Capítulo 2 — Areia, Sal e Um Toque de Destino

Capítulo 2 — Areia, Sal e Um Toque de Destino

Se tem um lugar onde eu me sinto inteira, é na praia.

Sol, mar, vento bagunçando o cabelo... e o riso do Lucas ecoando como se fosse trilha sonora da minha vida.

Antes de qualquer viagem, de qualquer contrato, de qualquer salto no escuro, eu precisava disso. Um último fim de semana com eles. Com minha base.

Avisei Julia que passaria o sábado e domingo off, desliguei o modo empresária, vesti meu biquíni favorito, coloquei a vovó Dona Maria e Lucas no carro e fui pra aquele canto do paraíso que a gente frequenta desde que eu me entendo por gente.

É uma praia mais afastada, nada de badalação. Só gente simples, clima leve e aquele restaurante de madeira de frente pro mar, com cheiro de peixe frito e lembrança boa em cada canto.

A manhã passou rápido demais. Brinquei com Lucas na areia, corri com ele até a água, deixei que ele me enterrasse inteira como se fosse a maior diversão do mundo. E era. A vovó ria tanto que até esqueceu da dor no joelho.

Era como se o tempo tivesse parado. Eu, ali, sem maquiagem, com areia grudada na pele, ouvindo meu sobrinho dizer que eu era a melhor pessoa do mundo. E, olha... naquele momento, eu até acreditei.

Quando bateu meio-dia, o sol começou a castigar mais forte. Levamos nossas coisas de volta pro carro e fomos direto pro restaurante. O mesmo de sempre. O meu lugar no mundo.

Lá dentro, o movimento tava surreal. Cheio. Lotado. Filas se formando. Os garçons indo de um lado pro outro, bandejas voando, música ambiente misturada com gargalhadas. E mesmo assim, quando eu entrei com minha avó e o Lucas, abriram espaço.

Todo mundo ali me conhecia. Eu fazia doações frequentes pra projetos locais, ajudava com ONGs, e sempre apoiava os pescadores da região com programas de saúde e bem-estar. A Lara empresária era conhecida, mas a Lara ser humano era amada ali. E isso me orgulhava mais do que qualquer prêmio.

Sentamos numa mesa grande, de seis lugares, debaixo do sombreiro de palha que eu amava.

Pedi o de sempre: moqueca, arroz, pirão e suco de caju. Lucas quis hambúrguer. Dona Maria, peixe na brasa.

Tava tudo indo perfeito… até que um garçom se aproximou, um pouco sem graça.

— Dona Lara… me desculpa incomodar. É que… tem um casal lá fora. Recém-casados, mexicanos. Tão em lua de mel. Não tem mais nenhuma mesa livre. Será que a senhora se incomodaria se eles dividissem essa mesa com vocês?

Olhei pra minha avó. Ela deu de ombros com aquele sorriso sereno.

— Claro que não — eu disse, abrindo espaço.

Minutos depois, eles chegaram.

Ele veio primeiro. Alto, moreno, cabelo escuro bem penteado, barba por fazer, camisa leve de linho branco, olhar curioso e um sorriso tão... educado que dava até gosto de ver.

Atrás dele, vinha ela. A noiva. Morena, salto na areia (socorro), maquiagem intacta mesmo no calor dos infernos, e um olhar... frio.

Totalmente diferente da vibe dele.

— Hola, buenas tardes — ele disse, puxando a cadeira. — Muchas gracias por permitirnos compartir la mesa.

Sorri de volta. Meu espanhol era afiado.

— No hay problema. Bienvenidos. Espero que disfruten la comida, es la mejor de la región.

Ele sorriu mais largo.

— Qué amable. Soy Gael. Y ella es... mi esposa, Renata.

Renata mal olhou pra mim. Soltou um "hola" quase mudo e já puxou o cardápio como se fosse a rainha da Espanha com raiva do garçom.

— Ela tá amando o calor — ele brincou em voz baixa, com um sorriso meio torto.

Ri. Porque rir é minha melhor arma.

Lucas, do nada, puxou conversa com ele.

— Você fala espanhol? — perguntou, todo curioso.

— Falo, sim. Eu sou do México. E você?

— Eu sou do Brasil. E minha tia é famosa!

Eu quase cuspi o suco de caju.

— Lucas! — repreendi, sem saber onde enfiar a cara.

— Mas é verdade! — ele retrucou — Todo mundo aqui conhece ela. Ela tem academia e cuida de um monte de gente. E ela também é boazinha.

Gael riu, olhando pra mim com aquele olhar que parecia enxergar além da superfície.

— Parece que estou en buena compañía.

— Está mesmo — minha avó comentou, sorrindo.

O almoço seguiu com conversas leves entre nós quatro — sim, quatro, porque a Renata parecia não querer fazer parte de nada.

Ela criticou a comida, o calor, a cadeira, o garçom e até o cheiro do mar. Em espanhol, em voz alta, achando que ninguém entendia. Mas eu entendi.

Eu entendia cada palavra.

Mas preferi sorrir. Sempre prefiro sorrir.

Já Gael... não parecia desconfortável. Pelo contrário. Era gentil com o garçom, agradecia cada coisa, conversava com Lucas com atenção, e me lançava olhares que eu fingia não perceber. Não porque eram invasivos. Mas porque eram... intensos. Interessantes. Humanos.

Como se ele tivesse fome de vida.

Não da comida.

Da simplicidade. Da leveza. Da paz que ele talvez não tivesse.

Depois do almoço, eles agradeceram e foram embora.

Ele se despediu apertando minha mão com firmeza.

Ela saiu na frente, bufando, como se o mundo tivesse que se curvar aos desejos dela.

Quando ele me olhou uma última vez, juro que vi algo nos olhos dele.

Não era interesse.

Era reconhecimento. Como se dissesse "eu vejo você".

Mas eu não dei importância.

Era só um casal qualquer.

De passagem. De lua de mel.

Só que o universo...

Ah, o universo nunca joga peças aleatórias no meu tabuleiro.

O almoço acabou, mas a tarde estava só começando.

A gente voltou pra areia com o sol ainda brilhando, e mesmo depois de tanto tempo morando em Maceió, eu ainda me emocionava com aquele mar verde-esmeralda, que parecia mais uma pintura. Lucas quis fazer castelo de areia, depois quis tomar mais banho, depois quis caçar conchas. E, claro, a vovó Dona Maria quis sentar e admirar tudo com aquele sorriso de quem vê a vida passar devagar, no ritmo certo.

Eu me sentei na toalha com ela, debaixo de um guarda-sol. Ficamos em silêncio por alguns minutos, só observando.

— Você tá nervosa com essa viagem, né? — ela perguntou, sem nem me olhar.

— Um pouco — admiti — É tudo muito de repente. Mas, ao mesmo tempo… parece certo, sabe?

— Quando o coração não treme, não é decisão grande. Vai com Deus, minha filha. E lembra do que eu sempre te disse: gentileza não é fraqueza. É poder.

— Eu sou você, vó. Com glitter e Instagram.

Ela gargalhou.

Lucas veio correndo com uma estrela-do-mar na mão, gritando que era mágica.

E naquele momento, era mesmo.

Tudo era.

A gente passou a tarde inteira ali. Rindo, brincando, molhando o pé, comendo picolé, e esquecendo que o mundo lá fora tinha contratos, agendas, números e formalidades.

Quando o céu começou a se pintar de laranja, a gente recolheu tudo.

Fiz questão de deixar Lucas na porta do prédio, com um beijo estalado na bochecha e uma promessa de trazer um presente do México. Ele pediu um sombreiro. Enorme. Listrado. Com sininho.

— Pode deixar, meu amor — falei, rindo — Você vai ficar insuportavelmente estiloso.

Em casa, tomei um banho demorado, lavei o cabelo, hidratei o rosto, e fiquei olhando a mala aberta na cama. Julia já tinha mandado mensagem:

[Julia]: “Não esquece o vestido branco de botão. Vai que rola um jantar chique com tequila.”

[Eu]: “Amiga, vou pra uma reunião, não pra lua de mel.”

[Julia]: “Nunca se sabe. Confia no roteiro.”

Ela tem dessas.

De prever as reviravoltas da minha vida melhor do que eu mesma.

**

O domingo chegou com céu limpo, cheiro de café e coração apertado.

Vôo marcado pras 11h da manhã. Aeroporto tranquilo. Júlia me encontrou lá, já acompanhada de dois homens enormes vestidos de preto.

— Lara, esses são os nossos protetores de traseiro internacional — ela disse, rindo — Maicon e Heitor.

Eles eram exatamente o que se esperava de seguranças de executiva rica: discretos, sérios e bem treinados. Maicon era mais alto, de olhar atento. Heitor, mais calado, mas firme. Já estavam com todos os protocolos acertados, passaportes revisados, e os detalhes do trajeto até o hotel no México.

— Vocês são tipo guarda-costas de filme? — perguntei, rindo, só pra quebrar o gelo.

— Só falta a explosão no fundo e a música de ação — Maicon respondeu, com um meio sorriso.

— Tomara que não chegue a tanto — Heitor murmurou.

Embarcamos. Primeira classe, assentos reclináveis, serviço VIP. Mas mesmo assim, meu estômago estava inquieto. Não de medo, nem de insegurança.

Era só aquela sensação que dá quando você sente que sua vida vai mudar... mas ainda não sabe como.

Durante o voo, Julia dormiu ouvindo música. Eu tentei me distrair com um filme, mas minha mente vagava. Pensei em Lucas. Na vovó. Na praia. No olhar daquele cara do restaurante. Gael. A esposa dele era tão áspera quanto ele era gentil. Um contraste estranho.

Mas eu sacudi aquilo da mente. Eu tinha coisas mais importantes pra pensar.

Tipo o futuro da minha rede de academias.

**

Aterrissamos no início da tarde. O calor era diferente. Seco. Com cheiro de especiarias no ar. O céu do México parecia mais denso. A cidade onde ficamos era moderna, vibrante, cheia de vida e movimento.

Fomos recebidas por um motorista da empresa VitalShape, com uma placa com meu nome. Nos levou direto para o hotel cinco estrelas, com vista pra cidade inteira. O quarto era deslumbrante. Camas king-size, varanda, frigobar personalizado. Tinha até flores me esperando.

Julia já entrou de câmera na mão, filmando tudo pra mostrar depois pro Lucas.

— Isso sim é padrão Lara Mendes de viagem — ela disse, pulando na cama.

— É, mas só amanhã começa o que realmente importa — respondi, tirando os sapatos.

— Sim, mas até lá… a gente pode aproveitar, né? A empresa deixou a tarde livre. E olha isso aqui — ela me mostrou um folder deixado no quarto — “Spa, restaurante, rooftop com vista pro pôr do sol, e tequila de boas-vindas”.

— Cês tão querendo me corromper logo na chegada — falei, rindo.

— A gente só quer te ver sorrindo — respondeu ela.

**

E ali, com vista pra um lugar novo, cheia de possibilidades à frente, eu respirei fundo.

Era só domingo.

Mas parecia que minha história tava começando de novo.

Capítulos
1 Capítulo 1 — O Sol Me Encontrou Primeiro
2 Capítulo 2 — Areia, Sal e Um Toque de Destino
3 Capítulo 3 – Parte 1 – Estrategicamente Cego
4 Capítulo 4 – Patricinha em Missão Internacional
5 Capítulo 5 – Parte 1 – A Jogada Começa Silenciosa
6 Capítulo 6 - O Convite Velado
7 Capítulo 7 — Terreno Fértil
8 Capítulo 8 – Noite Quente em Teresina
9 Capítulo 10 – Prazo Final
10 Capítulo 11 — Contrato Assinado com Sangue Frio
11 Capítulo 11 – A Queda
12 Capítulo 12— Declarações e Conflitos
13 Capítulo 13 – A Entrevista
14 Capítulo 14 – Amor de Aparência, Ódio de Verdade
15 Capítulo 15 – “Autoridade se impõe, não se pede.”
16 capítulo 16
17 Capítulo 17 – Murros, Méritos e Máscaras Caindo
18 Capítulo 18 – Parte 1: Entre Drogas, Gravidez e Ordens da Máfia
19 Capítulo 19 – Olhos Roxos, Verdades Claras
20 Capítulo 20 – Sangue, Contratos e a Primeira Noite
21 capítulo 21
22 Capítulo 22 – Sangue Frio, Pele Quente
23 Capítulo 23 – Calor, Cozinha e Corações Acelerados
24 Capítulo 24 – Ciúmes, Confusões e Quase Pecado
25 Capítulo 25 – A Quenga, a Surra e o Orgulho Ferido
26 Capítulo 26 – Entre Gritos, Beijos e Verdades Queimando na Pele
27 Capítulo 27: Fúria e Ressurgimento em Milão
28 Capítulo 28 — Cicatrizes e Linhagem de Sangue
29 Capítulo 29 — Confissões, Verdades e Vestidos Novos
30 Capítulo 30 – Entre o Sangue e o Prazer
31 Capítulo 31
32 Capítulo 32 – (versão ajustada): De volta ao lar... e ao fogo
33 Capítulo 33 — Sala de Reunião Proibida
34 Capítulo [seguinte] – De Volta à Rotina… ou Quase Isso
35 Capítulo 35 – Entre agendas, aviões e infiltrações
36 capítulo 36
37 capítulo 37
38 Capítulo 38 – “Essa casa é um campo de treino (e de batalha também)”
39 Capítulo 39 – “A Praga da Paola”
40 Capítulo [40] – Pressão Interna
Capítulos

Atualizado até capítulo 40

1
Capítulo 1 — O Sol Me Encontrou Primeiro
2
Capítulo 2 — Areia, Sal e Um Toque de Destino
3
Capítulo 3 – Parte 1 – Estrategicamente Cego
4
Capítulo 4 – Patricinha em Missão Internacional
5
Capítulo 5 – Parte 1 – A Jogada Começa Silenciosa
6
Capítulo 6 - O Convite Velado
7
Capítulo 7 — Terreno Fértil
8
Capítulo 8 – Noite Quente em Teresina
9
Capítulo 10 – Prazo Final
10
Capítulo 11 — Contrato Assinado com Sangue Frio
11
Capítulo 11 – A Queda
12
Capítulo 12— Declarações e Conflitos
13
Capítulo 13 – A Entrevista
14
Capítulo 14 – Amor de Aparência, Ódio de Verdade
15
Capítulo 15 – “Autoridade se impõe, não se pede.”
16
capítulo 16
17
Capítulo 17 – Murros, Méritos e Máscaras Caindo
18
Capítulo 18 – Parte 1: Entre Drogas, Gravidez e Ordens da Máfia
19
Capítulo 19 – Olhos Roxos, Verdades Claras
20
Capítulo 20 – Sangue, Contratos e a Primeira Noite
21
capítulo 21
22
Capítulo 22 – Sangue Frio, Pele Quente
23
Capítulo 23 – Calor, Cozinha e Corações Acelerados
24
Capítulo 24 – Ciúmes, Confusões e Quase Pecado
25
Capítulo 25 – A Quenga, a Surra e o Orgulho Ferido
26
Capítulo 26 – Entre Gritos, Beijos e Verdades Queimando na Pele
27
Capítulo 27: Fúria e Ressurgimento em Milão
28
Capítulo 28 — Cicatrizes e Linhagem de Sangue
29
Capítulo 29 — Confissões, Verdades e Vestidos Novos
30
Capítulo 30 – Entre o Sangue e o Prazer
31
Capítulo 31
32
Capítulo 32 – (versão ajustada): De volta ao lar... e ao fogo
33
Capítulo 33 — Sala de Reunião Proibida
34
Capítulo [seguinte] – De Volta à Rotina… ou Quase Isso
35
Capítulo 35 – Entre agendas, aviões e infiltrações
36
capítulo 36
37
capítulo 37
38
Capítulo 38 – “Essa casa é um campo de treino (e de batalha também)”
39
Capítulo 39 – “A Praga da Paola”
40
Capítulo [40] – Pressão Interna

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