Parte 2 – O Dia Seguinte
O despertador tocou cedo demais. Larissa abriu os olhos devagar, sentindo o corpo dolorido — e ainda quente — pelos excessos da noite anterior. Por alguns instantes, ficou imóvel, ouvindo o barulho da chuva que insistia em cair lá fora. O cheiro dele ainda estava no sofá, impregnado no lençol amarrotado.
Ela se levantou devagar, com a camiseta pendendo num dos ombros. Quando olhou o relógio, soltou um palavrão.
— Merda… tô atrasada! — murmurou, correndo até o banheiro.
Tomou o banho mais rápido da vida, amarrou os cachos úmidos num coque displicente e vestiu o uniforme de recepcionista. Enquanto calçava o sapato, não conseguiu evitar a lembrança: as mãos dele segurando seus quadris, o jeito que seus olhos pareciam atravessar cada parte do seu corpo, como se pudessem ver por dentro.
— Eu fui… uma putinha — murmurou sozinha, o rosto queimando de vergonha e excitação ao mesmo tempo.
Na corrida até o ponto de ônibus, sentia o sexo pulsar em memória do que viveram. Cada passo parecia reacender a sensação dele entrando fundo, sem pedir licença.
Mas quem é você, Vitor?
Ela suspirou, tentando se concentrar no frio da manhã cinzenta, mas o peito pesava com perguntas sem resposta.
⸻
O aeroporto estava quase deserto. A tempestade da noite anterior interrompera pousos e decolagens, e o saguão parecia um salão fantasma. Sentada atrás do balcão, Larissa olhava os painéis com todos os voos cancelados.
— Só faltava essa — murmurou, esticando o pescoço para tentar se manter acordada.
Quando não tinha ninguém na fila, encostava o queixo na palma da mão e deixava os pensamentos correrem.
Eu nem sei de onde ele veio… Ele disse que voltava de uma viagem, mas não mostrou nenhum bilhete. Nenhum documento…
A lembrança dela ajoelhada diante dele a fez morder o lábio inferior.
E eu deixei. Eu quis. Eu implorei. Deus… eu fui uma putinha mesmo…
— Larissa! — A voz de uma colega a trouxe de volta.
Era Débora, uma das recepcionistas mais antigas, que equilibrava um copo de café e um sorriso curioso.
— Você tá aérea hoje, menina. Tá pensando na morte da bezerra?
Larissa se endireitou na cadeira e fingiu um bocejo.
— Ai, Débora, é esse plantão parado… Essa chuva… tá me dando sono.
— Sei… — Débora estreitou os olhos. — Tá com cara de quem tá lembrando coisa boa.
Ela riu, forçando leveza.
— Coisa boa nenhuma, mulher. Só esse dia chato e esse café ruim.
Débora deu de ombros e saiu, mas Larissa continuou olhando o painel de voos, distraída.
Se eu visse ele de novo… eu deixaria tudo acontecer outra vez?
Ela respirou fundo, e uma pontada de calor subiu pelo corpo.
Sim. Eu deixaria. E eu nem sei por quê.
⸻
O expediente terminou sem qualquer novidade. No ponto de ônibus, Larissa encostou a cabeça no vidro e fechou os olhos, tentando esquecer. Mas o cheiro, o toque e a voz dele estavam entranhados na memória.
Quando chegou em casa, tirou o uniforme, tomou um banho demorado e se enrolou num roupão. Preparou um chocolate quente e ligou a TV, só para preencher o silêncio. No sofá, as lembranças voltavam como fantasmas.
Eu nem perguntei de onde ele veio… Eu só… abri a porta… abri minhas pernas… abri tudo.
Ela respirou fundo, constrangida.
— Eu sou mesmo uma idiota — disse em voz baixa, envergonhada do próprio desejo.
Tentou se distrair com a novela, mas nem lembrava o enredo. O rosto dele surgia em cada intervalo. O jeito que ele segurava seu queixo. O tom de voz quando disse que ela era dele.
Quem é você, Vitor?
A pergunta parecia ecoar pelo apartamento vazio.
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E então, quando o Jornal Nacional começou, Larissa tomou outro gole do chocolate quente, esperando apenas passar o tempo.
— …e em outros destaques, a Interpol amplia buscas por um traficante internacional conhecido apenas como Fantasma. Segundo investigações, ele atua entre Europa e América Latina e tem conexões com diversas facções criminosas.
As imagens mostravam câmeras de segurança, captando um homem alto, de postura reta, trajando sempre roupas escuras. O rosto, borrado, protegido por capuzes e ângulos ruins. Mas a silhueta era marcante. O modo de caminhar, lento e seguro, pareceu acender algo no peito dela.
— Não pode ser… — sussurrou, sentindo os pelos da nuca arrepiarem.
As imagens avançaram em câmera lenta. Era apenas uma sombra, um vulto… mas aquele andar parecia o dele.
Ela levou a mão à boca, o coração disparado.
E se for ele?
O narrador continuou, em tom grave:
— Conhecido como Fantasma, o homem tem uma ficha extensa e usa diversas identidades falsas. É considerado perigoso e extremamente habilidoso em desaparecer sem deixar rastros.
Larissa abaixou o volume. O chocolate esfriava na xícara esquecida. Ela ficou parada, olhando a tela em silêncio.
Eu dormi com ele. Eu deixei ele me possuir. Eu…
A chuva voltou a cair lá fora. No peito, uma mistura de medo e desejo latejava, incômoda.
Ela fechou os olhos e se encostou no sofá. Ainda sentia a marca dos dedos dele na cintura.
Se for ele… por que voltou pra mim?
E no fundo, uma pergunta ainda maior a corroía:
Por que eu ainda quero que ele volte outra vez?
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Gohan
Tá me surpreendendo!
2025-07-15
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