Oito em ponto

— Você não me disse o seu nome... — murmurou Olívia, saindo do banheiro envolta em um roupão branco, ainda com os cabelos úmidos escorrendo pelas têmporas.

Olhou em volta. A cama desfeita, os lençóis ainda mornos, o cheiro da noite anterior no ar — e nenhum sinal da jovem.

Olívia franziu o cenho.

— Foi embora...

Seu olhar caiu sobre a mesa de cabeceira. A aliança. Estava ali, solitária, feita de ouro fosco. Discreta, mas marcante. Ela fechou os olhos, praguejando em silêncio.

— Ela viu?

Caminhou até a sala. Nada. Nenhum vestígio da jovem — nem bilhete, nem número, nem perfume.

Apenas o eco do desejo mal resolvido.

Por alguns segundos, ficou parada, mãos nos quadris, sentindo algo estranho crescer dentro do peito. Desapontamento?

— Besteira... — murmurou. — Melhor assim. Assim nenhuma de nós se apega.

Ela apertou o nó do roupão, como quem tenta reafirmar o controle de si.

Afinal, Olívia Stanford não se apaixona.

[…]

Oito em ponto.

Olívia entrou no prédio imponente da J&O Construtora. Seus saltos ecoaram pelo saguão de mármore claro. Elegante, decidida, como sempre — vestia um conjunto alfaiatado azul-escuro com uma blusa de seda branca, o colar fino com um único diamante no centro do peito. Cabelos soltos, secos e perfeitamente escovados, como se a noite anterior nunca tivesse acontecido.

— Senhora Stanford — disse Camila, sua assistente pessoal, aproximando-se com passos apressados.

— O senhor O’Neil a espera no auditório para recepção dos novos colaboradores.

— Julian, sempre pontual... — Olívia suspirou, caminhando em direção aos elevadores. — Diga a ele que ainda estou me habituando ao fuso horário.

Anos fora, lembra?

— Claro, senhora — respondeu Camila, com um sorriso cúmplice.

[…]

Jenny ajeitou-se na segunda fileira do pequeno auditório.

Tentava se manter discreta. Sem chamar atenção.

Só queria passar aquela manhã de integração sem tropeçar. Usava uma camisa de botão branca, calça social e um rabo de cavalo baixo, perfeitamente alinhado.

Ainda sentia o gosto da tequila nos lábios.

Ainda sentia as mãos daquela mulher na sua pele.

Ainda se perguntava o nome dela.

O celular vibrou. Pegou discretamente e sorriu ao ver o nome de Giovanna.

Best Gio: Jen, você não tomou café, sua louca. E nem dormiu no meu apê. Quero detalhes. Urgente.

Jenny digitou rápido.

Jen: Te conto depois. Tentando me concentrar na integração. Beijos.

Respirou fundo e guardou o celular.

Ao lado, dois estagiários falavam sobre como conseguir uma vaga efetiva. Jenny apenas balançava a cabeça, fingindo não ouvir. Na verdade, estava num limbo entre a ressaca e a lembrança daquela voz rouca perguntando se ela queria fugir por uma noite.

[…]

— Sejam muito bem-vindos à J&O Construtora. — A voz de Julian O’Neil preencheu o auditório. Firme, calorosa, segura. — Hoje começa uma nova fase para todos vocês. Aqui, não buscamos apenas talento técnico, mas gente que queira transformar ideias em espaços, em histórias, em marcas no mundo.

Jenny fingia anotar algo, mas o olhar vagava. Seu pai estava no palco, falando com entusiasmo — ela sabia que ele era bom nisso, carismático e inspirador — mas a cabeça dela estava a quilômetros de distância. Mais precisamente… em uma cama desfeita, com lençóis brancos e cheiro de perfume amadeirado.

Suspirou.

— Essa empresa nasceu de uma amizade improvável, de uma parceria construída na base da confiança — dizia Julian. — E é com muito orgulho que divido essa jornada com a mulher que vocês conhecerão agora.

Jenny levantou os olhos, distraída.

— Com vocês, Olívia Stanford.

A porta do fundo do auditório se abriu suavemente. O som dos saltos sobre o piso de madeira pareceu marcar cada segundo da entrada. E então ela apareceu.

Jenny congelou.

Cabelo castanho escuro, liso, impecavelmente solto abaixo das orelhas. A pele dourada, o rosto firme e elegante. A mulher do vestido vermelho agora usava um conjunto azul marinho que moldava o corpo com sofisticação e poder. O mesmo andar firme. O mesmo olhar cortante.

A respiração de Jenny falhou por um segundo.

Não. Não pode ser.

Olívia parou ao lado de Julian no palco, mantendo o semblante profissional. Mas o olhar dela… o olhar varreu o auditório, como uma profissional, mas não esperava que iria encontrar.

Ali, sentada na segunda fileira. Vestida de branco, pálida, com os olhos arregalados e os lábios entreabertos. Olívia sentiu o estômago revirar, mas não deixou transparecer. Seus anos de autocontrole a treinaram para não demonstrar fraquezas.

Mas por dentro, gritava.

— Olívia? — chamou Julian, notando a hesitação da amiga. — Pode seguir?

Ela pigarreou.

— Claro. — A voz saiu limpa, como se nada tivesse acontecido. — Bom dia. A J&O é mais do que uma empresa, é uma visão sobre o futuro urbano. Aqui, prezamos pelo rigor, pela excelência, e... — seus olhos voltaram para Jenny, que não piscava — ...pela discrição.

Jenny sentiu o rosto arder. O que estava acontecendo? Como isso era possível? A mulher da noite passada era sócia do pai dela?

Não. Não, não, não…

Olívia respirou fundo.

— Para nós, vocês não são apenas números. São criadores. E esperamos que estejam preparados para desafios reais.

O discurso continuou, mas Jenny não ouvia mais nada. Cada palavra era abafada pelo som do próprio coração acelerado. O mundo parecia comprimido numa bolha de vergonha, confusão… e desejo. Porque, apesar de tudo, a imagem da noite passada queimava na pele como ferro quente.

Quando a apresentação terminou, Julian anunciou:

— Os novos colaboradores receberão agora uma visita guiada pelos setores. E, para encerrar, nossa diretoria fará uma recepção informal no terraço.

Jenny foi a primeira a levantar, ainda trêmula. Mas antes que conseguisse dar dois passos, ouviu a voz grave e baixa ecoar ao seu lado:

— Filha, pode vir aqui um minuto?

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Comments

Maria Andrade

Maria Andrade

eita porra que coincidência hein amei

2025-08-06

2

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