Lívia sentia um arrepio de emoção enquanto Jean a conduzia para dentro do "Le Grand Paris". O lobby era opulento, com mármore polido e arranjos florais exuberantes, mas o que realmente a atraía era a promessa daquela noite inesperada. Pela primeira vez em muito tempo, Lívia Lancaster não estava seguindo um protocolo. Ela estava apenas vivendo.
Eles se acomodaram em um canto discreto do bar do hotel, onde a iluminação suave e a melodia discreta do piano criavam uma atmosfera de intimidade. As taças de champanhe cintilavam sobre a mesa de ébano enquanto a conversa fluía com uma facilidade surpreendente. Lívia se viu falando de coisas que jamais ousaria compartilhar com alguém de sua corte.
"Às vezes", ela confidenciou, o olhar perdido nas bolhas que subiam em sua taça, "sinto como se estivesse presa em uma pintura antiga. Linda, sim, mas estática. Meus pais... eles estão tão focados no casamento da minha irmã mais velha, Helena, que... bem, parece que sou apenas um adereço no fundo do quadro. A princesa solteira que precisa ser guardada, sem grandes dramas ou paixões." Um suspiro pesado escapou de seus lábios. "Eu só queria deixar tudo isso de lado por um momento. Viver um pouco a vida, sabe? Sem tiaras ou expectativas."
Jean a ouvia com uma atenção que a surpreendeu, seus olhos escuros fixos nela, sem julgamento. Quando ela terminou, ele assentiu lentamente, um brilho de compreensão em seu olhar. "Eu entendo mais do que você imagina, Lívia." Ele tomou um gole de seu champanhe. "Minha vida é um turbilhão de fusões, aquisições, relatórios financeiros e conselhos de administração. Sou Jean Wincher, o magnata automotivo, e isso consome cada segundo do meu dia. Estou cansado, exausto, na verdade, de tanta responsabilidade. Há momentos em que tudo que eu queria era poder parar no tempo. Apenas por um instante."
Um sorriso melancólico surgiu em seus lábios. "Conhecer pessoas novas... ter tempo para um café sem que seja uma reunião estratégica. É um luxo que raramente me permito. E, sinceramente, às vezes eu olho para a frente e penso... o que vem depois? Todo esse império, para quê? Não seria ruim... quem sabe, encontrar alguém, me casar e ter filhos."
A confissão de Jean, tão crua e inesperada, atingiu Lívia. Não era apenas a riqueza ou o poder que os unia, mas uma profunda e silenciosa exaustão da própria existência que levavam. Ele, um bilionário no auge, ela, uma princesa, ambos anseiavam por uma simplicidade que lhes era negada. Naquele bar, sob o véu da noite parisiense, eles não eram a realeza e o magnata; eram apenas duas almas cansadas, mas esperançosas, encontrando um refúgio um no outro. A conexão era instantânea e poderosa, como se tivessem se conhecido em outra vida.
As taças de champanhe se esvaziavam e eram preenchidas novamente, as bolhas dançando e subindo à cabeça de Lívia com uma leveza que ela nunca havia experimentado. A formalidade de sua vida se dissolvia a cada gole, substituída por uma audácia que a surpreendia. Jean, por sua vez, parecia mais relaxado do que ela imaginaria, seus olhos brilhando com uma intensidade que a convidava a ir além.
"Sabe, Jean", Lívia começou, a voz um pouco mais solta do que o habitual, mas com uma convicção estranha, "você falou em se casar, ter filhos... e eu, em fugir de tudo isso. Mas e se... e se a gente fizesse algo realmente louco?" Um sorriso travesso brincou em seus lábios. "Algo que nos desse essa pausa, essa liberdade, mesmo que por um instante?"
Jean a olhou, uma sobrancelha arqueada, o interesse evidente. "Estou ouvindo, Lívia. O que você tem em mente?"
Lívia se inclinou um pouco mais, o champanhe dando-lhe a coragem necessária para a ideia mais absurda que já tivera. "Um contrato. Nós nos casamos. Apenas... para ver o que acontece. Para chocar o mundo. Para ter uma desculpa para fugir de tudo isso por um tempo. E depois... depois a gente vê. Mas tem que ser agora. Impulsivo. Sem pensar demais." Ela gesticulou vagamente, como se um advogado fosse surgir do nada.
Jean a encarou por um longo momento, não com choque, mas com uma centelha de fascínio. A ideia era insana, imprudente, completamente fora de qualquer protocolo. E era exatamente por isso que era tão tentadora. Ele, que passava a vida calculando riscos, sentiu um impulso selvagem de abraçar o caos.
Um sorriso lento e perigoso se espalhou por seus lábios. Ele se levantou, estendendo a mão para ela. "Venha comigo, Lívia. Para um lugar mais... privado."
Intrigada e embriagada pela promessa de algo completamente fora do comum, Lívia aceitou a mão dele. Jean a levou até uma das suítes de luxo do hotel, um espaço elegante e opulento, mas que agora parecia um refúgio secreto para a loucura que estavam prestes a cometer.
Dentro da suíte, Jean pegou o celular do bolso do terno, discando rapidamente. "Jackson? Sim, sou eu. Preciso de você no 'Le Grand Paris' agora. Urgente. Traga alguns formulários de contrato pré-nupcial. Sim, agora. É... um assunto muito peculiar." Ele desligou, virou-se para Lívia com um brilho nos olhos. "Ele não vai gostar, mas virá. Ele sempre vem."
Em menos de quinze minutos, um homem de meia-idade, com uma pasta de couro e uma expressão de quem acabara de ser tirado da cama, apareceu à porta da suíte. Era Jackson, o advogado pessoal de Jean, acostumado às exigências mais excêntricas de seu cliente. Ele lançou um olhar confuso para Lívia e depois para Jean, que apenas deu de ombros com um sorriso.
Com a ajuda de Jackson, que parecia chocado, mas profissionalmente discreto, um contrato pré-nupcial rudimentar foi rascunhado ali mesmo, na mesa de centro da sala da suíte. Cláusulas sobre bens, responsabilidades e, crucialmente, uma data para uma revisão futura, foram adicionadas. Lívia, com um riso um tanto histérico, assinou seu nome com uma caneta emprestada, o champanhe e a emoção turvando sua visão. Jean, com uma seriedade quase solene para o momento, também assinou, os olhos fixos nos de Lívia. O advogado, com um suspiro resignado, autenticou o documento.
O papel parecia um bilhete de uma brincadeira de criança, mas ali estava: um acordo de casamento, assinado por uma princesa fugitiva e um bilionário impulsivo, sob o efeito de champanhe e uma necessidade desesperada de liberdade.
A partir daquele momento, a noite tomou um rumo ainda mais intenso. Livres do peso do mundo exterior e impulsionados pela adrenalina daquele ato de rebeldia, Lívia e Jean se entregaram completamente um ao outro. Risadas preencheram o quarto enquanto eles se divertiam, a bebida fluindo livremente e as barreiras caindo. A paixão que havia sido construída ao longo da noite finalmente explodiu em uma noite de amor inesquecível. Era apenas Lívia e Jean, perdidos um no outro, no tempo e no espaço, sem saber que o "bilhete" assinado naquela noite mudaria suas vidas para sempre.
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Atualizado até capítulo 28
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