Lucca mal conseguiu respirar direito enquanto caminhava atrás do pai, sentindo o peso daquela casa — e da responsabilidade — em seus ombros. Quando chegaram à porta da frente, Mart pegou o comunicador na parede e apertou alguns botões. Em segundos, o som de um carro parando ecoou na rua.
— O táxi está aqui — anunciou Mart, a voz rígida, sem dar espaço para perguntas ou protestos.
Lucca seguiu o pai até a calçada onde um veículo de aparência elegante e moderna o aguardava. O motorista, um homem de expressão neutra e uniforme impecável, abriu a porta para Lucca. Sem uma palavra, ele entrou no carro.
Mart ficou parado ali, observando cada movimento do filho com um olhar intenso, quase vigilante.
A sensação que Lucca teve era de estar sendo vigiado — como se Mart esperasse que ele desse meia-volta a qualquer momento e fugisse daquele mundo que, para ele, ainda era um enigma.
O motorista fechou a porta e o carro começou a se afastar.
Pelas janelas, a cidade que se desenrolava era tão familiar quanto estranha. Pessoas caminhavam apressadas, todas claramente homens, mas divididos entre dois tipos muito distintos: os altos e musculosos, que caminhavam com uma confiança quase selvagem; e os menores, de corpo delicado e traços suaves, quase femininos — os “fêmeas”, como Lucca começava a entender.
Ele notou também um detalhe curioso e quase encantador: muitos daqueles habitantes passeavam com seus animais de estimação — e não eram cães ou gatos comuns.
Filhotes de grandes felinos, como leopardos e onças, caminhavam calmamente ao lado de seus donos, alguns com coleiras e outros sem.
Havia ainda um pequeno grupo que conduzia filhotes de raposas de pelagem brilhante, seus olhos atentos e corpos ágeis.
Lucca achou aquilo muito, mas muito fofo, mas então pensou numa questão.
"Esses animais podem mesmo ser domesticados?"
Pensou na ciência avançada daquele mundo, capaz de criar bebês em proveta, e concluiu que talvez não fosse tão estranho assim.
O pensamento foi interrompido por uma cena que o fez prender o fôlego.
Um jovem magro, que Lucca logo identificou como uma fêmea pelo corpo esguio e rosto delicado, corria a toda velocidade pela calçada, quase esbarrando nas pessoas que passavam.
Ele vestia um avental branco, como o de um hospital, que flutuava atrás dela enquanto fugia, apressada e ofegante.
Logo atrás, um grupo de animais adultos — grandes e selvagens — passava em disparada, claramente a perseguindo.
Apesar do perigo evidente, os transeuntes apenas observavam a cena por alguns segundos, sem pânico ou pressa, e depois continuaram seus caminhos normalmente.
Para eles, aquilo parecia uma ocorrência rotineira, um pedaço comum do dia a dia.
Lucca sentiu um calafrio.
Se aquele mundo era assim, estranho e duro, então a entrevista que o aguardava não poderia ser mais aterrorizante.
Ele apertou o cinto de segurança, olhando para a estrada que se abria à frente, tentando juntar forças para o que viria.
Enquanto o táxi seguia seu caminho, Lucca achava que já tinha visto tudo que esse mundo estranho poderia oferecer. Mas, de repente, algo surgiu diante de seus olhos que o fez congelar.
Um grupo de cinco ou seis homens altos caminhava pela calçada ao lado do carro. Entre eles, uma figura destacava-se: um homem fêmea de traços delicados e porte elegante.
De repente, um dos homens musculosos do grupo se curvou levemente diante do fêmea — e, num movimento surpreendente, sua forma mudou.
Ele se transformou em um enorme leão de juba laranja, tão alto quanto os outros homens do grupo. O leão abaixou a cabeça quase como se prestasse respeito ao fêmea, até sua barriga chegasse ao chão. Sem cerimônia, o fêmea, com a ajuda dos outros subiu nas costas do leão, e todoa continuaram andando juntos.
Ninguém mais parecia achar aquilo estranho — exceto Lucca.
O choque o paralisou. Havia homens que podiam se transformar em feras? Ou todos podiam?
De repente, como uma lâmpada que se acende em sua mente, Lucca se lembrou.
No seu mundo real, pouco antes de chegar ali, ele tinha lido um romance chamado “Homens-Fera”, onde homens tinham a capacidade de se transformar em animais carnívoros de grande porte — três vezes maiores que os animais da Terra.
Ele pensou que aquilo era apenas uma história divertida, um romance selvagem para passar o tempo.
E agora estava vivendo nesse mesmo mundo.
Mas seria a mesma história?
Ele se perguntou se aquele mundo era o mesmo do livro, e, caso fosse, qual papel ele teria ali?
Lucca não se recordava de nenhum personagem chamado “Lucca” naquela história. Talvez não fosse a mesma narrativa, apenas o mesmo universo.
Isso lhe trouxe um alívio. Ele não queria se envolver na história do protagonista daquele livro, apesar de ter gostado da leitura cheia de drama e confusão — sabia que aquilo refletido na vida real seria muito mais caótica do que ele poderia suportar.
Mas a pergunta que não queria calar era: se ele não era personagem daquela história, quem era ele neste mundo?
Observando seu corpo no reflexo da janela do carro, magro e de baixa estatura, a única conclusão possível era que ele era um homem fêmea.
Ele não se preocupou com isso. Independente de que ele fosse homem fera ou fêmea, pelo menos aquele não era um mundo onde homens engravidavam — um pensamento que lhe trouxe certo alívio.
Ele gostava de homens, mas não acreditava que teria a força psicológica para dar à luz.
Lucca se sentiu sortudo por ter lido aquele livro, justamente aquele último que folheou. Imagine se fosse um dark romance ou terror? Teria pulado desse carro em movimento no momento em que descobrisse a realidade.
Agora, com aquele universo na palma da mão, havia muito que poderia usar a seu favor.
Ele lembrava que, naquele mundo, fêmeas tinham maior destaque em seus trabalhos — os homens fera as tratavam como sua maior preciosidade, apoiando e incentivando o que eles decidissem fazer.
Quanto àquela entrevista, ele se sentiu confiante que conseguiria, sendo um fêmea.
Mas sua confiança, construída com esforço, foi rapidamente abalada quando o carro entrou numa rua fechada por um grande número de fêmeas.
Todas pareciam estar ali para a mesma entrevista.
A movimentação era intensa, a ansiedade no ar.
Como um balão que solta ar Lucca murchou no mesmo intante, pois, de repente, percebeu que aquela jornada seria mais difícil do que imaginava.
E assim, o táxi parou, o motor desligou, e ele soube que seu destino final finalmente chegara.
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Se está gostando não deixe de curtir pra mim saber e me segue no coraçãozinho, bjs.
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Atualizado até capítulo 50
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