...Felipe...
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Felipe recostou-se na cadeira de couro da sala de jantar, o silêncio da casa ecoando ao redor.
A mansão era ampla, confortável, cercada por muros altos e segurança 24 horas sempre foi seu refúgio. Desde pequeno sempre cresceu assim, cercado de luxo, mesmo quando ainda morava na fazenda de sua família, sem nunca conhecer o que era faltar nada, ainda mais lá, onde tinha tudo em fartura e abundância.
Mas naquela manhã, com Laura limpando a cozinha, cada canto da casa parecia expor um contraste doloroso. Ele havia crescido em abundância, e mesmo quando decidiu seguir carreira na polícia, contra a vontade do pai, que queria vê-lo advogado ou médico, por saber que enfrentar os perigos nas ruas não era nenhum pouco seguro, mesmo seguindo carreira oposta da que o pai queria, nunca deixou de ter a proteção do sobrenome e do dinheiro da família
A lembrança da noite anterior ainda vinha como um soco: ela tremendo, escondendo arroz e leite e outras coisas essenciais na sua mochila. O rosto estava abatido, os olhos cheios de medo e ao mesmo tempo de dignidade. A ajudei na expectativa de conseguir algo em troca, mas com aquele olhar não tive coragem de fazer nenhuma proposta.
Felipe tragou fundo o seu cigarro, caminhou até a varanda e observou o condomínio, lá tinha jardins bem cuidados, carros importados nas garagens, seguranças de ronda, tudo impecável, tudo intocado pelo mundo lá fora, assim como todos lá gostavam
E ainda assim, agora, dentro da sua própria casa, havia uma jovem que vinha de uma realidade completamente oposta, uma mulher jovem que em desespero, ousou roubar para alimentar o filho e a avó
Ele se perguntava: O que me deu o direito de intervir na vida dela desse jeito?
Felipe nunca tinha precisado lutar para sobreviver, além de quando estava em suas missões, ser policial é um trabalho que o exigiu fosse altamente vigilante. E o que mais intrigava em Laura é sua força que surgia justamente da falta, da escassez, da dor que tinha
Ele apagou o cigarro, jogou a bituca na bandeja de prata e soltou um suspiro longo.
...
Felipe fechou a porta da varanda e voltou para dentro. O cheiro de café fresco tomava conta da sala de jantar. Caminhou até a cozinha, parando na soleira da porta.
Laura estava de costas, organizando a louça lavada. Os cabelos presos de qualquer jeito em um coque, o avental um pouco largo demais para o corpo pequeno que tinha
— Não precisa se apressar tanto — ele disse, a voz firme, mas sem aspereza.
Ela se virou devagar, surpresa com minha presença
— Bom dia, senhor. Eu… já estou terminando.
Felipe a observou por alguns segundos antes de responder.
— Felipe. Não precisa me chamar de senhor.
Laura assentiu, mas não repetiu o nome. Voltou a mexer na pilha de pratos.
— É costume — murmurou.
Ele puxou uma cadeira e se sentou à mesa, acendendo outro cigarro.
— Costumes às vezes precisam mudar.
O silêncio se instalou ali e apenas o som da água escorrendo pela pia e o tinir dos pratos podiam ser escutados
Felipe apoiou o cigarro no cinzeiro e inclinou-se para frente
— Você já comeu alguma coisa?
Laura parou por um instante, apertou o pano de prato entre os dedos e respondeu sem olhar para ele
— Já tomei um café preto, não precisa se preocupar comigo
— Não perguntei por obrigação, quero saber se realmente comeu.
Ela respirou fundo, e pela primeira vez encarou-o de frente. Havia orgulho em seus olhos, mas também uma sombra de cansaço.
— Estou acostumada a me virar, Senhor Felipe
Ele ergueu uma sobrancelha, mas não insistiu, pois isso não fazia seu tipo.
Pegou o cigarro outra vez, tragou devagar e mudou de assunto:
— Preciso sair mais tarde, mas antes quero conversar sobre suas funções aqui, mas depois a minha querida Cida vai falar com você.
Laura apenas assentiu.
— Vou fazer o que for necessário.
Felipe analisou aquela resposta curta e seca. Não havia servilismo, mas também não havia rebeldia, apenas uma aceitação silenciosa de quem não tinha mais escolhas.
Ele soltou a fumaça devagar e concluiu:
— Então terminamos essa conversa depois do almoço.
Laura voltou ao trabalho sem dizer nada
Fiquei mais alguns segundos em silêncio, observando-a, antes de apagar o cigarro e sair da cozinha.
Desceu para o almoço quando o relógio marcou meio-dia. A mesa estava posta de forma simples, sem o luxo exagerado que a madrasta costumava impor, que particularmente ele não gostava tanto quanto ela.
Laura havia preparado arroz, feijão, salada e frango grelhado, nada rebuscado, mas o aroma enchia a sala por completo com uma sensação de lar que ele não lembrava de sentir há anos. Sentou-se, observando-a de pé, à distância, como se aguardasse instruções.
— Vai ficar me olhando? — perguntou, partindo o frango com a faca. — Sente-se.
Laura franziu o cenho e me respondeu
— Não acho que seja apropriado senhor.
— Eu não perguntei se era apropriado. Disse para se sentar
A firmeza de sua voz não deixava espaço para discussão, mas ele não disse aquilo por pura arrogância. Queria apenas quebrar aquela barreira silenciosa que parecia deixá-los desconfortável
Hesitante, ela puxou a cadeira na ponta da mesa e se acomodou, comeram em silêncio, apenas os talheres tilintando contra os pratos. Felipe a observava de relance, percebendo como ela evitava erguer os olhos. A cada gesto dela, ele se perguntava em que mundo vivia quando ainda achava que conhecia todas as formas de força.
O restante do dia ocorreu como o previsto, nada muito além do normal para mim, além de sua presença ali.
Antes dela sair observo que ainda não tinha pegado o envelope que estava com seu salário, e me pergunto por que ela ainda não pegou?!
...
Assim que ela foi embora conseguir aproveitar 100% melhor a minha folga, havia chamado alguns amigos para beber junto comigo e aproveitar a noite.
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Atualizado até capítulo 37
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