Capítulo 3 – Preparativos do Don
O quarto estava mergulhado em sombras densas, cortinas pesadas bloqueando quase toda a luz do sol que tentava atravessar o vidro das janelas altas. Apenas alguns feixes se infiltravam no ambiente, refletindo nos detalhes dourados e negros do espaço, lançando reflexos nos móveis antigos e nas paredes decoradas com tapeçarias escuras. Nikolai Volkov permanecia diante do espelho de corpo inteiro, ajustando a gravata de seda preta com precisão quase cirúrgica. Cada gesto dele era meticuloso, calculado, como se cada dobra do tecido e cada centímetro do terno refletissem não apenas seu gosto impecável, mas também seu controle absoluto sobre cada situação.
O terno sob medida delineava perfeitamente a musculatura de seu corpo atlético. Ele não era excessivamente corpulento, mas cada linha do corpo indicava força, poder e presença. Nikolai respirou fundo, sentindo o peso do dia que se aproximava — o casamento. Um evento que deveria ser formal, luxuoso e impecável, mas que para ele não tinha nada de romântico. Para ele, Helena era a boneca prometida, a peça que seu pai negociara, e nada mais.
A porta se abriu silenciosamente, sem um rangido, e dois vultos surgiram: Ivan Volkov, seu irmão mais velho, sempre sério e rígido, e Eleonora Petrovna, esposa de Ivan, elegante, astuta e afiada como uma lâmina. Eleonora era uma mulher que entendia de poder, de intriga, de negociações silenciosas — e de homens como Nikolai. Seu olhar não escondia nem medo nem admiração, apenas curiosidade e análise.
“Pronto para o grande dia, irmão?” Ivan aproximou-se, os passos firmes e seguros, e o olhar avaliativo percorria cada detalhe de Nikolai, desde o corte do terno até a postura impecável.
“Como sempre”, respondeu Nikolai, sem se virar. Sua voz era calma, carregada de frieza, suficiente para lembrar a qualquer um de que ele era perigoso mesmo em silêncio.
Eleonora cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça, estudando-o com atenção. “Eu vejo isso mais como um pedido de aprovação, Nikolai. Ela quer agradar você, entende?”
Nikolai finalmente se voltou, encarando a cunhada com aquele sorriso frio, quase imperceptível, mas que carregava o peso de ameaças silenciosas. “Quando ela descobrir quem eu realmente sou, essas coisas de contos de fadas — agradar o príncipe ou o vilão — vão parar. Entendeu?”
Ivan riu baixo, franzindo a testa. “Você nunca muda. Sempre o mesmo calculista frio.”
“E por isso ela não será tocada por mim”, continuou Nikolai, ajustando o punho do terno com precisão. “Pura demais. A boneca prometida será apenas isso… uma boneca. Mas ela já entendeu com quem está se casando.”
Eleonora ergueu uma sobrancelha, o sorriso agora mais curioso do que sério. “Então você planeja deixá-la descobrir tudo por si mesma. Inteligente… ou cruel?”
“Ambos”, respondeu ele, sua voz baixa e mortal, quase reverberando pelo quarto. “Ela é forte. Mais do que aparenta. Mas sofrerá. Isso é inevitável. A verdade é sempre dolorosa, mesmo quando envolve beleza.”
Ivan trocou um olhar com a esposa, percebendo que qualquer argumento seria inútil diante da frieza absoluta de Nikolai. Ele sempre jogava com as próprias regras, e todos ao redor apenas aprendiam a aceitar, a adaptar-se ou a desaparecer.
“E a decoração? Rosas negras do Saara, algumas coisas brancas… você sabe que ela vai sofrer”, disse Ivan, lembrando dos detalhes que Helena escolhera meticulosamente para combinar com o luxo sombrio do casamento.
Nikolai apenas sorriu. Um sorriso letal, que não chegava aos olhos, mas carregava toda a certeza de que ele estava no controle. “Ela é forte. Ela merece. Mas também aprenderá que a beleza pode ser cruel, e que o que parece leve pode machucar.”
Eleonora suspirou, observando-o. “Então é isso… você a deixa se iludir um pouco mais? Que se sinta capaz de agradar?”
“Ela já se iludiu desde o primeiro olhar”, disse Nikolai, caminhando até a porta do quarto. “Agora é hora de mostrar a ela a realidade.”
Eles seguiram pelo corredor, atravessando tapetes de veludo negro, paredes adornadas com quadros de antigos mafiosos e espelhos que refletiam a opulência de cada detalhe. A tensão no ar era palpável, como se cada passo ecoasse não apenas no chão, mas no coração de todos que conheciam o poder da família Volkov.
O salão principal estava pronto, mas ainda vazio. As rosas negras do Saara se destacavam em arranjos imponentes sobre mesas de mármore e candelabros altos, enquanto detalhes brancos suavizavam o ambiente sem tirar o peso do luxo sombrio. As paredes de vidro refletiam os lustres de cristal, fazendo com que a luz bailasse sobre cada pétala, cada ornamento, cada elemento cuidadosamente escolhido.
Nikolai entrou primeiro, parando no centro do salão, absorvendo cada detalhe. Ivan e Eleonora se posicionaram discretamente ao lado dele. Soldados russos se moviam ao redor, verificando a segurança e a disposição final dos arranjos, mas não havia convidados ainda. Era apenas a preparação silenciosa antes do espetáculo, a calmaria que precede a tempestade.
“Você sempre faz tudo parecer fácil”, comentou Ivan, olhando ao redor com certo divertimento, mas também com respeito.
“Porque é fácil para quem entende o jogo”, respondeu Nikolai, sem se mover, os olhos escuros percorrendo cada sombra projetada pelas flores negras. “Mas para quem acredita em contos de fadas… tudo é ilusório.”
Eleonora cruzou os braços, o olhar afiado como sempre. “Ela se esforçou tanto para agradar… você deveria reconhecer. Mesmo que não vá tocá-la, mesmo que planeje mostrar a realidade dura, não ignora o esforço.”
Nikolai sorriu novamente, frio. “Reconheço. Mas não muda nada. Ela ainda terá que aprender. E, quando aprender, entenderá a verdade do que significa estar ao meu lado.”
O silêncio dominou o salão, interrompido apenas pelo ajuste final de um arranjo, o sussurro de uma cortina sendo posicionada, e o som distante de passos nos corredores externos. Cada respiração parecia carregada de expectativa, cada sombra escondia intenções. Nikolai respirou fundo, sentindo a tensão aumentar, e caminhou lentamente até a entrada principal, onde a cerimônia começaria.
“Vamos”, disse ele, olhando para Ivan e Eleonora. “É hora de começar. Apenas nós três, alguns soldados e a boneca prometida. O resto virá depois.”
Enquanto atravessavam o salão, Eleonora comentou para Ivan, em um tom quase inaudível: “Ela quer agradar, mas não sabe com quem está lidando. Quando descobrir, vai parar com esses gestos de contos de fadas.”
Nikolai ouviu e apenas sorriu frio. Ele sabia que, quando Helena chegasse, cada detalhe, cada expectativa e cada escolha feita por ela seriam testados. E, no fundo, mal podia esperar para ver a reação dela diante da verdade que ele representava — perigosa, intensa e inevitável.
Cada passo de Nikolai, Ivan e sua esposa pelo salão carregava a imponência de quem sabia que controlava tudo ali. Cada sombra refletia o poder da família Volkov, cada centímetro do espaço contava histórias de negociações, guerras, traições e segredos guardados a ferro e fogo. E, no centro de tudo, a boneca prometida, ainda ausente, seria o próximo teste de todos eles.
O salão respirava luxo e perigo. As rosas negras do Saara exalavam perfume pesado, misturado ao aroma das velas e do mármore recém-polido. Os detalhes brancos equilibravam a escuridão, lembrando que, mesmo no poder absoluto, a fragilidade podia existir. Mas Helena, a futura noiva, ainda não sabia que estava entrando em um jogo que ela não controlaria totalmente.
Nikolai parou no centro do salão, fechando os olhos por um instante, absorvendo cada detalhe, cada sombra, cada fragrância. O dia estava prestes a começar, e ele sabia que, quando Helena chegasse, nada mais seria simples. A boneca prometida encontraria a realidade, e ele estava pronto para mostrar cada faceta dela — beleza, fragilidade, força e medo.
O silêncio reinava absoluto, mas a tensão era elétrica. Cada sombra parecia se mover com intenção, cada reflexo de cristal carregava promessa e ameaça. Nikolai abriu os olhos, encarando a entrada do salão, sabendo que o momento que todos esperavam estava próximo.
E assim, no luxuoso salão de mármore, entre rosas negras, cristais e velas, começava o dia que marcaria o início do casamento mais esperado — e mais temido — da história da família Volkov.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
MEDUSA
eita 😲😲😲😲😲
2025-08-20
0
MEDUSA
tá porra
2025-08-20
0
Mavia Dantas
..
2025-08-16
0