A brisa suave que atravessa o grande jardim da propriedade dos Altan traz consigo os perfumes das flores recém-regadas. É uma tarde dourada, onde o sol se esconde entre nuvens esparsas, e Aysha caminha lentamente entre os canteiros, observando o vai e vem dos empregados preparando a casa para a noite especial que se aproxima. Ela está na casa de seus pais, como sempre fora, mas há algo diferente naquela atmosfera. Um anúncio importante será feito durante o jantar, e todos na casa parecem estar em expectativa.
Dentro da mansão, a irmã de Aysha, Elif, termina de ajustar os cabelos diante do espelho. Com os olhos brilhando de ansiedade, ela fala com entusiasmo:
— Você viu como ele é bonito, Aysha? Aquele olhar… A voz dele… Quando ele me cumprimentou ontem, meu coração disparou! — diz Elif, rindo baixinho.
Aysha se senta na beirada da cama, observando a animação da irmã. Seu sorriso é gentil, mas há uma sombra em seus olhos.
— Está feliz por esse noivado? — pergunta, tentando parecer natural.
— Muito! — responde Elif, sem hesitar. — Nem acredito que vou ficar noiva de Tarik. Ele é respeitado, trabalha com o pai, é educado… E lindo!
Aysha suspira, aliviada por dentro. Ela temia que a surpresa daquela noite fosse o anúncio do noivado entre Elif e Osman. Ainda que Elif estivesse radiante, Aysha não suportaria ver Osman ao lado de sua irmã. Mas Tarik, o pretendente escolhido, não representa perigo ao seu coração. Isso traz certo alívio, mas também aumenta a tensão do segredo que ela carrega.
No fundo do jardim, entre a sombra das árvores, Aysha se encontra com Osman às escondidas. O coração dela bate acelerado ao vê-lo encostado no tronco de uma figueira antiga, as mangas da camisa dobradas, o olhar atento procurando por ela.
— Achei que não viria — diz ele, abrindo os braços para recebê-la.
Aysha corre para o abraço, encaixando-se contra o peito dele como se aquele fosse seu lar. Osman a envolve com força, beijando sua testa, os cabelos, as mãos.
— Eu sempre venho, você sabe — responde ela, sorrindo.
Eles se sentam sobre a relva macia, próximos um do outro. As mãos se tocam com delicadeza, os rostos tão próximos que seus narizes se roçam. Há paixão no ar, mas também algo mais forte: uma promessa silenciosa.
— Queria poder gritar ao mundo que você é minha — sussurra Osman, com os dedos deslizando pela pele do braço dela. — Que ninguém mais pode tocar em você.
— Eu também quero isso — diz Aysha, com os olhos marejados. — Mas você sabe… Meu sonho sempre foi me entregar depois do casamento. Quero que o nosso amor seja limpo… completo…
Ele a encara com ternura e um leve suspiro.
— Eu entendo, meu amor. Só tenho medo de perder você.
Aysha aperta sua mão.
— Você não vai me perder. Só… espere por mim. Por favor.
Osman assente, beijando-a com cuidado. Um beijo longo, profundo, carregado de sentimentos e promessas. Eles se abraçam como se o tempo fosse congelar ali, escondidos entre as sombras e os sorrisos cúmplices.
Dentro da casa, o pai de Aysha, senhor Kemal Altan, está sentado na sala com a esposa, Melike. Ele é um homem rígido, tradicionalista, dono de uma presença imponente. Sua palavra é lei dentro da casa. Melike, sua esposa submissa, observa-o com atenção, como se procurasse nele aprovação para cada gesto.
— Está tudo pronto para o jantar? — pergunta Kemal.
— Sim, meu bem. A cozinha está em ordem, os convidados confirmaram presença, e Elif escolheu o vestido que você sugeriu — responde MelIke, cuidadosamente.
— Ótimo. Esse noivado será um passo importante para nossa família. Tarik é de uma boa linhagem. Será um casamento próspero.
Melike sorri, assentindo com a cabeça.
— Elif está muito feliz. Ela se encantou por ele imediatamente.
Kemal cruza os braços, satisfeito.
— É assim que deve ser. Escolhas inteligentes para o bem da família. E Aysha… Já está na hora de começarmos a pensar nela também.
Melike hesita, mas não diz nada. Ela sabe que qualquer tentativa de argumentar pode ser mal interpretada. A verdade é que ela percebe os olhares de Aysha, os suspiros. E teme que sua filha mais velha esteja escondendo algo.
Enquanto isso, Aysha retorna para dentro, os lábios ainda formigando dos beijos roubados. Elif a encontra no corredor e corre para contar os últimos preparativos.
— Mamãe vai colocar aquele colar de pérolas em mim! E sabe o que mais? Papai disse que vai anunciar o noivado durante o discurso. Estou tão nervosa, Aysha!
— Você vai estar linda. Tarik terá sorte — responde Aysha, com um sorriso sincero.
Elif a abraça e sai sorridente.
Aysha, sozinha, olha pela janela para o jardim, onde há pouco estivera com Osman. Seu coração ainda bate acelerado, mas agora há um nó em sua garganta. Até quando conseguirão manter esse amor escondido?
No jantar, a mesa está impecável. Pratos refinados, taças brilhando à luz dos candelabros, e convidados importantes da região sentados em lugares bem definidos. Kemal se levanta para discursar, erguendo a taça de vinho.
— Esta noite celebramos uma união importante entre duas famílias. Minha filha Elif e o jovem Tarik ficarão noivos oficialmente.
☆☆
Os aplausos ainda ecoavam na memória de Aysha quando ela saiu discretamente da varanda. A noite estava perfumada de jasmim e repleta de sorrisos falsos. Elif radiante ao lado de Tarik, o noivo escolhido, exibia felicidade como uma joia nova. Aysha fingia alegria, mas por dentro... Algo estava errado. Osman não a olhava da mesma forma. Estava distante, esquivo, como se uma sombra tivesse se instalado em seu peito.
Ela sentiu seu corpo se mover sozinho, guiado pela intuição. Os pés tocaram o mármore frio até alcançar o jardim dos fundos, onde tantas vezes se encontraram, onde ele lhe jurou amor com os olhos e com o silêncio.
Mas, ao se aproximar da estufa, o ar pareceu congelar.
Através das folhas de vidro, Aysha o viu. Não estava sozinho.
Osman estava com sua prima — Zeynep.
E o que viu dilacerou sua alma.
Ele a beijava.
Não um beijo rápido, acidental, impulsivo. Era um beijo profundo, carregado de desejo. Suas mãos estavam na cintura dela, puxando-a para mais perto, como tantas vezes fez com Aysha. O modo como a olhava... não era confusão. Era vontade. Era paixão.
Aysha sentiu o chão sumir sob seus pés.
Um leve som escapou de sua garganta, e Osman se virou, surpreso. Seus olhos encontraram os dela. Arregalados. Cheios de culpa. Mas já era tarde.
— Aysha! — ele chamou, dando um passo em sua direção.
Ela recuou, sentindo o peito se partir em pedaços invisíveis. As palavras dele não importavam mais.
Zeynep a observava de longe, com um sorrisinho escondido nos lábios. Um sorriso de quem sabia o que estava fazendo. Um sorriso de quem venceu.
Aysha correu. Correu como se pudesse escapar da dor, do nojo, da traição.
Subiu as escadas do casarão, entrou em seu quarto e trancou a porta. Apoiou-se na parede e desabou. O choro veio sem controle, sem freios. Gritos presos na garganta, soluços sufocados no travesseiro.
Ela havia confiado em Osman com todo o seu ser. Cada segredo, cada sonho. Ele era seu porto seguro. Seu amor. Seu tudo.
Agora era sua ruína.
Sozinha, encolhida no escuro, Aysha abraçou os joelhos e desejou nunca ter amado.
Porque a dor de uma traição que vem de quem se ama... Essa dor não sangra por fora. Mas queima. Corrói. E silencia a alma.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Gigliolla Maria
e difícil confiar
2025-09-12
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