A noite havia sido um borrão de risadas, desejo e a estranha liberdade que apenas a embriaguez e a paixão impulsiva podem proporcionar. No amanhecer fraco que começava a invadir a suíte luxuosa, Lívia abriu os olhos, o corpo exausto, mas a mente ainda envolta em uma névoa de prazer e champanhe. Ela sentiu o calor de Jean ao seu lado, seu braço forte envolvendo sua cintura. Um sorriso tonto surgiu em seus lábios, mas a realidade cruel logo se impôs.
"Jean", ela sussurrou, a voz rouca, afastando-se gentilmente do abraço dele. "Eu... eu preciso ir."
Ele resmungou, sem abrir os olhos. "Já? Mas o sol mal nasceu."
"Minha família", Lívia insistiu, sentindo uma pontada de pânico. "Eles vão ficar loucos me procurando. Eu fugi da festa. Se notarem minha ausência..." Ela nem queria pensar nas consequências. As manchetes, o escândalo, a fúria real. Ela se levantou, cambaleante, procurando suas roupas espalhadas pelo chão. "Foi... foi incrível. Mas preciso ir agora."
Jean finalmente abriu os olhos, um lampejo de confusão antes que a compreensão o atingisse. Ele assentiu, um pouco relutante. "Certo. Seja rápida, então."
Lívia se vestiu apressadamente, seus dedos tropeçando nos botões e zíperes. Deu um último olhar para Jean, que já estava sentado na cama, parecendo um rei destronado por uma ressaca iminente. Um beijo rápido e apressado, e Lívia estava fora da suíte, descendo o elevador e correndo pelo lobby ainda deserto, rumo à seu próprio táxi que a levaria de volta ao palácio.
Ainda envolta na névoa da noite anterior, Lívia mal notou o caminho de volta ao Palácio de Évora. As portas principais estavam fechadas, e a luz morna nas janelas indicava que a festa havia terminado há muito tempo. Usando sua chave de serviço, ela deslizou para dentro, o silêncio do palácio ecoando ao seu redor. Nenhum guarda, nenhum empregado, nenhuma voz.
Ela subiu a grande escadaria de mármore, seus passos ecoando no silêncio. Chegando aos aposentos reais, tudo estava escuro e calmo. Seus pais, sem dúvida, já estavam dormindo profundamente, e sua irmã, provavelmente, sonhava com seu casamento. Lívia parou no corredor, um sorriso irônico surgindo em seus lábios. "Nossa, nem perceberam que eu não estava", ela murmurou para o vazio, uma mistura de alívio e uma estranha pontada de desapontamento. Era a prova de que sua ausência, de fato, pouco importava no grande esquema das coisas da realeza. Ela caminhou até seus próprios aposentos, caiu na cama e adormeceu, os sonhos preenchidos por fragmentos da noite inesquecível.
A Manhã Seguinte: O Acordo e a Confusão
Lívia ainda estava em seu sono profundo, talvez sonhando com as bolhas de champanhe ou o toque de Jean, quando o caos irrompeu no Palácio de Évora.
No mesmo momento em que Lívia se entregava ao sono pesado, a manhã mal havia clareado em Paris quando Jean Wincher, surpreendentemente sóbrio e com uma determinação fria que mascarava sua própria ressaca, estava em seu escritório no hotel. Jackson, o advogado, parecia ainda mais pálido do que na noite anterior, segurando a pasta com os documentos. Jean havia passado as primeiras horas da manhã relendo o "acordo" que, de alguma forma, havia assinado na noite anterior. A princípio, incredulidade, depois uma estranha aceitação. A princesa. Um contrato. E ele, Jean Wincher, nunca voltava atrás em suas assinaturas.
Poucas horas depois, a cena era digna de uma comédia de erros, ou de um drama real. Na grandiosa sala de estar do Palácio de Évora, onde a família real geralmente tomava seu desjejum em silêncio protocolar, o clima era de choque. O Rei e a Rainha de Évora estavam sentados, com expressões de pura incredulidade, enquanto Jean Wincher, impecavelmente vestido e com uma postura inabalável, apresentava os papéis. Ao lado dele, o pálido Jackson tentava parecer invisível.
"Com todo o respeito, Vossa Majestade", Jean começou, a voz calma, mas firme, estendendo os documentos, "minha equipe e eu tivemos a honra de formalizar um acordo de casamento com sua filha mais nova, a Princesa Lívia Lancaster."
O Rei, que estava prestes a tomar um gole de seu café, engasgou, a xícara chacoalhando em sua mão. A Rainha soltou um grito abafado, as mãos cobrindo a boca em choque.
"Casamento?" o Rei rugiu, seu rosto empalidecendo e depois enrubescendo de fúria. "Que absurdo é este, Sr. Wincher? Minha filha está noiva de... de quem? E onde está ela?"
Jackson pigarreou, mas foi Jean quem respondeu, um traço de diversão mal disfarçada em seus olhos. "Aqui está o documento autenticado, Majestade. Assinado por mim e pela Princesa Lívia, na presença do meu advogado. As condições... bem, foram discutidas entre nós. E quanto à Princesa... imagino que esteja em seus aposentos, recuperando-se de uma noite bastante... agitada."
O que se seguiu foi uma confusão generalizada. Gritos, acusações, a Rainha quase desmaiando e o Rei exigindo a presença imediata de Lívia. O palácio, que minutos antes era um templo de silêncio real, transformou-se em um palco de drama, tudo por causa de uma noite de fuga, champanhe e um contrato.
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Atualizado até capítulo 28
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