A ESCOLHA DA COROA
Os lustres de cristal do Salão Diamante, no Palácio de Évora, cintilavam como mil estrelas presas no teto, mas para Lívia Lancaster, Princesa mais nova de um reino antigo e respeitado, pareciam apenas amplificar o tédio opressivo. Vinte e cinco anos, e cada respiração parecia um ensaio de um papel que ela não havia escolhido. A valsa lenta dos casais, cada passo um eco de um protocolo imutável, a sufocava. Ela sentia o peso invisível de sua tiara e as expectativas que a seguiam como uma sombra persistente.
Uma risada abafada e genuína, vinda de algum lugar fora da bolha da formalidade, pareceu um chamado. Sem pensar duas vezes, ignorando o olhar alarmado de sua dama de companhia, Lívia deslizou por entre a multidão, buscando um respiro, uma lufada de ar que não cheirasse a formalidade e cera de vela antiga.
Ela se viu na calçada, o ar fresco da noite de Paris uma bênção contra o calor abafado do salão. A vida pulsava ao seu redor – táxis amarelos passando velozmente, o burburinho de conversas em francês, o cheiro de café e algo doce vindo de uma confeitaria próxima. Era o caos que ela tanto ansiava. Sem rumo, apenas seguindo o impulso da liberdade recém-descoberta, ela caminhava com um leve sorriso nos lábios, os saltos fincando no asfalto molhado.
Foi então que aconteceu. Distraída pelo brilho das luzes de néon de um hotel de luxo à frente, Lívia virou uma esquina abruptamente, os pensamentos longe de qualquer obstáculo. Seu ombro colidiu com uma massa sólida e alta. Um suave exclamação escapou de seus lábios enquanto ela cambaleava, quase caindo.
"Mil perdões!" A voz, grave e profunda, a alcançou. Uma mão firme e grande se estendeu, segurando seu cotovelo para evitar sua queda.
Lívia ergueu os olhos e se viu diante de Jean Wincher. Ele estava parado, impecavelmente vestido em um terno escuro, a presença imponente, os olhos curiosos, mas com um traço de diversão, avaliando-a. Ela o reconheceu imediatamente das revistas de negócios – o bilionário das montadoras, conhecido por sua mente afiada e sua reputação de solitário.
"Não, o perdão é meu", Lívia respondeu, sentindo o rosto esquentar. "Estava distraída."
Jean soltou uma risada baixa, um som inesperadamente caloroso. "Parecia estar fugindo de algo importante."
"Talvez de mim mesma", Lívia murmurou, um sorriso genuíno despontando em seus lábios. Era a primeira vez em horas que ela se sentia verdadeiramente à vontade, sem o peso do título ou das expectativas. Naquele momento, em frente a um hotel movimentado em Paris, ela era apenas Lívia. E diante dela, Jean Wincher, um homem que parecia ver além da princesa, vendo apenas a mulher que havia acabado de esbarrar nele. O que aconteceria a seguir, ela não tinha ideia, mas a sensação de aventura a invadia como um bom vinho.
Jean a observava, um leve rubor subindo por seu pescoço. Ele pigarreou, um gesto sutil que delatava um desconforto inesperado para alguém tão acostumado a comandar. Seus olhos castanhos, que há pouco avaliavam-na com curiosidade divertida, agora desviavam ligeiramente para a entrada do hotel.
"Bem", ele começou, a voz ainda profunda, mas com um toque de hesitação, "já que a culpa foi de ambos, e o destino nos uniu... por que não continuamos com essa... serendipidade? Há um bar no meu hotel que serve um excelente champanhe, ou talvez um chá, se preferir algo mais recatado." Ele gesticulou discretamente para a entrada imponente do "Le Grand Paris", o nome gravado em ouro acima da porta giratória. "Seria uma forma de compensar o... o esbarrão."
Lívia arqueou uma sobrancelha, um brilho de diversão em seus olhos. A sugestão era audaciosa, vindo de um estranho, mesmo que ele fosse Jean Wincher. Mas era exatamente o tipo de fuga que ela desejava. A ideia de se sentar em um bar de hotel com um bilionário, longe dos olhares e julgamentos de sua corte, era inebriante.
"Compensar o esbarrão, Sr. Wincher?", ela repetiu, um sorriso provocador surgindo. "Ou talvez você esteja apenas procurando uma boa desculpa para prolongar a conversa?"
Jean soltou uma risada genuína, o som ressoando no ar noturno. O desconforto se desfez, substituído por um sorriso charmoso que transformou sua face séria. "Talvez um pouco dos dois, Princesa Lancaster."
Lívia considerou por um instante, embora a decisão já estivesse tomada. "Lívia, por favor. E aceito o champanhe, Sr. Wincher. Desde que prometa não fazer negócios enquanto o toma."
"Jean", ele corrigiu, estendendo a mão para que ela passasse à frente. "E não há negócios esta noite, Lívia. Apenas... serendipidade."
Lívia sentiu um arrepio de emoção enquanto ele a conduzia para dentro do hotel. O lobby era opulento, com mármore polido e arranjos florais exuberantes, mas o que realmente a atraía era a promessa daquela noite inesperada. Pela primeira vez em muito tempo, Lívia Lancaster não estava seguindo um protocolo. Ela estava apenas vivendo como se não houvesse o amanhã.
Sentiu um impulso dentro de si, se entregando a qualquer circunstância do destino. Se envolver apenas com uma conversa com alguém estranho era novo para ela, mas ela não queria saber e só foi. Sabia que sua família nunca puniria tão ato.
Seu pai falaria: " Não admitimos que converse com a plebe". Mas ela só queria conhecer o desconhecido mundo fora do palácio, e ser como um pássaro solto de uma gaiola.
Tudo tão mágico, como se ela nunca tivesse visto riqueza e luxo. Para ela tudo era como se fosse a primeira vez de uma menina pobre indo ao parque de diversões luxuoso e gigante.
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Atualizado até capítulo 28
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