...Luna...
O caminho até o vestiário das titulares pareceu mais longo do que realmente era. Cada passo ecoava pelo corredor, cada barulho reverberava como um anúncio de que algo grande estava para acontecer.
Eu sentia o coração disparado, mas de uma maneira diferente — uma mistura de ansiedade, excitação e aquela centelha de coragem que só cresce na hora de enfrentar o impossível.
Ao chegar, as portas se abriram, e fui recebida pelo olhar firme do treinador Don Miguel, que já esperava para dar as últimas instruções.
Ele olhou nos meus olhos e, com uma voz baixa, mas carregada de autoridade, disse:
— “Luna, lembre-se do que treinamos. Controle o jogo, observe, espere a sua chance. Seja a raposa que sempre foi — astuta, rápida, implacável.”
Sorri, sentindo a confiança dele aquecer meu peito.
— “Pode deixar, treinador. Eu não vou só jogar, vou causar.”
Ele soltou um leve sorriso e levantou a voz para juntar todo o grupo:
— “Time, escutem! Vocês são guerreiras! Entramos ali para fazer história. Joguem com o coração, com a cabeça, com a alma! E lembrem-se: somos mais que um time, somos uma família. Agora vamos mostrar isso para o Bernabéu!”
O grito uníssono que se seguiu me encheu de adrenalina.
Juntas, todas nós saímos do vestiário, e eu me juntei ao grupo das reservas.
O banco de reservas nunca foi lugar de descanso, muito pelo contrário. É o posto de observação, de estratégia, de fogo controlado esperando para explodir.
Sentadas ali, com os olhos fixos no túnel, assistimos o espetáculo começar.
As portas se abriram e os dois times surgiram no gramado como titãs em batalha.
Os aplausos explodiram, a torcida vibrou, e a energia invadiu cada centímetro do estádio.
O hino da Espanha começou a tocar, ecoando pelo Bernabéu, e um silêncio respeitoso tomou conta do lugar.
Eu não conseguia deixar de olhar para o campo, para as jogadoras que estavam entrando, e para os milhares de olhos atentos que pareciam nos devorar.
Sentei-me ao lado da Carla, minha companheira de banco, e falei, meio em tom de brincadeira, meio sério:
— “Sabe, se esse estádio fosse uma pessoa, acho que ela estaria nos encarando como dois insetos prestes a virar comida.”
Ela riu, conhecendo bem meu sarcasmo.
— “Relaxa, Raposa. Você é mais rápida que esses insetos todos.”
Sorri, sentindo o peso da responsabilidade se dissolver por alguns segundos.
— “O que ninguém sabe é que por baixo dessa cara de anjo tem uma piadista profissional que adora causar.”
Ela me olhou surpresa, e eu não resisti:
— “Pode anotar: quando eu entrar em campo, vou fazer eles quererem me matar — mas vai ser só pelo estilo.”
Rimos juntas, a tensão quebrada, a amizade fortalecida.
Naquele momento, no banco de reservas do maior estádio da Espanha, eu podia ser eu mesma. A Raposa de sempre — rápida, sarcástica, destemida.
Porque , quando o jogo começasse, eu teria que ser muito mais.
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...Clara ...
O apito soou e a bola começou a rolar. O gramado sob meus pés parecia vibrar com cada passo que eu dava. Aquele palco, o Santiago Bernabéu, era minha casa, meu reino. Eu sentia a pressão, claro, mas também sentia a energia da torcida e a responsabilidade de quem veste a camisa 10 do Real Madrid.
Desde o primeiro minuto, o jogo foi intenso. O Barcelona não veio para brincadeira — sua defesa fechada e ataques rápidos exigiam que eu estivesse atenta, pronta para aproveitar cada brecha. Eu sabia que precisaria ser versátil, mudando de posição conforme a necessidade: ora ponta direita, ora atacante, às vezes recuando para armar jogadas como meio-armadora.
Logo aos quinze minutos, veio a primeira oportunidade clara. Uma jogada rápida pela direita, com um passe preciso da nossa meia, me deixou cara a cara com a goleira adversária. Controlei a bola com calma, driblei a última defensora e chutei no canto — gol!
O estádio explodiu em aplausos, e eu senti meu coração disparar de emoção. Aquele era só o começo.
Minutos depois, em uma transição rápida, recebi um passe em profundidade. Avancei em velocidade, cortando para dentro e finalizando com precisão. Mais um gol!
Dois a zero para o Real Madrid. Minha dupla função de atacante e meio-armadora começava a surtir efeito.
Mas o jogo não era só alegria. Aos 30 minutos, uma disputa forte no meio-campo resultou em um choque pesado. A jogadora do Barcelona, uma das principais no ataque delas, caiu no chão, segurando o joelho. O árbitro imediatamente parou o jogo, e a preocupação tomou conta do campo.
Vi o olhar dela, a dor evidente, e entendi que aquilo poderia mudar o ritmo da partida. Ela foi substituída, e por um momento, o jogo perdeu um pouco do seu ritmo frenético.
Naquele instante, mais do que a rivalidade, a empatia me atingiu. No futebol, somos adversárias, mas também companheiras de um mesmo sonho.
O jogo recomeçou, e eu sabia que ainda havia muita batalha pela frente.
Cada passe, cada corrida, cada jogada era uma declaração: eu estava ali para vencer, para fazer história, para mostrar que o Real Madrid era forte, e que eu era uma peça fundamental nesse time.
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Atualizado até capítulo 47
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