O Peso dos Olhares

...Clara...

O ar estava pesado, carregado de uma energia quase palpável, quando o ônibus branco do Real Madrid parou lentamente em frente ao majestoso Santiago Bernabéu.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma, mas por dentro o coração parecia um tambor de guerra. Cada passo para fora do veículo era uma declaração silenciosa: estávamos ali para fazer história.

As câmeras piscavam incessantemente, flashes iluminavam o momento, e um mar de microfones parecia tentar capturar até o menor sussurro meu.

— “Clara Moretti!”

— “A camisa 10 está pronta para o Clásico?”

— “Como você se sente jogando em um estádio cheio?”

Perguntas que se misturavam num turbilhão na minha cabeça, mas que eu respondi com a mesma confiança que sinto a cada toque na bola:

— “Estou pronta. Sempre estive.”

Caminhando pelo tapete vermelho improvisado na entrada, cada passo ecoava com a responsabilidade que eu sabia que carregava. Minha equipe estava ao meu lado, mas naquele momento, parecia que todos os olhos estavam fixos em mim — e eu não podia negar que sentia o peso e o orgulho disso.

Ao entrarmos no estádio, a imensidão do Bernabéu se revelou em toda sua glória. As arquibancadas já começavam a se preencher, a vibração da torcida se espalhava pelo ar como um vento quente, e eu sabia que seria o palco de uma batalha épica.

No vestiário, a atmosfera mudou.

O som das chuteiras contra o chão, o barulho das bolas sendo tocadas, os cumprimentos silenciosos entre as jogadoras — tudo indicava que o momento se aproximava.

O aquecimento começou e, enquanto corríamos e trocávamos passes, tentei focar só no jogo. No ritmo, na respiração, no corpo que precisava estar pronto para dar o melhor.

Mas os olhos da torcida, das câmeras, da história…

Eles nunca saíam de mim.

Eu sorri para minhas companheiras, sentindo que juntas, naquela noite, iríamos escrever um novo capítulo.

O Clásico estava prestes a começar.

E eu estava pronta para ser protagonista.

---

...Luna...

A grama sob meus pés parecia mais viva do que nunca.

Não era apenas a superfície que eu sentia; era o peso de cada história que aquele campo carregava. O Santiago Bernabéu não era um estádio qualquer. Era o templo do futebol, o palco onde sonhos se realizavam e lendas nasciam — e ali estava eu, Luna Serrat, aquecendo junto das minhas companheiras, prestes a viver o momento mais importante da minha vida.

O sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e púrpuras, enquanto a multidão nas arquibancadas ganhava volume e som. O burburinho crescia em ondas, uma correnteza de vozes, gritos e cantos que pareciam invadir cada centímetro do estádio.

Enquanto corríamos, fazendo alongamentos e passes rápidos, eu não conseguia tirar os olhos da torcida. Era tudo tão maior do que eu jamais tinha imaginado. Eu ouvi falar sobre esses jogos, vi em vídeos, li sobre as jogadoras, mas estar ali, sentindo a vibração da arquibancada lotada, era outra coisa.

O mar de pessoas vestindo branco, cantando com tanta paixão, batendo palmas sincronizadas, segurando faixas e bandeiras — tudo isso parecia um imenso organismo pulsante, vivo e faminto por futebol.

Eu senti um frio na barriga, uma mistura de nervosismo, admiração e aquele fogo que só quem ama o esporte conhece.

Corri um pouco mais rápido, tentado absorver a energia daquele lugar, tentando me conectar com o jogo que estava por vir.

Meus pensamentos viajaram para o Brasil, para as tardes quentes de Florianópolis, para a quadra de terra batida onde comecei a sonhar com esse momento. Pensei no meu pai, que sempre acreditou em mim, mesmo quando eu duvidava. Pensei na minha mãe, que costurou aquele primeiro uniforme, que me apoiou nos dias difíceis.

E pensei em tudo que deixei para trás para estar ali, naquele gramado sagrado.

Não era só um jogo. Era o meu teste, a minha chance de mostrar que eu merecia estar ali.

Enquanto me aquecia, percebi o olhar das minhas companheiras. Algumas sorriram para mim, outras trocaram palavras rápidas de incentivo. Eu sabia que todas estavam sentindo o peso daquele momento — e ao mesmo tempo a empolgação.

Olhei para Clara Moretti, a camisa 10 do Real Madrid, minha grande rival. Ela parecia calma, fria, concentrada, como se aquele estádio fosse o quintal dela.

Eu, por outro lado, sentia um turbilhão dentro do peito.

Mas eu sabia que a diferença entre nós não estava só na experiência. Estava na vontade, na coragem de quem chegou ali de longe, que teve que lutar por cada centímetro.

O apito do treinador soou, indicando que era hora de terminar o aquecimento.

Eu respirei fundo, sentindo o suor escorrer pela testa, o coração batendo no ritmo acelerado da batalha que estava prestes a começar.

Naquele momento, naquele gramado, com o olhar da torcida pesado sobre nós, eu prometi a mim mesma:

— Eu não vou ser apenas mais uma. Eu vou ser a Raposa que ninguém vai esquecer.

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