O salão imperial silenciou por um instante quando Alissa colocou sua mão na de Dante.
Os dedos dele eram quentes e firmes. O toque sutil foi o bastante para que um arrepio subisse pela espinha da princesa.
Ela não conseguia parar de encarar aquele olhar âmbar — intenso, predatório, como se ele visse além de sua aparência, além de sua luz... e tocasse algo que nem ela mesma entendia.
Dante inclinou-se levemente em uma reverência elegante.
— “Permita-me guiá-la, vossa alteza.”
— “Claro...” — respondeu Alissa, a voz quase falhando.
Dante estendeu a mão, e Alissa a aceitou com leve hesitação. Com um gesto confiante, ele a puxou delicadamente para mais perto de si, suas mãos pousando firmes em sua cintura. O toque quente fez um arrepio percorrer a espinha de Alissa.
Ela tentou manter a compostura. Com uma das mãos, segurou o ombro de Dante; com a outra, entrelaçou seus dedos com os dele — um toque trêmulo, involuntário. O contato físico era inédito... e perigoso.
A valsa começou suave, e Dante a guiava com maestria, como se seus corpos já tivessem dançado juntos em outras vidas. Alissa o acompanhava, flutuando com leveza, o vestido branco com detalhes dourados esvoaçava ao ritmo da música, dando à princesa uma aura quase celestial. A capa rubra de Dante balançava com a mesma sincronia, como se o fogo e a luz dançassem juntos em perfeita harmonia.
Ele não tirava os olhos dela.
E ela... ela estava encantada. Os olhos vermelhos de Dante pareciam mergulhar fundo, como se lessem segredos que nem ela sabia guardar. As mãos dele permaneciam firmes, quentes, prendendo-a no presente. Ela não conseguia mais ouvir os murmúrios do salão, nem sentir os olhares dos nobres — só existia ele.
— Você está bela esta noite, vossa alteza. — disse Dante, a voz baixa e carregada de intenções que faziam a pele de Alissa se arrepiar mais uma vez.
Ela corou discretamente, um sorriso nervoso surgindo em seus lábios.
— Obrigada, vossa alteza... Sua presença é muito importante no dia de hoje. — respondeu com educação, tentando não desviar os olhos, ainda que o coração ameaçasse escapar do peito.
Num movimento elegante, ela se afastou levemente e girou, o vestido abrindo em círculos ao seu redor, como estrelas em torno de um sol. Ainda segurando a mão de Dante, ela voltou, sendo recebida mais uma vez pelos braços dele.
E foi aí que sentiu. O perfume que vinha dele — amadeirado, masculino, inebriante — a envolveu por completo. Um aroma que parecia combinar perfeitamente com sua presença forte e enigmática. Alissa perdeu o fôlego por um instante. Ele era diferente... E ela queria descobrir mais.
Dante sorriu levemente, inclinando-se um pouco mais.
— Oh, verdade... — murmurou. — A senhorita estava à minha espera, não estava?
Os olhos de Alissa se arregalaram por um instante, corando.
— N-não... só à sua... — respondeu rapidamente, tentando manter o tom firme. — Dos outros reinos também.
Dante soltou uma risada baixa, como se estivesse se divertindo com a sinceridade involuntária da princesa.
— Mas sou o único com quem está dançando agora... — disse ele, sua voz baixa como um segredo só para ela.
O coração de Alissa disparou. Pela primeira vez em anos, ela não sabia o que responder. Apenas deixou que ele a conduzisse pelo salão, como se o mundo ao redor houvesse desaparecido, como se só existissem Dante e ela... e aquela dança que jamais seria esquecida.
Dante a conduzia com maestria.
Seus movimentos eram exatos, quase calculados — como se cada passo fosse ensaiado para encantar.
Mas havia algo mais. Algo nos olhos dele, no modo como a puxava com leve firmeza... ele não estava apenas dançando. Ele a estudava.
— “Você é bem diferente do que imaginei.” — sussurrou ele, girando-a com leveza.
— “Imagino que sim...” — respondeu Alissa, erguendo o olhar com altivez — “Afinal, o que esperava? Uma aberração?”
Dante sorriu de lado, surpreso com a ousadia da resposta.
— “Talvez...” — ele murmurou — “Mas agora vejo uma estrela de verdade. Tão luminosa... que pode cegar.”
Alissa sentiu o rosto esquentar. Era o primeiro homem, além de Oliver, que a olhava assim. Como mulher. Como realeza. Como enigma.
No canto do salão, Oliver observava.
Seus punhos cerrados, a expressão presa entre o orgulho e... algo que ele ainda não conseguia entender.
Ciúmes? Medo?
Talvez os dois.
— “Ele não devia tocá-la assim...” — murmurou, sem perceber que falava em voz alta.
— “Parece que a princesa causou uma boa impressão no príncipe do fogo.” — comentou Anthony, surgindo ao seu lado com uma taça de vinho.
— “Cuidado com esse aí.” — respondeu Oliver, os olhos fixos no par que deslizava pelo salão. — “Ele não dança por gentileza. Dança para medir fraquezas.”
Anthony arqueou a sobrancelha.
— “Você fala como quem tem medo de perdê-la.”
Oliver não respondeu. Apenas desviou o olhar por um instante, como se isso fosse resposta o suficiente.
protegê-la.
Do canto do salão, à sombra de uma das colunas douradas, Oliver permanecia de pé, observando tudo com atenção. Estava vestido com a farda cerimonial dos guardas imperiais — mas, diferente dos outros, não era o império que ele protegia. Era Alissa. Apenas ela. Sempre ela.
Seus olhos seguiram cada passo da princesa desde o momento em que as portas se abriram e ela surgiu, deslumbrante como um sonho sagrado, sob os olhares de centenas de nobres. O coração dele bateu forte de orgulho — mas também de temor.
E agora, ela dançava com ele.
Dante. O príncipe herdeiro do reino das Chamas Negras.
Um homem poderoso, cobiçado, perigoso.
Oliver o encarava com olhos apertados, o maxilar travado.
Havia algo nos olhos daquele príncipe… um interesse que ia além da cortesia. E isso o incomodava profundamente.
— “Ele a olha como se já tivesse decidido algo… como se ela fosse um prêmio.”
Oliver cruzou os braços e se encostou mais à coluna, escondido entre servos e soldados.
— “Ela é muito mais do que isso. Ela não é só uma estrela para ser exibida num céu de alianças políticas. Ela é... humana. Frágil. Forte. Linda. Real.”
E acima de tudo… vulnerável àqueles que sabem sorrir com palavras doces e intenções afiadas.
Ele se lembrou de todas as vezes em que Alissa chorou sozinha, trancada no quarto. Dos castigos. Do medo. Dos olhos que a julgavam por ter nascido mulher.
E agora, havia aquele homem… sorrindo enquanto dançava com ela, sob aplausos que mal sabiam o quanto ela lutou para simplesmente estar ali sem se quebrar.
Oliver apertou os punhos.
Medo. Era isso que ele sentia. Não de Dante. Mas do que ele poderia fazer com o coração de Alissa.
— “Ela já foi usada pelo avô… e se esse príncipe fizer o mesmo? E se ele for outro caçador disfarçado de aliado?”
Seu olhar foi até Alissa. Ela sorria, meio nervosa, meio encantada.
Estava crescendo. Desabrochando. E isso o assustava.
“Será que ela também vai começar a me deixar para trás?”
A dança continuava, leve e majestosa. Mas para Oliver, o salão parecia cada vez mais sufocante.
Ele desviou o olhar e sussurrou para si mesmo:
— "Não importa quem se aproxime dela... eu não vou deixar que ninguém a machuque de novo. Nem Dante. Nem o rei. Nem o mundo."
E com isso, ele se afastou discretamente, desaparecendo entre as colunas, jurando que, esteja onde estiver, será sempre a espada entre Alissa e qualquer sombra que tente apagá-la.
---
Enquanto a dança deslizava com leveza pelo salão, as notas da valsa preenchendo o ar, o rei da Estrela observava tudo de seu trono. Seu semblante carregava um raro sorriso de satisfação, e seus olhos estavam fixos no casal no centro do salão: sua neta, a estrela da nação, e o jovem príncipe do Fogo, Dante.
Ver Alissa, tão graciosa, envolta pelo brilho dourado do salão e girando com um dos herdeiros mais poderosos dos reinos vizinhos, era exatamente o que ele desejava — mais do que uma apresentação, era uma jogada política perfeita. Uma aliança com o Reino do Fogo seria não apenas estratégica, mas grandiosa.
— Magnífica... — murmurou o rei, mais para si mesmo do que para quem estava ao lado.
Helena, sentada próxima ao trono, observava em silêncio. Seu rosto estava inexpressivo como mármore, mas os olhos, atentos e frios, revelavam pensamentos que ela mantinha bem escondidos.
Ela não sorria. Não aplaudia.
Apenas via. Calculava. Pensava.
Aquela dança era mais do que uma valsa — era o início de algo que podia sair de seu controle.
Ela inclinou levemente a cabeça, sem tirar os olhos de Dante e Alissa. O brilho nos olhos da princesa não lhe passou despercebido, nem a forma como o príncipe do Fogo a olhava, como se já lhe pertencesse.
"Isso pode ser um problema...", pensou Helena, mas permaneceu impassível.
— Sua alteza parece satisfeita com o rumo desta noite. — comentou, por fim, olhando brevemente para o rei.
— Como não estaria? Minha neta está brilhando mais do que as estrelas que lhe deram nome. — respondeu ele, orgulhoso, sem perceber o veneno camuflado nos olhos de Helena.
Ela apenas assentiu, educadamente.
Mas por dentro... ela tramava.
A melodia alcançava seu ápice, e Dante, com um giro preciso e cheio de elegância, guiou Alissa em um movimento que fez seu vestido esvoaçar como se dançasse com o vento. Em seguida, com firmeza e graça, lançou-a levemente para o lado, fazendo com que seu corpo rodasse com leveza e perfeição.
E então — num instante que parecia fora do tempo — ele a puxou de volta com um movimento fluido e intenso.
Os corpos se encontraram com um sutil impacto, e os rostos ficaram perigosamente próximos. Alissa ofegava, os olhos azuis arregalados, fixos nos olhos de fogo de Dante. Ele, por sua vez, estava igualmente ofegante, observando cada traço do rosto dela como se tentasse decifrar os sentimentos que surgiam em seu peito.
Por um momento, nada mais existia. Nem o salão, nem as dezenas de olhos que os cercavam, nem a política, nem as responsabilidades.
Só havia os dois.
A respiração de ambos se encontrava no ar entre eles, quente, acelerada.
Mas então — palmas.
As mãos do público se encontraram num aplauso coletivo, vibrante, ecoando por todo o salão. O feitiço se quebrou. Ambos pestanejaram como se despertassem de um sonho, recobrando a postura.
Dante afastou-se levemente, mantendo ainda uma das mãos na cintura da princesa, enquanto Alissa ajeitava os fios do cabelo que haviam se soltado, com um leve rubor nas bochechas.
Eles trocaram um último olhar antes de se curvarem juntos diante dos convidados.
E o salão explodiu em elogios, aplausos e sorrisos encantados.
Mas no fundo, dentro dos olhos de ambos... havia algo nascendo.
Algo que nem mesmo as paredes do castelo seriam capazes de conter por muito tempo.
Alissa e Dante deram um pequeno passo para trás, ainda com os olhares presos um no outro, como se o mundo ao redor tivesse se calado só para eles.
Com leveza e respeito, ambos se curvaram um diante do outro, como manda o protocolo — mas havia algo diferente naquele gesto. Não era apenas formalidade. Era admiração. Era reconhecimento. Era algo que nascia ali, no silêncio entre as palavras e na vibração de um toque.
Os aplausos ainda ecoavam ao redor, mas para Dante, tudo havia se tornado um borrão. Ele não tirava os olhos de Alissa, daquela figura que antes era apenas uma princesa distante — um nome, um título — e agora era uma presença viva, forte, bela… magnética.
"Ela não é como imaginei..." pensou, com o coração acelerado. "Ela é muito mais."
Alissa tentava disfarçar o tumulto dentro do peito. Seus dedos ainda formigavam pelo toque das mãos quentes de Dante, sua pele lembrava do calor da aproximação, e seu coração batia tão alto que ela se perguntava se ele podia ouvir.
"É só uma dança," dizia a si mesma. "Mas por que me sinto como se o mundo tivesse parado por um instante?"
Ambos sabiam que algo havia mudado — ainda que não pudessem nomear. Ainda que nem eles mesmos estivessem prontos para admitir.
E naquele instante, no meio do salão iluminado, sob os olhares curiosos dos reinos aliados e adversários, uma história começou.
Silenciosa.
Mas poderosa como o fogo. E brilhante como a luz de uma estrela.
Dante inclinou-se mais uma vez diante de Alissa, a mão ainda segurando a dela, levemente.
— “Espero ter outra dança, princesa.”
— “Talvez...” — disse Alissa, com um sorriso misterioso — “Se me provar digno.”
Ele sorriu, divertido.
— “Um desafio? Gosto disso.”
Quando Dante se afastou, ela ainda podia sentir o calor da mão dele na sua pele. Seu coração batia mais rápido. E pela primeira vez... ela sentia que estava sendo olhada não como peça do rei, mas como mulher. Como futura imperatriz.
Alissa, com passos elegantes, mas o coração acelerado, retornou à escadaria central, onde seu avô — o imperador — a esperava com um sorriso satisfeito no rosto. Um sorriso que ela conhecia bem: não era orgulho verdadeiro, mas triunfo político.
Ela se sentou ao seu lado, mantendo a postura impecável como fora ensinada desde criança. O trono ao lado do rei parecia mais duro do que nunca.
— "Foi uma bela dança." — disse o rei casualmente, pegando um pequeno pedaço de carne do prato que os criados lhe serviam. — "O que achou do príncipe?"
Alissa hesitou por um segundo. Os olhos do avô não a olhavam com afeto, mas com cálculo. Ele queria saber se Dante havia agradado. Se a engrenagem diplomática funcionava.
— "Ele é educado e dança bem… me guiou com leveza, avô."
O imperador assentiu, visivelmente satisfeito. Seus olhos percorreram o salão lotado de nobres que ainda murmuravam elogios sobre a beleza e o porte da princesa.
Alissa sentiu o incômodo crescer em seu peito. Sentia-se como um quadro exposto, um troféu. E o olhar do avô — aquele brilho de conquista silenciosa — apenas apertava ainda mais o laço invisível ao redor de seu pescoço.
Ela respirou fundo.
— "Avô… peço licença para me retirar por um instante. Preciso de um pouco de ar. Está… um pouco quente aqui no salão." — disse ela, se curvando com gentileza.
O imperador a olhou, com seus olhos frios como gelo sob o ouro da coroa.
— "Claro, minha querida. Mas não demore. Ainda há muitos nobres que desejam conhecê-la."
Alissa apenas assentiu, engolindo o desconforto.
— "Claro, avô."
Levantou-se com elegância, sentindo os olhares a seguirem enquanto atravessava o salão. Cada passo que dava era mais leve. Quando alcançou as grandes portas laterais e passou por elas, sentiu o ar mais fresco da noite tocar seu rosto.
Ali fora, o jardim imperial se estendia como um oceano de rosas, lírios e luzes mágicas.
Ela tirou os sapatos altos, sentando-se em um banco de pedra escondido entre arbustos.
Sozinha, longe dos olhares, Alissa finalmente respirou como Alissa — não como a estrela da nação.
O som abafado da festa ficava para trás enquanto Alissa respirava fundo sob a brisa fria do jardim imperial. O luar tocava suavemente seus cabelos brancos, e por um instante, ela pôde apenas… existir.
— "Ali..."
A voz veio atrás dela, familiar como um sussurro do passado. Quando ela se virou, lá estava ele — Oliver, com seu uniforme de guarda, os cabelos bagunçados pelo treino e os olhos cheios de um calor que nenhum nobre naquela festa jamais conseguiria fingir.
Alissa se levantou apressada. Seus olhos brilharam, e num impulso, correu até ele, abraçando-o com força como se o mundo inteiro estivesse prestes a desaparecer.
— "Oli… Senti sua falta… meu irmão."
Ela apertou o rosto contra o peito dele, respirando o perfume que tanto conhecia — terra, couro… e lavanda. O cheiro de casa. O cheiro de segurança.
Oliver a abraçou de volta, fechando os olhos por um instante, protegendo aquele momento como se fosse um segredo sagrado.
— "Eu também senti sua falta, Ali… minha querida irmã." — disse ele com um suspiro. — "Mas… é perigoso. Não devíamos estar aqui assim. Se o rei souber… ele vai te punir. Eu não quero isso."
Ele hesitou, mas não a soltou.
— "Mas também não quero… te soltar."
Eles permaneceram ali, abraçados sob a luz da lua, longe de olhos julgadores, longe do peso de títulos, longe de expectativas. Apenas Alissa e Oliver, dois corações que sabiam um do outro mais do que palavras podiam dizer.
Eles se afastaram devagar, os rostos próximos, sorrindo suavemente.
— "Você cheira à lavanda. Ainda é meu cheiro favorito." — disse Oliver, tímido, passando uma mão pela nuca.
Alissa riu baixinho, os olhos marejando pela primeira vez naquela noite — mas de alívio.
— "Aqui… eu não sou uma princesa."
— "Não." — disse Oliver, sorrindo de volta. — "Aqui, você é só… você. E isso já é mais do que o suficiente para mim."
Por alguns minutos, o jardim parecia um mundo só deles — onde as estrelas no céu não brilhavam mais do que a que estava ali, de pé, com o coração leve e a alma livre.
O jardim ainda era um refúgio. O riso contido de Alissa e Oliver se misturava com o som suave do vento entre as folhas, criando um instante que parecia eterno.
Mas... não estavam sozinhos.
A alguns metros dali, Helena, a serva pessoal do rei — e também sua espiã mais fiel — estava encostada discretamente em uma das colunas de mármore do corredor que levava ao jardim. Seus olhos estreitos como lâminas observavam cada gesto, cada sorriso, cada toque entre a estrela do império e seu "cachorro fiel".
O desdém se formava lentamente em seus lábios. Ela cruzou os braços, incomodada com a cena, mas não surpresa.
— “Tsk... abraçando um cavaleiro como se fosse igual a ela… O rei vai adorar saber disso.” — pensou, mas não com prazer. Na verdade, seu rosto se torceu em algo próximo do... cansaço.
Ela suspirou, desviando o olhar, e então deu meia-volta, seus passos ecoando baixinho pelos corredores escuros.
— “Já basta ter que lidar com esse velho tirano todos os dias… Não vou carregar a dor de ser a mensageira da ruína dessa garota, não por agora...” — murmurou para si mesma.
Helena preferiu seguir em frente, fingindo que nada havia visto. Talvez por orgulho. Talvez por compaixão silenciosa. Ou talvez… porque, no fundo, também tivesse planos maiores para Alissa.
Mas o perigo ainda rondava.
Alissa e Oliver não sabiam… mas haviam sido vistos.
O ar gelado da noite ainda acariciava suavemente a pele de Alissa enquanto ela sentia os dedos de Oliver cuidadosamente ajustando os sapatos em seus pés. O gesto simples, mas carregado de carinho e cuidado, fez seu peito se apertar com uma ternura silenciosa.
— "Acho melhor você voltar, Ali… Nós sabemos que seu avô não é muito paciente." — disse Oliver, mantendo o olhar nos sapatos, mas seu tom era sério e protetor.
Alissa suspirou e assentiu, levantando-se devagar.
— "E eu sei bem disso..." — respondeu, olhando por um instante para as estrelas acima, como se buscasse forças nelas.
Antes de cruzar os portões de volta, ela se virou e olhou para Oliver com um brilho sincero nos olhos.
— "Obrigada, Oli... Por você, eu ainda estou de pé neste caos que chamam de império."
Ela sorriu — um sorriso frágil, mas real — e então caminhou para dentro, sumindo da vista de Oliver. Ele permaneceu ali por um instante, observando onde ela desaparecera, antes de soltar um pequeno suspiro satisfeito. Pela primeira vez em semanas, ele se sentia... em paz.
Quando Alissa atravessou novamente as portas douradas do salão, as luzes, as músicas e os risos dos nobres pareciam ainda mais barulhentos do que antes. Ela deslizou por entre os convidados até alcançar novamente o trono, onde o imperador — seu avô — a aguardava com uma expressão congelada.
Ela se sentou ao lado dele, ajeitando discretamente o vestido azul royal em silêncio. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu sua voz grave e fria, baixa, mas cortante como lâmina.
— "Onde estava, Alissa?"
O tom do rei era baixo o suficiente para não chamar atenção, mas carregado de raiva contida. Seu rosto permanecia sereno, mas seus olhos... eram gelo puro.
Alissa engoliu em seco.
— "Me desculpe, avô... não era minha intenção demorar tanto." — respondeu, a voz trêmula, mas contida, como havia sido ensinada.
O rei virou-se levemente para ela, o rosto ainda sob controle, mas agora carregando aquele olhar que ela conhecia desde a infância. O olhar que paralisava.
— "Acho bom que não me envergonhe hoje, Alissa. Você é a herdeira do meu trono. Então, aja como tal.”
Ela baixou a cabeça, sentindo o estômago se revirar.
— "Me perdoe, avô. Não vai acontecer novamente."
Seu olhar caiu sobre seu vestido, antes tão encantador — agora, parecia uma armadura pesada demais.
— "E espero que não aconteça mesmo." — concluiu o imperador, voltando sua atenção aos convidados, como se Alissa fosse apenas mais uma peça decorativa do evento.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 44
Comments