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Seu Sem Fronteiras

Prólogo: De tão longe, Tão Perto.

"Se alguém nos dissesse que encontraríamos o amor do outro lado do mundo, nós riríamos."

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🪷

Se você me visse andando pelas ruas do Rio de Janeiro, talvez não notasse nada de especial. Sou como tantas outras mulheres da minha idade: 30 anos, jeans surrado, cabelo preso de qualquer jeito e fones de ouvido sempre tocando algo coreano, um pouco de nacional, rodando o mundo como se a trilha sonora da minha vida tivesse sotaque estrangeiro global.

Meu nome é Thessa de Sa Anis, sou carioca, mas o coração vive nas ondas do nordeste onde fui criada. Sou Tradutora, apaixonada por histórias, músicas que tocam fundo e silêncios que dizem mais do que palavras.

Não sou perfeita. Tenho um génio difícil às vezes, choro por bobagens e penso demais nas coisas. Mas também sou leal, verdadeira e intensa. Amo com tudo o que tenho. E se eu abrir o meu mundo para alguém, é porque eu vi ali um lugar onde posso ser eu — sem máscaras, sem medo.

Cheguei na capital sul-coreana com um frio na barriga e uma mala abarrotada de expectativas. Nunca tinha saído do Brasil antes, e agora iria passar um ano vivendo num lugar tão distante quanto fascinante.

Assim que pisei no aeroporto meus sentidos despertaram de um longo sono. Eu estava sozinha, num país onde mal sabia dizer "olá", mas sentia uma excitação estranha no peito - como se algo importante estivesse prestes a acontecer.

Meu primeiro choque cultural veio rápido assim que entrei no táxi, deslizando pelas ruas, passando por letreiros coloridos e avenidas largas, cheias de gente apressada. Olhei pela janela, absorvendo cada detalhe: uma garota de uniforme escolar correndo para pegar o ônibus, um casal tomando café de uma garrafa térmica escondido num beco, um grupo de amigos rindo em frente a um karaokê. Cada cena era um fragmento de vida que eu queria entender.

Quando finalmente cheguei à rua do prédio onde ficaria hospedada, fui recebida pela coordenadora do programa onde iria trabalhar e estudar. Ela me entregou uma pasta com documentos, um mapa e um livrinho com frases básicas em coreano.

—Se precisar de ajuda, e so mandar mensagem pelo número que está nos documentos — disse ela, sorrindo.

Mas eu sabia: a partir daquele momento, estava por minha conta.

Respirei fundo antes de entrar no mini apartamento que seria meu pelos próximos 12 meses. Pequeno, sim. Mas aconchegante, o espaço era compacto, mas bem planejado. A cama ficava de frente para uma TV presa a um painel de madeira, o que dava um toque moderno ao ambiente. As roupas de cama, em tons neutros, combinavam com o clima minimalista do lugar. À direita, uma porta levava ao banheiro. Do outro lado, uma janela generosa deixava a luz natural entrar, iluminando o espaço com um brilho suave. O piso escuro e as paredes brancas transmitiam uma sensação de calma. Dava para ver a cozinha e a sala de estar logo ao lado: uma geladeira branca encostada na parede, armários minimalistas e uma bancada com fogão separando os ambientes. A sala tinha um sofá claro e uma mesa com cadeiras pretas elegantes - um espaço pequeno, mas com tudo que eu precisava.

Era o tipo de lugar que parecia dizer:

"Você está em casa agora."

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⚙️

Caminho com a cultura profundamente enraizada em mim - o respeito pelos mais velhos, a dedicação ao trabalho, o prazer encontrado nas pequenas tradições diárias.

Mas também busco a modernidade e algo que me tire uma pouco desta rotina.

Meu nome é  Kang Ji hoon. Tenho 33 anos e nasci em Seul, mas demorei a entender onde realmente era o meu lugar no mundo. Cresci entre cobranças e expectativas, em uma família onde o silêncio dizia mais que os gestos. Perdi minha mãe na minha adolescência, e junto com ela, perdi uma parte de mim que até hoje tento resgatar.

Sou engenheiro civil e empresário — dono de um sobrenome que pesa mais do que honra. Por muito tempo vivi no automático, cumprindo papéis, vestindo máscaras, ignorando o vazio que me consumia. Sou bom em esconder tudo.

Trabalho com projetos que tocam o céu — prédios altos, estruturas sólidas, fundações que resistem ao tempo.

Cada obra que entrego carrega um pedaço meu. 

Seja um prédio residencial, uma reforma mais complexa ou até uma construção comercial, eu acompanho tudo de perto. Não sou o tipo de chefe que fica só no escritório. Gosto de estar no canteiro, ver o progresso com os próprios olhos, conversar com os operários, resolver problemas no campo.

Minha rotina começa antes do sol nascer. O despertador toca às 5:30 AM, mas na maioria das vezes, estou acordado antes disso. Meu corpo se acostumou com a disciplina depois que sair do exército… ou talvez minha mente nunca tenha aprendido a descansar.

Às 6:00 AM, dou uma corrida. Não porque eu goste — mas porque me ajuda a silenciar o que não consigo controlar.

Às 7:30 AM, estou no escritório. E aí começa o verdadeiro caos. Reuniões, decisões, contratos e visitas a canteiros de obras. A cada ligação, uma nova cobrança. A cada passo, um novo problema para resolver. Eu lido com engenheiros, investidores, fornecedores. Todos esperam que eu seja firme. Impecável. Inquebrável.

Às vezes esqueço que sou humano.

Almoço quase sempre sozinho. Um prato apressado, numa mesa silenciosa, com o celular vibrando sem parar ao lado. À noite, volto para casa tarde, quando a cidade já está apagando as suas luzes. O apartamento é amplo, moderno, bem decorado — mas vazio. Impecável, como pedem os manuais de sucesso. Frio, como tudo que eu aprendi a chamar de “vida estável”.

Fora do trabalho, minha vida é bem mais reservada. Não sou muito de festas ou multidões. Prefiro coisas simples. Um jantar tranquilo, uma corrida bem cedo, um café forte enquanto leio um bom livro. Gosto de ouvir música no caminho para o trabalho - ultimamente tenho escutado muito MPB. Não entendo tudo, mas tem algo nessas melodias brasileiras que me acalma...

Não sou um homem fácil. Tenho traumas que não conto, vontades que reprimi por anos, que aprendi a manter sob controle. Mas por dentro... por dentro eu só queria paz. Só queria viver de um jeito simples, verdadeiro.

Capitulo 1: Mais que um esbarrão.

Thessa 🪷

O som do metrô ecoava pelo alto-falante. Eu ajeitava minha bolsa, que insistia em escorregar do ombro pela centésima vez, com um mapa amassado nas mãos e um sonho: conseguir me mover pela cidade e conhecer o maximo de lugares possíveis, sem me perder dentro do metrô.

Fazem três semana desde que cheguei à Coreia, e apesar das aulas básicas de coreano, tudo ainda parecia um enorme desafio.

Eu havia decidido aceitar um trabalho em Seul, com a vantagem de estudar melhor a língua. A cultura, a comida, a música e o País - tudo me fascinava desde os tempos de faculdade no Rio de Janeiro. Mas agora, com o frio cortante e a multidão apressada, eu me sentia um pouco deslocada e desanimada.

Era um desafio, a cada lugar que ia era uma confusão sem tamanho, as linhas do metrô me deixava confusa e muitas vezes me levavam ao lugar errado.

Enquanto analisava o mapa pela milésima vez tentado não me perder de novo, esbarrei em alguém.

- 미안합니다! (Me desculpe!) - disse ele, apressado, mas ao ver minha expressão confusa, parou. - Ah... Sorry! Are you okay? (Ah... Me desculpe! Você está bem?)

Sorri meio sem graça para o estranho a minha frente, com cerca de 1,80 de altura, pode se dizer que todos os coreanos são iguais, mas eu discordo, esse em especial era elegante, seu porte transmite equilíbrio — ombros largos, postura reta. A pele clara e suave, com um tom levemente dourado sob a luz do sol, talvez por trabalhar ao ar livre, seus cabelos lisos e pretos, arrumados com cuidado, penteados para o lado com um toque de elegância natural e alguns fios rebeldes na testa. Ele não chama atenção com extravagância; seu charme está justamente no contraste entre aparência serena e presença marcante.

Como eu responderia ao estranho? Meu coreano e péssimo, espanhol seria nulo, português nem em sonho, possivelmente inglês, mas com chances de não ser compreendida corretamente.

- Tá tudo certo. Só tô perdida...o que vou dizer...há- pensei em voz alta.

Ele franziu a testa. Provavelmente ouviu e não entendeu nada do que falei, bendita mania de falar sozinha, as vezes me fazia passar por situações embaraçosas.

- E... é brasileira?

Arregalei os olhos.

- Você fala português?- perguntei admirada.

- Só um pouco. Aprendi na universidade. Me chamo Jihoon - disse ele, sorrindo de forma gentil. - Quer ajuda? Vejo que está perdida, atrapalhada com este mapa.

- Prazer! Me chamo Thessa... voce não sabe o alivio que e contar com sua ajuda, agradeço.

Foi assim que tudo começou: com um mapa amassado, um empurrão involuntário e uma troca de palavras inesperada...

E me encontrei em uma aventura cheia de desafios.

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Jihoon ⚙️

Como em toda quarta-feira à tarde, o metrô estava lotado, era minha rotina, após o trabalho pegava o metrô para encontrar paz no caos, sair por aí, em busca de algo que nem eu mesmo sabia o que era. Eu tentava equilibrar-me entre um passo e outro, agarrando qualquer apoio disponível. Foi aí que aconteceu — um movimento errado, um empurrão involuntário... e esbarrei em alguém.

Murmurei um "me desculpe" apressado.

Ela se virou rápido, assombrada. Percebi logo que era uma estrangeira, mas  difícil identificar nacionalidade. Seu tom de pele amendoado tinha um brilho dourado sutil, olhos castanhos expressivos e cabelos castanhos avermelhados de um tom nada visto antes, levemente ondulados que caem até os ombros, sua estatura era baixa aproximadamente 1,60m.

Pela sua expressão provavelmente não entendeu o que eu disse, então pedi desculpas em inglês e perguntei se estava tudo bem.

Ela sorriu, meio envergonhada, e disse algo em português

Franzi a testa. Uma brasileira?

Chegou minha chance de praticar o português que tinha aprendido um tempo atrás, na universidade.

- E...é brasileira? - perguntei, me arriscando.

Ela arregalou os olhos, surpresa, e me perguntou se eu falava português. Um pouco! Muito mal, mas alguma coisa eu sabia e entendia.

Depois daquele esbarrão, senti-me na obrigação de ajudá-la. Aquela colisão inesperada mudou o ritmo da  minha tarde.

Me ofereci para guiá-la pelas ruas movimentadas de Hongdae. Como velhos amigos em um passeio casual, fui explicando como o metrô funcionava, apontando placas, dando dicas para não se perder. Mostrei a ela um aplicativo muito mais eficaz que aquele velho mapa amassado.

Logo estávamos conversando e rindo juntos.

Era fascinante vê-la sorrir daquele jeito vibrante e cheio de som. Me senti leve, como não me sentia havia muito tempo.

- Hongdae é confuso até pra quem nasceu aqui - disse com um sorriso divertido.

- Então eu não sou um caso perdido? - ela riu.

- Ainda não. Mas quase.

Rimos juntos.

Sugeri que tomássemos um café. Vi que hesitou - talvez por sermos ainda dois estranhos - mas o frio falou mais alto, e ela aceitou.

Levei-a a uma cafeteria aconchegante, com janelas embaçadas e cheiro de canela no ar. Um lugar que eu frequentava desde a época da universidade. Era daqueles cafés que pareciam ter saído direto de um drama clichê.

- Você vem aqui sempre? - perguntou Thessa, tirando o casaco

- Sim. É tranquilo, e o dono me deixava estudar aqui - apontei um canto com livros e almofadas. - Tem até um gato que mora no segundo andar.

- Sério? Isso explica tudo! Café, livros, gato... quase um K-drama.

- E o que te trouxe até aqui? - perguntei, curioso.

- Um pouco de coragem... um amor antigo pela sua cultura. Música, comida, filmes... tudo.-deu uma pausa- Mas queria viver isso de verdade. Não só ver pela tela.

Assenti, admirado.

- Eu admiro isso. Muitos sonham em sair daqui. Você veio pra cá, mesmo sem conhecer ninguém.

Ela olhou pela janela. Flocos finos de neve começaram a cair. Vi seu rosto se suavizar, os olhos seguindo os flocos brancos como se nunca tivesse visto aquilo antes. Um sorriso leve, tipo Mona Lisa, se formou nos lábios dela - cheio de mistérios ainda a serem descobertos.

- E agora conheço alguém. Isso já é um começo, né? - disse ela distraida.

Ela sorriu, tocando de leve a xícara.

- É. Talvez o começo seja a parte mais interessante das coisas- eu disse, sorrindo.

Aquela tarde foi a melhor coisa que me aconteceu em anos. Conversamos como se já nos conhecêssemos há muito tempo, mesmo tentando nos entender entre línguas diferentes. Suas frases muitas vezes saíam soltas, como uma criança aprendendo a falar - e isso me fazia sentir à vontade para cometer erros também ao me expressar.

Ela era paciente. Me ensinava palavras que eu errava em português, e eu a ajudava com seu coreano. A troca era sincera, divertida. Leve.

Trocamos números, com promessas tímidas de nos falarmos de novo.

E então caminhamos juntos até o mesmo metrô que nos uniu.

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Thessa 🪷

No fim da tarde, Jihoon me acompanhou até a estação. Passamos algumas horas juntos, mas parecia que nos conhecíamos há anos. Ele me explicou tudo com paciência: o metrô, as placas, até me ensinou a usar um aplicativo que facilitaria minha vida em Seul.

Até me convidou para tomar um café em uma cafeteria muito aconchegante, no começo exitei por não conhece-lo, mas acabei topando, me sentir em um K-drama estereotipado.

Aprendi tanto com ele em tão pouco tempo, me ajudou muito com meu coreano ruim e eu tentei ao maximo ajudar ele no português.

Descemos as escadas da estação e, mesmo entre a correria da hora do rush, eu me sentia em paz. Meu coração estava leve - e havia dentro de mim uma certeza silenciosa: aquele dia seria umas das lembrança mais bonita que levaria na bagagem.

O metrô parecia respirar com dificuldade, de tão cheio. Mal havia espaço para nos movermos, estávamos espremidos entre mochilas e pessoas, tentando nos equilibrar segurando nos corrimões.

Apesar do caos, estava me acostumando à confusão. Não era tão diferente assim do trem lotado na Central do Brasil, no Rio. Era o mesmo caos em outro idioma.

O metro chegou a estação. Quando as portas se abriram, mais gente entrou empurrando, e alguém colidiu com força contra mim, me jogando para frente... direto nos braços de Jihoon.

- Ai! - exclamei em português, tentando recuperar o equilíbrio. - Desculpa! - disse, sem graça, me apoiando no braço dele.

Me virei devagar e percebi que nossos rostos estavam bem próximos. Mesmo ele sendo mais alto, inclinou o rosto na minha direção. Por um segundo, o tempo pareceu parar.

- Thessa? Você tá bem? - perguntou, preocupado.

Assenti, tentando esconder o nervosismo. Nós rimos, era como se o universo tivesse decidido nos empurrar, literalmente, um para o outro.

- Você anda se esbarrando muito em mim ultimamente - provoquei com meu humor direto e sem filtro.

- Talvez eu esteja treinando - ele respondeu com um sorriso torto.

- Treinando? - perguntei, surpresa por ele entrar na brincadeira.

- Eh ...Treinando o destino. Às vezes ele só precisa de um empurrão.

Caí na gargalhada. Nem liguei para os olhares curiosos ao redor.

- Poético demais pra um vagão de metrô, não acha?

- Não quando é pra você.

Fiquei em silêncio por um instante. O sorriso dele era gentil, mas havia algo a mais em seus olhos. Um brilho que dizia mais do que as palavras. E eu, com o coração ainda um pouco acelerado, só consegui olhar.

A estação em que eu desceria se aproximava. Me preparei para me despedir. Talvez fosse nosso primeiro e último encontro. Mas antes que as portas se abrissem, ele disse:

- Você quer sair comigo no sábado? Posso te levar num lugar que não envolve multidões nem empurrões.

Hesitei por um segundo - só pra manter o charme, algo dentro de mim dizia para não perder essa chance

- Tudo bem. Te mando uma mensagem.

- Combinado - disse ele, ainda sorrindo.

Quando a porta se fechou atrás de mim, olhei. Jihoon ainda estava com um sorriso calmo... como se aquele momento entre empurrões e multidão tivesse sido o mais leve e bonito do mundo.

Então segui o fluxo e fui indo com a multidão.

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Jihoon ⚙️

Quando descemos as escadas da estação, o lugar  parecia estar à beira de um colapso. Mas mesmo com toda a pressa, com os corpos se apertando em todas as direções, havia uma paz estranha caminhando entre nós dois. E ainda assim... eu me sentia bem. Talvez por ela estar ali, ao meu lado, algo novo de se sentir.

A metrô chegou na estação.

Gente entrando, empurrando, avançando. E foi no meio desse empurra-empurra que ela perdeu o equilíbrio e veio direto pra cima de mim, com um tranco forte.

- Ai! - ela exclamou, em português, tentando se firmar. - Desculpa! - disse, meio sem graça, se apoiando no meu braço.

Nossos rostos ficaram bem próximos. Eu me inclinei  instintivamente. E por um segundo, tudo ao redor parou. O barulho, o trem, as pessoas... tudo silenciou, como se só existisse naquele momento nós dois.

- Thessa? Você tá bem? - perguntei, tentando esconder a preocupação no meio do sorriso.

Ela assentiu, e nós dois rimos. Estávamos espremidos entre estranhos, mas parecia que o universo tinha feito de propósito - um empurrão literal do destino.

- Você anda se esbarrando muito em mim ultimamente - ela disse, com aquele olhar provocador que eu já começava a reconhecer.

Sorri, meio torto.

- Talvez eu esteja treinando.

- Treinando?

- Eh ...Treinando o destino. Às vezes ele só precisa de um empurrão.

Ela riu alto, sem se importar com quem olhava. Comecei a admirei isso nela - a liberdade de rir sem se importa com resto do mundo.

- Poético demais pra um vagão de metrô, não acha?

- Não quando é pra você.- falei, antes que pudesse me censurar. Saiu mais direto do que eu pretendia, mas não me arrependi, neste dia aprendi uma pouco mais de mim por causa dela.

Ela me olhou com aqueles olhos castanhos escuro, como se estivesse tentando decifrar algo em mim. E por um segundo, apesar da pressão de tantos corpos ao nosso redor, tudo pareceu calmo.

A estação dela chegou. Eu sabia, porque vi o olhar dela mudar - aquela prontidão silenciosa de quem vai sair. Mas antes que as portas se abrissem, tomei coragem.

- Você quer sair comigo no sábado? Posso te levar num lugar que não envolve multidões nem empurrões.

Ela hesitou. Não por dúvida, acho, mas só pra me provocar um pouco mais. Sabia jogar com o tempo.

- Tudo bem. Te mando uma mensagem

- Combinado - respondi, sentindo um calor estranho no peito.

As portas se fecharam atrás dela, e mesmo depois que ela sumiu na multidão da plataforma, eu continuei sorrindo. No meio do tumulto, no meio do caos... aquele encontro, por mais breve que fosse, tinha sido o pedaço mais tranquilo e memorável da minha semana.

Talvez ela não imaginasse, mas o empurrão mais forte daquele dia não tinha sido físico. Tinha sido no meu coração.

Capitulo 2: Me conectando a você

Jihoon ⚙️

A Sexta-feira amanheceu cinza. Seul parecia quieta demais. Até o som dos carros lá fora parecia abafado, distante, como se o mundo estivesse esperando algo — assim como eu.

A quarta-feira tinha sido um furacão. A colisão no metrô, o passeio por Hongdae, a bela estrangeira. Cada detalhe ainda ecoava dentro de mim.

E então... a despedida.

A imagem dela se afastando no metrô, sumindo atrás das portas, se repetia feito um lupem desde o momento em que cheguei em casa. Eu não consegui dormir. Nem pensar em mais nada. Só ficava repensando as cenas daquele dia, como se meu cérebro tentasse encontrar onde tudo tinha mudado ou começado.

Será que ela tinha sentido o mesmo que eu, uma conexão? Ou só eu ? Ou foi tudo fruto da minha imaginação.

Olhei pro celular inúmeras vezes. Nada.

Passei o dia todo tentando me concentra no trabalho, mas não dava, as imagens da quarta-feira ia e vinha em minha mente.

A despedida suas últimas palavras  "te mando mensagem" e nada. Seu contato ainda salvo em meu celular a uma dia, pensei varias vezes em mandar mensagem mais a coragem me abandonou, poderia ser muito ousado de minha parte.

Ja sem esperança, lá para o meio da tarde, meu celular vibrou.

Uma notificação.

👤— 🪷 Thessa 🪷

Meu coração disparou.

Era o nome dela na tela.

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📲 Thessa 🪷 - 4:00 PM

Oi! Aqui é a Thessa 😁

Nos esbarramos no metro e depois você me ajudou a conhecer Hongdae.Espero que tenha salvo seu número certo… kkkk E o Jihoon, nê?😉

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Parei de respirar por um segundo.

Era ela... Fechar os olhos por um instante e respirei fundo.

Toquei na mensagem com as mãos trêmulas. Li de novo. E de novo. Era real, a mensagem era dela.

Respondi na hora, com os dedos tremendo, com o coração batendo forte.

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📲 Jihoon ⚙️ - 4:02 PM

Oi! Sta brasileira.Salvou Sim 

😄 Que bom que você mandou mensagem.

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Fechei o laptop.

Me encostei na cadeira, olhos fixos no tela do celular e dei um sorriso quase incrédulo.

Ela não esqueceu.

Ela mandou mensagem.

Ela retornou...

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📲  Thessa 🪷 - 4:05 PM

Jihoon...me desculpe! Sei que fiquei de te enviar uma mensagem... Não sei se é tarde demais, mas será que ainda podemos nos encontrar amanhã. 😅

📲 Jihoon ⚙️ - 4:07 PM

Claro ....😁 Ainda está em tempo, se você quiser...

📲 Thessa 🪷 - 4:08 PM

Aí que alívio!!!! Que bom saber. Eu estava com receio de parecer inconveniente.

😅 Mas queria muito ver você de novo. E o meu primeiro conhecido na Coreia.

📲 Jihoon ⚙️ - 4:10 PM

Eu também...gostei muito de te conhecer ...mesmo que tenha sido naquela circunstância!! Há que horas podemos nos encontrar??

📲 Thessa 🪷 - 4:11 PM

Que tal amanhã as 10h??

📲 Jihoon ⚙️ - 4:14 PM

Que horas ?? Não entendi??

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Esperei a sua resposta, talvez tenha me confundido não consegui entender o que ela tinha escrito.

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📲 Thessa 🪷 - 4:17 PM

Eu errei o horário!!

😂 Me desculpa kkkk....pode ser às 10h da manhã...ainda respondo como  se estivesse no Brasil. 🤣🤣

📲 Jihoon ⚙️ - 4:19 PM

Tudo bem !!!Pode ser sim...Que tal nos encontrarmos na Saída da estação Anguk

📲 Thessa 🪷 - 4:20 PM

Ok!!! Nos vemos lá então

😊

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Thessa 🪷

A sexta-feira amanheceu nublada, e o céu de Seul parecia refletir exatamente como eu me sentia por dentro: meio suspensa, meio indecisa. O silêncio do meu apartamento só era quebrado pelos ruídos distantes da rua — carros passando, uma buzina ou outra, o som abafado da vida lá fora. Mas aqui dentro… tudo parecia em pausa.

Desde quarta-feira, eu não era mais a mesma.

Aquela colisão no metrô, o sorriso inesperado, o convite para andar por Hongdae… Tudo tinha acontecido rápido demais, mas deixou uma marca profunda. A forma como ele me olhava, como andava ao meu lado sem pressa, como ria com os olhos apertadinhos… foi como se eu tivesse entrado numa bolha. Uma bolha que estourou no momento em que as portas do metrô se fecharam entre nós.

E eu prometi que mandaria mensagem. Mas não mandei.

Fiquei com medo. Medo de parecer tola, de ter imaginado tudo, de ter sentido algo que talvez só existisse pra mim. Será que ele ainda estava esperando? Será que tinha ficado decepcionado?

Olhei pro celular pela milésima vez. O contato dele ainda estava salvo, ali, com o nome "⚙️ Jihoon ⚙️", como um lembrete constante do que eu não tinha tido coragem de fazer, mandar uma simples mensagem.

Respirei fundo, abri o App de mensagens, e comecei a digitar. Apaguei. Reescrevi. Apaguei de novo, levei exatamente meia hora para decidi o que escrever

E então, com o coração disparado, apertei "enviar" e quase joguei o celular longe.

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📲 Thessa 🪷 - 4:00 PM

Oi! Aqui é a Thessa

😁 Nos esbarramos no metrô e depois você me ajudou a conhecer Hongdae.Espero que tenha salvo seu número certo… kkk É o Jihoon, né? 😉

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Levantei, andei pela sala, mordi os lábios. O meu coração estava batendo rápido demais. E se ele não respondesse? E se ele nem lembrasse de mim?

Mas o celular vibrou. E quando li a resposta, o meu corpo inteiro relaxou, como se algo dentro de mim finalmente encontrasse lugar e se acalmasse.

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📲 Jihoon ⚙️ - 4:02 PM

Oi! Sta brasileira. Salvou sim

😃 Que bom que você mandou mensagem.

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Sentei de novo no sofá, abraçando a almofada contra o peito. Ele lembrou. Ele respondeu rápido. Ele estava feliz por eu ter mandado.

Mordi os lábios. Eu precisava ser honesta com ele.

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📲 Thessa 🪷 - 4:05 PM

Jihoon... me desculpa! Sei que fiquei de te enviar uma mensagem... Não sei se é tarde demais, mas será que ainda podemos nos encontrar amanhã?

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A tela piscou por um instante. Meu estômago revirou.

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📲 Jihoon ⚙️ - 4:07 PM

Claro...

😁 Ainda está em tempo, se você quiser...

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Um sorriso escapou sem que eu percebesse. Aquele alívio doce, quase infantil, tomou conta de mim. Eu queria tanto isso…

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📲 Thessa 🪷 - 4:08 PM

Aí que alívio!!!! Que bom saber. Eu estava com receio de parecer inconveniente

😅 Mas queria muito ver você de novo. E meu primeiro conhecido na Coreia

📲 Jihoon ⚙️ - 4:10 PM

Eu também... gostei muito de te conhecer... mesmo que tenha sido naquela circunstância!! A que horas podemos nos encontrar??

...----------------...

Sorri.

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📲 Thessa 🪷 - 4:11 PM

Que tal amanhã às 10h?

...----------------...

Silêncio.

Ele visualizou, mas demorou a responder. Será que escrevi algo errado?

...----------------...

📲 Jihoon ⚙️ - 4:14 PM

Que horas?? Não entendi??

...----------------...

Olhei de novo e comecei a rir sozinha. Eu tinha escrito “10h” em português. A cabeça ainda no fuso brasileiro.

...----------------...

📲 Thessa 🪷 - 4 :17 PM

Eu errei o horário!!

😂Me desculpa kkkk… pode ser às 10h  da  manhã.Ainda respondo como se estivesse no Brasil. 🤣🤣

📲 Jihoon ⚙️ - 4:19 PM

Tudo bem!!! Pode ser sim... que tal nos encontrarmos na saída da estação Anguk?

📲 Thessa 🪷 - 4:20 PM

Ok!!! Nos vemos lá então

😊

Bloqueei o celular e encostei a cabeça no encosto do sofá. Uma mistura de nervosismo e felicidade me invadiu. Amanhã… eu ia vê-lo de novo. Era real.

E, no fundo, algo me dizia que aquele encontro podia mudar tudo.

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Jihoon ⚙️

O sábado amanheceu mais claro do que a sexta. Ainda fazia frio, mas havia um brilho diferente no céu. Daqueles que anunciam recomeços silenciosos.

Acordei antes do despertador. Na verdade, nem dormi direito. Passei a madrugada revendo a conversa, as mensagens, lendo e relendo o nome dela piscando na tela:

👤 — 🪷Thessa 🪷.

Ela vinha mesmo. Às 10h AM. Estação Anguk. Eu não fazia ideia do que esperar, mas o simples fato de que ela quis me ver de novo... já era suficiente.

Fiquei um tempo deitado, encarando o teto do quarto. Depois levantei devagar, fui até o banheiro, lavei o rosto e fiquei olhando meu reflexo por longos segundos.

— Se comporta, Jihoon. — murmurei pra mim mesmo, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso torto.

Escolher uma roupa foi ridículo. Troquei três vezes de camisa, ajeitei o cabelo pra um lado e depois pro outro. No fim, optei pelo que me deixava mais à vontade: jeans escuro, um suéter verde e o casaco preto mais estruturado. Limpo, elegante, mas ainda… eu.

Passei na cozinha, fiz um café rápido. Mas não consegui beber. O estômago estava fechado, tomado por aquela ansiedade leve que não doía, só deixava tudo em suspenso.

Fui mais cedo do que precisava. Cheguei na estação Anguk meia hora antes da hora marcada. Me encostei num dos pilares, os fones no ouvido, mas não escutava nada. Meus olhos estavam fixos nas escadas.

E então… vi ela.

Subindo com calma, mexendo no celular, o cabelo solto balançando com o vento que vinha do lado de fora. Um casaco branco , blusa de gola alta, as bochechas levemente coradas pelo frio.

Thessa.

Ela levantou os olhos, me viu… e sorriu.

E naquele instante, tudo dentro de mim se aquietou.

— Oi — ela disse, se aproximando. A voz dela ao vivo soava ainda melhor que as mensagens.

— Você veio — respondi, sorrindo mais do que deveria.

— Eu prometi, né? — E aquele olhar… como se tudo estivesse exatamente no lugar certo.

— Espero que você esteja pronta pra caminhar bastante - eu disse.

Estiquei a mão num gesto instintivo, mas hesitante. Ela pegou com delicadeza, como se fosse a coisa mais natural.

Caminhamos lado a lado, em silêncio por alguns passos.

O passeio começou entre ruazinhas estreitas, cercadas por casas hanok com telhados curvos e detalhes em madeira escura. Thessa parava a cada esquina para tirar fotos ou simplesmente observar as pequenas coisas: uma senhora varrendo a calçada com vassoura de palha, gatos de rua cochilando ao sol, crianças correndo com mochilas maiores que elas, tudo pra ela parecia encantador, e seu rosto transparecia isso.

- Isso aqui parece um filme - ela murmurou feliz.

-E você está dentro dele - respondi.

- Ei ! Isso foi uma cantada Senhor Coreano Certinho?- me perguntou no tom brincalhão.

—Se funcionar, sim... mas falando serio, sabe o que gosto desse lugar? —  perguntei, enquanto caminhávamos. — Aqui o tempo desacelera. Parece que o mundo tira o pé do acelerador só por um momento.

— Acho que é por isso que eu precisava vir aqui hoje — ela respondeu, apertando minha mão. — Estava precisando respirar devagar.

Ambos rimos. Era fácil lidar com ela, nossas conversas são sinceras, cheias de brincadeiras, com ela sinto que sou eu mesmo, sem disface.

Paramos em uma cafeteria escondida entre as casas antigas. Lá dentro, paredes de papel de arroz e mesas baixas criavam um clima acolhedor. Eu pedi dois chás de yuja e bolinhos de arroz recheados com pasta doce de feijão. Thessa, curiosa, provou tudo com olhos brilhando e as vezes com careta, ela é linda com suas expressões tão clara seu rosto e um livro aberto de emoções.

- Isso é muito melhor do que eu imaginava. E olha que não sou tão fã de comidas exoticas, hein.

— No seu país não tem nenhuma comida exotica ?— perguntei curioso

— Tem bastante,mas acho que a feijoada você iria gosta.

- Você não gosta?- perguntei meio surpreso com a reação dela.

Ela fez uma pausa dramática e riu alto.

— Sinceramente não gosto, mas é uma relação complicada. É tipo aquele parente que você nao gosta, mas esta lá nos almoços de domingo. Tem dias que cai como um abraço... em outros, só pesa.

A conversa fluiu fácil. Falamos de tudo um pouco: sonhos adiados, medos, nossas adolescências, sobre colegio, decepções, do que significa morar longe de casa. Contei a ela que queria ser design grafico, mas acabei me formando em Engenharia Civil por ser "mais seguro". Thessa confidenciou que às vezes se sentia perdida - como se estivesse esperando demais do mundo, me contou sua trágica historia familiar e de tudo que tinha passado quando se mudou de uma estado para outro no Brasil.

Quando saímos da cafeteria, já anoitecia.

Andamos ate chegar a um parque mais afastado, quase escondido entre ruas menos iluminadas.

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Thessa 🪷

Finalmente chegou o sábado.

Não aguentava mais esperar, estava muito ansiosa, na expectativa de encontrar o Jihoon mais uma vez.

Ele me esperaria na estação de Anguk, às 10.

O metrô parecia se mover mais devagar naquele dia. Cada estação parecia durar mais tempo do que deveria. Quando finalmente ouvi o anúncio: “ 안국 역 임니다. This stop is Anguk.” ( Estação de Anguk. Esta parada e Anguk.)… senti as mãos suarem.

Subi as escadas com passos rápidos, o frio cortando meu rosto, e o coração se agitando ainda mais quando o vi.

Jihoon estava de pé, encostado numa das colunas da saída 2. Casaco preto, calça escura e os cabelos bagunçados. Os olhos dele me encontraram como se estivessem me esperando há muito mais tempo do que eu podia imaginar.

— Você veio … — ele disse, com um sorriso que era abrigo.

— Eu prometi, né

Ele estendeu a mão, e eu a segurei sem hesitar. A pele dele estava quente, mesmo sob o frio de quase zero grau.

Caminhamos até Bukchon Hanok Village. As ruelas estreitas pareciam saídas de um livro antigo. O som abafado dos nossos passos nas pedras, o cheiro distante de tteokbokki vindo de alguma barraquinha, os muros baixos revelando telhados curvos que se erguiam contra o céu pálido… Tudo parecia parte de um cenário montado só para nós. A cada cena, a cada passo eu registrava para posteridade...a senhora varrendo, o gato dormindo preguiçoso e as crianças correndo... Era como esta num filme.

— Isso aqui parece um filme — ela murmurou feliz.

—E você está dentro dele — respondi.

- Ei ! Isso foi uma cantada Senhor Coreano certinho?- me perguntou no tom brincalhão.

— Se funcionar, sim... mas falando sério, sabe o que gosto desse lugar? — Jihoon perguntou, enquanto caminhávamos lado a lado, devagar. — Aqui o tempo desacelera. Parece que o mundo tira o pé do acelerador só por um momento.

— Acho que é por isso que eu precisava vir aqui hoje — respondi, apertando um pouco mais sua mão. — Estava precisando respirar devagar.

Ambos rimos. Era tão fácil, provocá-lo com minhas piadas sem graça, ele receptivo entrava na brincadeira.

Paramos numa cafeteria escondida entre casas antigas, como se o tempo tivesse esquecido aquele cantinho. O frio ainda mordia, mas lá dentro tudo era calor: as paredes de papel de arroz filtravam a luz suave, as mesas baixinhas convidavam a sentar perto... quase dava pra esquecer o mundo lá fora.

Jihoon pediu dois chás de yuja — o aroma cítrico me abraçou assim que a xícara chegou — e bolinhos de arroz recheados com pasta doce de feijão. Quando dei a primeira mordida, confesso que estranhei. Fiz uma careta, e ele riu. Eu sabia. Sabia que ele estava prestando atenção em cada reação minha. E eu... bem, eu não conseguia esconder nada. Meu rosto sempre entrega tudo.

— Isso é muito melhor do que eu imaginava. E olha que não sou tão fã de comidas exóticas, hein — comentei, tentando parecer menos encantada do que estava. Mas ele percebeu.

— No seu país não tem nenhuma comida exótica? — ele perguntou, inclinando a cabeça com aquele olhar curioso.

Sorri de lado.

— Tem bastante,mas acho que a feijoada você iria gosta.

Ele franziu levemente a testa, interessado.

— Você não gosta?

Soltei uma risadinha antes de responder.

— Sinceramente não gosto, mas é uma relação complicada. É tipo aquele parente que você não gosta, mas esta la nos almoços de domingo. Tem dias que cai como um abraço... em outros, só pesa.

Jihoon riu alto, e eu me peguei desejando que aquele momento durasse mais. Que o chá nunca acabasse. Que ele continuasse me olhando assim, como se eu fosse o lugar favorito dele no mundo.

Senti Jihoon me observando, como se tentasse gravar cada expressão minha, cada pequeno gesto.

— Você tem esse jeito… — ele disse, de repente. — De fazer tudo parecer mais bonito e leve  do que é.

— E você tem esse jeito de me fazer acreditar que talvez eu fosse assim.

Houve silêncio entre nós, mas era um silêncio confortável. Como uma pausa entre duas notas de uma música calma.

Depois de andarmos por mais algumas vielas, encontramos parque com um banco de madeira.

Me sentei. Jihoon se sentou ao meu lado. Não dissemos nada por um tempo.

Mas então ele falou, baixinho, quase como uma confissão:

— Queria muito te encontrar outra vez.

Virei o rosto para ele. Seus olhos estavam brilhantes, mas serios.

— E eu tive medo de você  não lembrar de mim — respondi.

Ele se inclinou devagar e encostou a testa na minha. Senti o calor da respiração dele se misturar à minha.

— Mas você está aqui. E eu estou aqui. Isso já é o suficiente por hoje.

Fechei os olhos. O frio ainda estava ali, mas o calor entre nós era mais forte. Naquela dia em Bukchon, entre telhados antigos e memórias novas, algo renasceu.

E eu soube, no fundo do peito, que nossos caminhos — por mais tortos que tivessem sido — ainda queriam seguir juntos.

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