Luiz Antônio chegou depois das oito da noite, depois que todos nós já tínhamos jantado – incluindo Adam, que estava mais gentil do que nunca, para o alívio da minha mãe.
- Desculpem. – pediu\, afrouxando a gravata – Isso acontece com bastante frequência. Infelizmente. – ele foi dar um beijo em Valentina – Acho bom que você já saiba.
- Sem problemas. – ela sorriu depois do beijo.
- Adam...? – perguntou\, passando os olhos por nós.
- Quarto. – apontei para o andar de cima.
- Ele foi muito difícil hoje? – embora ele tenha sussurrado a pergunta para minha mãe\, eu ouvi e posso jurar que Noely também.
- Perfeitamente educado. – ela garantiu baixinho.
- Vou tomar um banho. – ele andou lentamente até a escada\, como se estivesse muito cansado.
Assim que sumiu de vista, minha avó inclinou o corpo para frente no sofá.
- Certo. Eu não queria me intrometer. – opa\, nada bom pode vir depois disso – Mas você tem certeza de que é isso que quer?
- Mãe. – Valentina disse\, tranquila\, mas com um toque de alerta.
- Só me responda. – insistiu – Todo esse luxo\, um enteado mimado e grosseiro\, atrasos?
- Mãe\, por favor. – minha mãe se levantou\, indicando que não queria falar sobre o assunto.
- Responda! – Noely exigiu.
- Mãe\, por favor. – Valentina colocou a mão na cabeça\, como se sentisse dor – Eu gosto de Luiz Antônio.
- Eu estou cansada desse luxo. – a outra cruzou os braços na frente do peito\, irritada – Sinto falta da minha casa\, das minhas coisas\, de conversar na janela com as vizinhas.
Minha mãe respirou fundo.
- Gostaria que eu a levasse de volta? – sugeriu.
- Na verdade\, gostaria. – Noely ficou em pé – Eu gostaria muito.
- Tudo bem. – cedeu – Vou avisar Luiz Antônio que vou te levar. – minha mãe subiu as escadas com as costas tensas.
Olhei para minha vó. Ela estava com os braços cruzados e a expressão irritada.
- Tem certeza que quer ir agora? – me levantei também – Meio tarde...
- Tenho certeza\, Samantha. – ela rebateu\, meio ríspida – A chuva parou\, sua mãe é ótima motorista e eu já enjoei daqui. Ela estará de volta por volta das dez ou dez e meia.
Vovó morava num bairro bem afastado da cidade, praticamente no município vizinho. O caminho era bom e seguro, mas por ser noite eu ficava um pouco apreensiva.
- Vou fazer as malas. – anunciou\, marchando para o andar de cima.
Poucos minutos depois, as duas desceram juntas. Fiquei aliviada por ver que a expressão de ambas estava mais suave, talvez tivessem conversado um pouco antes de pegar a estrada.
- Samantha. – Valentina disse\, rodando as chaves na mão – Luiz Antônio foi dormir. Eu volto logo.
- Tudo bem. – concordei\, indo abraçar Noely – Foi ótimo te ver.
- Até mais\, querida. – ela me apertou.
- Boa viagem. – desejei às duas.
Assim que o carro se afastou, senti que a casa era grande demais. Minha única alternativa era procurar Adam e ver quando é que ele ia começar a beber.
- Adam? – bati na porta.
Para minha surpresa, ele abriu a porta. Estava, mais uma vez, vestindo apenas calça.
- Sam! – sorriu.
Sam?
Senti o cheiro da bebida.
- Então você já começou...
- Vem. – ele me puxou para o lado de dentro e fechou a porta – Eu guardei para você.
Adam me entregou a garrafa, que estava cheia até um pouco mais do que a metade. Tomei um gole, que desceu queimando.
- A noite está linda\, não é? – ele foi se deitar de atravessado na cama\, olhando na direção da janela.
- É. – concordei\, me aproximando.
Algumas estrelas surgiam no céu quase sem nuvens.
- Eu gosto da noite. – ele sussurrou\, distraído.
A luz do quarto estava apagada e a única iluminação vinha de fora. O rosto de Adam estava totalmente relaxado, a boca em um sorriso suave.
- Vou ligar uma música. – ele pegou o celular do bolso e começou a procurar.
Eu ainda estava sem saber exatamente como me comportar. Me sentar na cama com ele parecia um pouco íntimo demais para duas pessoas que tinham acabado de se conhecer, ficar em pé era estranhamente desconcertante também.
- Isso! – Adam exclamou\, ficando em pé de um pulo.
Os primeiros acordes de “Those Eyes” soaram, em um volume considerável. Instintivamente procurei pela caixa de som, mas não a avistei a tempo. Adam passou a mão pela minha cintura e me ofereceu a outra. Meu corpo ficou rígido.
- É só uma dança. – ele deu de ombros.
Que mal teria?
Coloquei uma mão em seu ombro e a outra encaixei em sua mão, que estava bem quente apesar do frio. Adam fez um movimento de aprovação com a cabeça, sorrindo, e aproximou nossos corpos. O cheiro de seu perfume me atingiu, forte, mas muito bom. Um cheiro que eu nunca tinha sentindo em nenhum outro garoto.
Balançamos suavemente pelo quarto, embalados pela música suave. Adam se aproximou um pouco mais e apoiei a cabeça em seu peito. Quando a música terminou, tentei me afastar, mas ele não deixou.
- Só mais uma vez. – sussurrou.
“Those Eyes” recomeçou. Dei uma risada abafada contra sua pele.
Dançamos por uma segunda vez e uma terceira, depois disso eu fui pegar a garrafa para meu segundo gole da noite. Ele continuou balançando para lá e para cá de olhos fechados.
- Isso aqui é tudo meu? – perguntei\, balançando a garrafa na frente dele.
- De jeito nenhum. – Adam pareceu sair do seu transe e deu um pulo para pegar a garrafa.
Ele se sentou na cama e bateu com a mão no colchão, me chamando. Me sentei do outro lado, deixando uma boa distância entre nós dois.
- Cara\, isso é uma loucura tão grande. – comentou\, olhando para o teto – Meu pai vai se casar.
- É uma loucura para mim também pensar que a minha mãe vai se casar. – concordei.
Ele respirou fundo, sério.
- As vezes parece que eu ainda sou só um garotinho esperando a mãe voltar para casa.
Meu coração se apertou. Eu queria consolá-lo, mas não sabia como.
- Sinto muito. – foram as únicas palavras que consegui pensar. Genial.
- Vamos terminar isso. – ele levou a garrafa até a boca.
Continuamos ali, conversando superficialidades e dividindo a garrafa, e acabei perdendo a noção do tempo. Pensei que odiaria Adam, pela nossa primeira impressão, mas até que era confortável ficar perto dele quando não estava bancando o idiota arrogante e mimado.
- Droga! – exclamei – Que horas são?
Eu tinha esquecido completamente da minha mãe. Será que ela já tinha voltado?
- Hum. – Adam pegou o celular do bolso – Dez e vinte e dois.
Saltei da cama. Bambeei um pouco com o esforço, mas consegui me recuperar rapidamente.
- Que foi? – ele virou a cabeça na minha direção\, mas parecia sonolento.
- Minha mãe.
- Você vai voltar? – as palavras saíram mais moles.
Me virei. Adam estava de olhos fechados e com a boca entreaberta, provavelmente já estava dormindo.
Balancei a cabeça, sorrindo comigo mesma, e saí do quarto.
Minha mãe passou pela porta assim que cheguei no andar de baixo.
- Nossa\, que frio. – ela esfregou os braços – Ainda acordada?
- Queria saber se você chegaria bem.
- É\, foi tudo bem. – ela suspirou – Sua avó praticamente não disse nada o caminho todo.
- Ela vai melhorar. – dei de ombros\, tentando soar leve.
- Você também não está à vontade com isso? – a mudança de assunto me pegou desprevenida – Ela me disse algo do tipo.
- No começo eu estava um pouco... desconfortável. – escolhi as palavras com cuidado – Mas\, agora\, acho que estou começando a relaxar um pouco.
- Fiquei com medo que ficasse contra o casamento. – os ombros de Valentina relaxaram instantaneamente.
- Eu estou sempre do seu lado. – mais uma vez\, pensei bem nas palavras – Se você acha que isso é o melhor\, vou apoiar.
- Que bom\, filha. – ela passou os braços ao meu redor – Estou muito feliz!
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Solange Borkovski
Adorando até aqui!
2025-08-07
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