CAPÍTULO 5.

**Capítulo 5 – A Rotina de Ferro e Fumaça**

Sexta-feira. O sol ainda estava baixo quando Alicia já se encontrava de pé, com os olhos pesados, mas a mente determinada. Aquele dia seria longo — como todos os outros — mas havia uma ordem a seguir, contas a pagar e uma dívida que não perdoava.

Na pequena cozinha do barraco, o som do funk que escapava da casa vizinha chegava ritmado e pulsante, quase uma trilha sonora para sua vida dura. Alicia mexia com destreza as panelas, preparando marmitas quentes e caprichadas para os clientes que já aguardavam seu almoço barato e saboroso.

Ela sabia que a vizinhança contava com ela, que o aroma dos temperos caseiros era um conforto em meio à dureza diária. Vendia as quentinhas no ponto, no portão, para o pessoal da construção, das lojas e para as mães que, assim como ela, lutavam para dar o melhor aos seus filhos.

A cada venda, um sorriso forçado. A cada troco contado, a esperança de que aquele dinheiro ajudasse a manter o teto, o arroz na panela e, principalmente, o valor que entregava ao Capo todo mês. Aquele dinheiro que a mantinha viva, mas também a aprisionava.

Depois das vendas, voltava para o barraco, agora com a obrigação de cuidar da limpeza. A faxina era exaustiva: varrer o chão sujo, tirar o pó acumulado, lavar as roupas penduradas no varal improvisado. O calor apertava, o suor escorria, mas Alicia seguia firme. Ela tinha um objetivo — sobreviver e não deixar que as pedras do caminho a esmagassem.

Ao meio-dia, o funk se misturava ao barulho do liquidificador, dos baldes sendo esvaziados e das portas de ferro batendo nas casas ao redor. O cheiro do café fresco misturava-se ao perfume barato que ela usava para disfarçar o odor das madrugadas na boate.

Exausta, Alicia finalmente conseguiu tomar um banho morno, relaxando os músculos doloridos. Jogou-se na cama improvisada, com o corpo clamando por descanso. Fechou os olhos, mas o sono era um visitante fugidio. Pensava na noite que viria, na boate, no uniforme que a transformava em outra pessoa. No salto que castigava seus pés, no batom que escondia as feridas invisíveis.

À noite, às oito horas, acordou faminta. Preparou um miojo rápido, sentou-se na beira da cama e comeu com pressa, olhos ainda pesados de sono. Arrumou os cabelos num rabo de cavalo, soltando fios soltos que emolduravam o rosto cansado. Passou um batom vermelho, simples, que lhe dava um pouco de poder.

Às dez horas, vestiu seu uniforme da boate — aquele vestido preto, justo e provocante — que guardava com cuidado, porque só usava lá. Olhou-se no espelho uma última vez. O reflexo mostrava uma mulher que já não era apenas Alicia, mas uma sobrevivente, uma guerreira disfarçada de garçonete.

Quando entrou no salão da Red Moon, a música estava alta, as luzes baixas e o perfume de luxo e desejo pairava no ar.

Quinze minutos após sua entrada, Mateus, o gerente, aproximou-se.

— Alicia, o senhor Faued está aqui e pediu para falar contigo. — disse com um sorriso meio enigmático.

Ela franziu a testa.

— Quem é esse?

— O dono da boate. Diz que quer conversar.

Com o coração disparado, Alicia seguiu Mateus até uma sala reservada no andar superior. Bateu na porta e ouviu uma voz firme:

— Pode entrar.

Ao entrar, foi recebida por um homem elegante, em terno escuro, olhar penetrante e um sorriso que misturava poder e mistério.

— Boa noite, Alicia. Eu sou Faued. Muito prazer.

— Boa noite, senhor Faued.

Ele fez um gesto para que ela se sentasse.

— Meu amigo de longa data virá amanhã à noite. Ele é alguém importante, e seus costumes não é o padrão das mulheres serem vulgar e assanhadas, aí eu Ouvi falar muito bem de você. Dizem que você é a única que sabe manter o respeito, sem perder a força.

Alicia deu um meio sorriso.

— Farei o possível, senhor. Mas se ele for um babaca, já sabe... — disse, com a língua afiada que era sua marca registrada.

Faued riu, genuinamente.

— Gostei da sua sinceridade. Tente manter a língua um pouco menos afiada, só para variar.

Ela riu também, relaxando pela primeira vez naquela noite.

— Pode deixar. Mas só se ele merecer.

Ele a dispensou com um aceno e Alicia voltou ao salão, sentindo que algo grande estava começando a se mover em sua vida!

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