Uma semana depois...
Estava deitado, prestes a dormir, quando meu celular emitiu um som, indicando que uma mensagem havia chegado. Eu já tinha uma ideia de quem fosse. Durante aquela última semana, Antonella ficou em silêncio e, para ser sincero, até achei seu desaparecimento estranho.
Cheguei a considerar que ela estivesse ciente do meu futuro casamento, mas rapidamente abandonei essa ideia, uma vez que o tema foi tratado em particular e ficou acordado que não seria mencionado, nem mesmo entre a Máfia, até o momento apropriado. Essa era uma escolha significativa, sobretudo para salvaguardar Beatrice, minha futura noiva.
Ao abrir o aplicativo e ler a mensagem, fiquei surpreso comigo mesmo, pois me senti bem ao ler as palavras daquela menina travessa.
Antonella: Boa noite, Ricardo Lancellotti. Aposto que pensou que eu havia te abandonado, não foi? Jamais! Estava viajando com mamãe e papai e, por isso, não pude usar o celular, pois eles ficam implicando. Para evitar a tentação de te mandar mensagens, mantive o celular desligado, pois não quero que saibam sobre nós. Sentiu minha ausência? Eu lamento muito a sua.
Sorri ao concluir a leitura e decidi ser sincero ao responder. A última coisa que eu queria era criar falsas expectativas nela, pois a garota acabaria sofrendo ao descobrir, anos depois, sobre o casamento arranjado que arruinou suas oportunidades comigo.
Eu quase não respondia às mensagens dela para não dar falsas esperanças, mas as notificações continuavam chegando e, quando chegavam, eu gostava de ser. Antonella tinha consciência de que eu via as mensagens e que, caso não quisesse realmente recebê-las, já teria feito o bloqueio. É por isso que ela não parava de mandá-las.
Ao longo do último ano, após o Natal em que ela revelou seu interesse por mim, eram poucos os dias em que eu não recebia mensagens dela. Todas expressavam claramente seu interesse e sua convicção de que um dia nos casaríamos.
A garota era audaciosa, segura, determinada e parecia pronta para conquistar seu espaço ao meu lado a qualquer preço. Ela era bem-humorada e bastante madura para a sua idade, o que me fez gostar das raras ocasiões em que respondi às suas mensagens e engajamos na conversa. Era agradável dialogar com ela.
Por mais estranho que pareça, eu estava realmente triste por ter que contar a ela sobre meu futuro noivado, pois não queria que ela ficasse triste.
Ricardo: Oi, Antonella. Tudo bem? Espero que tenha aproveitado a boa viagem com seus pais.
Iniciei uma conversa de maneira despretensiosa, e a resposta veio em menos de um minuto.
Antonella: Meu príncipe, você respondeu! Agora me sinto melhor, conversando com você, querido. E para responder à sua pergunta, a viagem foi boa, mas as verdadeiramente maravilhosas serão aquelas que faremos juntos após nos casarmos. A propósito, mudei o cabelo. Veja se você gosta do meu novo estilo.
Ao ler aquilo, ri. Eu apreciava a sua maneira espontânea. Uma foto foi anexada à mensagem. Eu abri e estava maravilhosa. Antonella sempre foi bonita, porém, ao se aproximar dos dezessete anos, começou a apresentar mudanças: deixou de ser uma adolescente e passou a se tornar uma mulher.
Ela possuía olhos e cabelos castanho-escuros, lábios volumosos e era pequena e delicada, assim como todas as mulheres da família. De fato, havia uma semelhança na delicadeza com que minha mãe se comportava. Ela é linda, sem mais nem menos.
Quando o celular emitiu o som de uma nova notificação, fui interrompido do meu estado de admiração pela foto.
Antonella: Não vai dizer nada? Estou aqui cheia de ansiedade.
Ricardo: Antonella, você está muito bonita. Embora não seja da minha alçada, eu aprovo o novo visual.
Antonella: É claro que depende de você. Quero estar sempre bonita para você.
Ricardo: Fico lisonjeado, mas isso não é certo. A propósito, tenho algo para lhe contar, mas é um segredo. Posso depositar confiança em você?
Antonella: É claro que pode, meu príncipe.
Ricardo: Para com isso e não me chama de príncipe. Eu não poderia estar mais distante de ser um. Você sabe que eu não sou uma boa pessoa.
Antonella: Você não é um príncipe encantado, e eu não sou uma princesa que precisa de resgate. E qual é o problema? Eu sei que você não vale nada, afinal, moro com um mafioso, se esqueceu? Tenho plena consciência de quem vocês são. Apesar de não os ter visto em ação, tenho plena consciência do que são capazes. Contudo, também sei o quanto os homens da sua família e da minha tratam bem suas mulheres. Você será um bom marido, tal como meu pai e o seu. Prometo que só te chamarei de príncipe quando estivermos a sós, ninguém jamais saberá.
Ricardo: Não teremos intimidade, Antonella, pois não vamos nos casar.
Optei por ser sincero, pois quanto mais ela se iludia e fazia planos, mais desconfortável eu me sentia. Não costumava me importar muito com as meninas que se deixaram enganar e que já passaram pela minha vida. Elas se enganavam por vontade própria, já que eu nunca alimentei esperanças nelas; porém, com Antonella, a situação era distinta. Eu nutria um afeto por ela.
Antonella: Não adianta fugir, sei que estamos destinados a ficar juntos. Por que há tanta oposição?
Ricardo: Não se trata de resistência. Como o próximo sucessor do Don, não tenho alternativa. Meu pai escolherá alguém em prol da organização, e eu preciso aceitar isso.
Antonella: Você sabe que o Tio Ítalo nunca te obrigará.
Ricardo: Pessoas como eu, apesar de parecerem ter uma escolha, na realidade não têm. Preciso agir de forma racional e sempre em prol do bem-estar da família.
Antonella: Ricardo, você tem algo a me dizer? Desembucha!
Ricardo: Minha esposa já foi escolhida, e não foi você. Daqui a alguns anos, vou me casar; meu pai e eu já prometemos isso.
Escrevi tudo de uma vez e, desta vez, a resposta não foi imediata. Isso me perturbou de maneira estranha, mas deixei-a processar a informação. Ela finalmente respondeu alguns minutos depois.
Antonella: Você não tem o direito! Você me garantiu!
Ricardo: Eu nunca te prometi nada, mas lamento de verdade.
Mais uma vez, a resposta demorou a chegar... na verdade, ela nem chegou. Em vez disso, meu telefone tocou. Considerei não atender, mas ao pensar em como ela deveria estar triste, não consegui ignorar.
— Oi, Antonella — disse, mais suave do que o habitual, para minha própria surpresa.
― Ricardo, você não tem permissão para se casar com outra mulher. Eu te amo! Nenhuma outra garota vai te amar dessa maneira. Eu te amei desde o primeiro momento em que te vi e não vou abrir mão de você.
Fiquei mudo e incomodado com aquelas palavras. Preciso admitir que, de maneira inexplicável, tocaram em mim. Fiquei lisonjeado ao ouvir aquilo e percebi, de imediato, que não era meu ego masculino se manifestando.
Não estava apaixonado por Antonella, porém, ouvi-la declarar que me amava me agradou, especialmente considerando o mundo em que vivemos. Seria muito mais simples e gratificante casar-me com uma mulher que me amava do que com uma que provavelmente teria sido condicionada a simular um afeto por mim ou que simplesmente resignava-se ao seu destino.
Antonella era espontânea e divertida, e ao longo daquele ano, demonstrou estar apaixonada por mim, determinada a me conquistar e a se tornar minha esposa um dia. E eu precisava admitir que não me desagradava.
Não tive a oportunidade de discutir essa possibilidade com meu pai, pois considerei que era muito cedo. Ainda teríamos cerca de dois anos até Antonella completar a maioridade e considerarmos a ideia de um casamento. Nos meus planos, isso só ocorreria por volta dos trinta anos.
Eu desejava que minha futura esposa tivesse a oportunidade de estudar, viajar e explorar o mundo fora da Máfia, pois, após o casamento, eu não poderia mais oferecer essa liberdade a ela, uma vez que a esposa de um Don sempre se tornava um alvo para os inimigos.
― Ricardo, você está presente? Diga algo ― Antonella pediu, e, porra, ela estava em lágrimas.
― Não fique triste, menina. Estou certa de que você encontrará alguém que te faça feliz, alguém que te mereça ― disse, engolindo o nó que se formou em minha garganta. No fundo, eu também não gostava da ideia de vê-la com outro homem, mas não tinha o direito de prendê-la a um amor não correspondido.
Ela não me respondeu; simplesmente desligou o telefone.
Porra, eu tinha dezenove anos, e, na minha visão de mundo, um homem da minha idade já tinha uma experiência significativa. Eu já havia matado muitos homens — em alguns, eu havia causado um verdadeiro estrago — e não me arrependia de nada. Então, por que essa situação estava me perturbando tanto?
Antonella era uma garota ingênua e pura. Apesar de ser bastante madura para a sua idade, ela ainda era adolescente e provavelmente esqueceria com facilidade essa ideia de se casar comigo. Não gostava da ideia de não receber mais suas mensagens repletas de segundas intenções e bom humor.
Balancei a cabeça, como se esse movimento pudesse afastar meus pensamentos. Era necessário que eu deixasse de pensar nisso e focasse no que precisava ser feito. Antonella vai superar e eu, com certeza, também vou. Era o que eu previa.
No dia seguinte, despertei um tanto mal-humorado. Quando desci, meus pais e Viviana estavam sentados à mesa, tomando café da manhã. Era sábado e não precisaríamos trabalhar.
― Bom dia, meu querido. Eu gostaria de esperar você para tomar o café da manhã, porém seu pai e sua irmã estavam com fome.
― Está bem, mãe, não se preocupe com isso.
Dirigi-me à minha mãe, beijei sua testa e, em seguida, aproximei-me de Viviana e também a beijei. No entanto, a pirralha limpou o local onde eu a beijei. Sorri, acenei para meu pai e me acomodei à mesa.
― Está tudo certo, Ricardo? - indagou meu pai.
Desde o dia em que oficializou meu noivado, ele começou a agir de forma mais cautelosa comigo. Na verdade, eu pensava que ele ficou preocupado em me forçar, mas não estava. Eu aceitei aquela proposta porque quis e porque era o correto a se fazer. Apesar de a história de Antonella realmente me afetar, eu não me arrependia da escolha que fiz.
― Está tudo bem, pai ― respondi, desviando o olhar.
Eu estava certo de que ele não havia acreditado, mas também não fez mais perguntas, e eu me senti aliviado.
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Atualizado até capítulo 73
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