O primeiro dia de Yago na Montgomery & Co. havia terminado, mas o impacto que causara não seria esquecido tão cedo — e não apenas por ele.
Clara o observava discretamente desde o outro lado da baia, com aquele jeito protetor de quem sabia ler pessoas melhor do que relatórios. Assim que o relógio marcou 18h, ela se aproximou com um sorriso e dois copos de café frio.
— Você sobreviveu. Isso já é uma vitória — disse ela, sentando-se ao lado dele na estação de trabalho, agora vazia.
Yago riu baixinho, cansado.
— Nem sei como. Achei que ia desmaiar na primeira hora.
— Por causa dele?
Ele não precisou perguntar quem.
— Eu não sabia que ele vinha tanto ao setor...
— Ele quase nunca vem. Hoje ele apareceu três vezes. Só isso já seria estranho. Mas o jeito como te olhou? Isso aí só não viu quem não queria.
Yago desviou o olhar para a tela do computador, onde o gráfico do orçamento anual ainda piscava, como se lembrasse que o mundo corporativo não dava espaço para distrações.
— Eu não posso me dar ao luxo de... de nada — murmurou.
— É, mas vai ter que aprender a lidar com isso rápido — Clara disse, firme. — Porque se não for você quem define os limites, o resto vai fazer isso por você. E alguns já começaram.
Yago franziu o cenho.
— O que quer dizer?
Clara hesitou, depois passou o celular para ele. Era uma troca de mensagens do grupo de funcionários.
[Bellamy]:
O novo ômega é bonito, vou admitir.
Mas parece saber muito bem o que tá fazendo.
Esses olhos de quem quer subir pelo cio.
[Outro]:
Matteo tem histórico com ômegas?
Porque eu apostaria cem dólares que esse vai sair com promoção antes do segundo mês.
[Bellamy]:
Só se for debaixo da mesa da diretoria. rsrs
Yago devolveu o celular com um nó no estômago.
— Eu não fiz nada...
— E é por isso que incomoda. — Clara cruzou os braços. — Você chegou e simplesmente existiu. E isso já foi demais para alguns egos inflados. Principalmente o de Nora Bellamy.
— Ela...
— É alfa. Antiga gerente de projetos antes da fusão. Achava que ia ser promovida quando o antigo CEO saiu. Mas Matteo assumiu tudo sozinho. Ela odeia não ter controle. E odeia ainda mais que você esteja recebendo o olhar que ela quer há anos.
Yago suspirou, massageando as têmporas.
— Incrível como em menos de um dia eu virei o centro de um circo que nem entrei por vontade própria.
— Bem-vindo à Montgomery & Co. — Clara sorriu com ironia. — Aqui, todo mundo usa perfume caro, fala inglês fluente e esconde feromônio por trás de metas.
Na cobertura da empresa, Matteo não estava muito diferente de Yago — perdido em pensamentos.
Ele tentava focar nas planilhas, mas seu corpo reagia como se estivesse em alerta desde a manhã. O cheiro daquele ômega ainda pairava em sua mente, mesmo que Yago tivesse passado o dia evitando-o.
Era como se o ar ganhasse textura quando ele estava por perto. Como se seu corpo soubesse, antes da razão, que aquele ômega era diferente.
E isso o deixava... furioso.
Matteo sempre se orgulhou de ser impenetrável. Nunca havia se envolvido com ninguém da empresa. Mantinha seus casos bem fora das paredes de vidro. Mas agora, com aquele olhar tímido e ousado ao mesmo tempo, aquele cheiro doce e feroz...
Ele estava sendo testado.
E estava perdendo.
No fim do dia, Yago entrou no elevador com passos apressados. Só queria chegar em casa, tomar um banho e esquecer o quanto seu corpo estava quente.
Mas antes que a porta se fechasse, Matteo entrou.
O ar pareceu se comprimir instantaneamente.
Ambos ficaram lado a lado, em silêncio. Matteo não disse nada, mas seus olhos escuros pousaram sobre Yago como se o desnudassem. E mesmo sem tocá-lo, o corpo de Yago reagiu. A pele arrepiou, o cheiro mudou, a nuca latejou.
Matteo inspirou discretamente.
— Você tomou supressor hoje? — perguntou, a voz baixa, rouca.
Yago engoliu em seco.
— Sim... por quê?
— Porque o seu cheiro tá escapando — Matteo disse, virando o rosto devagar. — E tá me deixando louco.
O elevador parou no térreo, mas nenhum dos dois se moveu de imediato.
Yago sentiu o coração acelerar.
— Isso é... inadequado, senhor.
— Eu sei. — Matteo piscou devagar, um meio sorriso nos lábios. — E é por isso que você me intriga.
Ele saiu primeiro, deixando Yago ali, tremendo. Como se um furacão tivesse acabado de passar e ele não soubesse mais onde era o chão.
Na calçada, Clara esperava com dois cafés na mão.
Yago se aproximou devagar, ainda tentando regular a respiração.
— Você tá bem?
— Acho que... comecei a entender por que ninguém sobrevive ao olhar dele por muito tempo.
Clara deu um sorriso leve e ofereceu um café.
— Bem-vindo ao jogo. Só não se esqueça: mesmo quando a atração parece inevitável... quem define até onde vai, é você.
Yago olhou para o prédio alto atrás de si.
E mesmo tentando se convencer de que podia resistir, no fundo, já sabia.
Matteo Montgomery havia o tocado sem nem encostar.
E aquele jogo, perigoso e instintivo, só estava começando.
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Atualizado até capítulo 23
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