...Clara Moretti ...
Dizem que o futebol corre no sangue. Para mim, isso é mais do que uma expressão — é verdade.
Meu nome é Clara Moretti, e embora eu tenha nascido em Madri, sou brasileira de coração e sangue. Meus pais vieram do Brasil em busca de uma vida melhor, e Madri se tornou minha casa desde o primeiro instante. Cresci ouvindo o sotaque doce do português em casa, misturado ao ritmo frenético da cidade espanhola.
Desde pequena, eu me via correndo nos campos de terra e depois nos gramados verdes da capital espanhola, uma bola sempre aos meus pés e a paixão pelo futebol pulsando forte dentro de mim. Eu carregava dentro de mim duas culturas, duas histórias, mas uma única missão: jogar, vencer e honrar cada um dos lugares que me fizeram quem eu sou.
O futebol feminino nem sempre foi valorizado como merece. Quando comecei, os estádios estavam vazios, o reconhecimento era escasso, e as dificuldades pareciam intransponíveis. Mas, com o tempo, a realidade mudou — e comigo também.
Hoje, o futebol feminino vive uma era de ouro. Os estádios se enchem, as torcidas cantam e vibram com a mesma intensidade dos jogos masculinos. O Santiago Bernabéu, onde jogo, já testemunhou essa transformação. A energia que sinto quando entro ali é indescritível — é como se o passado e o presente se unissem em uma só força para impulsionar cada jogada.
Vestir a camisa do Real Madrid sempre foi mais do que um sonho. É uma honra, uma responsabilidade e um compromisso. Ser a camisa 10, a líder em campo, significa carregar nas costas a história do clube, a esperança da torcida e o legado de tantas mulheres que lutaram para que estivéssemos aqui.
Minha trajetória foi construída com muito esforço — treinos exaustivos, superação de obstáculos, sacrifícios pessoais — mas cada passo valeu a pena para que eu pudesse vestir essa camisa.
Cada vez que calço as chuteiras e visto a 10, sinto a força de minhas raízes brasileiras e a paixão de Madri. Sinto o olhar da torcida, a pressão do momento e o chamado para ser a melhor versão de mim mesma.
No campo, preciso ser fria, precisa, elegante. Sou a protagonista do Real Madrid, e sei que o peso dessa camisa exige isso.
Por trás da jogadora, sou uma mulher que sente a responsabilidade, a pressão e o desejo de fazer história — não só para mim, mas para todas que vêm atrás.
Amanhã, no Clásico, vou vestir essa camisa com a certeza de que faço parte de uma revolução no futebol feminino. Uma revolução onde a força, a técnica e o coração das mulheres brilham tanto quanto dos homens.
Porque o futebol é de todos.
E eu, Clara Moretti, brasileira de Madri, estou aqui para mostrar isso.
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O sol já estava baixo quando cheguei ao centro de treinamento do Real Madrid naquela tarde de sexta-feira.
O céu tingia-se de um azul escuro, com as primeiras estrelas começando a aparecer, como testemunhas silenciosas de um momento que prometia ficar marcado para sempre.
Entrar naquele campo já não era mais novidade para mim. Já havia pisado ali incontáveis vezes, sentindo o cheiro da grama recém-cortada, ouvindo o som das chuteiras tocando o gramado e a voz do treinador comandando o time.
Mas naquela tarde, tudo parecia diferente.
O ar carregava uma eletricidade que dava formigamento na pele, e eu sabia que o nosso último treino antes do clássico seria uma espécie de aquecimento para uma guerra.
Ao me aproximar do grupo, ouvi risadas, conversas animadas e vi aquele espírito de irmandade que só as equipes realmente unidas conseguem ter.
Fui até o centro do campo, onde as meninas já se agrupavam para a instrução final do treinador.
— “Hoje é o dia, meninas.” — comecei, olhando nos olhos de cada uma. — “Hoje fazemos história.”
Senti a atenção de todas. Elas sabiam que o Clásico não era só mais um jogo. Era o maior palco do futebol espanhol, a rivalidade que faz o coração acelerar, o momento em que a nossa força como time e como mulheres seria testada diante de milhares de pessoas.
— “O que fizemos até aqui foi só o começo. Amanhã, no Santiago Bernabéu, mostramos quem somos de verdade.”
Uma das atacantes, a Sara, sorriu e disse:
— “Já tô sentindo o estádio vibrando com a nossa presença.”
Eu sorri, concordando.
— “E não é só a torcida. É a gente. A nossa entrega, a nossa paixão, a nossa vontade. O Bernabéu é a nossa casa. E amanhã, mais do que nunca, vamos jogar como se fosse a última partida da vida.”
No meio daquela roda de mulheres poderosas, eu senti a energia se multiplicar.
Era mais que futebol. Era orgulho, era luta, era amor pelo que fazemos.
Terminamos o treino com intensidade, focadas em detalhes, trocando passes, marcando firme, correndo cada metro do campo como se estivéssemos correndo para a história.
Depois do treino, me dirigi ao vestiário.
No caminho, encontrei minha namorada, Júlia, que também jogava no time — ponta esquerda, rápida, criativa, e minha parceira dentro e fora do campo.
Júlia me lançou um sorriso que acalmou qualquer nervosismo que pudesse estar sentindo.
— “Clara, amanhã é nosso dia.” — disse ela, puxando minha mão. — “Vamos mostrar que não estamos aqui para brincar.”
— “Com você ao meu lado, não tenho dúvida.” — respondi, apertando a mão dela.
Entramos juntas no vestiário do Santiago Bernabéu — minha casa, nosso palco.
O espaço estava vibrante, com cada canto contando histórias de batalhas épicas e vitórias inesquecíveis. O cheiro de grama, suor e concentração preenchia o ar.
As companheiras se preparavam em silêncio ou trocavam palavras de incentivo.
Eu e Júlia nos sentamos juntas, nos olhos uma da outra, entendendo sem palavras o que aquela partida representava.
O treinador entrou, com aquela postura firme que inspira respeito e confiança.
— “Lembrem-se, vocês são as donas do campo amanhã. A responsabilidade é grande, mas a capacidade de cada uma de vocês é maior.”
Senti o peito inflar de orgulho e uma determinação renovada.
Amanhã, quando as luzes do Bernabéu se acendessem e o apito soasse, eu não estaria só jogando uma partida.
Estaria fazendo história.
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Atualizado até capítulo 47
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