visão Joyce
A música estava alta. O ar cheirava a cerveja, perfume doce e fumaça de churrasqueira.
Eu já tinha bebido mais do que deveria.
E sabia que não devia estar ali.
O lugar certo para mim era o meu quarto, deitada com um livro aberto sobre o travesseiro, perdida em páginas e longe de olhares.
Mas, por algum motivo, naquela noite, não fui embora.
A conversa ao meu redor era alta e confusa. Mas uma palavra me fez prestar atenção.
— Lua.
Meu corpo reagiu antes da minha mente. Olhei para cima. A lua estava alta, redonda e quase prateada contra o céu escuro.
Imediatamente, lembrei da Corte Noturna.
E de Azriel.
Não sei por que pensei nele. Talvez pelo colar pendurado no meu pescoço, o pingente de meia lua azul que eu tinha encontrado horas antes.
As pedras no uniforme dele, na minha imaginação, eram quase como essa — intensas, profundas, guardando segredos.
— Esse colar… realmente lembra o Azriel — murmurei para mim mesma, quase sem som.
O pingente… pulsou.
Não de um jeito imaginário. Eu senti. Uma batida suave contra a pele, como se tivesse seu próprio coração.
Fiquei congelada por um segundo. A música, o barulho, tudo pareceu sumir.
Balancei a cabeça, tentando afastar a sensação.
Eu estava só bêbada. Era isso.
Encontrei meus irmãos perto da mesa de bebidas.
— Toma, mana. — Lucas me entregou uma garrafa gelada de cerveja, abrindo outra para ele.
— Para relaxar. — Adam completou, sorrindo.
— Como se eu não estivesse relaxada já… — falei, pegando a garrafa.
Bebi. Mais do que deveria.
A música mudou, o ritmo acelerou, e antes que eu percebesse, eu estava dançando. O vestido vermelho se movia junto ao meu corpo, o tecido deslizando contra minha pele.
Por alguns minutos, esqueci o colar, esqueci tudo.
Quando percebi, já passava da meia-noite.
Adam e Lucas tinham ido embora cedo, dizendo que estavam cansados.
Eu ainda estava ali, mas sentia o cansaço começar a me dominar.
— Acho que já deu — falei para mim mesma, indo pegar minhas coisas.
Meu carro estava estacionado um pouco mais afastado, na parte mais escura da rua, onde quase não havia movimento.
A festa ficava para trás, o som diminuindo a cada passo.
Foi quando vi.
A sombra primeiro.
Depois, a silhueta.
E então, o rosto.
Meu coração congelou.
O ar sumiu dos meus pulmões.
— Júlio… — minha voz saiu como um sussurro envenenado. — O que você está fazendo aqui?
Ele não respondeu.
Apenas começou a andar na minha direção, com aquele olhar que eu conhecia tão bem — frio, predador.
— Sai de perto de mim, Júlio. — minha voz tremeu, mas tentei me manter firme. — Você sabe que pela justiça tem que ficar longe de mim. Como me encontrou?
Silêncio.
E então, o impacto.
O soco atingiu meu rosto com força, me jogando no chão.
A dor explodiu atrás dos meus olhos, quente e latejante.
O gosto metálico do sangue preencheu minha boca.
— Filho da… — tentei me levantar.
Outro golpe, agora no estômago.
O ar saiu do meu corpo como se tivesse sido arrancado à força.
Me encolhi, tentando proteger as costelas.
E foi nesse momento que aconteceu.
O colar.
Ele começou a brilhar.
Não um brilho comum — mas uma luz azul incandescente, tão intensa que iluminou a rua ao redor como se fosse dia.
A corrente parecia queimar, mas não de dor física — era como se algo estivesse vivo e se movendo, se fundindo à minha pele.
Eu senti cada centímetro do pingente afundar no meu corpo, como se estivesse sendo costurado dentro de mim.
Júlio deu um passo para trás, os olhos arregalados.
— Demônio… — ele sussurrou, antes de tropeçar e cair no chão.
E então… nada.
O som sumiu.
O ar sumiu.
A gravidade me abandonou.
Era como se eu tivesse sido arrancada do chão, jogada para dentro de um vazio sem fim.
Queda livre.
Meu corpo girava, minha mente gritava que eu ia morrer.
Mas, no meio do turbilhão, imagens começaram a surgir.
Asas.
Negras, enormes, cortando o vento.
Não eram minhas, mas estavam perto.
Protegendo.
Ou me levando.
Não sei por quanto tempo caí.
Mas, de repente, meus pés tocaram terra.
Frio.
Cheiro de folhas e umidade.
A lua agora estava parcialmente escondida por galhos altos.
Eu estava em uma floresta.
Sozinha.
Me virei em todas as direções.
Nenhum sinal de estrada, festa ou cidade.
Apenas árvores, o som distante de água corrente… e a estranha certeza de que não estava mais onde deveria estar.
O colar não estava mais no meu pescoço.
Mas… ao tocar minha pele, senti a marca.
O contorno perfeito da meia lua, quente, como se tivesse sido tatuado a fogo.
— Onde diabos eu estou… — murmurei, sozinha.
E no fundo, a única certeza que eu tinha era que… precisava descobrir.
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Atualizado até capítulo 103
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