ATRAÇÃO PROIBIDA DO SHEIK
Capítulo 1 – Dívida de Sangue
Aos vinte e três anos, Alicia conhecia muito bem o gosto do amargo. Era jovem, mas a alma já carregava cicatrizes que o tempo não conseguia curar. O mundo a havia moldado na dor, no abandono e na luta. Sua história não começava com contos de fadas — começava com perdas, cobranças e sobrevivência.
A mãe? Morta desde que Alicia tinha apenas oito anos. Um câncer agressivo que não teve tempo de dar aviso. Uma mulher forte, mas vencida pela miséria e pela ausência de tratamento digno. Alicia se lembrava dos olhos da mãe — fundos, mas ainda assim ternos. Lembrava-se do toque suave nas madrugadas de febre e dos sussurros que prometiam um futuro melhor. Mas a morte não esperou promessas.
Foi deixada com o pai, um homem que se afundava cada vez mais no submundo das drogas. Ele era o retrato do fracasso: dentes escurecidos, mãos trêmulas, cheiro constante de álcool e urina. Com o tempo, parou de chamá-la pelo nome. Passou a chamá-la de “pirralha” ou, nos piores dias, nem a enxergava.
Aos dezessete, Alicia já cuidava de si. Lavava suas roupas, cozinhava o pouco que havia em casa e escondia o pouco dinheiro que conseguia vendendo doces na escola. O pai já não voltava pra casa com frequência. Quando vinha, trazia consigo a presença de homens estranhos, dívidas, ameaças veladas.
Até que um dia, ele não voltou mais.
Foi encontrado morto numa ruela do bairro vizinho. Nenhuma lágrima escorreu dos olhos de Alicia. Não porque ela não sentisse — mas porque já tinha chorado demais por ele em vida. O corpo foi enterrado em uma cova rasa, paga pela assistência social. Ninguém apareceu no enterro. Ninguém, exceto ela.
Mas a paz que ela esperava que viesse com a morte do pai não durou. Três dias depois, um homem apareceu à sua porta.
Ele usava um terno escuro, sapatos de couro caros e óculos de lentes espelhadas. Tinha o sotaque arrastado de alguém que cresceu entre becos e códigos. O nome dele? Ninguém nunca soube. Mas no bairro, todos o chamavam apenas de Capo.
— Seu pai devia — ele disse, jogando um maço de papel sobre a mesinha improvisada da sala.
A dívida somava doze mil reais. O pai de Alicia havia se endividado com drogas, jogatinas e, principalmente, promessas de que a filha pagaria. A última frase escrita à mão no canto inferior da folha dizia:
"Minha filha paga se eu não voltar. Ela é forte. Vai dar conta."
O Capo a olhou de cima, como quem analisa uma mercadoria.
— R$1.200 por mês. Você começa esse mês. Sem atraso. Sem desculpa. Ou paga com a pele.
E foi assim que a liberdade de Alicia se transformou em algemas invisíveis.
Ela morava num barraco de dois cômodos no alto de uma comunidade carioca. As paredes de madeira já não escondiam o vento. A geladeira velha mais fazia barulho do que gelava. Mas era o que ela tinha. E não podia se dar ao luxo de sonhar com mais.
Durante o dia, Alicia se desdobrava para vender marmitas caseiras. Acordava às cinco da manhã. Fazia arroz, feijão, carne moída e frango grelhado em duas panelas herdadas da mãe. Embalava tudo em isopores velhos e saía pelas ruas da cidade oferecendo almoço aos trabalhadores, lojistas e operários. Era conhecida por ser educada, rápida e caprichosa. Mesmo assim, o dinheiro mal dava conta do aluguel, da comida e da parcela da maldita dívida.
Mas era à noite que ela enfrentava seu maior desafio.
Depois de um banho rápido, Alicia vestia o uniforme de seu segundo trabalho — um vestido justo, preto como pecado, decotado, elegante e sofisticado. Sapatos de salto, maquiagem impecável, cabelo preso em coque ou liso como seda. A aparência era de princesa, mas ela sabia o que estava por trás de cada sorriso que oferecia.
A boate onde trabalhava não era qualquer uma. Era uma casa noturna de luxo, onde a elite carioca ia em busca de prazer, álcool e distração. Empresários, políticos, jogadores de futebol, artistas — todos frequentavam aquele lugar. O ambiente era deslumbrante: lustres de cristal, música refinada, bebidas importadas e dançarinas vestidas como deusas.
Mas Alicia não era dançarina. Era garçonete. A única com olhar firme o bastante para dizer “não” e manter o respeito. Sua beleza chamava atenção, mas seu jeito de gelo mantinha a maioria dos homens à distância. Apenas alguns ousavam tentar ultrapassar os limites. Quando acontecia, ela se virava. Sempre soube se defender — com palavras afiadas, passos rápidos e, às vezes, com ajuda do segurança que simpatizava com sua história.
Apesar do cansaço, Alicia nunca reclamava. Sabia que não podia se dar ao luxo de desabar. A dívida precisava ser paga. A comida precisava estar na mesa. A conta de luz não esperava compreensão.
Nas madrugadas silenciosas, quando voltava para casa com os pés doloridos e o corpo exausto, ela olhava para o teto e imaginava outra vida. Não de luxo, não de castelos, mas de paz. Um lugar onde não houvesse medo, onde ninguém batesse à sua porta com ameaças ou boletos impagáveis.
Mas mesmo na escuridão de seus dias, havia uma chama acesa dentro dela.
Alicia não sabia ainda, mas o destino começava a se mover a seu favor. A tempestade que a cercava não duraria para sempre. E em breve, alguém completamente fora da sua realidade, fora do seu mundo, viria ao seu encontro. Alguém que carregava sua própria sombra, seu próprio abismo. Um homem perigoso, desejado e temido, dono de um império construído na areia e no sangue. Um sheik acostumado a ter tudo o que queria — menos a liberdade do próprio coração.
Mas até que os caminhos deles se cruzassem, Alicia ainda teria que pagar caro. Porque a vida, para ela, nunca dera descontos.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Bia 💙🐈⬛
vamos lá autora tô ansiosa pra ler 😚❤️
2025-07-12
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