Yago sempre se considerou uma pessoa centrada. Controlada. Desde muito jovem aprendeu a esconder seus instintos, a silenciar seus impulsos. Crescer como um ômega em uma família tradicional e conservadora exigia isso — principalmente quando o mundo esperava que ele fosse frágil, submisso ou desesperado por um alfa.
Mas nas últimas 48 horas, tudo o que ele achava conhecer sobre si mesmo começou a desmoronar.
Naquela manhã, o espelho refletia um rosto mais pálido que o habitual, olhos levemente marcados por olheiras. Ele passou o soro na pele com mais força do que deveria, tentando apagar os traços de uma noite mal dormida.
Seu corpo estava em alerta. A pele, hipersensível. Os suores noturnos vieram mesmo com o ar-condicionado ligado. E, pior ainda, o cheiro de Matteo ainda pairava sobre ele — mesmo após dois banhos.
“É psicológico.”, ele dizia a si mesmo.
“É só tensão. Você consegue lidar.”
Mas seu corpo dizia o contrário.
Ao chegar à Montgomery & Co., o ambiente parecia ainda mais denso do que nos dias anteriores. Os olhares sobre ele eram mais insistentes, os cochichos mais descarados. Yago se esforçava para parecer indiferente, mas por dentro, o nó no estômago crescia.
Clara estava em uma reunião externa, o que o deixava vulnerável.
E foi nesse cenário que Nora Bellamy decidiu atacar.
— Lancaster — ela o chamou no corredor, segurando um tablet. — Preciso de você na sala de apresentação às 10h. Vai conduzir a prévia do projeto da parceria com o grupo norueguês. Matteo quer ouvir diretamente do novo talento da empresa, segundo ele mesmo disse.
Yago arqueou as sobrancelhas.
— Eu não recebi nenhum aviso disso. Nem preparei material pra apresentação.
— Que pena — Nora respondeu com um sorriso venenoso. — Talvez você esteja ocupando uma cadeira maior do que sua capacidade. Mas quem sabe nos surpreende.
Ele sentiu o sangue gelar.
Nora havia mentido. Era óbvio. Matteo jamais o colocaria em uma apresentação internacional sem aviso — e tudo aquilo cheirava a emboscada.
Mas se recusasse, pareceria inseguro. Se aceitasse e falhasse, reforçaria a ideia de que era só um rostinho bonito no escritório.
Respirando fundo, Yago voltou para sua mesa e abriu o projeto. Mesmo sem participar da etapa anterior, absorveu o máximo de informações em uma hora. Formatou os dados, alinhou os slides, treinou a introdução.
E então, às 10h, entrou na sala de reuniões.
Matteo já estava lá.
E a surpresa em seu olhar foi nítida.
— Lancaster? — ele franziu o cenho.
— Fui informado de que o senhor havia solicitado minha presença para apresentar o projeto norueguês — disse Yago, firme.
Matteo desviou o olhar por um instante. Seus olhos pousaram em Nora, que estava sentada no canto da sala, disfarçando mal o prazer que sentia com a cena.
— Eu... não pedi isso. — Matteo disse com calma. — Mas já que está aqui, vamos ver do que é capaz.
Era como mergulhar de cabeça num mar gelado.
Yago iniciou a apresentação com a voz trêmula, mas aos poucos encontrou o ritmo. Organizou as informações com clareza, explicou as vantagens do investimento, indicou os pontos críticos e possíveis riscos. Os investidores noruegueses o ouviam com atenção, e até o humor gélido do tradutor deu lugar a um leve aceno de aprovação.
Ao final, o silêncio foi quebrado por Matteo, que se inclinou na cadeira.
— Excelente estrutura. Clareza nos dados. E visão crítica. — Ele cruzou os braços. — Agora me diga... por que achou que eu havia solicitado sua presença?
Yago olhou brevemente para Nora, depois de volta para Matteo.
— Recebi ordens diretas de Bellamy.
Um silêncio cortante caiu sobre a sala. Matteo virou-se lentamente para Nora.
— Pode deixar sua explicação com o RH.
Nora ficou vermelha. Tentou reagir, mas Matteo já estava de pé.
— A reunião está encerrada. Lancaster, venha comigo.
No escritório de Matteo, o clima era tenso.
Yago entrou e manteve a postura. Não sabia se receberia uma bronca, uma advertência, ou... algo pior.
Mas Matteo apenas o encarou por um longo tempo, antes de se aproximar e dizer:
— Ela tentou te humilhar. E você saiu como o nome mais comentado do dia. Parabéns.
Yago respirou aliviado.
— Eu só... fiz o que pude.
— Você fez mais que isso. — Matteo deu mais um passo. — Você me desafiou. Você fez todos ali te ouvirem. Inclusive eu.
A voz dele estava mais baixa agora. Quente.
Yago recuou meio passo, mas não por medo. Seu corpo reagia à proximidade dele como uma planta buscando o sol.
— Matteo... isso é perigoso.
— É. — O alfa respondeu. — Mas eu não ligo.
O silêncio que se seguiu era carregado demais para ser quebrado por palavras banais.
Até que Matteo falou, com voz firme:
— Está acontecendo alguma coisa com você. Seu cheiro está mudando. Não é cio ainda, mas... está vindo. Rápido.
Yago desviou o olhar.
— Eu sei. E estou tentando controlar.
Matteo se aproximou mais, devagar.
— Eu posso te ajudar. Não com o instinto. Mas... com o ambiente. Se quiser, posso te transferir para outro andar. Ou manter distância.
Yago olhou pra ele, surpreso.
— Você faria isso?
— Eu faria qualquer coisa pra não te destruir.
Aquelas palavras acertaram Yago como uma faísca no peito.
Ele não respondeu.
Mas Matteo também não forçou. Apenas disse, antes de deixá-lo sair:
— Você não está sozinho aqui. Nem precisa estar.
Yago saiu do escritório com o coração acelerado.
Porque naquele dia, entre um golpe, uma apresentação forçada e um olhar que disse mais que promessas...
Ele soube que Matteo não era só um alfa perigoso.
Ele era alguém que podia fazê-lo sentir.
E naquele mundo de máscaras e feromônios controlados, sentir... era o verdadeiro desequilíbrio.
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Atualizado até capítulo 23
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