pretas com um brilho castanho nas bordas, largas, imponentes.
O cabelo preso num coque bagunçado, como se não tivesse tido tempo de se arrumar… ou não precisasse.
E aquele sorriso. Fácil, charmoso, quase perigoso.
O outro… o outro era diferente.
Moreno, alto também, mas de uma maneira silenciosa.
As asas dele eram negras, tão escuras que pareciam engolir a luz ao redor.
Os olhos… cor de mel, mas não como os meus.
Os dele eram profundos, densos, carregados de algo que não se dizia em voz alta.
E as sombras… vivas.
Rodopiando ao redor dele, subindo pelos braços, contornando o quadril, se enrolando nos tornozelos como serpentes obedientes.
Elas se moviam como se respirassem junto com ele.
— Eu só posso estar sonhando… — falei para o vazio, mas meus olhos não saíam dele.
Então percebi como eu estava.
Vestido vermelho colado ao corpo, fenda mostrando mais perna do que eu queria naquele momento, o decote ousado, a maquiagem borrada pelo suor da dança e… claro… a marca roxa no olho esquerdo, cortesia do meu ex-marido.
Meu cabelo… um desastre.
Se fosse realmente quem eu estava pensando…
Ah, ótimo.
Eu ia me matar agora mesmo.
— Se for realmente quem eu acho que é… vou me matar agora, né? — murmurei, sem perceber que estava falando alto.
Levantei o olhar novamente.
E lá estava ele.
O ser das sombras, parado bem na minha frente.
O puxão no meu peito ficou mais forte, me fazendo cambalear para não cair.
— Não… não pode ser — sussurrei, o coração batendo como se quisesse arrebentar minhas costelas. — Eu li sobre vocês… eu sei o que é isso.
Meu olhar alternava entre um e outro, mas sempre voltava para ele.
— Vocês… são Azriel e Cassian? — perguntei, a voz quase desafiando a resposta. — Só para eu tirar uma dúvida.
Cassian — porque eu sabia que aquele sorriso só podia ser dele — ergueu uma sobrancelha, trocando um olhar rápido com o outro.
Azriel permaneceu imóvel.
Calado.
As sombras dançavam ao redor dos meus pés agora, como se me estudassem.
— Vocês vão falar ou vão ficar só olhando para minha cara? — tentei, cruzando os braços mais para esconder o tremor do que por atitude.
Cassian sorriu mais largo. — Parece que você já sabe quem somos.
— Sei… e isso é um problema. — engoli seco. — Porque, a menos que eu esteja morta ou louca… vocês não deveriam existir.
— Quem disse que não estamos na sua cabeça? — Cassian falou, e havia algo brincalhão na voz dele, mas os olhos analisavam cada centímetro de mim.
Azriel deu um passo à frente.
Só um passo.
Mas foi o suficiente para o mundo encolher.
Ele não falou nada.
Não precisou.
O peso da presença dele bateu em mim como uma onda — fria, precisa, letal.
Os olhos percorreram meu rosto, depois desceram lentamente.
Não de forma vulgar, mas… calculada.
Era como se ele estivesse lendo cada marca, cada respiração, cada batida do meu coração.
As sombras subiram pelo meu tornozelo, leves, quase um toque.
Eu me arrepiei inteira.
— Isso… — minha voz falhou. — Isso não é possível.
Azriel finalmente falou.
A voz dele… grave, baixa, e mais perigosa do que qualquer arma.
— Nada é impossível, Joyce.
Meu corpo congelou.
Ele sabia meu nome.
— Como…? — comecei a perguntar, mas ele ergueu a mão, cortando minha fala.
— Depois. — disse, firme. — Agora, você vem com a gente.
Cassian riu, como se fosse a parte divertida da noite. — É, parece que sua festa acabou, docinho.
Olhei para eles, depois para a floresta ao redor.
Eu não sabia onde estava.
Não sabia como tinha chegado ali.
Mas uma coisa estava clara:
Se fosse para escolher entre ficar sozinha naquele lugar ou seguir os dois… eu ia com eles.
Mesmo sabendo que isso podia ser a pior decisão da minha vida.
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Atualizado até capítulo 103
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