Capítulo 4 – Primeiro Sinal de Desequilíbrio

Yago sempre se considerou uma pessoa centrada. Controlada. Desde muito jovem aprendeu a esconder seus instintos, a silenciar seus impulsos. Crescer como um ômega em uma família tradicional e conservadora exigia isso — principalmente quando o mundo esperava que ele fosse frágil, submisso ou desesperado por um alfa.

Mas nas últimas 48 horas, tudo o que ele achava conhecer sobre si mesmo começou a desmoronar.

Naquela manhã, o espelho refletia um rosto mais pálido que o habitual, olhos levemente marcados por olheiras. Ele passou o soro na pele com mais força do que deveria, tentando apagar os traços de uma noite mal dormida.

Seu corpo estava em alerta. A pele, hipersensível. Os suores noturnos vieram mesmo com o ar-condicionado ligado. E, pior ainda, o cheiro de Matteo ainda pairava sobre ele — mesmo após dois banhos.

“É psicológico.”, ele dizia a si mesmo.

“É só tensão. Você consegue lidar.”

Mas seu corpo dizia o contrário.

 

Ao chegar à Montgomery & Co., o ambiente parecia ainda mais denso do que nos dias anteriores. Os olhares sobre ele eram mais insistentes, os cochichos mais descarados. Yago se esforçava para parecer indiferente, mas por dentro, o nó no estômago crescia.

Clara estava em uma reunião externa, o que o deixava vulnerável.

E foi nesse cenário que Nora Bellamy decidiu atacar.

— Lancaster — ela o chamou no corredor, segurando um tablet. — Preciso de você na sala de apresentação às 10h. Vai conduzir a prévia do projeto da parceria com o grupo norueguês. Matteo quer ouvir diretamente do novo talento da empresa, segundo ele mesmo disse.

Yago arqueou as sobrancelhas.

— Eu não recebi nenhum aviso disso. Nem preparei material pra apresentação.

— Que pena — Nora respondeu com um sorriso venenoso. — Talvez você esteja ocupando uma cadeira maior do que sua capacidade. Mas quem sabe nos surpreende.

Ele sentiu o sangue gelar.

Nora havia mentido. Era óbvio. Matteo jamais o colocaria em uma apresentação internacional sem aviso — e tudo aquilo cheirava a emboscada.

Mas se recusasse, pareceria inseguro. Se aceitasse e falhasse, reforçaria a ideia de que era só um rostinho bonito no escritório.

Respirando fundo, Yago voltou para sua mesa e abriu o projeto. Mesmo sem participar da etapa anterior, absorveu o máximo de informações em uma hora. Formatou os dados, alinhou os slides, treinou a introdução.

E então, às 10h, entrou na sala de reuniões.

Matteo já estava lá.

E a surpresa em seu olhar foi nítida.

— Lancaster? — ele franziu o cenho.

— Fui informado de que o senhor havia solicitado minha presença para apresentar o projeto norueguês — disse Yago, firme.

Matteo desviou o olhar por um instante. Seus olhos pousaram em Nora, que estava sentada no canto da sala, disfarçando mal o prazer que sentia com a cena.

— Eu... não pedi isso. — Matteo disse com calma. — Mas já que está aqui, vamos ver do que é capaz.

Era como mergulhar de cabeça num mar gelado.

Yago iniciou a apresentação com a voz trêmula, mas aos poucos encontrou o ritmo. Organizou as informações com clareza, explicou as vantagens do investimento, indicou os pontos críticos e possíveis riscos. Os investidores noruegueses o ouviam com atenção, e até o humor gélido do tradutor deu lugar a um leve aceno de aprovação.

Ao final, o silêncio foi quebrado por Matteo, que se inclinou na cadeira.

— Excelente estrutura. Clareza nos dados. E visão crítica. — Ele cruzou os braços. — Agora me diga... por que achou que eu havia solicitado sua presença?

Yago olhou brevemente para Nora, depois de volta para Matteo.

— Recebi ordens diretas de Bellamy.

Um silêncio cortante caiu sobre a sala. Matteo virou-se lentamente para Nora.

— Pode deixar sua explicação com o RH.

Nora ficou vermelha. Tentou reagir, mas Matteo já estava de pé.

— A reunião está encerrada. Lancaster, venha comigo.

 

No escritório de Matteo, o clima era tenso.

Yago entrou e manteve a postura. Não sabia se receberia uma bronca, uma advertência, ou... algo pior.

Mas Matteo apenas o encarou por um longo tempo, antes de se aproximar e dizer:

— Ela tentou te humilhar. E você saiu como o nome mais comentado do dia. Parabéns.

Yago respirou aliviado.

— Eu só... fiz o que pude.

— Você fez mais que isso. — Matteo deu mais um passo. — Você me desafiou. Você fez todos ali te ouvirem. Inclusive eu.

A voz dele estava mais baixa agora. Quente.

Yago recuou meio passo, mas não por medo. Seu corpo reagia à proximidade dele como uma planta buscando o sol.

— Matteo... isso é perigoso.

— É. — O alfa respondeu. — Mas eu não ligo.

O silêncio que se seguiu era carregado demais para ser quebrado por palavras banais.

Até que Matteo falou, com voz firme:

— Está acontecendo alguma coisa com você. Seu cheiro está mudando. Não é cio ainda, mas... está vindo. Rápido.

Yago desviou o olhar.

— Eu sei. E estou tentando controlar.

Matteo se aproximou mais, devagar.

— Eu posso te ajudar. Não com o instinto. Mas... com o ambiente. Se quiser, posso te transferir para outro andar. Ou manter distância.

Yago olhou pra ele, surpreso.

— Você faria isso?

— Eu faria qualquer coisa pra não te destruir.

Aquelas palavras acertaram Yago como uma faísca no peito.

Ele não respondeu.

Mas Matteo também não forçou. Apenas disse, antes de deixá-lo sair:

— Você não está sozinho aqui. Nem precisa estar.

 

Yago saiu do escritório com o coração acelerado.

Porque naquele dia, entre um golpe, uma apresentação forçada e um olhar que disse mais que promessas...

Ele soube que Matteo não era só um alfa perigoso.

Ele era alguém que podia fazê-lo sentir.

E naquele mundo de máscaras e feromônios controlados, sentir... era o verdadeiro desequilíbrio.

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