A sala da mansão era ampla e iluminada pela luz suave do fim da tarde. Kaleb estava jogado no sofá, com as pernas cruzadas e os coturnos ainda sujos do baile. Rodrigo, com um café nas mãos, o observava com a curiosidade de um pai tentando decifrar os pensamentos do filho. Erik, mais ao canto, mexia em alguns papéis do novo escritório improvisado dentro da casa.
— Então? — Rodrigo perguntou, sentando-se na poltrona oposta, encarando Kaleb. — Vai me deixar adivinhar, ou vai contar?
Kaleb ergueu uma sobrancelha, como se não soubesse do que o pai falava.
— O quê?
— A garota, Kaleb — Erik disse, sem tirar os olhos dos documentos. — Aquela do baile. A que você não recusou de cara.
— Ah — Kaleb suspirou, coçando a nuca. — Dacaria Milano.
Rodrigo se inclinou pra frente, os olhos acesos.
— Milano? Filho de Carmine Milano?
— A própria. — Kaleb respondeu, tentando esconder o leve sorriso que escapava. — Mas ela não é o tipo de filha que ele esconde pra casar bem. É mais o tipo que ele esconde... pra não matar alguém.
Erik bufou uma risada. Rodrigo largou a xícara na mesa.
— Então seu gosto por garotas perigosas não é fase — Rodrigo provocou. — É um padrão.
— Você herdou o gene do caos, Kaleb — Erik acrescentou com ironia. — E isso vindo de alguém que se apaixonou por um mafioso que apontava armas pra todo mundo, inclusive pra mim.
Kaleb riu, meio sem graça, mas gostava da leveza daquela conversa. Era raro. Ainda mais agora que liderava uma das máfias mais poderosas do continente. Ali, sentado com seus pais, ele era apenas... filho.
— Eu não disse que vou me casar com ela — Kaleb respondeu. — Só disse que... não recusei ainda.
Rodrigo balançou a cabeça e se levantou para buscar mais café. Ao fundo, os gritos e passos rápidos ecoaram pela escada.
— Amyaaaa, cuidado! — gritou Erik.
Tarde demais.
A cena pareceu acontecer em câmera lenta. Amaya, com seus cabelos soltos e a blusa azul clara cobrindo o pijama, vinha pulando os degraus da escada como se fossem trampolins de um parque de diversões. O riso alto dela virou um grito agudo de susto. Kaleb foi o primeiro a se levantar.
— AMAYA! — gritou, correndo.
Rodrigo deixou a xícara cair. Erik derrubou os papéis. Os três se precipitaram em direção ao corpo pequeno que havia rolado da escada até o hall.
Amaya estava deitada de lado, chorando alto, o rosto molhado de lágrimas e dor. Rodrigo a pegou no colo com o cuidado de quem segura um cristal rachado.
— Machucou muito? Onde dói? — Rodrigo perguntou, a voz trêmula.
— A perna... tá doendo... — Amaya soluçou.
Kaleb se ajoelhou ao lado dela, já tirando o celular do bolso e ligando para o número de emergência que só ele e os chefes da máfia conheciam.
— Preciso de todos os médicos. Agora. Na mansão. Criança ferida, possível fratura.
A voz dele era firme, fria. Mas as mãos tremiam.
Erik olhava para a filha com os olhos arregalados. Ele conhecia bem aquele olhar de dor e o corpo mole. Era fratura. Ele já tinha visto de perto em guerras demais.
— Vamos levá-la pro quarto — disse Erik. — Melhor não mexer demais. Os médicos vão chegar em minutos.
---
Em menos de vinte minutos, três carros pretos invadiram a propriedade. Os médicos da máfia, com equipamentos e maletas, desceram rápido. A casa virou hospital de campanha. Rodrigo segurava a mão de Amaya enquanto a examinavam.
Kaleb andava de um lado para o outro no corredor, chutando o ar, culpando-se silenciosamente.
— Eu devia ter pedido pra ela descer devagar... eu devia ter olhado... — repetia para si mesmo.
Erik parou à frente dele, firme.
— Ei. Para. A culpa não é sua. Ela é criança, Kaleb. Crianças correm, pulam, caem. Mesmo com toda nossa segurança... isso acontece.
Kaleb parou de andar e olhou para o pai. O rosto fechado, a respiração pesada.
— Mas ela é minha irmã. E se fosse pior? E se...
Rodrigo saiu do quarto naquele momento, um pequeno curativo com desenho infantil nas mãos.
— Vai ficar tudo bem — disse com um sorriso leve. — Fratura simples. Vão engessar a perna. Vai ficar de molho por um tempo, mas não é nada grave.
Kaleb soltou o ar com força e apoiou as costas na parede.
— Graças a Deus...
Rodrigo se aproximou e entregou o curativo com a imagem de uma fadinha.
— Ela disse que só vai aceitar se for você quem colar esse curativo na testa dela — disse com um sorriso debochado. — Não que ela tenha machucado a testa, mas... é Amaya, né?
Kaleb riu pela primeira vez desde a queda.
— Tá bom... — respondeu, engolindo o choro. — Eu coloco.
---
Naquela noite, Amaya ficou deitada no quarto com o gesso recém-feito, cheia de carinho e atenção. Rodrigo lia um livro infantil, Erik penteava os cachos dela, e Kaleb montava uma torre de livros ao lado da cama como “barreira anti monstros”.
— Vocês são os melhores pais e irmão do mundo — Amaya disse, com voz sonolenta.
Kaleb beijou a testa dela e sussurrou:
— E você é nosso mundo, maninha.
Lá fora, no portão principal da mansão, dois carros observavam de longe. Homens mascarados dentro deles falavam baixo entre si. A queda de Amaya pode ter sido um acidente... mas talvez alguém quisesse testar a segurança da nova geração.
E Kaleb... não deixaria barato.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 31
Comments