Seu Sem Fronteiras
"Se alguém nos dissesse que encontraríamos o amor do outro lado do mundo, nós riríamos."
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Se você me visse andando pelas ruas do Rio de Janeiro, talvez não notasse nada de especial. Sou como tantas outras mulheres da minha idade: 30 anos, jeans surrado, cabelo preso de qualquer jeito e fones de ouvido sempre tocando algo coreano, um pouco de nacional, rodando o mundo como se a trilha sonora da minha vida tivesse sotaque estrangeiro global.
Meu nome é Thessa de Sa Anis, sou carioca, mas o coração vive nas ondas do nordeste onde fui criada. Sou Tradutora, apaixonada por histórias, músicas que tocam fundo e silêncios que dizem mais do que palavras.
Não sou perfeita. Tenho um génio difícil às vezes, choro por bobagens e penso demais nas coisas. Mas também sou leal, verdadeira e intensa. Amo com tudo o que tenho. E se eu abrir o meu mundo para alguém, é porque eu vi ali um lugar onde posso ser eu — sem máscaras, sem medo.
Cheguei na capital sul-coreana com um frio na barriga e uma mala abarrotada de expectativas. Nunca tinha saído do Brasil antes, e agora iria passar um ano vivendo num lugar tão distante quanto fascinante.
Assim que pisei no aeroporto meus sentidos despertaram de um longo sono. Eu estava sozinha, num país onde mal sabia dizer "olá", mas sentia uma excitação estranha no peito - como se algo importante estivesse prestes a acontecer.
Meu primeiro choque cultural veio rápido assim que entrei no táxi, deslizando pelas ruas, passando por letreiros coloridos e avenidas largas, cheias de gente apressada. Olhei pela janela, absorvendo cada detalhe: uma garota de uniforme escolar correndo para pegar o ônibus, um casal tomando café de uma garrafa térmica escondido num beco, um grupo de amigos rindo em frente a um karaokê. Cada cena era um fragmento de vida que eu queria entender.
Quando finalmente cheguei à rua do prédio onde ficaria hospedada, fui recebida pela coordenadora do programa onde iria trabalhar e estudar. Ela me entregou uma pasta com documentos, um mapa e um livrinho com frases básicas em coreano.
—Se precisar de ajuda, e so mandar mensagem pelo número que está nos documentos — disse ela, sorrindo.
Mas eu sabia: a partir daquele momento, estava por minha conta.
Respirei fundo antes de entrar no mini apartamento que seria meu pelos próximos 12 meses. Pequeno, sim. Mas aconchegante, o espaço era compacto, mas bem planejado. A cama ficava de frente para uma TV presa a um painel de madeira, o que dava um toque moderno ao ambiente. As roupas de cama, em tons neutros, combinavam com o clima minimalista do lugar. À direita, uma porta levava ao banheiro. Do outro lado, uma janela generosa deixava a luz natural entrar, iluminando o espaço com um brilho suave. O piso escuro e as paredes brancas transmitiam uma sensação de calma. Dava para ver a cozinha e a sala de estar logo ao lado: uma geladeira branca encostada na parede, armários minimalistas e uma bancada com fogão separando os ambientes. A sala tinha um sofá claro e uma mesa com cadeiras pretas elegantes - um espaço pequeno, mas com tudo que eu precisava.
Era o tipo de lugar que parecia dizer:
"Você está em casa agora."
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Caminho com a cultura profundamente enraizada em mim - o respeito pelos mais velhos, a dedicação ao trabalho, o prazer encontrado nas pequenas tradições diárias.
Mas também busco a modernidade e algo que me tire uma pouco desta rotina.
Meu nome é Kang Ji hoon. Tenho 33 anos e nasci em Seul, mas demorei a entender onde realmente era o meu lugar no mundo. Cresci entre cobranças e expectativas, em uma família onde o silêncio dizia mais que os gestos. Perdi minha mãe na minha adolescência, e junto com ela, perdi uma parte de mim que até hoje tento resgatar.
Sou engenheiro civil e empresário — dono de um sobrenome que pesa mais do que honra. Por muito tempo vivi no automático, cumprindo papéis, vestindo máscaras, ignorando o vazio que me consumia. Sou bom em esconder tudo.
Trabalho com projetos que tocam o céu — prédios altos, estruturas sólidas, fundações que resistem ao tempo.
Cada obra que entrego carrega um pedaço meu.
Seja um prédio residencial, uma reforma mais complexa ou até uma construção comercial, eu acompanho tudo de perto. Não sou o tipo de chefe que fica só no escritório. Gosto de estar no canteiro, ver o progresso com os próprios olhos, conversar com os operários, resolver problemas no campo.
Minha rotina começa antes do sol nascer. O despertador toca às 5:30 AM, mas na maioria das vezes, estou acordado antes disso. Meu corpo se acostumou com a disciplina depois que sair do exército… ou talvez minha mente nunca tenha aprendido a descansar.
Às 6:00 AM, dou uma corrida. Não porque eu goste — mas porque me ajuda a silenciar o que não consigo controlar.
Às 7:30 AM, estou no escritório. E aí começa o verdadeiro caos. Reuniões, decisões, contratos e visitas a canteiros de obras. A cada ligação, uma nova cobrança. A cada passo, um novo problema para resolver. Eu lido com engenheiros, investidores, fornecedores. Todos esperam que eu seja firme. Impecável. Inquebrável.
Às vezes esqueço que sou humano.
Almoço quase sempre sozinho. Um prato apressado, numa mesa silenciosa, com o celular vibrando sem parar ao lado. À noite, volto para casa tarde, quando a cidade já está apagando as suas luzes. O apartamento é amplo, moderno, bem decorado — mas vazio. Impecável, como pedem os manuais de sucesso. Frio, como tudo que eu aprendi a chamar de “vida estável”.
Fora do trabalho, minha vida é bem mais reservada. Não sou muito de festas ou multidões. Prefiro coisas simples. Um jantar tranquilo, uma corrida bem cedo, um café forte enquanto leio um bom livro. Gosto de ouvir música no caminho para o trabalho - ultimamente tenho escutado muito MPB. Não entendo tudo, mas tem algo nessas melodias brasileiras que me acalma...
Não sou um homem fácil. Tenho traumas que não conto, vontades que reprimi por anos, que aprendi a manter sob controle. Mas por dentro... por dentro eu só queria paz. Só queria viver de um jeito simples, verdadeiro.
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Atualizado até capítulo 25
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