O sol ainda nem tinha alcançado o alto do céu quando Laura saiu de casa na manhã seguinte
Carregava no peito um peso que não a deixava dormir, o dinheiro que Felipe lhe deu estava guardado dentro de uma lata velha de biscoito, junto com o medo de que fosse apenas mais uma armadilha da vida para ela.
Ela se despediu de sua avó com um beijo de bom dia e pediu que cuidasse de Lucas, o pequeno que acabou de acordar, e ele la estava sorrindo, sem saber que a mãe havia quase sido presa na noite anterior.
Por um instante Laura desejou ter a inocência dele, aquela confiança plena de que tudo ia dar certo e não precisava se preocupar com nada
...
O caminho até a casa do delegado Felipe parecia mais longo do que já era, a cada passo que dava parecia que ecoava a dúvida:
será que estou entrando em algo pior do que saí?
Quando eu finalmente cheguei, parei diante do portão alto de ferro
A casa de Felipe era grande, imponente, com muros altos e câmeras em cada canto, o condomínio era luxuoso e muito bonito, nada com o que ela estava acostumada
Não combinava com a simplicidade da vida que conhecia, mas sabia que no fundo um dia iria pertencer a este mundo.
Apertoi a campainha com mãos trêmulas e com o coração na mão
logo ouço suar: ding-dong
A porta se abriu instantâneamente e Felipe apareceu, como um passe mágica, parecia que estava a esperando.
Ele estava sem a farda, apenas de camiseta e calça jeans, parecia mais jovem assim, do que no último encontro que tiveram, mas os olhos... aqueles olhos verdes intensos continuavam carregados de autoridade
— Pensei que não ia vir — disse, cruzando os braços e olhando com um olhar sarcástico
Laura respirou fundo
— Eu tive que prometer e cumpro a minha palavra
Ele deu espaço para que ela pudesse entrar e me direcionou para dentro da casa
O interior da casa era ainda mais impressionante: móveis de madeira escura, quadros alinhados nas paredes, cheiro de café fresco vindo da cozinha. Mas o silêncio era pesado
— Você vai cuidar da casa, Cozinhar, arrumar, manter tudo em ordem. Entendeu? — explicou Felipe, guiando-a pelos cômodos — O pagamento é toda semana, adiantado
Laura piscou, surpresa. — Adiantado?!
— Não quero desculpas de que não tinha dinheiro para comida em casa — respondeu firme — Trabalhou, recebe
Ela apenas assentiu, engolindo o orgulho e lembrando que precisava daquele trabalho.
Enquanto mostrava a cozinha, Felipe a observava Havia algo naquela garota que o deixa intrigado, talvez seja o olhar aflito, mas ao mesmo tempo cheio de determinação. Ele já tinha visto muita gente mentir para escapar da prisão, mas ela não parecia ser igual, havia verdade nas lágrimas dela.
— Se fizer as coisas direito, não terá problemas. — disse por fim — Mas lembre-se: eu sou a lei! Se tentar me enganar, será a primeira e última vez que vai ter uma segunda chance.
Laura baixou os olhos, apertando sua mão e serrando os dentes. Eu só quero cuidar da minha família!
O silêncio ficou entre eles
Felipe respirou fundo, caminhou até a mesa e deixou um envelope ali
— Este é seu pagamento da primeira semana e também a lista de afazeres.
Laura olhou para o envelope, depois para ele
Não sabia se agradecia, se desconfiava ou se chorava.
Com poucos passos ela pegou e guardou no bolso, prometendo a si mesma que não falharia mais uma vez.
Mas, enquanto arrumava os primeiros pratos na pia, não conseguia tirar da cabeça: quem realmente era Felipe? Um homem duro, que apontou uma arma para ela, mas que agora lhe dava uma nova chance, nunca tinam sido assim com ela. O que seria de seu futuro?
...
Laura estava fazendo o seu serviço ainda sem acreditar onde estava, o piso frio da cozinha refletia sua imagem cansada, mas ela mantinha os movimentos firmes.
Lavava a louça, passava o pano nos balcões, organizava o armário cada gesto era uma tentativa de calar a voz dentro dela que repetia: Você quase foi presa! Você precisa cuidar da vovó e de Lucas.
De vez em quando, sentia os olhos de Felipe sobre si, o mesmo não falava muito, apenas observava, e isso a deixava ainda mais nervosa, os olhos dele a perseguiam por todo canto
Quando parou para encher um copo de água, percebeu as mãos trêmulas, o peso da responsabilidade a esmagava. Não era só limpar uma casa era garantir que seu filho tivesse o que comer, que sua avó tivesse os remédios, que ninguém mais passasse fome!
— Tá tudo bem? -- Felipe surgiu rapidamente atrás de mim, me fazendo levar um susto.
Se assustando ela quase derrubou o copo que estava em sua mão no chão — Tá sim… só… não dormi muito bem essa noite
— Eu Imagino — a voz dele foi mais baixa, quase humana — Mas vai precisar se acostumar! Aqui exijo que não traga seus problemas de casa para cá, apenas faça seu serviço.
Laura assentiu, sentindo o coração acelerar.
Ele parecia um homem tão arrogante, por trás de toda aquela máscara deveria ter um bom homem... Ao menos imaginava isso.
Mais tarde, enquanto estendia as roupas no quintal, o pensamento voou para Lucas. Será que ele já tinha acordado? Será que a vovó conseguira preparar algo simples para o café? A saudade doía como um soco no estômago
Pegou o celular escondido no bolso e digitou uma mensagem rápida para a vizinha, pedindo que passasse em casa para ver se precisavam de algo. Não podia deixá-los assim de qualquer jeito.
No fim da tarde, quando terminou a lista de tarefas, se aproximou de Felipe para avisar. Ele estava sentado à mesa, analisando alguns papéis. A arma repousava ao lado, como se fosse parte da rotina, era estranho ele sempre estar com ela
— Já terminei, senhor Felipe -- Fala aliviada.
Ele ergueu os olhos, avaliando-a por um rápido instante
Ele empurrou o envelope que ainda estava sobre a mesa — Leve. É seu!
Laura pegou devagar, como se fosse algo proibido, seu coração batia forte
— Obrigada!
Felipe não respondeu, como sempre com apenas aquele mesmo olhar firme, que parecia atravessar até as partes mais escondidas da sua alma.
-- Está liberada, hoje como eu disse não precisou cozinhar, mas amanhã dona Cida vai vir, e aí ela vai te explicar tudo direitinho.
- Ok, muito obrigado. Tenha uma boa noite senhor! -- Laura saiu!
Felipe apenas a ignorou.
Na volta para casa, o ônibus sacolejando pelas ruas esburacadas, e enfim Laura abriu o envelope. Notas dobradas, limpas, organizadas. Mais do que esperava e mais do que precisava para garantir comida por semanas...
As lágrimas vieram sem que pudesse segurar. Não eram de vergonha agora, mas de alívio, por ter segurança de poder levar sustento para casa
No entanto, uma pergunta ainda queimava dentro dela: Qual o preço real dessa oportunidade?
Na favela onde cresceu, aprendeu desde cedo que nada é de graça, tudo tem um preço.
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Atualizado até capítulo 37
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