Solis

| Taylor J. Kohler |

Thalissa sempre fora muito mais do que uma simples namorada para Taylor. Na verdade, os dois se conheciam desde a infância, graças a uma antiga amizade de suas mães. Camila Kohler era amiga de Lourdes MacLean desde a faculdade — juntas compartilharam aventuras hippies e confidências que perduraram por toda a juventude e vida adulta. Por ironia ou destino, ambas engravidaram quase na mesma época.

Taylor sempre gostou de ouvir essas histórias da juventude dos pais — eram divertidas e, por vezes, até reveladoras. Seu pai fazia parte de várias dessas aventuras, e era quase impossível que Taylor e Thalissa não se aproximassem.

Inicialmente, ele não pretendia ultrapassar os limites da amizade… mas quando se deu conta, já estavam em um relacionamento sólido, há quase três anos. Para a alegria dos MacLean — e para a surpresa constante dos próprios pais de Taylor.

— Você parece cansado, Jamie. — A voz de Camila, com seu tom tranquilo, se faz ouvir enquanto ela se aproxima do filho, que estava afundado em anotações de bioquímica na mesa de jantar.

Taylor ergue os olhos para a mãe. Ele adorava como os olhos cor de mel dela brilhavam sob a luz suave da manhã, filtrada pela persiana entreaberta.

— Estou sempre cansado. Isso se chama vida adulta. — Ele suspira.

— Não exagere, Jamie.

— Mãe, por que a senhora pôs Taylor como meu primeiro nome? — Ele pergunta de repente, franzindo o cenho. Camila sorri, dando de ombros, ajeitando uma mecha de cabelo dele atrás da orelha.

— Você faz perguntas demais, Jamie. — Ela responde num tom quase brincalhão. — Pergunte ao seu pai, foi ele quem insistiu em Taylor.

— Então poderia me chamar de Taylor. Jamie é feminino demais. — Ele rebate, quase rindo.

Camila gargalha baixo. Aquele era um tema recorrente — toda vez a resposta era a mesma.

— Jamie é um nome neutro, querido. — Ela alisa os cabelos negros do filho com carinho. — Nunca quis colocar em você um peso que não combinasse com quem você pudesse se tornar.

Taylor revira os olhos, segurando um sorriso. Às vezes era difícil acompanhar a forma aberta e moderna com que seus pais viam o mundo. Por mais que adorasse isso neles, não deixava de ser intimidador.

— Às vezes esqueço que você é terapeuta familiar. — Ele comenta, sarcástico. — É difícil acompanhar sua forma de pensar.

— Não seja rabugento, Jamie. — Ela se senta ao lado dele, examinando a pilha de livros espalhados. — Qualquer jovem de 21 anos adoraria ter uma mãe como eu. Sou pacifista.

— Pacifista e moderna demais para o nosso próprio bem. — Ele se esquiva de um tapinha que Camila tenta lhe dar, rindo da careta que ela faz.

— Você tem sorte de seu pai e eu não nos importarmos por ter um idoso de 87 anos como filho. — Ela brinca.

— Não se envergonharia se eu fumasse maconha na praça com o Louis, mas se envergonha por eu ser centrado? — Ele a provoca, arqueando uma sobrancelha.

— Louis não fumaria maconha, Jamie. — Camila rebate, divertida. — E ter 21 anos sendo tão contido é vergonhoso para sua geração.

— Não exagera, mãe. — Ele começa a empilhar livros junto com ela. — E Louis não pegaria um baseado nem por engano. — Ele completa, arrancando outra risada dela.

— Tá bem. Noventa por cento é exagero. — Ela entrega os livros a ele, num gesto carinhoso. — Diria que 88% é mais preciso.

— O quê é 88%? — John, o pai, pergunta ao surgir na sala, depositando um beijo rápido no topo da cabeça do filho antes de beijar a esposa.

— É a porcentagem de tempo que Jamie desperdiça sendo um idoso precoce. — Camila responde, divertindo-se.

John, com suas calças jeans surradas e as mãos nos bolsos, encara os dois com humor.

— Pai, lide com essa mulher. É responsabilidade sua. — Taylor suspira, caminhando para o quarto — mas não sem ouvir o comentário do pai:

— Ela é demais pra todo mundo, Tayjay.

〰〰

— Tay, pensei em sairmos hoje à noite. O que acha? — Thalissa pergunta, esparramada na cama dele, observando-o digitar ferozmente no notebook.

— Eu tinha uns trabalhos pra terminar, Thaly. É Natal em menos de duas semanas. — Ele suspira, levantando o olhar para ela.

Thalissa era linda — o estereótipo perfeito da garota inglesa: cabelos longos castanho-claros, olhos azul-cristal, magra o suficiente para ser modelo, mas baixa demais para de fato ser uma. Taylor gostava dela. De verdade. Thalissa MacLean era compreensiva, doce, amável… Talvez fosse por isso que continuassem juntos por tanto tempo.

Claro que ele não se orgulhava de esconder suas terças-feiras dela. Mas o que poderia dizer?

"Thalissa, eu gosto de sadomasoquismo. Isso mesmo! Apanhar me faz bem, e procuro isso toda terça à noite."

Era um assunto complicado. E o fato de todos o considerarem recatado, tradicional, quase careta, só deixava tudo ainda mais engasgado dentro dele.

— Ah… tudo bem, então. — Ela murmura, tentando disfarçar a pontada de decepção. — Você se importa se eu for sozinha?

— Claro que não, Thaly. — Ele sorri, pegando a mão dela. — Vai, aproveita.

Thalissa segura o sorriso, mas nos olhos há uma tristeza contida. Às vezes, ela tinha certeza de que era a única que amava de verdade naquele relacionamento. Mas não era aquele o momento para tocar nesse assunto.

⚪⚫〰〰⚫⚪

| Chloe Beth Parker |

Se Chloe parasse para pensar, veria o quão grande era a mentira em que vivia. Talvez a única verdade fosse Charlie.

Ela não se preocupava tanto com o que Alex faria se descobrisse suas escapadas nas terças e quintas. Na verdade, seu marido era o menor dos problemas. Sua maior preocupação estava ali, sentado no banco de trás do carro: um garotinho de cachos cor de mel, brincando com um boneco de super-herói.

— Mamãe, por que não podemos visitar a vovó Sarah? — A pergunta de Charlie faz Chloe engolir em seco. Como explicar a uma criança que a avó era uma pessoa amarga, quase cruel? E tão indiferente à existência do neto que isso feria Chloe mais do que qualquer outra coisa.

— Amor, mamãe já explicou que a vovó Sarah viaja muito.

— Mas ela nunca mais vai voltar dessa viagem?

Chloe suspira, lançando um olhar terno pelo retrovisor. Ele brinca distraído, inocente demais para as sombras do mundo adulto.

— Quem sabe, meu amor. Não pense nisso agora, tá bem?

Ela respira aliviada quando o menino apenas balança a cabeça, voltando sua atenção para o bonequinho. Falar sobre a família era sempre um campo minado. Alex já sabia: se o nome Sarah Vince surgisse numa conversa, era certo que tudo desandaria.

E no fundo, Chloe sabia que parte de sua escuridão vinha daquela mulher. A mãe que a trouxe ao mundo, mas que jamais a acolheu. Suas sessões de BDSM eram o refúgio, a válvula de escape para toda a raiva acumulada. Se um dia soubessem, diriam que ela açoitava pessoas por prazer — e estariam certos. Mas, para Chloe, era muito mais do que isso. Era a única forma de não ser engolida pelo próprio ódio.

〰〰

— Bom dia, senhora... digo, Chloe. — Emma era sempre o primeiro rosto que Parker via ao chegar na editora. Aquilo tornava as manhãs frias de Manchester menos cinzentas.

— Bom dia, Emma. — Chloe entrega seu casaco, lançando-lhe um olhar apreciativo.

— Algo importante para mim esta manhã? — pergunta, ajustando os óculos.

— Benedict Sahndo enviou o manuscrito. Já enviei direto para seu e-mail. — Emma responde, enquanto pendura o casaco. — E o reitor da The Manchester College ligou, confirmando sua palestra para sexta, às dez e meia.

— Ótimo. — Chloe pega os papéis que Emma lhe entrega. — Você confirmou?

— Sim, senhora.

— Perfeito. Qualquer coisa... estou na minha sala, sim? — Chloe lança um olhar significativo. Emma cora, piscando algumas vezes, mas antes que Chloe atravesse a porta, a secretária a chama:

— Ahn... Chloe? — Ela se vira, arqueando a sobrancelha. — A senhorita Francis... não pareceu gostar de me ver na sua sala... naquele dia.

Mordiscando levemente o lábio inferior para conter um sorriso, Chloe pigarreia.

— Não ligue muito para Evanna. Ela normalmente não gosta de ninguém.

— Mas ela parece gostar muito de você... digo, da senhora. — Emma se corrige, enrubescendo.

— Você acha? — Chloe inclina a cabeça, curiosa. Duas coisas lhe divertiam: a ousadia velada de Emma e a possibilidade de Evanna estar, de fato, envolvida.

— Bom, se me permite dizer... acho que sim.

— Hm, interessante. — Chloe abre a porta do escritório, mas antes de entrar, lança uma piscadela: — Tenha um bom dia, raio de sol.

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