2 - A escolha que não escolhi

Final de ano, calor grudando na pele, sala de aula decorada com cartazes meio tortos e professores com aquele discurso de "preparem-se para o futuro". Era o fim do nono ano, e enquanto todo mundo só pensava em férias, praia ou maratona de série, um assunto dominava os corredores como se fosse o apocalipse:

ETEC.

Sim, o famigerado vestibulinho.

A cada esquina alguém falava disso.

— Aluna 1: “Nossa, se eu passar, vou pra Desenvolvimento de Sistemas! Tecnologia é o futuro!”

— Aluno 2: “Meu pai falou que se eu não tentar, tô jogando meu futuro no lixo…”

E eu ali, escorada no armário do corredor, só queria paz.

— Mel (pensando): “Será que só eu quero continuar na mesma escola? Com os mesmos amigos, na mesma quadra, na mesma mesa da cantina?”

Minha cabeça estava em outro ritmo. Eu gostava da rotina da escola, dos rabiscos nas carteiras, do jeito que o sol batia no corredor no fim da tarde, do som dos tênis rangendo no piso da quadra durante o recreio.

Mas claro, a vida não me perguntou o que eu queria.

**

Um dia, cheguei em casa depois do treino de vôlei, suada, com fome e só pensando em banho e comida. Mas meus pais estavam no sofá, inquietos, parecendo dois adolescentes esperando resposta de crush.

— Lúcia (minha mãe, ansiosa): Mel, temos uma novidade.

— Vicente (meu pai, tentando parecer calmo): Fizemos sua inscrição pra ETEC, filha.

— Lúcia (sorrindo, confiante): É a melhor coisa pra você. É técnico, tem nome forte, boa estrutura… vai te abrir portas.

O garfo caiu da minha mão antes mesmo de chegar no prato.

— Mel (chocada): O quê? Vocês... me inscreveram? Sem nem perguntar?

— Vicente: A gente pensou no seu futuro.

— Mel: Mas e se eu não quiser? E se eu quiser continuar onde eu tô? Com os meus amigos?

— Lúcia: Ah, Melissa, você não sabe o que quer agora. Mas um dia vai entender.

— Mel (baixando o olhar): Vocês sempre decidem por mim…

Levantei da mesa com o peito apertado. Subi pro quarto, me joguei na cama com a sensação de que estavam escrevendo meu roteiro sem me mostrar o script.

Peguei o celular e mandei uma mensagem nervosa.

“MANU, AGORA.”

Dois minutos depois, ela estava no meu quarto, de cabelo preso em coque, short jeans e camiseta larga com estampa do Naruto.

— Manu: O que houve, mana?

— Mel (bufando): Eles me inscreveram pra ETEC. Nem perguntaram se eu queria.

— Manu (olhos arregalados): Jura? Nossa, que raiva. Mas… olha… eu também me inscrevi.

— Mel (parando de bufar): Você o quê?

— Manu (rindo): Me inscrevi também. Administração. Adivinha por quê? Porque você ia precisar de alguém pra rir contigo se tudo desse errado.

Soltei uma risada involuntária. Ela tinha esse dom. Sempre soube o que dizer. Sempre me puxava de volta do buraco.

— Mel (rindo): A gente é doida, né?

— Manu: Doidas e inseparáveis. Se você for, eu vou. Fim de papo.

**

Os dias passaram voando e, de repente, era o dia da prova. O temido vestibulinho.

Saímos juntas de casa. De fone no ouvido e mochila nas costas, tentando parecer tranquilas. Mas era tudo fachada.

— Mel: Se a gente passar… milk-shake duplo com batata frita.

— Manu: E se não passar?

— Mel: Também milk-shake duplo com batata frita.

— Manu (rindo): Aí sim, mana. Esse é o espírito da vida adulta.

Chegamos no colégio da prova. Um lugar estranho, cheio de gente estranha, com cheiros estranhos e cadeiras frias.

Fui pra minha sala. Abri a prova. Olhei aquelas questões com uma mistura de "sei essa" e "o que é isso, meu Deus?".

Fiz o melhor que pude. Mas o coração? Estava na lanchonete.

— Mel (pensando): “Vamos, Mel… só termina. Só termina.”

**

Na saída, reencontrei Manu na frente do portão. Ela abriu os braços e me abraçou como se a gente tivesse saído da guerra.

— Mel: Que questão era aquela da garrafinha de refrigerante?

— Manu: Achei que era um enigma, não uma prova. E a redação?

— Mel: Escrevi sobre trânsito… TRÂNSITO, Manu! Nem sei por quê!

— Manu: Eu escrevi sobre superação. Tô me sentindo uma senhora de 80 anos refletindo sobre a vida.

— Mel (rindo alto): A gente precisa rir. Agora.

— Manu: Hora do prêmio de consolação?

— Mel: Milk-shake duplo com batata frita!

E fomos. Rindo. Brincando. Como se não tivéssemos acabado de decidir o rumo da nossa vida.

**

Alguns dias depois, confesso: eu torcia pra não passar.

Tonta? Talvez. Mas meu coração queria minha escola antiga, meu cantinho, minhas tias da merenda, meu time da quadra.

Era minha rebeldia silenciosa contra tudo o que me empurravam.

E aí… aconteceu.

Uma quarta-feira à tarde, chuvinha fina batendo na janela. Eu deitada, ouvindo música.

A porta abriu com estrondo.

— Manu (gritando): MELLLLL!!! SAIU!!!

— Mel (assustada): O quê?

— Manu (empolgada): O resultado! Do vestibulinho!

Ela pulou na cama com o celular em mãos. Meus dedos tremiam.

Entrei no site.

"Melissa Santos — 7º lugar"

Fiquei olhando aquilo com a boca aberta.

— Mel: Eu… passei.

— Manu: EU FIQUEI EM OITAVO, MANAAA!!!

Nos abraçamos, rodamos o quarto, gritamos. Rimos. Choramos de nervoso.

— Mel: Eu não sei se tô feliz ou com medo.

— Manu: As duas coisas. Mas sabe o que importa?

— Mel: Que vamos juntas?

— Manu: Sempre. Amigas unidas…

— As duas: JAMAIS SERÃO VENCIDAS!

Caímos na cama, gargalhando.

— Mel (olhando pro teto): Minha vida tá mudando, né?

— Manu: Tá sim. E eu vou estar com você pra cada mudança. Não importa o que venha.

Fomos contar pros meus pais. Eles se emocionaram, sorriram com orgulho. Meu pai me abraçou forte, minha mãe chorou de leve.

E Manu ali, ao meu lado.

Como sempre.

Obs: Manu mora com a gente desde que perdeu os pais.

Triste, sim. Mas… eu amei tê-la em casa.

Ela é minha irmã de alma. Meu apoio. Minha parceira de vida.

**

— Mel (narrando): E assim, mesmo sem ter escolhido...

Mesmo tentando resistir…

Eu entrei em uma nova fase da minha vida.

Um novo colégio.

Novos desafios.

Novas descobertas.

E um novo destino...

que começava a desenhar sorrisos, dores, encontros e… amores.

E ali, naquela lista de aprovados…

estava o começo de tudo.

Olá galera, estão gostando?

como é baseado em fatos reais, eu quis colocar essa parte da vida, pois foi o que realmente aconteceu kkk

Gosto de detalhes

Porém é só para vocês terem uma noção maior da nossa querida Mel beijos

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