Trinta dias.
Trinta dias desde que vi o sangue escorrer pela cabeça dela, desde que senti aquele gelo subir pela minha espinha, achando que podia perdê-la ali, no meio daquela estrada.
De lá para cá, a vida virou uma sequência de provocações, reuniões, contratos e telefonemas, tudo com a pressão dobrada porque Gael e Giovanni estavam resolvendo a confusão deixada pelo parente lunático que decidiu brincar de vingança.
Sobrava para mim segurar as pontas da empresa. E eu segurava firme, no limite, como sempre.
Naquele dia, meu escritório estava mergulhado no silêncio do ar-condicionado. Os papéis sobre a mesa formavam pequenas pilhas organizadas, mas a sensação era de que de repente aquilo não era mais meu lugar, estar em campo com os Rossi, ligado a proteção de Helena e das outras, segurar aquela arma, era tudo que eu odiava, mas que agora parecia fazer sentido. Era um fogo queimando devagar. Eu sabia que, lá fora, ainda havia labaredas, esperando o momento certo para saltar.
Bati os dedos na borda da mesa, conferindo a agenda na tela do notebook. A próxima reunião era importante, fechava um contrato milionário.
A porta se abriu devagar.
Minha secretária entrou, eficiente como sempre.
— Senhor — disse com a voz calma — a reunião é em trinta minutos.
Assenti, mas notei que ela hesitou antes de continuar.
— E… o senhor tem visita.
Arqueei a sobrancelha.
— Visita?
Ela esboçou um leve sorriso, como quem sabia que estava prestes a me tirar do eixo.
— A senhorita Rossi está aqui.
Um canto da minha boca se ergueu sozinho.
Helena, ela não havia vindo aqui sem a irmã, era interessante vê-la se rendendo ao desejo que ambos tinham.
Olhei para o relógio. Tinha tempo. Muito tempo, se fosse ela.
— Mande entrar.
A porta se abriu de novo, e ela surgiu como se estivesse chegando a um ringue, ou a uma provocação cuidadosamente planejada. Jeans justos, camiseta branca, óculos escuros no alto da cabeça, e aquele andar que sabia exatamente o efeito que causava.
— Senhor Delgado… — ela disse, num tom carregado de ironia. — Ou devo dizer “senhor ocupado”?
Recostei-me na cadeira, observando cada movimento dela até se sentar na poltrona à minha frente, cruzando as pernas devagar.
— Senhor ocupado, mas com prioridade para certas visitas. — respondi, deixando claro que ela se encaixava nessa lista curta.
— Então sua lista de prioridades tem mais alguém além de mim? — questionou rindo.
— Não muito, algumas são importantes, mas admito que sua presença está sempre no topo. — respondi.
Ela sorriu de canto, inclinando o corpo para frente.
— Vim te convidar para algo… diferente.
— Isso já soa perigoso vindo de você. — provoquei. — mas se tiver uma cama, eu aceito.
— Ainda não bonitão, — ela olha para o dedo. — não vejo uma aliança em meu dedo, é uma corrida — ela disse, como se fosse a coisa mais inocente do mundo. — Hoje à tarde. Eu, você… e o meu maior adversário dentro do campo, Nicolo Ferrini, e quem mais tiver coragem.
Inclinei a cabeça, analisando.
— E o que exatamente eu ganho se aceitar?
Ela segurou meu olhar, e o sorriso se abriu num desafio silencioso.
— A chance de tentar me vencer, e de mê ver vencer aquele idiota. — ela respondeu.
Dei uma risada baixa.
— Eu já estou acostumado a ganhar amore, mas admito que derrotar um inimigo seu é um motivo legal.
Ela se levantou, indo até minha mesa, apoiando as mãos no tampo, se inclinando levemente.
— Então vai ser só mais um dia… ou quem sabe, o dia em que eu te prove o contrário.
O silêncio que se seguiu era denso. Podia sentir o calor dela à distância.
Quando ela se afastou e foi em direção à porta, lançou por cima do ombro:
— Espero você às quatro. Não se atrase… eu corro melhor quando tenho plateia.
Fiquei ali, sozinho, sorrindo como um idiota.
Reunião importante em trinta minutos, mas agora minha mente já estava na pista… e nela.
Minha secretária entrou novamente, avisando que minha reunião havia chegado.
Quando Helena passou por ela e seguiu para a saída, nossos olhares se encontraram por um segundo… e só isso já foi suficiente para eu esquecer que, dali a dois minutos, estaria falando de cifras de nove dígitos.
A porta se abriu, e entrou Valentina Morel, mulher alta, pele bronzeada, curvas acentuadas e um vestido que não deixava espaço para imaginação.
Era linda, sim… mas do tipo de beleza que gritava em vez de sussurrar, e o tipo que não me atraia mais. Cada passo parecia calculado para chamar atenção, mas o exagero tirava o mistério.
— Senhor Delgado — disse ela, estendendo a mão com um sorriso que durou mais que o aperto.
Cumprimentei com a cordialidade exata que a situação pedia, nada além.
— Senhora Morel.
— Senhorita, senhora Morel é a minha mãe. — ela respondeu deixando claro o status de relacionamento, informação irrelevante.
Ela se sentou, cruzando as pernas de forma tão estudada que parecia parte de uma performance. Falava sobre contratos, prazos e valores, mas minha mente já tinha se perdido no barulho discreto da porta fechando atrás de Helena minutos antes.
Meu celular vibrou na mesa. Discretamente, girei a tela para mim.
Mensagem dela.
"Seu tipo de clientes é bem... interessante, se não puder vir entenderei.
Segurei o riso, mas não resisti a digitar de volta:
"Ciúmes? Não se preocupe mi princesa.
A resposta veio rápida.
"Não. Entendo seu trabalho. E o meu na pista também pode ser… bem interessante."
Pronto.
Helena tinha esse poder irritante: com uma frase curta, me deixava com um gosto amargo na boca e uma inquietação no corpo.
Eu estava ali, frente a frente com uma das mulheres mais cobiçadas do mercado, mas nada nela me atraía de verdade. Não quando, no mesmo dia, eu sabia que teria Helena na minha frente de novo… e dessa vez, em alta velocidade.
Valentina falava sobre cláusulas contratuais.
Eu só pensava em motores rugindo e cabelos ruivos voando ao vento.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Marilia Carvalho Lima
❤️❤️
2025-08-22
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Fatima Gonçalves
MAIS UM SOLDADO ABATIDO
2025-08-22
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bete 💗
adorando demais ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-08-16
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