Nicholas estava encolhido no canto do quarto escuro, com os joelhos encostados no peito e os olhos marejados pela escuridão sufocante que o envolvia. O som do choro de Mike, frágil e entrecortado, atravessava as paredes finas como facadas no peito — o garotinho implorava baixinho por ajuda, chamando por ele. Um soluço escapou da garganta de Nicholas, e então outro, até que ele também começou a chorar, sem conseguir conter a dor que o consumia por dentro. Era como se o sofrimento do irmãozinho ressoasse dentro dele, ecoando em cada batida do seu coração. "Eu tô aqui, Mike", sussurrou entre lágrimas, mesmo sabendo que o outro talvez não pudesse ouvi-lo. "Eu também tô com medo... mas a gente vai sair daqui, eu prometo." E ali, naquele silêncio cruel entre um soluço e outro, dois irmãos choravam juntos, mesmo separados, unidos pela dor e pelo amor inquebrável que sentiam um pelo outro.
Nicholas sentiu uma onda de desespero crescer dentro do peito como um incêndio incontrolável. Levantou-se de súbito e começou a bater com força nas paredes frias e ásperas, os punhos cerrados e os gritos rasgando sua garganta. “MIKE! EU TÔ AQUI! EU TÔ AQUI!” — ele berrava, a voz misturada com lágrimas, na esperança de que o irmãozinho ouvisse, que soubesse que não estava sozinho naquele inferno. Mas nada respondeu. Nenhuma voz, nenhuma presença, apenas o eco abafado dos seus próprios socos e, ao fundo, ainda mais doloroso, o choro de Mike se arrastando na escuridão como um lamento fantasmagórico. Nicholas recuou até o chão, tremendo, o coração apertado, engolido por um silêncio sufocante. Só havia ele, a escuridão, e aquele som que dilacerava sua alma — o pranto do irmãozinho que ele não podia alcançar.
De repente, o rangido metálico da porta se abrindo cortou o silêncio como uma lâmina. Nicholas se virou rapidamente, o coração disparado, os olhos ardendo de esperança e medo. Mas a figura que surgiu na abertura não era um salvador — era Melissa Dunbar. Ela entrou com um sorriso frio nos lábios e trancou a porta atrás de si com um estalo seco, como se estivesse selando seu destino. A penumbra do quarto parecia mais densa ao redor dela, como se a própria escuridão a acompanhasse. “Você é meu filho, Nicholas,” ela disse, com uma voz baixa e carregada de desprezo. “Meu e de Domínik. Mas você sempre foi um fardo… insuportável, imprestável.” Nicholas ficou imóvel, a mente girando, tentando compreender o que acabara de ouvir. Melissa se aproximou, os olhos cravados nos dele como navalhas. “Eu te vendi pra Maria Grace. Ela pagou muito bem por você. Muito mais do que você valia.” Ela soltou uma risada amarga, quase zombeteira. “Você deveria me agradecer. Se não fosse por mim, nem isso você teria.” Nicholas sentiu o estômago revirar, o chão parecer ceder sob seus pés. As palavras dela eram como veneno, corroendo tudo dentro dele — a identidade, a esperança, o pouco de paz que ainda restava. E ao fundo, como um lembrete cruel da realidade, o choro de Mike ainda persistia.Melissa se agachou diante de Nicholas, o olhar fixo e impiedoso, e seu sorriso se ampliou em algo mais sombrio, quase animalesco. Ela estendeu a mão, tocando de leve o rosto dele, como se zombasse da fragilidade estampada em seus olhos. “Você não entende, não é?” sussurrou, com a voz carregada de crueldade. “Você é só mais um. Um erro descartável. Um número numa longa lista.” Ela se inclinou ainda mais perto, tão próxima que Nicholas podia sentir o hálito dela, gélido como a própria escuridão ao redor. “Já matei muitos, Nicholas… crianças, jovens, homens, mulheres. Você será apenas mais um dentre os tantos que morreram por minhas mãos. E ninguém vai se lembrar. Ninguém vai sentir falta.” Ela se levantou lentamente, como quem já havia selado o destino dele, e caminhou até a porta. Antes de sair, lançou-lhe um último olhar indiferente. “Seu choro… o do seu irmão… tudo isso vai desaparecer com o tempo. Porque no fim, ninguém se importa com quem nasce amaldiçoado.” A porta se fechou com um estrondo, mergulhando o quarto novamente no breu absoluto, e Nicholas, engolido por medo e incredulidade, sentiu o peso daquelas palavras cravando-se fundo como lâminas afiadas.Nicholas permaneceu imóvel, com o corpo tremendo e os olhos perdidos na escuridão que agora parecia viva, sufocante, como se quisesse engoli-lo por completo. As palavras de Melissa ecoavam na mente dele como marteladas cruéis — “insuportável”, “descartável”, “mais um”. Ele cerrou os olhos com força, tentando afastá-las, e em meio ao desespero, deixou-se agarrar às lembranças que ainda queimavam dentro do peito. Pensou em Domínik — o pai que, apesar de tudo, ele desejava entender. Pensou em Sally, com seu jeito doce e firme, e nas poucas vezes que ela o abraçou como se fosse seu filho de verdade. Viu o rosto de Andrew surgir em sua mente, a expressão determinada enquanto prometia protegê-lo, mesmo agora, enquanto carregava dentro de si um bebê que era dele… dele. Seu coração apertou. E então vieram as imagens dos seus irmãozinhos — Mike, Luke e Jack — tão pequenos, tão inocentes. O choro de Mike ainda soava ao fundo, como um fio de esperança misturado à dor.
Foi nesse momento que a porta se abriu novamente. Nicholas mal teve tempo de reagir quando o homem que o sequestrara apareceu — o rosto frio, os olhos sem alma. Ele se aproximou em silêncio, com uma seringa na mão. Nicholas tentou recuar, mas não havia espaço nem força. O homem segurou seu braço com brutalidade e, sem uma palavra, injetou o líquido espesso e gelado em sua veia. A sensação foi imediata — uma dormência que subia rápido, apagando tudo. O som do choro de Mike começou a se distorcer, as memórias se embaralharam, os rostos desapareceram. E então, como uma vela sendo sufocada pelo vento, Nicholas apagou, mergulhando num abismo escuro e silencioso.
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Atualizado até capítulo 82
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