Capítulo 5 – Parte 1 – A Jogada Começa Silenciosa
Depois da segunda-feira, quando meu pai voltou da reunião com Lara Mendes falando com entusiasmo raro, eu soube que alguma coisa estava mudando dentro da empresa.
Mas o que realmente estava mudando...
Era dentro de mim.
Fazia dias que eu dormia ao lado de uma mulher que me apunhalava pelas costas com o meu braço direito — ou melhor, o meu ex-braço direito.
Rui, o traidor.
Renata, a farsa que eu chamei de esposa por cinco anos.
Mas agora o show ia acabar.
Na terça, voltei oficialmente pra sede da VitalShape.
Me vesti como sempre: terno escuro, gravata justa, presença firme. Mas por dentro, eu era dinamite com pavio curto.
Chamei meu advogado particular.
Chamei também uma equipe de auditoria externa — sem que Rui soubesse.
Pedi pra checarem contratos assinados nos últimos 18 meses, com foco em transferências, favorecimentos e movimentações suspeitas.
E bingo.
Rui tinha usado meu nome para assinar parcerias fantasmas.
Renata tinha criado uma empresa de fachada.
O dinheiro que deveria estar investido na expansão... tava indo direto pra uma conta no Panamá.
Engoli a raiva com gelo.
O que eu precisava agora era o momento certo.
E o Brasil...
Era o cenário perfeito.
— “Deixa eles se sentirem no controle. Deixa pensarem que vão comigo pra uma nova fase. E então… eu corto os dois.”
Na quinta-feira, convoquei uma reunião fechada com meu pai.
— “Tenho provas. Documentos. Áudios. Tudo que preciso.”
Francesco Ramírez não era de arrodeio. Olhou os papéis, ouviu as gravações, e soltou:
— “Quer que eu atue?”
— “Não. Eu mesmo vou cuidar disso. Só preciso que o senhor deixe tudo preparado pra quando eu... sumir da cena.”
Ele assentiu.
— “O nome Ramírez merece respeito. Faça como tem que ser feito.”
Sexta-feira, véspera do voo, tudo estava pronto.
Eu não dormi. Passei a noite mexendo nos arquivos da Lara, revendo os vídeos da reunião, as imagens da academia dela.
Não sei por quê. Mas algo nela me fazia sentir... paz. E agora, eu precisava disso.
Precisava me lembrar que ainda existia gente boa no mundo.
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Sábado – Aeroporto da Cidade do México
Estávamos no saguão VIP. Eu, Renata, Rui, dois assistentes, e um clima mais falso do que o sorriso dela.
Renata estava linda, como sempre. Mas agora, quando eu olhava pra ela, via um casulo vazio.
Rui também sorria. De terno novo, relógio caro — comprado com o meu dinheiro, imagino.
Fiquei de pé. Peguei meu celular.
Olhei nos olhos dos dois e soltei, como quem avisa que vai chover:
— “Sabem... vocês foram bons.”
Renata franziu a testa.
— “O que você tá dizendo, amor?”
— “Tô dizendo que esse teatrinho acabou.”
Entreguei pra ela um envelope. Dentro, cópias das provas.
Pro Rui, entreguei um pendrive.
— “O que é isso?” — ele perguntou.
— “Seu bilhete pro inferno. Com trilha sonora e tudo.”
Ela abriu o envelope. Leu. Empalideceu.
— “Isso é... mentira. Você não tem como provar nada.”
— “Tenho. Mas não se preocupe... eu não quero brigar. Quero me livrar.”
Rui começou a suar.
— “Gael, a gente pode conversar. Foi um erro. Foi...”
— “Vocês dois são um erro. Um que eu tô apagando da minha vida agora.”
Me virei pro segurança.
— “Eles não embarcam.”
— “Você não pode fazer isso!” — Renata gritou. — “Nós somos casados!”
— “Você era minha esposa. Agora é apenas parte do meu passado podre.”
E com isso, caminhei até o portão de embarque.
Deixei pra trás dois traidores e toda a sujeira que carregavam.
Mas levei comigo o nome de uma mulher que eu ainda não conhecia de verdade...
Mas que estava prestes a mudar tudo.
Lara Mendes.
Brasil, lá vou eu.
O céu sobre Maceió amanhecia em tons dourados quando o jatinho da família Ramírez sobrevoou o litoral alagoano.
Gael não conseguia dormir durante o voo — não depois da montanha-russa dos últimos dias.
A traição de Renata, a podridão que ele descobrira por trás do sorriso cínico dela, e agora, as novas ameaças que vinham surgindo sem parar.
Mesmo sendo um empresário internacionalmente conhecido pelo comando da VitalShape, o que o mundo não sabia — e jamais poderia saber — era que Gael Ramírez era o líder de um dos maiores cartéis do México: o Círculo del Norte.
Um império silencioso, violento e antigo, envolvido em tudo que pudesse dar poder e influência.
Esse cartel havia firmado um acordo há cinco anos com uma das máfias mais perigosas da Europa: a máfia italiana La Rosa Nera.
O acordo, selado com sangue e casamento, exigia que o chefe mexicano permanecesse casado — um símbolo de estabilidade e controle.
Foi por isso que Gael havia aceitado o noivado e, posteriormente, o casamento com Renata.
Mas agora, com a verdade exposta e o divórcio iminente, ele estava em maus lençóis.
O pior de tudo?
A máfia italiana ainda não sabia de nada.
Durante o voo até Maceió, ele recebeu no celular uma série de mensagens criptografadas que o fizeram gelar.
Eram da Renata.
Fotos. Prints. Áudios.
E mais do que isso: ameaças.
> “Se você acha que vai sair por cima, está enganado. Sei mais sobre você do que imagina. E o Raul também. O tempo tá passando, querido. A máfia não gosta de surpresas.”
Raul, o ex-braço direito dele na empresa, estava envolvido até o pescoço.
E o que o tornava mais perigoso era que ele sabia de um segredo obscuro de cinco anos atrás, quando Renata foi introduzida à família Ramírez.
Um erro que envolvia a máfia, uma morte não autorizada, e um suborno que até hoje estava engasgado entre os líderes do Círculo e os italianos.
Acontece que Raul também estava envolvido nesse segredo.
E caso a verdade viesse à tona, os dois cairiam juntos.
Ainda assim, Renata parecia disposta a arriscar tudo — apostando que, se entregasse Gael primeiro, talvez escapasse com vida.
Ingênua.
O Sr. Francesco, pai de Gael, acompanhava tudo de perto.
— Temos que agir antes que eles se adiantem — disse ele, sentado ao lado do filho no jatinho.
— Se essa ameaça chegar à Itália antes da gente apresentar um novo casamento... você sabe o que acontece.
Gael fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu sei. Eles vão me declarar instável. Vão cancelar o acordo.
E vão exigir o pagamento imediato de tudo que deixaram passar desde 2019.
— E você sabe que esse pagamento... não é em dinheiro.
Silêncio.
O tipo de silêncio que só existe entre mafiosos experientes.
Foi então que Francesco falou:
— Precisamos de um novo casamento. Um acordo oficial, imediato. Legalmente registrado.
Alguém que tope. Que a gente possa confiar. Mas que não faça perguntas demais.
Gael encarou o pai.
— E você tem alguém em mente?
— Ainda não. A reunião com a empresária brasileira é amanhã. Talvez consigamos uma ideia melhor lá.
Gael fez que sim com a cabeça, mas algo dentro dele ainda estava em turbulência.
Ele tinha visto a foto da tal Lara Mendes no dossiê da empresa brasileira.
Sabia que era ela quem liderava a Corpo em Dia.
Mas sua mente estava tão carregada que não associou que era a mesma mulher com quem dividira uma mesa na praia, alguns dias antes.
Aquela lembrança ficou como uma névoa na sua cabeça — abafada pelas ameaças e traições.
Quando o avião pousou em Maceió, o clima abafado e salgado da cidade pareceu agravar o peso nas costas de Gael.
Francesco ligou imediatamente para os assessores da VitalShape e organizou tudo para a reunião do dia seguinte.
A noite de domingo foi silenciosa, mas tensa.
As mensagens de Renata continuavam chegando.
E em cada uma delas, havia mais uma peça do quebra-cabeça que provava a urgência do plano.
> “Ou você aparece casado até o final da semana, ou todos saberão quem você realmente é. A máfia vai adorar o presente.”
Era questão de tempo.
— Amanhã, na reunião com Lara, vamos sentir a vibe dela. — disse Francesco, enquanto olhava pela janela do hotel cinco estrelas.
— Se ela for quem eu acho que é... podemos tentar.
Gael só assentiu.
Mas seu olhar ainda vagava.
Ele estava à beira de algo maior do que qualquer transação que já tivera.
Não era mais só cartel.
Não era só máfia.
Não era só empresa.
Agora era pessoal. E estava prestes a começar.
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Atualizado até capítulo 40
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