A tarde estava quente, abafada… e eu também estava.
Não era só o calor da cidade ou o sol atravessando a cortina do meu quarto.
Era o fogo dentro de mim — aceso desde a manhã, desde aquele maldito som vindo do escritório, desde o jeito frio como Jones fingiu que nada aconteceu.
Eu sabia que não devia me importar.
Mas me importava.
E se ele podia me deixar em silêncio, me ignorar como se eu fosse invisível, então eu também podia mostrar a ele que… não sou uma garotinha.
Manu já tinha ido embora. Me abraçou, disse pra eu "fazer ele engolir o próprio controle" e saiu com aquele sorrisinho dela.
Pois é.
Hora de colocar a ideia em prática.
Abri o armário e vesti a sainha mais curta que eu tinha — preta, com um babado leve que subia um pouco quando eu andava.
Depois, coloquei um top vermelho, justo, com um decote profundo nas costas e que mostrava parte da barriga. Nada exagerado... mas no corpo certo, dizia tudo sem dizer nada.
Olhei no espelho.
Cabelo solto, boca corada, pele quente.
Não era a filha da Renata ali.
Era eu, do jeito que ele nunca quis me ver. Ou quis, mas nunca teve coragem de olhar.
Respirei fundo e saí do quarto, caminhando em passos lentos até a cozinha. Estava sedenta… de água e de controle.
O copo estava na pia. Enchi devagar. A água escorrendo no vidro fez um som que combinava com o ritmo da minha respiração. Meu coração estava acelerado — como se eu estivesse prestes a cometer um crime.E talvez estivesse.
Foi então que percebi.
A porta do escritório… estava entreaberta.
Sorri de lado.
O destino às vezes é generoso com quem quer provocar.
Fiz questão de virar de costas para a porta e me abaixar levemente, como se estivesse pegando algo na parte baixa da geladeira.
Empinei.Sem pressa.Sabendo o que eu estava fazendo.
Fiquei ali alguns segundos a mais do que o necessário.Depois me levantei, virei o rosto lentamente, como se tivesse “acabado de perceber” que a porta estava aberta.
Meus olhos encontraram os dele.
Jones.
Sentado à mesa, com uma expressão indecifrável.Os olhos escuros presos em mim.A boca levemente entreaberta, como se não tivesse certeza se estava vendo o que realmente estava acontecendo.
— Ah… — murmurei, com um falso espanto. — Não sabia que você estava aí...
Ele não respondeu de imediato.
Só me encarou.
— Vim pegar água — continuei, como se fosse só isso.
Dei um passo em direção à pia e bebi um gole devagar, sabendo que ele ainda olhava.
Cada centímetro do meu corpo estava alerta. Cada movimento era calculado.
Mas dentro de mim, o coração estava em caos.
Eu queria que ele sentisse.
O que eu senti.
O que eu ainda sinto.
E mais do que tudo, eu queria ver até onde ele aguentava.
— Se quiser alguma coisa... tô no meu quarto — falei, antes de virar as costas e sair devagar, sem olhar pra trás.
Mas eu sabia.
Ele estava me olhando.
E se não estava... ele queria estar.
Jones..
Desci as escadas sem pressa, com os pés descalços e a mente pesada.
Passei o dia trancado no escritório, tentando trabalhar. Mas tudo que eu conseguia fazer era me lembrar daquela manhã.
O olhar da Maria.
O jeito que ela não me olhou.
A frieza, a indiferença fingida… aquilo doeu mais do que qualquer grito.
E eu merecia, talvez.
Mesmo sem ter feito nada com Letícia, eu deixei ela pensar que fiz.
E isso, vindo de mim, é imperdoável.
O silêncio da casa era um alívio. Manu já tinha ido embora.
De Letícia, nem sinal.
Paz, enfim.
Fui direto pra cozinha.
O corpo pedia água. A cabeça pedia descanso.
Mas o que eu encontrei ali… não foi descanso.
Foi um ataque.
Maria.
De costas.
Empinada.
A sainha preta revelava mais do que deveria. Subia conforme ela se abaixava — um gesto aparentemente inocente, mas feito com uma perfeição diabólica.
E o top...
Vermelho.
Justo.
Aberto nas costas.
Cada curva dela parecia desenhada por provocação.
A pele quente, os cabelos soltos, o pescoço exposto.
A boca, ainda sem eu ver, já parecia perigosa.
Ela se levantou devagar, como quem sabe que está sendo observado.
Foi só quando ela virou o rosto que fingiu surpresa.
— Ah… — disse, com uma voz doce. — Não sabia que você estava aí...
Fiquei calado por um momento.
Tinha esquecido até como se respirava.
Ela sabia.
Ela sabia muito bem o que estava fazendo.
— Vim pegar água — continuou, andando até a pia, balançando os quadris com uma calma assassina.
Pegou o copo.
Bebeu devagar.
A boca encostada no vidro como se fosse em mim.
A gota escorrendo do canto da boca até o queixo…
Porra.
Olha pro outro lado, Jones.
Respira. Pensa.
Ela é a filha da sua ex-esposa.
Ela é jovem.
Ela tá magoada.
Mas tudo dentro de mim gritava:
Ela sabe que tá te deixando louco.
E tá gostando.
Depois de alguns segundos de silêncio, ela virou-se e falou:
— Se quiser alguma coisa... tô no meu quarto.
O chão sumiu dos meus pés.
A voz dela era macia… mas carregava veneno.
Era um convite que dizia muito mais do que as palavras.
Ela virou de costas.
Subiu as escadas devagar.
E eu fiquei ali, parado.
Com o copo na mão.
Com a alma queimando.
Essa garota…
Não.
Essa mulher tá brincando com fogo.
Mas o problema é que eu também tô querendo me queimar.
Levei o copo até a boca, tentando me acalmar.
Mas a água estava morna.
E meu corpo, em chamas.
Eu não sei até quando consigo fingir que isso não está acontecendo.
Mas sei de uma coisa:
Se ela continuar…
vai chegar o momento em que eu não vou mais conseguir dizer “não.”
E esse momento está perto.
Muito perto.
....
Fiquei um tempo ali parado depois que ela subiu.
A água no copo esquentando na minha mão, a respiração falhando, os músculos tensos como se eu tivesse acabado de sair de uma briga.E, de certo modo, era isso mesmo.Uma guerra silenciosa.
Mas quem estava vencendo?
Eu?Que continuei parado, imóvel, fingindo controle?Ou ela?Que, com um olhar e uma sainha curta, virou meu mundo de cabeça pra baixo?
Maria.
Essa garota que eu vi crescer.
Essa mulher que agora me olha diferente.
E que faz meu corpo reagir como nunca deveria.
Mas chega.
Eu precisava de respostas.Precisava entender por que ela estava fazendo aquilo.Por que me provocava daquele jeito.Ou talvez… só precisava ouvir da bocadela que aquilo não significava nada. Que era tudo só… birra, vingança, orgulho ferido.
Subi devagar, sentindo cada degrau ranger sob meus pés como se a casa estivesse tentando me alertar.Bati na porta duas vezes.Nada.
— Maria — chamei, baixo.
Ouvi passos lá dentro. Depois, o som da maçaneta girando.
Ela abriu a porta com o mesmo top colado ao corpo, os cabelos soltos e um olhar calmo demais pra quem tinha acabado de jogar gasolina no meu peito.
— Algum problema? — perguntou, como se eu estivesse ali pra falar da conta de luz.
Cruzei os braços, tentando parecer inabalável.
— O que foi aquilo lá embaixo?
Ela franziu a testa, fingindo confusão.
— Aquilo o quê?
— Você sabe do que eu tô falando. A maneira como você agiu. A roupa. O… jeito. Aquilo foi de propósito?
Ela sorriu de lado, cínica.
— Eu só desci pra beber água, Jones.
— E resolveu se empinar bem na frente da porta do meu escritório?
Ela deu de ombros.
— Eu nem sabia que você tava em casa.
Silêncio.
Tenso. Cortante.
Eu encarei aquela menina-mulher parada na minha frente e senti meu autocontrole rachar como vidro sob pressão.
— Maria… — murmurei, numa tentativa falha de encontrar as palavras certas.
— Você tá me acusando de alguma coisa? — ela cruzou os braços agora, e o movimento fez o top subir um pouco, revelando mais da cintura fina.
Fechei os olhos por um segundo. Respira.
— Não — respondi. — Eu só… eu preciso entender o que tá acontecendo com você. Porque isso… — fiz um gesto amplo, apontando pra ela, pra mim, pro ar carregado entre nós — isso tá ficando difícil de ignorar.
Ela se encostou no batente da porta, como quem não se importava. Mas eu vi o brilho nos olhos.Ela sabia.Sabia o que causava em mim.E estava se alimentando disso.
— Talvez você só esteja vendo coisa onde não tem — disse, com a voz doce e perigosa.
Quis gritar. Quis segurá-la pelos ombros e fazê-la confessar.Mas tudo que fiz foi engolir em seco.
— Certo — falei, duro. — Então, se não tem nada acontecendo…
— Não tem — ela cortou. Rápida.
— Ótimo. Porque se tivesse… seria errado. Muito errado.
Ela sorriu.
Mas não era um sorriso inocente. Era um sorriso carregado de tudo o que ela negava com palavras.
— Então é isso — disse, dando um passo pra trás. — Boa noite, Jones.
E antes que eu dissesse qualquer coisa, ela fechou a porta.Na minha cara.Fiquei ali parado por vários segundos. O coração acelerado, o sangue quente.A respiração pesada.Ela estava brincando com fogo.
E o pior?Eu também.Mas ainda era só o começo.E nós dois sabíamos disso.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Ana Carolina Ferreira
tô gostando da história mais acho que poderia ter mais fotos pra agente interagir com os personagens
2025-07-17
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