Explico que comigo as coisas são diferentes.Você acha que escolhe ,mais é sempre eu que decido.
Você ainda não percebeu, mas comigo nada é deixado ao acaso. Cada olhar, cada palavra, cada silêncio é uma peça posicionada com precisão no tabuleiro que nós dois ocupamos. O problema é que você insiste em acreditar que existe espontaneidade aqui. Não existe. O que existe são regras — minhas regras — que você vai seguir, quer queira ou não.
O dia começa como qualquer outro na empresa. O som dos saltos apressados ecoa no corredor, o burburinho das vozes se mistura ao clique frenético dos teclados, mas nada disso me distrai. Eu sei exatamente quando você entra. Sei pelo ritmo dos passos, pela pausa curta antes de atravessar a porta do setor, como se estivesse medindo a própria respiração. Sei também que você evita olhar diretamente para mim, porque já entendeu que qualquer contato visual entre nós é um risco — e, convenhamos, riscos são o combustível deste jogo.
Meu pai, Eduardo Albuquerque, está no centro da sala de reuniões, espalhando gráficos e relatórios sobre a mesa como um general analisando o campo de batalha. Ele é meticuloso, frio e exige resultados, mas comigo as exigências são diferentes. Não porque sou seu filho, mas porque ele me criou para lidar com desafios de outra natureza. E você, Josefina, é um deles.
— Leon, precisamos falar sobre a apresentação para o conselho — ele diz, sem levantar os olhos dos papéis.
Traduzo mentalmente: “Mostre que está no controle.” Sempre.
Eu respondo com um aceno, mantendo minha postura impecável, a gravata perfeitamente alinhada. Mas meus olhos, inevitavelmente, procuram você. Está a três cadeiras de distância, folheando um relatório como se o conteúdo fosse a coisa mais importante do mundo. Não é. O importante é que você sente a minha atenção e finge que não sente. É aqui que entra a primeira regra.
Regra número um: nunca demonstrar demais.
Se você pensa que eu me aproximarei abertamente, está enganada. Meu jogo é de aproximações calculadas, de ausências que pesam mais do que presenças. É deixar você se perguntar por que, hoje, eu não lhe dirigi nenhuma palavra, quando ontem eu quase sussurrei algo ao seu ouvido.
Minha mãe, Vera Vidal, entra na sala alguns minutos depois. Diferente do meu pai, ela domina o ambiente com charme e sorriso, mas não se engane: Vera também sabe jogar. Ela me ensinou que poder não é só sobre autoridade, é sobre saber ler as vulnerabilidades alheias. E, Josefina, é impossível não perceber as suas. Sua insegurança disfarçada de eficiência. Seu cuidado excessivo com os detalhes, como se cada folha de papel que organiza fosse uma barreira contra qualquer crítica. Isso me fascina.
— Josefina, querida — minha mãe diz, aproximando-se de você com aquele tom quase maternal. — Soube que está ajudando o Leon no projeto.
Eu sorrio internamente. Não é ajuda, é submissão velada. E você nem percebe que já está cedendo.
Quando a reunião termina, sigo para minha sala. Não te chamo. Não te olho. Não te dou nada. Regra número dois: criar a expectativa. Você aprende rápido que, quando eu quero, sei ignorar como ninguém. E é nesse silêncio que você começa a pensar demais. A se perguntar se fez algo errado, se deveria ter tentado falar comigo, se estou descontente com seu desempenho.
No entanto, no meio da tarde, mudo a direção. Apareço na sua mesa com dois cafés — um para mim, outro para você. Não é convite, é imposição. Coloco o copo ao lado do seu teclado e me inclino o suficiente para sentir seu perfume.
— Você prefere com açúcar, não é? — pergunto, sabendo a resposta.
Seus olhos se erguem, surpresos por eu lembrar.
— Sim… obrigada.
O que você não percebe é que, nesse momento, já estou no controle novamente. É a terceira regra.
Regra número três: dar pouco, mas de forma memorável.
Não é sobre quantidade, é sobre intensidade. Um gesto simples, mas inesperado, pode reverter horas de ausência. Você se apega ao momento, guarda para si como se fosse prova de que existe algo especial. Não existe. Não ainda. O que existe é uma estratégia.
No final do expediente, você tenta sair discretamente, mas meu pai a intercepta no corredor. Ele fala sobre prazos, sobre metas, sobre a importância de manter o ritmo. Eduardo não percebe — ou talvez perceba e escolha não interferir — que o que ele diz só aumenta a pressão sobre você. E eu me aproveito disso.
Mais tarde, quando já está na rua, envio uma mensagem curta:
"Amanhã, 8h, sala de reuniões. Não se atrase."
Não explico o motivo. Não dou espaço para questionamentos. É a quarta regra.
Regra número quatro: manter o mistério.
Você aprende a seguir ordens não porque eu exijo, mas porque a curiosidade é mais forte do que sua resistência. E quando chega o dia seguinte, está lá, exatamente no horário, como eu sabia que estaria.
No encontro, não falo de trabalho de imediato. Falo sobre a importância de confiança. Sobre como, para que um projeto funcione, é preciso que ambas as partes entendam o papel que desempenham. Olho nos seus olhos e deixo o peso das palavras cair lentamente.
— No nosso jogo, Josefina, não há espaço para hesitação. Ou você entende as regras, ou será engolida por elas.
Você engole em seco, e eu percebo. Sempre percebo.
Minha mãe aparece mais tarde, trazendo comigo um tom de aprovação velada. Ela não diz nada explícito, mas o olhar dela é claro: ela já me viu fazer isso antes. Talvez aprove, talvez apenas se divirta com o que vê. Vera gosta de observar — ela sabe que, mais cedo ou mais tarde, você vai se dar conta de que não consegue mais sair.
Quando você volta para sua mesa, já não olha para mim da mesma forma. Existe algo de inquieto nos seus movimentos, como se cada palavra minha ainda ecoasse na sua cabeça. É exatamente assim que eu quero que seja.
E então, ao final do dia, revelo a quinta e última regra — pelo menos por agora.
Regra número cinco: nunca deixe que o outro saiba quando o jogo acaba.
Porque, Josefina, talvez ele nunca acabe. Talvez cada conversa, cada toque, cada silêncio seja apenas o início de mais uma rodada. E no momento em que você acreditar que ganhou, é aí que vai perceber que só estava jogando pelas minhas regras.
Você sorri, ainda sem entender completamente. E eu retribuo, sabendo que, a partir daqui, o jogo não é mais uma possibilidade. É um fato. E, como sempre, eu já estou três jogadas à frente.
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Atualizado até capítulo 41
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