Quando Amar não Basta

O dia estava comum na mansão dos Demirhan até que o som inesperado de um carro ecoou pela longa estrada de cascalho que levava à entrada principal. A movimentação dos criados parou por um instante, e alguns membros da família se aproximaram das janelas. Um dos seguranças correu para abrir o portão de ferro, que se abriu devagar, como se também estivesse surpreso com aquela visita.

O carro preto estacionou suavemente. E então, a porta se abriu.

— É o Aslan! — gritou uma das criadas, boquiaberta.

Feride, a matriarca, desceu apressadamente as escadas da entrada da mansão, com as mãos no peito, emocionada.

— Meu filho! — exclamou, abraçando-o com força assim que ele cruzou a porta.

— Que surpresa boa! — disse , Demir o patriarca, vindo logo atrás, abraçando o filho com firmeza. — O que o trouxe de volta tão de repente?

Aslan sorriu. — Senti que era hora de voltar.

Seu irmão mais novo, Osman, apareceu em seguida, com um sorriso de orelha a orelha. — Finalmente! Pensei que só voltaria no próximo ano.

— Nem eu esperava estar aqui hoje — disse Aslan, apertando a mão do irmão.

Após o reencontro caloroso e um almoço simples, Aslan subiu para seu antigo quarto. Precisava de um banho e alguns minutos de descanso. O cansaço pesava sobre seus ombros. Dormiu por pouco tempo, o suficiente para sentir que a casa estava diferente. Algo no ar o deixava inquieto.

Ao sair de seu quarto, parou ao escutar a voz de sua mãe no quarto ao lado, conversando com Osman.

— Eu a amo… — dizia Osman, com a voz embargada. — Era eu quem se encontrava com Aysha. Mas eu fui fraco. Eu… Beijei Zeynep. Aysha viu. E foi ali que tudo terminou entre nós.

— Osman, por que me diz isso agora? — perguntou a mãe, suspirando.

— Porque não quero me casar com Zeynep. Eu errei, mas ainda amo Aysha. Por favor, fale com o pai. Tente convencê-lo. A senhora tem influência.

Mas a mãe negou com firmeza.

— Não farei isso. Aysha está com a honra manchada. Ela não trará vergonha para esta família. Já basta o que todos andam dizendo.

Um silêncio pesado tomou conta do ambiente. Aslan, ouvindo cada palavra, sentiu um aperto no peito.

Quando desceu, foi direto para a sala principal, onde encontrou o pai sentado em uma poltrona, lendo o jornal.

— Pai — cumprimentou com um aceno de cabeça.

Demir abaixou o jornal e o observou com atenção. — Estou feliz por ter voltado. Você chegou no momento exato para o noivado do seu irmão.

Aslan parou. — Noivado?

— Sim. Osman vai se casar com Zeynep. A cerimônia de anúncio será em breve.

— Zeynep? — repetiu, franzindo o cenho. — Eu pensei que Osman se casaria com Aysha…

O pai soltou um suspiro carregado.

— Aysha não é mais uma moça apropriada para o nosso nome. Ela manchou a honra da própria família.

Aslan apertou os punhos, a raiva pulsando sob a pele. Queria gritar que era mentira, que quem havia manchado Aysha fora Osman, seu próprio irmão. Sabia da verdade. Sabia que era com Osman que Aysha se encontrava escondida, que era dele os olhares apaixonados, os planos trocados em segredo. E também sabia que foi ele quem a traiu, beijando Zeynep.

Mas se conteve. Engoliu o amargor da revolta e permaneceu em silêncio. Seu pai jamais o ouviria — não quando a honra da família era colocada acima de qualquer verdade.

☆☆☆

Depois do almoço, determinado, Osman foi ao escritório do pai.

— Quero romper o acordo com a família de Zeynep. Desejo noivar com Aysha. Não posso deixá-la assim. Ela merece respeito.

O pai se levantou bruscamente.

— Está fora de cogitação! O acordo com o pai de Zeynep foi selado, e você sabe o que isso significa.

— Mas Aysha…

— Basta! Se romper esse noivado, será deserdado. Não herdará nada do que é meu. E Aysha… Nenhum outro homem de respeito se casará com ela. Com certeza Kemal já se prepara para enviá-la para longe.

Osman sentiu o chão ceder sob os pés. Ficou ali, calado, sufocado entre a culpa e o dever. Ao final, apenas abaixou a cabeça.

— Está bem. Aceito o noivado com Zeynep.

Horas depois, o sol já estava se pondo, tingindo o céu com tons alaranjados quando Osman atravessou os portões da casa de Kemal, silencioso, com o coração pesado. Caminhou até o jardim, onde os pés sabiam o caminho melhor que a mente. Debaixo da grande árvore de folhas densas, avistou Aysha sentada, os braços abraçando os joelhos, o olhar perdido na paisagem distante.

Ela percebeu sua presença antes mesmo que ele a chamasse.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, sem se mover, a voz rouca, porém firme.

— Eu vim ver como você está...

Aysha soltou uma risada breve, mas amarga, como se aquilo fosse uma piada cruel.

— Agora você se importa?

Osman aproximou-se lentamente, mas respeitou a distância. O vento balançava os galhos sobre eles, como se até a natureza testemunhasse o que se partia ali.

— Aysha... Eu sei que te magoei. Eu errei. Mas tudo o que estão dizendo sobre você... Eu não podia ficar sem saber se estava bem, se era verdade...

Ela se levantou, os olhos brilhando com uma mistura de dor e indignação.

— Verdade? Sim, Osman, é verdade. Eu me encontrava com um homem escondido. Um homem que dizia me amar. Que fazia promessas ao meu ouvido. Que dizia que um dia me pediria em casamento. Que me fazia sonhar...

Ela se aproximou, os olhos cravados nos dele.

— Esse homem... Era você.

Osman engoliu em seco, desviando o olhar.

— Eu fui fraco — murmurou. — Eu me perdi por um momento, Aysha. O beijo com Zeynep... Eu nem sei por que aconteceu. Foi um erro, um impulso. Mas eu me arrependi no instante seguinte.

— No instante seguinte? — ela repetiu, rindo sem humor. — No instante seguinte, você virou as costas. No instante seguinte, seu pai te prometeu para Zeynep. E você aceitou. Sem lutar. Sem sequer lembrar de mim.

— Não é verdade! Eu fui até ele! Pedi para romper o noivado! Disse que queria limpar sua honra, que queria noivar com você!

Aysha cerrou os punhos, tentando conter as lágrimas.

— Então por que ainda está noivo de outra?

Osman hesitou. E no silêncio, Aysha entendeu tudo.

— Porque preferiu a herança. Porque preferiu agradar o seu pai. Porque no fim das contas, a minha reputação valia menos que o seu futuro. — Ela balançou a cabeça, decepcionada. — Você não está aqui por mim, Osman. Está aqui para aliviar sua culpa.

Ela o encarou por um instante longo, antes de respirar fundo.

— O certo seria você não ter me traído, ter me escolhido quando ainda havia escolha. Agora... Eu prefiro ser mandada embora por meu pai, viver longe, sozinha... Do que me casar com um homem que só lembra que me ama quando o peso da vergonha o alcança.

Os olhos de Osman se encheram de lágrimas contidas.

— Aysha...

— Não me chame mais assim — sussurrou ela, virando-se e voltando a sentar sob a sombra da árvore. — O nome que você dizia com amor virou lembrança amarga. Agora vá. Antes que fique ainda mais difícil esquecer.

Sem ter o que dizer, Osman se afastou devagar, carregando consigo o peso da escolha que fez — e da mulher que perdeu por tê-la traído e não defendido quando era preciso.

E sob a sombra da árvore, Aysha chorou em silêncio. Mas não de fraqueza. Chorou para esvaziar o coração da dor...

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Comments

Celi

Celi

como será a atualização?

2025-07-25

1

Gigliolla Maria

Gigliolla Maria

homem fraco sem nada .fez tudo errado e a perdeu p sempre

2025-09-13

0

Celi

Celi

tô esperando atualização

2025-07-25

0

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