Isabela se encostou na mesa, os braços cruzados, observando Lorenzo como quem tenta decifrar uma língua desconhecida.
— Vamos supor que eu seja maluca o suficiente para considerar isso… o que exatamente você quer?
Ele tirou do bolso interno do paletó um envelope grosso e colocou sobre a mesa.
— Um contrato.
— Você anda com contratos no bolso? — ela ironizou.
— Quando é algo que quero muito, sim — respondeu, impassível. — Aqui estão os termos. São simples: um casamento de um ano. Depois, se nenhum de nós quiser continuar, seguimos nossas vidas.
Isabela ergueu uma sobrancelha.
— E nesse tempo… o que você espera de mim?
Lorenzo apoiou as mãos na mesa, inclinando-se.
— Para a mídia, para meus pais e para todos à nossa volta, teremos que parecer um casal apaixonado. Isso significa eventos juntos, viagens, sorrisos nas fotos, mãos dadas.
—e você recebe 100 milhões quando tudo acabar .
Ela estreitou os olhos.
—pera oque? — E na vida real?
O olhar dele suavizou apenas por um instante.
— Na vida real, eu não toco em você. A menos… que você queira.
A frase ficou suspensa no ar, carregada de significados que ela preferia não analisar naquele momento.
— Então é isso? Um teatro? —
— Um teatro que vai garantir o futuro da sua irmã — disse ele, direto. — Escola particular, roupas novas, médico, tudo o que ela precisar. E você nunca mais vai ter que pisar naquela boate.
Isabela olhou para o contrato. Era como segurar uma chave dourada… que abria uma cela.
— E se eu disser não? —
Lorenzo manteve o tom calmo, mas havia um peso por trás das palavras.
— Então eu encontro outra solução para o meu problema… mas você continua presa ao seu.
O silêncio se estendeu. Ela imaginou Sofia usando sapatos novos, estudando numa escola limpa e segura, com professores que realmente se importavam. Imaginou uma geladeira cheia. Uma vida sem medo de faltar o básico.
Quando falou, a voz saiu baixa.
— Eu aceito.
O canto da boca dele se ergueu num sorriso discreto.
— Ótima escolha, mia bella.
....
Isabela segurava o telefone com força, como se isso fosse dar mais coragem.
O número da boate chamou duas vezes antes de o dono atender.
— Oi, Isa. Aconteceu alguma coisa? — a voz dele soava surpresa.
— Sim… Eu não vou mais trabalhar aí. — disse de uma vez, para não dar tempo de hesitar. — Pode considerar essa minha saída oficial.
Do outro lado, silêncio. Depois, uma risada curta.
— Isso tem a ver com o homem de ontem?
Ela fechou os olhos.
— É… pode dizer que sim.
— Bom… espero que saiba no que está se metendo, menina.
— Eu sei. — mentiu.
Desligou antes que ele fizesse mais perguntas.
O barulho da porta se abrindo a fez levantar do sofá. Sofia entrou, largando a mochila no chão.
— Oi, Isa! — falou, com aquele sorriso cansado de quem passou o dia inteiro na escola. — Você não vai acreditar… a professora disse que vão ter uma feira de ciências e eu preciso comprar uns materiais.
Isabela sorriu de leve.
— Vamos resolver isso, prometo. Mas… preciso te contar uma coisa antes.
Sofia se sentou no sofá, curiosa.
— O que foi?
— Lembra que eu te falei daquele cara que eu conheci na boate? — começou, medindo as palavras. — A gente conversou… e… eu me apaixonei.
Os olhos da menina se arregalaram.
— Apaixonou? Assim, do nada?
— Às vezes a vida é assim, Sofi. — sorriu, tentando parecer convincente. — E… nós vamos morar com ele.
— Morar… com ele? — Sofia repetiu, tentando processar. — Ele é legal?
— Ele é… diferente. Mas vai cuidar muito bem da gente.
A menina hesitou, depois deu de ombros.
— Se você confia nele, eu confio também.
Isabela forçou um sorriso.
— É isso que importa.
Uma batida firme na porta interrompeu a conversa.
Isabela abriu e encontrou Lorenzo, impecável como sempre, parado no corredor.
— Prontas? — ele perguntou, como se a resposta fosse óbvia.
— Ainda preciso pegar nossas coisas — ela disse, apontando para dentro.
Ele balançou a cabeça.
— Não precisam levar nada. Já cuidei de tudo.
Sofia olhou para a irmã, confusa.
— Mas… e minhas roupas?
— Tem roupas novas esperando por você — respondeu Lorenzo, com um sorriso controlado.
Isabela sentiu um frio na espinha. Aquilo era real. Estava acontecendo. E não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 71
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