capítulo 5

O fim de semana passou como um borrão de silêncios e lembranças. O corpo de Lorena ainda carregava as marcas daquela noite no escritório: os arranhões nos ombros, os beijos no pescoço, o sabor dele preso entre os lábios. Mas o que mais doía não era o prazer. Era o que vinha depois.

A culpa. A confusão. E aquele medo familiar de confiar demais.

Na segunda-feira, ela chegou mais cedo ao trabalho. Queria estar sozinha. Mas ao abrir a porta da própria sala, encontrou um envelope sobre sua mesa.

Nenhuma assinatura. Nenhuma palavra.

Apenas uma foto.

Ela congelou.

Era antiga, mas inconfundível: ela, ainda estudante de direito, deitada sobre um corpo ensanguentado. O rosto jovem, desesperado, sujo de sangue.

A cena que passou anos tentando esquecer.

O que fazia aquela foto ali?

Seu coração disparou. Ela trancou a porta da sala, as mãos tremendo. Sabia exatamente o que era aquilo: alguém a estava ameaçando. Alguém sabia o que ela tinha feito — ou deixado de fazer — naquela noite, anos atrás, quando seu ex-namorado foi encontrado morto, e ela jurou que jamais contaria a verdade.

O celular vibrou. Uma mensagem anônima apareceu:

“Você não é tão limpa quanto finge ser, doutora.”

Ela sentiu o estômago revirar. Quem estava por trás daquilo?

— Está pálida. — A voz de Caio a tirou do transe. Ele estava parado à porta, observando-a com olhos atentos. — Aconteceu alguma coisa?

Ela tentou esconder a foto, mas ele já havia visto.

— Lorena… — ele entrou, fechando a porta atrás de si. — O que é isso?

— Não é da sua conta — ela respondeu, firme, guardando o envelope.

— Agora é. Você se meteu comigo, lembra?

— E você se meteu comigo sem saber quem eu sou.

— Então me diz — ele se aproximou — quem é você de verdade?

Ela hesitou. Pela primeira vez, o escudo dela parecia trincado. E pela primeira vez, ela quis que alguém soubesse… mesmo que fosse ele.

— Há seis anos, eu estava em um relacionamento abusivo — começou, a voz baixa. — Ele me controlava, me humilhava. E numa noite, ele passou dos limites. Eu me defendi… e quando percebi, ele estava no chão. Sangrando.

— Você o matou?

— Não. — Ela o encarou. — Mas não chamei ajuda. Não impedi que morresse.

Caio respirou fundo. Não havia julgamento em seu olhar. Apenas algo que ela não esperava: compreensão.

— Às vezes, a justiça não cabe nas mãos da lei — ele disse. — E às vezes, os monstros merecem cair.

Ela se aproximou devagar, os olhos nos dele.

— Você vai usar isso contra mim?

— Não. Mas agora estamos quites.

Ela sorriu de leve, quase com dor.

— Isso não nos torna bons, Caio.

— Não. Nos torna perigosos.

Ele a puxou pela cintura, beijando-a de novo. Mas dessa vez, o beijo não era só desejo — era alívio, cumplicidade, raiva contida. Dois corpos marcados por passado e culpa. Dois corações quebrados demais para amar do jeito certo… mas incapazes de parar de se procurar.

E enquanto se entregavam ali, sobre a mesa novamente, algo ficou claro para os dois:

Eles não eram salvação um do outro.

Eram perdição.

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