ciúmes

esse era o Henrique

O fim da tarde já caía quando Teresa ligou para Caio:

— Filho, faz um favor pra mim? Vai lá buscar a Lia na casa da Clara. Tá ficando tarde…

— Tá bom, mãe. Já tô indo. — respondeu ele, sem imaginar o que encontraria.

Caio chegou à casa de Clara alguns minutos depois. O portão estava aberto, e ele entrou, seguindo o som das vozes e risadas que vinham da sala. Assim que passou pela porta, seus olhos procuraram por Lia… e a encontrou ali, sentada no sofá, inclinada para o lado, rindo baixinho de algo que Henrique tinha acabado de falar.

Henrique estava perto demais. O olhar dele fixo nela, o sorriso fácil… e Lia com as bochechas levemente coradas, mexendo no cabelo do jeito tímido que Caio conhecia bem.

Foi como um soco no peito. O coração dele apertou e, num instante, a raiva subiu junto com um ciúme que ele não conseguiu controlar.

Sem pensar duas vezes, atravessou a sala até ela.

— Lia. — chamou, a voz firme demais para parecer calma.

Ela se assustou com a súbita aparição dele:

— Caio? Oi… o que você tá fazendo aqui?

Ele não respondeu Henrique, não deu atenção a ninguém. Olhou apenas para Lia, com um olhar sério que ela nunca tinha visto antes:

— Minha mãe pediu pra eu te buscar. Tá na hora de ir.

Lia se levantou devagar, sentindo o clima pesado.

— Ah… tá… eu já vou…

Henrique ainda tentou ser educado:

— Oi, tudo bem? Eu sou o Henrique…

Caio apenas assentiu, seco, sem sorrir:

— Vamos, Lia.

Ela abaixou os olhos, sem jeito, e se despediu das amigas rapidamente:

— Tchau, meninas… obrigada por tudo, Clara… a gente se vê na escola.

E saiu ao lado de Caio, sentindo a tensão no ar. Enquanto caminhavam pela rua de volta pra casa, o silêncio pesava entre eles. Lia apertava a alça da bolsa e finalmente arriscou:

— Caio… você tá bravo?

Ele olhou para frente, respirou fundo, mas não respondeu de imediato. O coração dele estava um turbilhão de sentimentos — raiva, ciúme, medo de perder algo que nem podia ter.

— Só… não gosto de..., ah deixa para lá lia

E continuaram caminhando, cada um com seus pensamentos, e Lia sentindo o coração acelerado sem entender direito o porquê

E ele fervendo de ciúmes.

Eles chegaram em casa sem trocar quase nenhuma palavra. O silêncio entre os dois parecia mais alto do que qualquer conversa.

Assim que entraram no apartamento, Caio largou as chaves na mesinha da sala e foi direto para o quarto. Lia ouviu o barulho da porta se fechando com força e sentiu o coração apertar. Ela sabia que tinha algo errado.

Caio se jogou na cama, passando as mãos pelo rosto. O sangue fervia dentro dele. A imagem de Lia rindo ao lado de Henrique não saía da sua cabeça.

“Por que aquilo me incomoda tanto?”, pensou, mas no fundo sabia a resposta. Estava pé da vida. Não queria admitir, mas o ciúme o estava consumindo.

Lia ficou andando pela sala por alguns segundos, até criar coragem. Aproximou-se da porta do quarto dele e deu duas batidas leves.

— Caio… posso entrar?

Demorou alguns segundos, mas ele respondeu, a voz abafada:

— Pode…

Ela abriu a porta devagar e colocou apenas a cabeça para dentro antes de entrar de vez.

Caio estava sentado na cama, os cotovelos apoiados nos joelhos e o olhar perdido no chão.

— Tá tudo bem com você? — perguntou Lia, a voz suave, tentando não soar invasiva.

Ele não levantou os olhos. Respirou fundo e respondeu curto:

— Não tô afim de papo agora, Lia…

O jeito frio dele a fez dar um passo para trás. Ela mordeu o lábio, sem saber o que dizer, e acabou apenas assentindo.

— Tá… desculpa então…

Ela fechou a porta devagar e voltou para o próprio quarto. O peito apertava, um misto de preocupação e de algo que ela não sabia nomear. Sentiu as mãos suadas e resolveu ir tomar um banho para tirar o suor e também tentar acalmar o coração acelerado.

Enquanto a água caía sobre ela, Lia não conseguia parar de pensar no olhar dele. Algo estava diferente entre eles… e aquilo a deixava estranhamente inquieta.

Lia saiu do banho e foi direto para o quarto. A água morna não tinha conseguido lavar aquela sensação ruim que apertava seu peito. Deitou-se na cama de lado, abraçando o travesseiro, e as lágrimas começaram a escorrer silenciosas.

Ela pensava nas palavras secas de Caio, no jeito frio com que a dispensou. Será que ele me odeia? — pensou, enquanto as lágrimas molhavam o lençol. O cansaço bateu aos poucos, e entre soluços ela acabou pegando no sono, ainda com o rosto molhado e inchado.

Algum tempo depois, Caio, ainda remoendo a própria raiva e confusão, ouviu Teresa da cozinha:

— Caio, chama a Lia pro jantar, filho.

Ele respirou fundo, passou a mão no cabelo e foi até o quarto dela. Bateu de leve na porta. Sem resposta. Abriu devagar e entrou.

Lia estava ali, deitada de lado, o rosto virado para ele, os cabelos loiros espalhados pelo travesseiro… e o rosto levemente inchado de quem tinha chorado. Aquilo fez o coração dele doer. Toda a raiva se misturou com culpa e um desejo ainda mais forte de protegê‑la.

Caio se aproximou devagar, sentou-se na beirada da cama e, sem resistir, passou os dedos entre as mechas macias do cabelo dela, afastando-as do rosto. O olhar dele era intenso, carregado de algo que ele não ousava dizer em voz alta.

Mas, baixinho, murmurou apenas para si mesmo:

— Um dia… você vai ser só minha, meu amor

No mesmo instante, Lia abriu os olhos assustada, ainda meio perdida do sono.

— Caio?! — ela disse, sentando-se de repente, o coração disparado por vê-lo tão perto.

Ele também se assustou com a reação dela, mas não tirou os olhos do rosto dela.

— Calma… eu… eu só vim te chamar pra jantar. — disse, tentando disfarçar, mesmo com o coração batendo forte no peito.

Lia piscou rápido, passando a mão pelo rosto para secar as lágrimas antigas.

— Eu… já vou, Caio… obrigada…

Ele se levantou devagar, desviou o olhar e saiu do quarto, mas por dentro sentia algo cada vez mais difícil de esconder.

E Lia ficou sentada na cama, abraçando os próprios joelhos, sem saber se aquele susto era medo… ou algo bem diferente.

Caio já estava na mesa quando Lia saiu do quarto, com o cabelo ainda úmido do banho e um jeito calmo, como se nada tivesse acontecido. Ela puxou a cadeira devagar e sentou-se ao lado dele.

Teresa, enquanto servia o arroz, falou casualmente:

— Ah, gente, preciso contar uma coisa… Vou precisar fazer uma viagem a trabalho. Vou passar uns dias fora, talvez uma semana inteira.

O coração de Lia disparou na mesma hora. Ela arregalou os olhos, quase engasgando com a água. Já Caio abaixou a cabeça, mas um sorriso malicioso apareceu nos lábios ao ver as bochechas dela ficarem vermelhas.

Ele soltou uma risada baixa:

— O que foi, Lia? Tá toda vermelha… eu não mordo não, tá? Você vai sobreviver uma semana comigo aqui… relaxa.

Lia arregalou os olhos, tentando disfarçar:

— E quem foi que disse que eu tô com medo disso?

Caio inclinou a cabeça, divertido:

— Então tá corada assim por quê?

Lia pegou o garfo e cutucou o arroz, sem coragem de encará-lo:

— Ah, Caio… vai procurar o que fazer…

Teresa observava os dois trocando provocações e soltou uma risadinha, balançando a cabeça:

— Vocês dois vivem brigando feito gato e cachorro…

Eles não responderam nada, e depois de alguns minutos, Teresa se levantou da mesa:

— Bom, vou deixar vocês aí terminando… vou ajeitar umas coisas da viagem.

Quando a mãe dele saiu, o silêncio ficou por um instante. Caio apoiou o cotovelo na mesa e encostou o queixo na mão, olhando direto para Lia com aquele sorriso de canto:

— Eu sei, Lia… você tá caidinha por mim. Eu sei.

Ela arregalou os olhos, o rosto corando na mesma hora.

— Você tá doido… se ilude não, priminho!

Caio deu uma risadinha baixa, provocando ainda mais:

— É, fala isso pra tentar me enganar… mas eu sei.

Lia desviou o olhar, fingindo raiva, mas o coração dela batia tão rápido que ela mesma não sabia mais se estava com raiva.

No dia seguinte

Bem cedo, Teresa saiu com a mala pequena nas mãos.

— Se comportem, hein? — disse, sorrindo para os dois na sala. — Volto logo.

— Vai com Deus, mãe. — Caio respondeu, dando um beijo rápido no rosto dela.

— Tchau, tia… boa viagem! — disse Lia, com um sorriso tímido.

A porta se fechou, e de repente o apartamento ficou silencioso, só os dois ali. Caio se espreguiçou e olhou para Lia com aquele sorriso meio malicioso que ela já começava a reconhecer.

— Então, dona Lia… agora só nós dois aqui, hein? — disse, apoiando-se no sofá, com o olhar brincalhão.

Lia cruzou os braços, tentando não dar o braço a torcer:

— Nossa, que medo, Caio… vai lá jogar videogame e me deixa em paz.

Ele deu uma risada curta e caminhou até ela, como quem vai falar um segredo:

— Vou ficar de olho em você, tá? Vai que você some com aquele tal de Henrique por aí…

— Credo, menino! — Lia riu nervosa, virando de costas para disfarçar o rosto corado. — Você não tem o que fazer, né?

— Eu? Eu tenho sim… — disse ele, se jogando no sofá com as mãos atrás da cabeça. — Te provocar a cada minuto, por exemplo.

Lia pegou uma almofada e jogou nele, sem pensar:

— Ah, Caio! Você é insuportável!

Ele segurou a almofada e riu alto, olhando para ela com aquele jeito que misturava brincadeira e algo mais profundo:

— Mas você gosta, né?

Lia bufou, tentando esconder o sorriso que teimava em aparecer:

— Você se acha demais, Caio.

— Não me acho… eu tenho certeza. — respondeu ele, piscando de forma provocativa.

E assim foi a manhã inteira: Caio lançava uma piada, Lia retrucava; ele se aproximava demais de propósito, e ela fingia raiva, mas o coração acelerava.

Os dois sabiam que havia algo diferente entre eles… mas nenhum tinha coragem de falar. Então, brincavam. Provocavam. E se olhavam quando o outro não estava vendo.

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Comments

Kamiblooper

Kamiblooper

Mais um capítulo, please? Essa fic é boa demais! 😌

2025-07-26

1

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