3 - Truco, sinuca e corações novos

O segundo ano do ensino médio tava acabando, e eu sentia que minha paciência também.

Era uma avalanche de provas finais, trabalhos acumulados, seminários quilométricos e aquela pressão insuportável de parecer madura quando tudo que eu mais queria era jogar tudo pro alto e sair correndo sem rumo.

Naquela manhã quente de novembro, entre o som irritante do ventilador velho da sala e os cochichos abafados sobre a prova de matemática, entrei jogando minha mochila no canto com força e suspirei alto, como se isso pudesse aliviar o peso de tudo.

— Mel: Ai, que saco! Duas semanas no sufoco. Eu só queria sumir.

— Manu: Também, mana! Mas vai dar certo. Não é à toa que a gente passou em sétimo e oitavo no vestibular!

Ela falou com aquele sorrisinho debochado de "nem sei como sobrevivemos", e eu ri. Era aquele riso de cansaço misturado com alívio, como se ríssemos só pra lembrar que ainda estávamos vivas.

— Mel: Juro que até hoje não sei como a gente passou. Acho que foi milagre mesmo.

— Manu (rindo): Ou só desespero bem administrado!

Fechamos aquele ciclo na base do café e do desespero, mas também com garra. E no fundo, mesmo exaustas, havia uma sensação boa, aquela pontinha de orgulho silencioso de quem deu tudo de si.

Como prêmio merecido, fomos comemorar no rancho da família. Piscina gelada, música no último volume, churrasco no fogo, zoeira entre primos, sol batendo forte no rosto… Era aquele tipo de dia que parece ser feito pra lavar a alma.

Era aniversário do nosso primo Rafael, e ele tava no maior clima de festa com a namorada dele, a Aninha — que a gente já considerava irmã. Ela era daquelas pessoas que encantam só de chegar: doce, divertida, com uma risada gostosa que preenchia o ambiente.

Foi lá que eu conheci… o Cadu.

Melhor amigo do meu primo Tarcísio, ele chegou quieto, meio na dele, usando um boné torto que escondia metade do rosto. Tinha um sorriso tímido, quase envergonhado, e um jeito desajeitado que de algum modo me chamou atenção. Era mais novo. Uns três anos abaixo da minha idade.

Eu tinha acabado de fazer 18. Ele ainda estava terminando o oitavo ano. Oitavo. Ano.

— Mel (pensando): Sério, universo? Mais novo?

Mas... verdade seja dita: idade nenhuma segura jogo.

Começamos jogando truco, depois sinuca, depois vôlei de areia... e adivinha? Eu passei o trator neles.

— Mel (fingindo humildade): Ah, eu nem sei jogar direito...

— Tarcísio: Aham. Nem sabe jogar. E fez a gente de bobo na sinuca!

— Heitor: Só faltou a mesa te aplaudir, Mel.

— Cadu (rindo): Essa daí é perigosa, véi. Fala manso, mas humilha bonito.

— Mel (provocando): Chora que dói menos, garotos.

— Mel: Se não aguenta, não desce pro play!

E assim viramos uma mini gangue do rancho: eu, Cadu, Tarcísio e Heitor.

Ficamos o dia todo rindo alto, disputando tudo, jogando sujo no truco e debochando uns dos outros com carinho. Era como se o tempo tivesse desacelerado só pra gente aproveitar aqueles momentos. Foi leve. Foi livre. Foi bom demais.

Quando o sol já começava a cair no horizonte e o céu ganhava tons alaranjados, alguém jogou no ar:

— Tarcísio: Bora brincar de "Verdade ou Desafio"?

Ai, o clássico.

Sabia que dali podia sair coisa, e meu coração já deu aquela batidinha ansiosa.

Antes de começar, Tarcísio me puxou de lado, meio rindo, meio sério.

— Tarcísio: Ô Mel, ajuda o Cadu aí… ele nunca beijou ninguém. Cê tá ligada, né?

— Mel (surpresa): Sério?

— Tarcísio (rindo): Sério mesmo. Dá essa moral pra ele. Ele é gente boa.

Eu ri, mas fiquei com aquilo na cabeça. O jogo foi seguindo, e as perguntas foram esquentando. Um revelava uma vergonha, outro pagava uma prenda. Até que chegou o momento.

— Heitor: Cadu, verdade ou desafio?

— Cadu: Desafio.

— Heitor: Beija a Mel.

A roda caiu em silêncio. Um silêncio cheio de expectativa.

Cadu ficou vermelho até a raiz do cabelo.

Meu coração acelerou do nada. Tentei aliviar o clima com um sorriso gentil.

— Mel: Tá tranquilo… não precisa se preocupar.

— Cadu (quase gaguejando): É… é que... eu nunca… tipo…

— Mel (sorrindo de leve): Relaxa.

E então nos beijamos.

Foi um beijo leve, doce, meio desajeitado. Mas tinha uma ternura ali, uma sinceridade tão crua, que dava pra sentir que era o primeiro dele.

Não era pelo jeito que ele beijava. Era o nervosismo nos olhos. A respiração acelerada. O silêncio depois.

Aquele beijo ficou. Não só na boca. Mas guardado num cantinho do meu peito.

 

O tempo passou. A vida seguiu seu curso. E no Natal daquele ano, no meio da bagunça da ceia, das risadas dos primos e das músicas de fundo, ele me chamou pra conversar num cantinho do quintal.

Veio com uma cartinha dobrada nas mãos, escrita com uma letra pequena e trêmula.

— Cadu: Eu... queria te pedir em namoro. Tipo... sério.

— Mel (sorrindo): Sério?

— Cadu (olhando pro chão): É que eu gosto de você de verdade. Não sei explicar. Só gosto.

Meu coração apertou com aquele jeitinho puro e nervoso.

Eu disse sim.

Namoramos por quase um ano.

Foi leve. Foi sincero. Foi nosso.

Era simples. Cheio de primeiras vezes. Primeira ligação de madrugada. Primeiro “eu te amo” escrito em papel. Primeiro ciúme bobo. Primeiro mundo compartilhado.

Terminamos na época das formaturas. Eu do terceiro, ele do nono.

Foi tranquilo. Natural. Como se o ciclo tivesse se encerrado no tempo certo.

Mas ficou.

Ficou a doçura do primeiro sentimento correspondido.

Ficou a cartinha dobrada com palavras sinceras.

Ficou o primeiro beijo dado no meio de uma brincadeira de verão.

Ficou a certeza de que o amor, quando chega, pode ser simples e bonito.

E quando vai…

Não precisa ser dor.

Às vezes, ele só abre espaço…

Pra algo ainda maior.

Oiee, tudo bem?

A próxima história que criarei será inspirada nos dois, espero que gostem!

Capítulos
1 1 - O garoto da piscina
2 2 - A escolha que não escolhi
3 3 - Truco, sinuca e corações novos
4 4 - Decisões e sonhos universitários
5 5 - Primeiros dias, primeiras festas
6 6 - Conexão no silêncio
7 7 - Mensagens e sorrisos
8 8 - Sorvete segredos e .....
9 9 - O pedido
10 10 - Trabalho e dúvidas
11 11 - Nova equipe
12 12 - O selinho, o coração e o silêncio
13 13 - Entre o que foi e o que está por vir
14 14 - O olhar de Alice e o começo da queda
15 15 - O dia que tudo começou a desandar
16 16 - Quando o coração grita mais alto que o medo
17 17
18 18
19 19
20 20 - vozes silenciosas
21 21 - Confidências no Silêncio
22 22
23 23 - Festa do pijama
24 24 - luz
25 25 - silêncios que dizem tudo
26 26 - Entre planos e promessas
27 Nas trilhas do agora
28 Promessas ao entardecer
29 olhares e..
30 Sombras de um passado não esquecido
31 Depois da tempestade, um céu mais claro
32 Florescendo no meu tempo
33 Vozes, escolhas e raízes
34 34
35 Conquistas silenciosas
36 Um brinde
37 Sementes de um futuro
38 Um dia quase tranquilo
39 Ecos do silêncio
40 Sombras do passado
41 ....
42 Medos e lembranças
43 Plano arriscado
44 A placa
45 A pista
46 O plano em ação
47 Confiança, chá e ....
48 O reecontro
49 Começo e decisões
50 Retomando a rotina
51 novos desafios e um pedido
52 Comemoração
53 Fim de semana a dois
Capítulos

Atualizado até capítulo 53

1
1 - O garoto da piscina
2
2 - A escolha que não escolhi
3
3 - Truco, sinuca e corações novos
4
4 - Decisões e sonhos universitários
5
5 - Primeiros dias, primeiras festas
6
6 - Conexão no silêncio
7
7 - Mensagens e sorrisos
8
8 - Sorvete segredos e .....
9
9 - O pedido
10
10 - Trabalho e dúvidas
11
11 - Nova equipe
12
12 - O selinho, o coração e o silêncio
13
13 - Entre o que foi e o que está por vir
14
14 - O olhar de Alice e o começo da queda
15
15 - O dia que tudo começou a desandar
16
16 - Quando o coração grita mais alto que o medo
17
17
18
18
19
19
20
20 - vozes silenciosas
21
21 - Confidências no Silêncio
22
22
23
23 - Festa do pijama
24
24 - luz
25
25 - silêncios que dizem tudo
26
26 - Entre planos e promessas
27
Nas trilhas do agora
28
Promessas ao entardecer
29
olhares e..
30
Sombras de um passado não esquecido
31
Depois da tempestade, um céu mais claro
32
Florescendo no meu tempo
33
Vozes, escolhas e raízes
34
34
35
Conquistas silenciosas
36
Um brinde
37
Sementes de um futuro
38
Um dia quase tranquilo
39
Ecos do silêncio
40
Sombras do passado
41
....
42
Medos e lembranças
43
Plano arriscado
44
A placa
45
A pista
46
O plano em ação
47
Confiança, chá e ....
48
O reecontro
49
Começo e decisões
50
Retomando a rotina
51
novos desafios e um pedido
52
Comemoração
53
Fim de semana a dois

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