Thessa 🪷
Não era só uma exposição de arte. Era um convite. Uma desculpa delicada para passarmos mais tempo juntos fora da rotina de cafés, mensagens trocadas durante o dia e videochamada tarde da noite. Quando Jihoon me enviou o link do evento com um “Acho que você vai gostar dessas cores”, algo dentro de mim sorriu antes mesmo dos meus lábios.
Eu revisei a minha roupa três vezes antes de finalmente dar-me por vencida. Não era nada de mais — vestido de tecido grosso em tons terrosos, meias grossas por baixo —, mas a ansiedade fazia-me questionar cada detalhe. O batom? Discreto. Perfume? O suficiente para deixar um rastro, se ele chegasse perto o bastante. E, no fundo, eu torcia para chegar.
Meu celular vibrou com a mensagem que eu já esperava:
“Cheguei.”
Corri até a janela e lá estava ele, encostado no carro, com um dos braços cruzados sobre o peito e o outro mexendo no celular. O vento bagunçava seus cabelos, e mesmo de longe, havia algo no jeito que ele esperava... uma tranquilidade que me desarmava.
Desci com o coração disparado. Quando abri a porta do prédio, ele levantou os olhos e sorriu daquele jeito que parecia atravessar todas as minhas defesas.
— Oi! — murmurei, um pouco sem ar.
— Oi. Você tá... — Ele fez uma pausa, como se estivesse buscando a palavra certa. — Linda. Como sempre.
Abriu a porta do carro para mim com naturalidade. Não era encenação, era dele. E me senti vista de um jeito que nunca sentia.
O Caminho até a exposição foi tranquilo, conversamos bastante sobre assuntos variados. A playlist suave preenchia o carro, e vez ou outra, nossos olhos se cruzavam entre o semáforo e o riso contido de alguma lembrança compartilhada. Jihoon tinha aquele dom de transformar qualquer trajeto em um capítulo à parte.
Chegamos à galeria a fachada lembrava uma antiga fábrica reformada. Paredes de tijolos expostos, teto alto, e luz natural entrando por claraboias enormes. Ele estendeu a mão, oferecendo-a como se me convidasse não apenas para entrar, mas para estar com ele, de verdade.
— Preparada para ver o mundo de um jeito diferente? — ele disse, com um brilho nos olhos.
— Se for com você, acho que vale a pena — respondi, quase sem pensar.
Dentro da exposição, cada obra parecia ganhar vida ao nosso redor, mas o que me prendia mesmo era ele. As expressões que fazia diante das telas ou de alguma escultura, os comentários espontâneos, a forma como se aproximava de mim, sutilmente, como se testasse se eu estava pronta para aquele tipo de proximidade.
Paramos diante de uma pintura vibrante, com tons intensos de vermelho e azul, se entrelaçando no centro como se estivessem dançando.
— Essa aqui me lembra a gente — ele disse, baixo.
— Por quê? — perguntei, virando o rosto em sua direção.
— Porque são cores diferentes... É como eu e você. Duas pessoas que vieram de mundos diferentes, mas se encontraram onde ninguém esperava. Tipo essas cores. Elas não deveriam se misturar, mas… olha como ficaram quando se encontraram.
Fiquei muda. Só conseguia encará-lo e ficamos em silencios por segundos.
— Você sempre fala assim sobre arte? — tentei quebrar o clima.
— Não. Só quando tem alguém que me inspira a sentir — ele respondeu, e eu desviei o olhar.
Ao fim da exposição, saímos em silêncio. O céu já estava escuro, e o frio da noite começava a nos rodear. Ele me olhou, hesitante.
— Quer tomar um café? Ou... — fez uma pausa — quer andar um pouco?
— Vamos andar. Preciso esticar a alma depois daquelas cores todas.
E fomos. Lado a lado, sem se tocar, mas com algo no ar que nos empurrava cada vez mais para perto. Não houve beijo naquela noite. Nem promessas. Mas houve algo que ficou entre nós, suspenso no ar, vibrando como uma nota que ainda não foi tocada.
Depois, no café, sob o aroma e o céu começando a mudar de cor, eu me peguei divagando entre o sabor do café e o calor que a presença dele causava. Jihoon era diferente. Não fazia discursos, não se colocava como o centro, mas ocupava espaço ao meu redor de um jeito irreversível.
— Você gosta desse tipo de arte? — ele perguntou me tirando da reflexões
E então eu disse:
— Gosto do que não é óbvio. Do que me faz sentir mais do que entender. Acho que é por isso que... — hesitei — ...que gosto de você.
Foi a primeira vez que verbalizei algo que ainda estava a crescer em mim. E no instante em que ele segurou a minha mão sobre a mesa, com aquele toque firme e gentil, entendi que ele também estava sentindo o mesmo. Não precisávamos de declarações grandiosas. Havia mais verdade no silêncio entre as nossas mãos entrelaçadas do que em qualquer promessa dita com pressa.
— Eu também gosto do que não é óbvio, Thessa, acho que por isso que gosto de estar com você.
No caminho de volta, não falamos muito. E eu gostei disso. A companhia dele tinha se tornado um lugar seguro — e raro — onde o silêncio não doía, apenas abraçava.
Quando paramos em frente ao meu prédio, me dei conta de que não queria a despedida. O tempo com ele parecia sempre curto, como se cada minuto merecesse ser esticado.
— Posso te ver de novo? — perguntou sem disfarçar o olhar de expectativa .
— Já estou esperando por isso.— disse mordeu levemente o lábio inferior com um meio sorriso
Então, tomei coragem e o beijei na bochecha. Devagar. Um toque suave, mas cheio de tudo que eu ainda não sabia como dizer.
Subi as escadas com o coração batendo acelerado, como se estivesse tentando me lembrar que eu ainda estava no mundo real. Entrei no apartamento, tirei os sapatos e fiquei parada no meio da sala escura por alguns segundos.
Sorri sozinha. Sentia meu rosto quente, o peito leve e uma ansiedade boa me envolvendo. Uma parte de mim queria escrever tudo o que estava sentindo, guardar cada gesto, cada frase, cada olhar. Outra parte só queria dormir e sonhar com ele.
Naquela noite, deitei cedo, sem ligar a TV, sem rolar o feed do celular. Apenas fechei os olhos e revivi o som da voz dele, o calor da mão dele na minha, a forma como seus olhos me acompanhavam enquanto eu falava.
E, pela primeira vez em muito tempo, adormeci sorrindo.
Porque agora eu sabia que algo novo estava se formando dentro de mim
*****************************************
Jihoon ⚙️
Esperei na frente do prédio dela, encostado no carro, tentando parecer calmo — como se o simples fato de vê-la novamente não fosse o suficiente para acelerar cada batida do meu coração, e eu ajeitei as mangas do casaco pela terceira vez, só para ocupar as mãos.
Quando a porta do prédio se abriu e ela surgiu, o mundo deu um leve tropeço.
Thessa desceu os degraus devagar, e por um instante, tudo ficou em câmera lenta.
Ela parecia leve. Linda de um jeito que não gritava, só sussurrava, como uma pintura que prende o olhar não pelo excesso, mas pelo detalhe.
— Oi. Você tá... Linda. Como sempre. — falei, antes que minha insegurança me fizesse calar. Ela sorriu, com aqueles olhos brilhante.
Abri a porta para ela e, no instante em que entrou no carro, um perfume suave invadiu o espaço — era como flor de cerejeira com algo mais quente, talvez baunilha. Quis perguntar qual era, mas me contive. Ainda.
No caminho até a galeria, conversamos sobre coisas leves. Filmes, música, comida. Mas por trás de cada resposta havia pausas que diziam mais do que as palavras. Ela olhava pela janela de vez em quando, e eu roubava olhares. Aquela sensação de que algo novo estava começando não saía do meu peito.
A exposição acontecia em uma galeria com a fachada de uma antiga fábrica reformada. Um espaço que respirava arte e silêncio ao mesmo tempo. Era perfeito.
Thessa caminhava ao meu lado devagar, com os olhos atentos a cada quadro, a cada escultura. E, vez ou outra, me olhava como se estivesse me observando também — me lendo.
— Essa aqui me lembra a gente — eu disse, baixo.
— Por quê? — ela perguntou, virando o rosto em minha direção.
— Porque são cores diferentes... É como eu e você. Duas pessoas que vieram de mundos diferentes, mas se encontraram onde ninguém esperava. Tipo essas cores. Elas não deveriam se misturar, mas… olha como ficaram quando se encontraram.
Arrepios. Foi o que senti quando me vi dizendo aquilo, ela calou e me encarou
Ficamos em silêncio por alguns segundos, e o barulho ao nosso redor desapareceu. Eu só ouvia o som do meu próprio desejo de me aproximar, de encurtar a distância entre nós. Mas me contive. Ainda não era hora. Eu queria fazer tudo no tempo certo. Com ela, cada detalhe importava.
— Você sempre fala assim sobre arte? — ela me perguntou um pouco seria.
— Não. Só quando tem alguém que me inspira a sentir — respondi, vi que ela desviava o olhar.
Seguimos explorando a galeria. Em uma das salas, uma instalação sensorial projetava luzes no chão, e ao pisarmos nelas, formas mudavam. Thessa riu como uma criança quando uma onda de luzes a cercou.
Fomos tomar um café na parte externa da galeria depois. Sentamos sob uma pérgola coberta por trepadeiras e flores, o som distante da cidade nos cercando com discrição. Ela mexia a colher na xícara como se isso a ajudasse a organizar os pensamentos.
— Você gosta desse tipo de arte? — perguntei.
Ela assentiu.
— Gosto do que não é óbvio. Do que me faz sentir mais do que entender. Acho que é por isso que... — ela hesitou. — ...que gosto de você também.
Meu peito apertou. Não pelo que ela disse, mas pelo jeito como disse. Como se estivesse se entregando aos poucos, com medo, mas sem fugir.
Estiquei a mão sobre a mesa, tocando levemente os dedos dela.
— Eu também gosto do que não é óbvio, Thessa, acho que por isso que gosto de estar com você.
Ela entrelaçou os dedos nos meus, e ficamos assim por minutos — mãos unidas, olhos fixos, corações falando no mesmo idioma. Naquele instante, percebi que algo estava se desenhando entre nós. Não como um quadro pronto, mas como uma arte viva, em constante movimento.
Ao levá-la de volta pra casa, o caminho foi silencioso. Mas era um silêncio confortável. Do tipo que só existe entre duas pessoas que já não precisam provar nada.
Ao parar em frente ao prédio dela, me virei devagar.
— Posso te ver de novo? — perguntei, sem disfarçar a vontade que transbordava no olhar.
Ela sorriu, mordeu levemente o lábio inferior e disse:
— Já estou esperando por isso.
E antes de sair do carro, se inclinou e encostou os lábios na minha bochecha, demorando um segundo a mais que o necessário. Quando ela fechou a porta e subiu as escadas, fiquei ali parado, sorrindo sozinho, com a sensação de que aquele segundo encontro não havia terminado. Apenas começado de outro jeito.
Dirigi de volta pro meu apartamento vazio.
Ao chegar fechei a porta atrás de mim com um clique surdo, abafando o mundo lá fora. Encostei as costas na parede e deixei o ar escapar dos meus pulmões, como se só agora eu me permitisse respirar de verdade. Ainda estava com o calor dela grudado na bochecha — ou talvez fosse só a sensação boa de estar perto dela.
Andei até o sofá, mas não consegui me sentar. Meus passos estavam inquietos, como se meu corpo inteiro estivesse tentando entender o que aconteceu hoje. Uma simples exposição. Um convite inocente. Mas nada na presença dela é simples. Nada é apenas casual. Quando ela sorri, quando comenta alguma obra com aquele olhar brilhante e curioso... eu sintia o tempo parar.
Thessa me faz prestar atenção em coisas que antes eu ignorava — não só nas artes, mas em mim mesmo. Quando ela falou do que via em uma nas pinturas, me vi ali. Me imaginei segurando ela, nos conectando, sentindo que o único lugar seguro era ali com ela.
E quando a gente foi pra cafeteria, já fora da galeria... foi ali que tudo ficou ainda mais real. Ela não precisava dizer muita coisa. Só o jeito como olhava pra mim já dizia tudo. Uma mistura de entrega, cuidado e receio. Como se o coração dela ainda estivesse aprendendo a confiar em mim — e eu estou disposto a ensinar, com cada gesto, cada palavra, cada silêncio confortável entre nós.
Agora estou aqui, parado, revivendo cada segundo. E pela primeira vez em muito tempo, eu me peguei desejando que isso fosse mais do que encontros esporádicos. Quero conhecê-la de verdade. Quero descobrir o que ela gosta no café da manhã, o que ela sonha em segredo, o que a faz rir até perder o fôlego. Quero estar lá quando ela precisar de silêncio e quando precisar de colo.
Mas ao mesmo tempo... tenho medo. Medo de estar rápido demais. Medo de que ela não esteja pronta. Ou pior, de que eu não seja suficiente.
Ainda assim... pela primeira vez em anos, sinto que vale a pena arriscar.
Vou dormir com o coração agitado, mas feliz. E se amanhã ela ainda pensar em mim... já vai ser mais do que eu poderia pedir.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 26
Comments