A cozinha estava cheia do cheiro de comida simples, mas feita com carinho. Lia tinha ajudado a esquentar o arroz e o feijão, enquanto Caio picava uma salada distraidamente… ou melhor, distraído nela.
Eles se sentaram um de frente para o outro. Lia começou a comer quieta, mas Caio não aguentou ficar calado por muito tempo.
— Tá uma delícia, cozinheira. — disse ele, com aquele sorriso que ela já começava a odiar por gostar.
— Nem fui eu que fiz direito, Caio… só esquentei as coisas. — respondeu ela, tentando não sorrir.
— Ué, esquentar também é arte. — falou, inclinando-se para frente. — E se tem alguém que esquenta fácil aqui… é você.
Lia largou o garfo e arregalou os olhos: — O quê? — perguntou, fingindo indignação, mas o rosto já começava a corar.
Caio deu uma risadinha curta: — Ah, não finge que não entendeu… olha só essa cara vermelha.
— Caio, você é insuportável, sério! — disse ela, pegando o copo d’água e bebendo rápido para disfarçar.
Ele a olhava com atenção, como quem se diverte com cada reação: — Mas você não consegue ficar sem me responder… engraçado, né?
— Eu não respondo porque gosto, eu respondo porque você é chato demais! — retrucou, cruzando os braços.
Caio apoiou o garfo no prato, ficou um instante olhando pra ela, sério, e então disse: — Sabe, Lia… eu gosto de te ver assim, sabia?
Ela piscou rápido: — Assim como?
— Assim… toda brava, toda cheia de razão, mas com essa carinha de quem tá escondendo um sorriso.
Lia ficou surpresa, engoliu seco e desviou o olhar: — Você fala umas coisas nada a ver, Caio… — murmurou, mexendo no prato.
Mas Caio não tirava os olhos dela. E, num impulso, disse mais baixo: — Não é nada a ver… é só que… você fica linda até quando tá me xingando.
Lia levantou os olhos, surpresa, o coração acelerando: — Caio… você… — ela não conseguiu terminar a frase, sentiu o rosto arder.
Ele sorriu de canto, satisfeito por tê-la pegado de surpresa: — O quê? Não posso falar a verdade agora?
Lia abaixou a cabeça, tentando esconder o sorriso nervoso.
Lia terminou de mexer no prato, ainda sentindo as palavras dele ecoarem na cabeça:
"Você fica linda até quando tá me xingando."
Ela se levantou, pegou o prato vazio e levou até a pia, tentando ocupar as mãos e esconder o nervosismo. Caio continuou sentado por alguns segundos, observando cada movimento dela com um sorriso discreto no rosto.
Ele então se levantou também e foi até a pia, encostando-se ao lado dela.
— Deixa que eu lavo… — disse, pegando a esponja.
— Eu sei fazer isso, Caio… — retrucou, tentando parecer firme, mas a voz saiu mais baixa do que queria.
— Eu sei que sabe… — respondeu ele, rindo de leve enquanto começava a ensaboar os pratos. — Mas eu quero ajudar.
O silêncio ficou por alguns segundos, só o barulho da água correndo na pia. Lia mexia no pano de prato nervosamente, sentindo a proximidade dele. O braço dele roçava de leve no dela cada vez que ele se movia.
— Lia… — disse Caio de repente, com a voz mais séria.
Ela virou o rosto, sem entender:
— Oi?
Ele a encarou por um instante, como se estivesse pensando se deveria ou não continuar. E então disse:
— Você sabe que eu não tava bravo com você ontem, né?
Lia sentiu o coração disparar de novo.
— Não parecia, Caio… parecia que você me odiava…
— Eu nunca conseguiria te odiar. — respondeu ele, baixo, ainda lavando os pratos, mas a voz carregada de sinceridade. — É só que… eu não gostei do jeito que aquele garoto ficou perto de você.
Ela ficou surpresa, piscando rápido:
— Você tá… com ciúmes?
Caio parou o que estava fazendo, apoiou as mãos na pia e deu um sorriso sem jeito:
— Talvez… — disse, olhando para ela de lado. — E isso te surpreende?
Lia ficou sem palavras, as bochechas queimando, e desviou o olhar:
— Você tá doido…
— Tô doido, sim… — respondeu ele, rindo baixinho. — Doido por você, Lia.
Ela o encarou, totalmente sem reação, o coração disparado. A pia, a cozinha, tudo pareceu sumir por um instante. Ele se aproximou um pouco mais, olhando direto nos olhos dela, e por um segundo ela achou que ele fosse beijá-la ali mesmo.
Mas Caio apenas pegou o pano de prato da mão dela, com um sorriso de canto, e disse:
— Vai descansar um pouco… deixa que eu termino aqui.
Lia saiu da cozinha com as pernas bambas, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir, enquanto Caio a seguia com os olhos, sentindo que estava cada vez mais difícil esconder tudo o que sentia.
Lia foi para o quarto, deitou na cama de lado e ficou abraçando o travesseiro, o coração disparado. “Doido por você, Lia…” A frase dele se repetia na mente dela como um eco. Ela passou a mão no rosto, tentando se acalmar, mas o sorriso bobo insistia em aparecer.
Na sala, Caio terminou de lavar os pratos e ficou alguns segundos apoiado na pia, respirando fundo. Também não conseguia acreditar que tinha falado aquilo. “O que deu em mim?”, pensou, mas ao mesmo tempo não se arrependia.
Um tempo depois, ele bateu de leve na porta do quarto dela.
— Ei, Lia… posso entrar?
— Pode… — respondeu ela, ajeitando o cabelo rapidamente.
Caio entrou com um sorriso tímido, as mãos no bolso da bermuda.
— Quer assistir alguma coisa? Ou tá cansada?
Lia hesitou, mas acabou sorrindo de volta:
— Podemos assistir, né… melhor do que ficar pensando besteira.
— Pensando besteira? — ele arqueou a sobrancelha, se divertindo. — Hum… sei.
— Cala a boca, Caio! — ela riu, jogando uma almofada nele.
Ele pegou a almofada no ar e se sentou ao lado dela na cama. Pegou o controle da TV e começou a procurar algo para ver. O espaço entre eles era pequeno, e ela sentia o calor do corpo dele perto demais.
— E aí? Romance? Ação? Comédia? — perguntou, passando os canais.
— Qualquer coisa… — respondeu Lia, tentando parecer indiferente, mas sem coragem de olhar diretamente para ele.
— Romance, então… — disse Caio com um sorriso malandro, escolhendo um filme qualquer do gênero.
— Ah não… romance não! — ela protestou, rindo nervosa.
— Por quê? — ele perguntou, inclinando-se um pouco mais para ela, os olhos brilhando. — Tá com medo de se identificar?
— Você não presta, Caio! — ela respondeu, empurrando de leve o ombro dele.
Ele riu, mas não se afastou. Ao contrário, ficou um instante olhando para ela, o sorriso sumindo aos poucos, deixando um clima diferente no ar.
Lia percebeu o olhar dele e engoliu em seco. O coração acelerou tanto que ela não conseguia pensar em nada para dizer. O filme começou, mas nenhum dos dois prestou atenção na tela.
Caio se aproximou mais um pouco, o braço quase encostando no dela, e disse baixinho, quase num sussurro:
— Sabe, Lia… se você continuar me olhando assim, eu vou acabar não resistindo.
Ela sentiu o rosto inteiro queimar, olhou para ele por um segundo e depois desviou rapidamente, mordendo o lábio.
— Eu… eu não tô te olhando, Caio…
Ele sorriu de canto, satisfeito, e se recostou de leve, mas manteve os olhos nela. O ar parecia pesado, cheio de coisas não ditas.
E Lia, mesmo tentando disfarçar, sentia que a cada minuto ali ao lado dele, a linha entre “brincadeira” e “algo a mais” ficava cada vez mais tênue… e perigosa.
Caio percebeu que Lia estava de canto de olho nele e soltou uma risadinha:
— Lia… para de me olhar assim.
Ela virou rápido o rosto, fingindo indignação:
— Eu não tô te olhando, oxente!
Ele inclinou a cabeça, aquele sorriso de canto aparecendo:
— Tá sim.
— Não tô! — ela retrucou na hora, ajeitando o cabelo só para disfarçar.
— Tá, sim… e com esses olhos azuis aí… como se eu não percebesse. — Caio falou mais baixo, se aproximando um pouco, a voz rouca de propósito.
Lia engoliu em seco, tentando segurar a risada nervosa:
— Ah, Caio, vai te catar! — disse, empurrando de leve o ombro dele, mas o sorriso já denunciava a bagunça que ela estava sentindo por dentro.
Ele riu, segurando o braço dela de leve antes que ela se afastasse mais:
— Tá bom… vou parar de te provocar. Mas só porque eu tô com pena do seu coração acelerado aí.
— Você se acha demais! — Lia retrucou, mas estava vermelha de vergonha.
Caio soltou devagar o braço dela, mas ficou olhando por mais alguns segundos, sério agora, como se estivesse gravando cada detalhe daquele rosto.
E Lia, mesmo negando, sentia que queria continuar sendo provocada por ele.
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Atualizado até capítulo 26
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