Capítulo 5 – Início da Queda

Yago não sabia como explicar o que estava acontecendo com ele — apenas sentia.

E sentir, no seu caso, era quase o mesmo que sofrer.

Havia crescido sendo ensinado a nunca demonstrar fraqueza. A manter o cio controlado, o cheiro abafado, as emoções bem guardadas num compartimento lacrado com vergonha e medo. Mas agora, tudo estava saindo pelas frestas.

O controle começava a ceder.

E seu corpo não mentia mais.

Ele tentava disfarçar, sim. Tomava os supressores, reforçava as doses, aumentava os banhos gelados e as noites solitárias. Mas o problema não era apenas fisiológico. Era Matteo.

O alfa estava sob sua pele. Na sua respiração.

Nos seus sonhos.

Nas últimas noites, Yago acordava suado, ofegante, com o cheiro de Matteo imaginado impregnado nos lençóis. E quando se olhava no espelho, via um brilho nos olhos que não reconhecia. Era desejo. E era perigoso.

Porque mais cedo ou mais tarde... isso ia sair de controle.

Na Montgomery & Co., o clima entre eles se tornara delicado.

Matteo passava pelos corredores e seus olhos encontravam os de Yago como se buscassem refúgio. Mas nenhum dos dois ousava se aproximar demais. Era como se ambos soubessem que outro passo poderia significar um abismo.

E ao redor deles, o ambiente estava carregado.

Os boatos não haviam cessado — apenas evoluído.

As mensagens nos grupos internos começaram a insinuar que Yago era “protegido” demais, que Matteo estava sendo parcial nas decisões. Que o ômega estava subindo rápido demais para quem mal conhecia a empresa.

Yago ignorava o máximo que podia. Mas as palavras doíam. Não pelos boatos em si, mas pela forma como reduziam tudo o que ele era a um cheiro e um corpo bonito.

E ele sabia exatamente quem estava por trás.

Nora Bellamy ainda não havia sido afastada. Matteo deixara claro que ela responderia por abuso de autoridade e manipulação, mas o processo estava em análise interna. Até lá, ela continuava atuando em seu cargo — e usava cada segundo para corroer a imagem de Yago com precisão cirúrgica.

— Lancaster — ela chamou com aquele falso tom doce, na hora do almoço. — Pode vir até minha sala? Preciso te mostrar algo importante.

Yago hesitou. Clara não estava por perto. Mas seguiu.

Na sala de Nora, a luz era baixa e o ambiente cheirava a perfume doce demais, quase sufocante.

Ela trancou a porta assim que ele entrou.

Yago já sabia: aquilo era uma armadilha.

— Você quer o quê, exatamente? — ele perguntou direto, cruzando os braços.

— Paz — ela respondeu, girando lentamente uma taça de vinho tinto que descansava sobre sua mesa. — Mas mais do que isso… quero te fazer entender que você não pertence a esse andar.

— Porque sou ômega?

— Porque você está mexendo com a cabeça do Matteo. E isso... nos afeta a todos. — Ela se levantou, aproximando-se. — Você pode ser esperto, Yago, mas não entende a política desse lugar. A maneira como alianças se formam, como cargos são preservados. E o Matteo... ele é um alfa, mas está perdendo o foco.

— Se ele está, é problema dele — Yago rebateu.

— Não. Agora é problema seu. E vai se tornar o problema de todo mundo se você continuar por aqui. — Ela sorriu, mas os olhos brilhavam em ódio. — Uma transferência discreta seria o melhor, concorda? Talvez pro setor de marketing em Jersey. Ou quem sabe algo remoto?

Yago segurou a raiva. Queria gritar. Mas se manteve frio.

— E se eu não aceitar?

— Ah, querido… — Nora riu. — Ninguém aqui precisa da sua permissão.

Horas depois, Yago estava parado na varanda do prédio, onde os funcionários raramente iam. O céu estava nublado, e uma brisa fria acariciava seu rosto.

Ele sentia que estava caindo.

Perdendo tudo o que havia construído em tão pouco tempo.

Por dentro, o ciclo hormonal gritava. A pele doía de sensibilidade. E o pior: o cheiro de Matteo o perseguia. O instinto estava se aproximando do cio real. E se isso acontecesse ali, naquele ambiente… seria a destruição final.

— Está se escondendo? — perguntou uma voz firme atrás dele.

Yago se virou devagar. Matteo.

— Talvez — respondeu, olhando de volta para o horizonte.

Matteo deu dois passos, parando ao seu lado.

— Nora está fazendo ameaças?

Yago assentiu, sem olhar.

— Ela quer que eu aceite uma transferência. Diz que está “protegendo” a empresa. Mas o que ela quer mesmo é me tirar do seu caminho.

— Você quer sair?

— Não. Mas talvez eu devesse.

Matteo respirou fundo. Havia angústia em seu rosto — uma sombra sutil de preocupação que nem ele conseguia esconder.

— Você mexe comigo, Yago — ele disse, enfim. — Mas não no sentido clichê. Não é só sobre instinto. É pior. Você me faz sentir que sou humano.

Yago virou o rosto, surpreso.

— E isso é ruim?

— Eu não sei ser humano. Só aprendi a ser CEO.

O silêncio caiu entre eles por longos segundos, até que Yago deu um passo.

— Matteo, eu não sei se vou conseguir continuar escondendo o que meu corpo tá sentindo. Eu... acho que meu cio tá chegando. Antes da hora.

Matteo arregalou os olhos.

— Isso é sério?

— Muito. E se acontecer aqui... vão me massacrar.

Matteo se aproximou e pegou o rosto de Yago com ambas as mãos, com uma delicadeza que contrastava com a força de suas palavras.

— Você vai sair daqui agora. Eu vou te levar. E depois disso... vamos decidir juntos o que fazer.

Yago piscou, emocionado.

— Você não tem medo?

— Eu tenho medo de te perder. Só isso.

Naquela noite, Matteo o levou para um apartamento mais reservado da empresa — um flat seguro, usado apenas em situações confidenciais com parceiros estrangeiros.

Ali, Yago podia ficar isolado, longe dos olhares, enquanto sua instabilidade passava.

Mas ao fechar a porta, com Matteo ainda parado ali com ele, a tensão explodiu.

Os olhos de Yago estavam marejados.

— Eu não quero ser só uma responsabilidade.

Matteo se aproximou, com uma expressão grave.

— Você não é.

— Então por que parece que cada passo nosso é um erro?

Matteo encostou a testa na dele.

— Porque o mundo tenta dizer que é. Mas o que eu sinto... não pode estar errado.

E naquela noite, sob o teto do silêncio, o toque entre eles foi diferente. Sem pressa. Sem selvageria. Apenas mãos firmes, olhares longos e uma promessa muda entre os corpos:

A queda havia começado.

Mas juntos, talvez aprendessem a voar.

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