Blood Moon

Blood Moon

Solis

Mensagem de Solis

"Sessão hoje. Esteja pronta no mesmo horário de sempre. Estarei lá às 18:30min."

(14:40) ✅

Luna — hoje (14:44)

"Ok."

〰〰

| Chloe Beth Parker |

Era um daqueles dias. Chloe sentia na pele — uma inquietação que começava cedo, queimando sob a camisa de seda mesmo com o ar-condicionado ligado. E, por isso mesmo, não havia outra coisa que a Editora-Chefe e dona da ParkerBooks Company desejasse mais do que mergulhar em uma de suas sessões.

Intuitivo, quase animal: bastou ver aquele link no e-mail para agendar tudo, como se o simples clique fosse acender nela um interruptor. E, claro, liberou horários especiais para alguns interessados — pontuais, selecionados.

Ela ergue o olhar, ajusta os óculos, observa a pilha de documentos organizados por Emma. Sempre Emma — eficiente, metódica — mas, naquele dia, a secretária teve que sair mais cedo. Resultado? Correções, escritores ansiosos, clientes exigentes… tudo nas mãos de Chloe.

Quando pega o celular de novo, encontra o “Ok” seco de Luna. Um sorriso irônico escapa.

— Quanto afeto, não é? — murmura, largando o telefone na gavetinha. E volta a afundar a caneta entre contratos e rabiscos, tentando conter o pulso acelerado.

〰〰

Mais tarde, em casa, a raiva engole o desejo.

— Você me disse que pegaria Charlie na escola, Alex! — Larga a bolsa e as chaves sobre o aparador, a voz fria cortando a sala espaçosa. Alex, como sempre, está com o notebook no colo, digitando frenético.

Alex Augustus Parker: marido impecável no papel. Professor universitário, bem-apessoado, charmoso na medida certa. Casados há mais de dez anos — Chloe sabe que muita gente os inveja. Mas ninguém vê o quanto ele é displicente com as pequenas coisas. As coisas que importam.

— Nosso filho… você esqueceu de novo. — Ela gesticula para que Charlie suba pro quarto. O menino obedece, a cabecinha baixa. — Alex, você está me ouvindo?

Ela fecha o notebook com força, prensando os dedos dele. Ele xinga, frustrado.

— Porra, Chlou! Eu perdi todo o arquivo—

— Não me importo! Eu quero uma explicação.

— Eu… — Alex coça a nuca, tentando não encará-la de frente. — Eu estava corrigindo uns trabalhos, perdi a hora.

Chloe ri — seco, sem humor.

— Corrigindo trabalhos. Certo. — Ela busca a bolsa outra vez. — Fique com Charlie hoje. Eu tenho sessão às 18h30.

Alex abre a boca para retrucar, mas Chloe já sobe a escada com passos firmes. De costas para ele, seu olhar fere.

Antes de entrar no quarto, seu celular vibra. Uma mensagem. Uma notificação. Breve, insignificante — mas o remetente faz um arrepio gelado passar pela espinha. Chloe não abre. Não hoje.

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| Taylor J. Kohler |

Taylor encara o reflexo da tela. O site de BDSM ainda aberto — ficha de cadastro preenchida, confirmação no e-mail. É como se seu coração batesse no ritmo da barra de progresso carregando.

Ele sabe que não é a primeira vez. Pesquisas, fóruns, relatos anônimos. Ele devora cada detalhe, mas nunca teve coragem de dar o próximo passo. Até agora.

— Seria interessante se você ao menos fingisse que me escuta, nerd. — Louis encosta o ombro no dele, espiando a tela do celular. — Que porra é essa, hein?

Taylor minimiza rápido, atrapalhado.

— Minhas notas do semestre. — Mente.

Louis solta uma gargalhada alta.

— Ah, claro. O gênio da Quântica estudando notas antigas. Você é patético, Kohler.

Odiava esse apelido. Mas odiava mais ainda como Louis tinha razão sobre tudo. Sobre Thalissa, por exemplo — namorada perfeita, namoro de fachada. Taylor sente culpa, mas não consegue sair. E agora, ali, segura o celular como se fosse um passaporte para um outro mundo. Um mundo que talvez o aceite de verdade.

— Queria saber como a Thalissa te atura. — Louis cutuca, enquanto ajusta a lente da Canon. — Falando nisso… olha quem tá vindo aí.

O Audi branco para do outro lado do gramado. Dustin Armstrong salta do carro, o sorriso debochado. Óculos escuros caros, barba cerrada, roupas que moldam cada curva. Do lado dele, a risada de uma amiga ecoa — espalhafatosa, irritante.

— Ele é um idiota. — Taylor resmunga, afundando o rosto no cachecol.

— Pode até ser, mas é um idiota fotogênico. — Louis ergue a câmera, mirando sem pudor.

Taylor o cutuca, tentando avisar que Dustin os viu. Tarde demais.

— Autógrafos só depois, hein? — Dustin puxa os óculos para baixo, mirando Taylor com um sorriso de canto de boca. — E, por favor, lavem bem as mãos se forem bater uma pensando em mim. Virgens.

Ele piscaria um olho, se não fosse tão irritante. Taylor engole seco. Louis ri, satisfeito.

— Eu odeio você. — Taylor sussurra, vermelho.

— Não odeia. — Louis sorri, ajustando o foco.

— Vai se foder. — Taylor suspira, já se levantando. — E preciso de carona depois.

Sem esperar resposta, caminha de volta para o prédio. O celular vibra de novo. Ele sabe de quem é a notificação.

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| Chloe Beth Parker |

Horas depois, Chloe observa a rua vazia pelo retrovisor do Mercedes. O banco do carona guarda a maleta de couro, fechada com cadeado. Cada batida do motor parece sincronizada com o latejar em suas têmporas.

Ritual: as roupas claras, o blazer justo, as luvas de renda cobrindo a pele macia. O broche do Sol brilha na lapela. Solis. Seu codinome. Sua máscara.

No cômodo reservado, Luna já a espera. O preto, o contraste. O broche de Lua preso na lapela, iluminado pela luz difusa. Chloe desliza a máscara de renda branca sobre o rosto, sentindo cada fio se ajustar.

— Pronta? — pergunta, a voz baixa, firme.

Luna sorri. O batom vermelho-sangue mais forte que a luz fraca.

— Sempre. — Ela arruma um fio rebelde no coque de Chloe. — Está linda, Solis.

As duas se encaram no espelho, o silêncio mais denso que qualquer palavra. Elas saem do closet. Portas fechadas, chave girando.

— Ajoelhe-se, docinho… — Luna comanda, a voz serpenteando pelo ar.

— Esperamos que tenha sido um bom garoto. — Solis arrasta o açoite trançado pelo chão de madeira, o som ecoando como um presságio.

E ali, na penumbra, o mundo delas recomeça.

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