Sobre a Luz da Lua Azul
(Capítulo de abertura – “Antes do Caldeirão”)
Dizem que o mundo nasceu do sopro de uma deusa que não tinha nome.
Muito antes do Caldeirão ser moldado, antes das Cortes, antes que as asas dos illyrian cortassem o céu ou que os lobos da Corte Primaveril uivassem sob a lua, havia apenas o Silêncio.
Um silêncio tão denso que o tempo ainda não havia aprendido a correr.
Foi nesse vazio que a deusa chorou.
Não lágrimas comuns, mas joias vivas, cada uma forjada com um fragmento da sua essência.
Cinco lágrimas, cinco corações pulsando poder.
Cada uma moldada não para dar vida… mas para testar aqueles que ousariam tocá-las.
As histórias antigas — contadas em sussurros por sacerdotisas esquecidas e bêbados com mais memória que juízo — dizem que essas joias não são meros objetos.
São portais, armas, tentações e maldições… tudo ao mesmo tempo.
O primeiro, moldado na noite do primeiro luar, foi a Meia Lua Azul 🌙.
Seu brilho não é deste mundo — literalmente.
Dizem que quem o carrega pode rasgar o véu entre dimensões, caminhar por reinos onde o tempo corre ao contrário ou onde os deuses dormem com os olhos abertos.
Mas a Lua é caprichosa: ela só abre passagem para aqueles que estão dispostos a deixar algo para trás… algo que não podem recuperar.
O último registro do colar diz que ele se perdeu em um mundo que não conhece magia… e que jamais deveria encontrá-la.
O segundo nasceu do sangue que caiu sobre pétalas brancas — a Rosa Vermelha 🌹.
Tão bela que nenhum ser vivo consegue olhá-la sem sentir o coração acelerar.
Ela pode despertar paixão, euforia ou devoção inabalável… mas também plantar desejo insaciável e loucura.
Conta-se que reis queimaram cidades inteiras apenas para ter uma noite com quem a usava.
Hoje, a Rosa repousa nas mãos de Tamlin, Senhor da Corte Primaveril, cercada por muros de espinhos… e um jardim regado por lágrimas.
A terceira joia é a Lágrima 💧, feita do pranto final da deusa antes de desaparecer.
Quem a toca vê a verdade mais profunda do próprio ser — memórias esquecidas, segredos enterrados, pecados que até os ossos tentaram esquecer.
Alguns enlouqueceram só de encostar nela.
Nas sombras eternas da Corte dos Pesadelos, ela é usada como arma e punição, mas também como cura para aqueles que têm coragem de enfrentar a própria alma despida.
A quarta é a Folha Seca 🍁, nascida no momento em que o primeiro galho se curvou sob o peso do outono.
Ela controla o tempo, não como os mortais o medem, mas como a terra o sente: o florescer e a morte, a juventude e o pó.
Um toque e a primavera pode chegar em pleno inverno… ou a juventude pode ser roubada num piscar de olhos.
Hoje, está com Beron, o astuto e implacável Senhor da Corte Outonal, que nunca envelhece, mas cujo coração já se transformou em pedra.
O último é o Sol ☀️, a joia mais perigosa.
Forjada no primeiro amanhecer, quando o calor rompeu a escuridão, ele pode devolver a vida — mas apenas por um tempo, e a um custo que poucos estão dispostos a pagar.
Alguns dizem que, para trazer alguém de volta, é preciso oferecer outra vida em troca.
Outros afirmam que o Sol alimenta-se da força vital de quem o usa, queimando-os por dentro até restar apenas cinzas.
Seu paradeiro é desconhecido… e talvez seja melhor assim.
Por eras incontáveis, os pingentes foram separados, escondidos, protegidos.
Mas tudo que é separado… um dia tenta se reunir.
Há uma profecia, tão antiga que nem o Caldeirão ousa negá-la.
Ninguém sabe quem a escreveu, mas o pergaminho onde foi encontrada é mais velho que a pedra mais profunda de Velaris.
Ela diz:
“Quando a lua se perder onde não há magia,
e o sol nascer onde a noite não morre,
o sangue dos corações será derramado.
O vento trará de volta o que foi roubado,
e cinco se tornarão um.
Então, o véu se rasgará…
e tudo o que respira desejará não ter nascido.”
Muitos acreditam que é apenas um mito.
Mas mitos têm o hábito irritante de se tornarem realidade quando menos se espera.
E agora… sinais começaram a surgir.
Na Corte dos Sonhos, estrelas estão desaparecendo do céu.
Nas fronteiras da Corte Primaveril, flores florescem à noite e murcham ao amanhecer.
A Corte dos Pesadelos está em guerra com ela mesma, sussurrando que a Lágrima mostrou uma verdade que não deveria.
E na Corte Outonal… Beron envelheceu. Apenas um fio de cabelo branco, mas o suficiente para semear medo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 103
Comments