Os dias se passaram como folhas levadas pelo vento. Vieram os meses, e cada um deles trouxe mais trabalho para Rosa, mais silêncios sufocantes e olhares que pesavam como grilhões em sua alma.
Ela não compreendia. Não compreendia por que Pedro Afonso implicava tanto com ela.
Ela mal falava. Vivia calada. Cumpria suas tarefas com precisão, sem chamar atenção, sem se atrasar, sem jamais erguer a voz.
Ainda assim, ele a provocava, a confrontava, como se cada passo dela fosse um desafio. E o pior: sua irmã, Beatriz, a jovem altiva e fria da casa-grande, mal lhe dirigia a palavra. Não era afetuosa, mas tampouco cruel. Já Pedro Afonso… ah, Pedro Afonso era um homem-menino.
"Um mimado", Rosa pensava enquanto esfregava com força o chão do alpendre, sentindo a pele dos dedos já fina e ardente de tanto esfregar.
Ele havia crescido. Seus traços eram fortes agora. Ombros largos, voz firme, os olhos escuros como os do pai — mas diferentes. Nos de Pedro havia uma inquietação. Uma tempestade.
Rosa, em sua ingenuidade protegida, não sabia nomear o que havia ali, mas sentia. Era algo que crescia entre os olhares. Algo que lhe gelava o estômago e fazia suas mãos tremerem sem motivo aparente.
Pedro, por sua vez, vivia seu próprio inferno particular.
Queria odiá-la. Queria. Queria que ela fosse só mais uma. Só uma escrava, como o pai dizia. Alguém para servir, obedecer, calar. Mas Rosa não era assim. Rosa era silêncio, sim — mas um silêncio cheio de força. Era como se tivesse dentro dela uma nobreza antiga, uma luz que nem a condição nem o tempo tinham conseguido apagar.
Ele se irritava com aquilo.
Então a provocava. A testava. Jogava-lhe ordens ríspidas, fazia comentários ácidos. Tudo com um único objetivo que nem ele mesmo admitia: mantê-la por perto.
Naquele fim de tarde, Rosa carregava um balaio de roupas para o varal. Pedro estava sentado sob o alpendre com o irmão, Eduardo, lendo um livro qualquer, tentando se distrair da presença dela.
Mas bastou vê-la passar, com a saia longa rodando ao vento, o lenço prendendo os cabelos e a expressão serena, para que o incômodo lhe dominasse o corpo.
— Rosa! — chamou com impaciência.
Ela parou, segurando o balaio contra o quadril.
— Que foi, sinhô?
— Esqueceu de estender as fronhas ontem. Tô sem uma decente no meu quarto. Vai querer que eu durma no chão?
— Estendi sim, sinhô. Tá na corda de trás — respondeu, firme, sem desafiar, mas sem abaixar os olhos.
Pedro ficou sem resposta. Eduardo soltou um leve riso e comentou, provocando:
— Ela tem mais organização que você, irmão. Você vive esquecendo onde guarda as próprias botas.
Pedro lançou-lhe um olhar atravessado.
— Cala a boca, Eduardo — disse, seco.
Rosa, então, virou-se para continuar seu caminho. Mas Pedro a observou ir como se algo lhe escapasse pelas mãos.
Queria desprezá-la. Mas só conseguia desejar sua presença aquilo era mais forte que ele.
E, naquele desejo oculto, crescia um sentimento tão perigoso quanto irresistível.
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Atualizado até capítulo 75
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