Capítulo 3

...Felipe...

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Felipe recostou-se na cadeira de couro da sala de jantar, o silêncio da casa ecoando ao redor.

 A mansão era ampla, confortável, cercada por muros altos e segurança 24 horas sempre foi seu refúgio. Desde pequeno sempre cresceu assim, cercado de luxo, mesmo quando ainda morava na fazenda de sua família, sem nunca conhecer o que era faltar nada, ainda mais lá, onde tinha tudo em fartura e abundância.

Mas naquela manhã, com Laura limpando a cozinha, cada canto da casa parecia expor um contraste doloroso. Ele havia crescido em abundância, e mesmo quando decidiu seguir carreira na polícia, contra a vontade do pai, que queria vê-lo advogado ou médico, por saber que enfrentar os perigos nas ruas não era nenhum pouco seguro, mesmo seguindo carreira oposta da que o pai queria, nunca deixou de ter a proteção do sobrenome e do dinheiro da família

A lembrança da noite anterior ainda vinha como um soco: ela tremendo, escondendo arroz e leite e outras coisas essenciais na sua mochila. O rosto estava abatido, os olhos cheios de medo e ao mesmo tempo de dignidade. A ajudei na expectativa de conseguir algo em troca, mas com aquele olhar não tive coragem de fazer nenhuma proposta.

Felipe tragou fundo o seu cigarro, caminhou até a varanda e observou o condomínio, lá tinha jardins bem cuidados, carros importados nas garagens, seguranças de ronda, tudo impecável, tudo intocado pelo mundo lá fora, assim como todos lá gostavam

 E ainda assim, agora, dentro da sua própria casa, havia uma jovem que vinha de uma realidade completamente oposta, uma mulher jovem que em desespero, ousou roubar para alimentar o filho e a avó

Ele se perguntava: O que me deu o direito de intervir na vida dela desse jeito?

Felipe nunca tinha precisado lutar para sobreviver, além de quando estava em suas missões, ser policial é um trabalho que o exigiu fosse altamente vigilante. E o que mais intrigava em Laura é sua força que surgia justamente da falta, da escassez, da dor que tinha

Ele apagou o cigarro, jogou a bituca na bandeja de prata e soltou um suspiro longo.

...

Felipe fechou a porta da varanda e voltou para dentro. O cheiro de café fresco tomava conta da sala de jantar. Caminhou até a cozinha, parando na soleira da porta.

Laura estava de costas, organizando a louça lavada. Os cabelos presos de qualquer jeito em um coque, o avental um pouco largo demais para o corpo pequeno que tinha

— Não precisa se apressar tanto — ele disse, a voz firme, mas sem aspereza.

Ela se virou devagar, surpresa com minha presença

— Bom dia, senhor. Eu… já estou terminando.

Felipe a observou por alguns segundos antes de responder.

— Felipe. Não precisa me chamar de senhor.

Laura assentiu, mas não repetiu o nome. Voltou a mexer na pilha de pratos.

— É costume — murmurou.

Ele puxou uma cadeira e se sentou à mesa, acendendo outro cigarro.

— Costumes às vezes precisam mudar.

O silêncio se instalou ali e apenas o som da água escorrendo pela pia e o tinir dos pratos podiam ser escutados

Felipe apoiou o cigarro no cinzeiro e inclinou-se para frente

— Você já comeu alguma coisa?

Laura parou por um instante, apertou o pano de prato entre os dedos e respondeu sem olhar para ele

— Já tomei um café preto, não precisa se preocupar comigo

— Não perguntei por obrigação, quero saber se realmente comeu.

Ela respirou fundo, e pela primeira vez encarou-o de frente. Havia orgulho em seus olhos, mas também uma sombra de cansaço.

— Estou acostumada a me virar, Senhor Felipe

Ele ergueu uma sobrancelha, mas não insistiu, pois isso não fazia seu tipo.

Pegou o cigarro outra vez, tragou devagar e mudou de assunto:

— Preciso sair mais tarde, mas antes quero conversar sobre suas funções aqui, mas depois a minha querida Cida vai falar com você.

Laura apenas assentiu.

— Vou fazer o que for necessário.

Felipe analisou aquela resposta curta e seca. Não havia servilismo, mas também não havia rebeldia, apenas uma aceitação silenciosa de quem não tinha mais escolhas.

Ele soltou a fumaça devagar e concluiu:

— Então terminamos essa conversa depois do almoço.

Laura voltou ao trabalho sem dizer nada

Fiquei mais alguns segundos em silêncio, observando-a, antes de apagar o cigarro e sair da cozinha.

Desceu para o almoço quando o relógio marcou meio-dia. A mesa estava posta de forma simples, sem o luxo exagerado que a madrasta costumava impor, que particularmente ele não gostava tanto quanto ela.

Laura havia preparado arroz, feijão, salada e frango grelhado, nada rebuscado, mas o aroma enchia a sala por completo com uma sensação de lar que ele não lembrava de sentir há anos. Sentou-se, observando-a de pé, à distância, como se aguardasse instruções.

— Vai ficar me olhando? — perguntou, partindo o frango com a faca. — Sente-se.

Laura franziu o cenho e me respondeu

— Não acho que seja apropriado senhor.

— Eu não perguntei se era apropriado. Disse para se sentar

A firmeza de sua voz não deixava espaço para discussão, mas ele não disse aquilo por pura arrogância. Queria apenas quebrar aquela barreira silenciosa que parecia deixá-los desconfortável

Hesitante, ela puxou a cadeira na ponta da mesa e se acomodou, comeram em silêncio, apenas os talheres tilintando contra os pratos. Felipe a observava de relance, percebendo como ela evitava erguer os olhos. A cada gesto dela, ele se perguntava em que mundo vivia quando ainda achava que conhecia todas as formas de força.

O restante do dia ocorreu como o previsto, nada muito além do normal para mim, além de sua presença ali.

Antes dela sair observo que ainda não tinha pegado o envelope que estava com seu salário, e me pergunto por que ela ainda não pegou?!

...

Assim que ela foi embora conseguir aproveitar 100% melhor a minha folga, havia chamado alguns amigos para beber junto comigo e aproveitar a noite.

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