Promessas Quebradas

Os dias pareciam mais longos desde aquela noite. Aysha mal havia conseguido dormir. O que viu no jardim ainda ardia em sua memória como uma ferida aberta. Osman. Seu Osman. Beijando Zeynep. E não foi um beijo qualquer. Foi um beijo cheio de desejo. De entrega. Como se ela — Aysha — nunca tivesse existido.

Ninguém soube. Ninguém além dos três. Zeynep sequer disfarçou quando viu Aysha correr dali com os olhos marejados. Osman tentou segui-la, chamando seu nome, mas ela já estava longe. Trancada em seu quarto. Com o coração em pedaços.

Na manhã seguinte, a mansão estava cheia de movimentação. Preparativos para o acordo entre as famílias começavam a ser alinhados. O pai de Aysha de Osman e Zeynep, conversavam na varanda sobre futuros planos de união, alianças e conveniências. Mal sabiam o que acontecia nos bastidores.

Aysha, por outro lado, evitava sair do quarto. Queria desaparecer. Mas sabia que não poderia se esconder para sempre. Então, ao final da tarde, tomou coragem e saiu para respirar no jardim, onde tudo havia começado — e acabado.

Foi lá que Osman a encontrou.

— Aysha — chamou, com a voz baixa, hesitante. — Precisamos conversar.

Ela o olhou por um breve instante. Os olhos vermelhos, mas frios.

— Não há mais nada a ser dito, Osman.

— Por favor, me escuta. Foi um erro. Um erro estúpido. Eu… Eu não sabia o que estava fazendo.

— Você sabia exatamente o que estava fazendo — cortou ela, com firmeza. — Sabia onde estava. Sabia com quem estava. E mesmo assim, escolheu me trair.

— Eu fui fraco. Sou homem, Aysha. Tenho desejos… E você… você sempre me afastou, sempre disse que não era hora. Que não queria passar dos limites…

— E você achou que trair era a solução? Que usar a minha prima era o caminho?

Osman abaixou a cabeça, envergonhado.

— Eu errei. Mas eu te amo. Juro por tudo que há em mim que foi um momento de fraqueza. Eu pensei em você o tempo todo. Foi só… Carne. Mas o que sinto por você é alma.

— Alma? — Aysha riu, amarga. — A sua alma estava ocupada demais para lembrar de mim enquanto beijava Zeynep como se ela fosse o seu mundo.

Ele tentou se aproximar, mas ela recuou.

— Não. Acabou, Osman. Eu não quero mais. Você destruiu tudo.

— Aysha, por favor… Não diz isso. Me dá uma chance.

— Va embora! Eu disse não. A partir de hoje, você é apenas uma lembrança. E, com o tempo, nem isso.

Ela o deixou ali, parado, olhando para o vazio do jardim que agora carregava o peso de sua vergonha.

 ☆☆

De volta ao quarto, Aysha não conseguiu conter as lágrimas. As palavras dela haviam sido fortes, mas seu coração doía. Cada batida era como uma faca. Ela se jogou na cama e soluçou baixinho, até que uma batida suave soou na porta.

— Aysha? — era Elif, sua irmã.

— Pode entrar.

Elif entrou e logo correu até ela, sentando-se ao seu lado.

— O que aconteceu? Você está estranha desde ontem. E agora... Chorando?

Aysha hesitou. Mas não conseguia mais guardar aquilo sozinha.

— Eu vi o Osman com a Zeynep — sussurrou. — No jardim… Eles estavam se beijando. E não foi qualquer beijo, Elif. Foi como se eu não existisse. Como se ele nunca tivesse dito que me amava.

Elif arregalou os olhos, chocada.

— Não… Não pode ser. Você tem certeza?

— Eu vi com meus próprios olhos. E ele ainda teve a cara de dizer que foi um erro, que me ama. Que foi fraco por ser homem e eu nunca ter… Cedido.

— Ele é um canalha! — explodiu Elif, com raiva. — Como ele pôde fazer isso com você?

Aysha apenas chorou mais. Elif a abraçou forte, como uma irmã e amiga.

— Escuta, irmãzinha… Você é mais forte do que isso. Ele não te merece. Um homem que troca fidelidade por impulso não sabe amar. Você merece alguém que te respeite até o fim. Que espere o tempo que for. Que lute por você, não que te apunhale pelas costas com a sua própria prima.

Aysha assentiu entre soluços.

— Obrigada, Elif. Eu não sei o que faria sem você.

Elif sorriu, mas havia dor em seus olhos.

— E o pior, Aysha… — Elif sussurrou, os olhos baixos. — Papai está lá fora com o pai de Osman e Zeynep. Estão selando um acordo de casamento.

Aysha congelou. O sangue pareceu sumir de seu rosto.

— O quê?

— Sim… Eles pretendem anunciar no próximo mês. Estão certos de que formarão uma boa aliança. o casamento entre Osman e Zeynep. Nem desconfiam do que realmente aconteceu.

Aysha engoliu em seco, sentindo o coração disparar.

— Você tem certeza de que é entre Osman e… Zeynep?

Elif hesitou por um instante, mas assentiu.

— Ouvi claramente. Zeynep é quem será prometida a ele. A mãe dela está empolgada, e os homens estão apenas ajustando os detalhes.

Aysha se levantou devagar, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Mesmo tendo terminado com Osman após a traição, ela ainda o amava. Por mais que tentasse esconder, não conseguia esquecer o que viveram.

Ela desviou o olhar para a janela, onde o céu já começava a mudar de cor com o fim da tarde. Lá fora, os homens riam e brindavam, como se não estivessem decidindo o futuro de alguém com tanta leveza.

— Ele era meu futuro — disse, quase num sussurro. — E agora vai se casar com minha prima.

— Isso é injusto. Zeynep sempre soube dos sentimentos entre vocês. E mesmo assim…

— Ela não se importa — interrompeu, amarga. — Nunca se importou. Desde pequenas, tudo que eu tinha, ela queria. E agora… Ele.

Elif se calou, apertando ainda mais a mão da irmã. Sabia que Aysha estava tentando ser forte, mas por dentro, estava desmoronando.

— Você ainda o ama? — perguntou, baixinho.

Aysha respirou fundo, os olhos marejando.

— Sim… Uma parte de mim ainda o guarda. E a outra está ferida por ver como tudo terminou, por ele ter passado por cima de tudo o que prometeu.

O silêncio entre as duas foi preenchido pelo som abafado das vozes masculinas do lado de fora. A cada risada, a cada palavra, Aysha sentia-se mais distante do que foi um dia.

— Eles vão anunciar na próxima semana? — perguntou.

— Sim. E papai parece concordar com tudo.

Aysha fechou os olhos por um instante. Seu pai nunca perguntara sua opinião. Nunca lhe dera espaço para expressar seus sentimentos. Tudo sempre foi sobre alianças, reputações, aparência.

— Então acabou. — Ela abriu os olhos com firmeza. — O capítulo entre mim e Osman terminou de vez.

— Você fala como se fosse fácil.

— Não é. Mas não posso me apegar ao que não existe mais. O amor verdadeiro não trai. Não troca. Não esquece tão rápido.

Elif a abraçou. As duas ficaram ali, em silêncio, enquanto o mundo lá fora continuava girando, indiferente ao que Aysha sentia.

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