O ar na sala circular era denso, quase palpável, carregado com a brutalidade fria das palavras de Joe. "Agora você pertence a mim." A frase ecoou na mente de Anastacia, um martelo batendo em sua têmpora, enquanto a realidade de seu cativeiro a atingia com força esmagadora, roubando-lhe o fôlego. Ela cambaleou, o chão sob seus pés parecendo se mover, como um convés em mar revolto, mas antes que pudesse cair, uma mão firme e inabalável a agarrou pelo braço. Não era um gesto de apoio ou consolo, mas de posse, um aperto que confirmava a verdade mais aterrorizante: ela não era mais livre. Os guardas, antes meras estátuas imóveis em pontos estratégicos, agora pareciam se fechar, formando um círculo de olhos inexpressivos que selavam seu destino de forma irremediável.
O terror gelado rastejava por sua espinha, subindo por sua nuca e apertando seu coração em um vice cruel. O pânico ameaçava consumir sua razão, seus pulmões lutando por ar que parecia rarefeito naquele ambiente fechado e opressor. Cada batida de seu coração ressoava em seus ouvidos como um tambor de guerra distante. Mas em meio à vertigem e ao medo paralisante, um pequeno lampejo de sua assertividade indomável piscou, uma chama teimosa que se recusava a ser extinta. Ela não se dobraria. Não ainda. Ela não seria apenas uma vítima passiva em seu próprio sequestro. "Você está enganado", ela conseguiu balbuciar, sua voz tremendo ligeiramente, mas com uma faísca de desafio que mal se continha. "Eu não pertenço a ninguém. Muito menos a um… criminoso!" A última palavra saiu com uma fúria contida, quase um cuspe verbal em sua face, um ato de rebeldia que a faria pagar.
O sorriso quase imperceptível de Joe se alargou, tornando-se algo mais perigoso, quase cruel, como a satisfação de um predador que encurralou sua presa. "Ah, Anastacia", ele disse, sua voz um murmúrio gélido que arrepiou os pelos de seus braços, "você ainda não entendeu as regras do jogo. Este não é um debate." Ele a soltou, apenas para deslizar a mão por seu braço, um toque leve que era, ao mesmo tempo, possessivo e ameaçador, uma carícia de aprisionamento. "Você pode resistir, pode gritar até a rouquidão, pode chorar até secar as lágrimas. Ninguém vai ouvi-la aqui." Seus olhos, escuros como a noite mais profunda de Istambul, fixaram-se nos dela com uma intensidade que parecia despir sua alma, expondo-a em sua vulnerabilidade, mas também em sua força interior. "Mas no final, Anastacia, você fará exatamente o que eu digo."
Anastacia tentou dar um tapa nele, um reflexo instintivo de fúria e repulsa que explodiu de seu peito, mas Joe, com uma agilidade surpreendente e quase sobrenatural, interceptou seu pulso no ar, antes que a mão dela pudesse sequer arranhar sua pele, quanto mais atingir seu rosto. Ele a segurou firmemente, sem machucá-la, mas a força em seu aperto era inegável, esmagadora. "Eu adoraria ver você tentar, querida", ele sussurrou, a voz carregada de um desafio velado, quase um convite perigoso. "Mas a violência é um jogo que você não vai querer jogar comigo. Você perderia." Ele a soltou, e Anastacia sentiu a palma da mão dele roçar levemente a sua, um toque que, apesar da ameaça explícita, enviou um arrepio estranho e quase elétrico por seu braço, uma contradição de sensações que a deixou confusa. Aquele homem não era apenas poderoso; ele era um estrategista, um manipulador mestre, um mestre em desestabilizá-la, em quebrar sua resistência.
Ela recuou mais um passo, os olhos faiscando com a raiva e a frustração. Sua mente, apesar do choque inicial e do medo que ainda a assombrava, começou a trabalhar febrilmente, buscando uma saída, uma falha na fortaleza. Ele esperava um colapso, lágrimas, súplicas desesperadas. Ela não daria a ele a satisfação de vê-la assim. Olhou ao redor da sala, procurando pontos fracos, saídas, qualquer coisa que pudesse dar uma vantagem, por menor que fosse. As telas nas paredes mostravam imagens de mapas digitais, gráficos complexos e fluxos de dados que ela não compreendia de imediato, mas que confirmavam a vastidão e a sofisticação do império dele. Esta não era uma operação amadora; era uma rede intrincada e bem-sucedida de poder.
Joe, percebendo a mudança em seu olhar – de pânico cego para uma análise fria e calculista –, umedeceu os lábios finos, como se apreciasse a mudança inesperada. "Vejo que está pensando", ele comentou, um tom de aprovação quase perigoso em sua voz, como um professor avaliando um aluno promissor. "Bom. Você vai precisar de toda a sua inteligência aqui, Anastacia. Acredite em mim." Ele se virou, caminhando lentamente pela sala, seus passos calmos e confiantes, como um leão em seu covil, o rei de seu domínio. "Vamos deixar as emoções de lado por enquanto, Anastacia. Precisamos estabelecer algumas... diretrizes. Para que sua estadia aqui seja... menos desagradável."
Ele começou a ditar as "regras" de seu cativeiro, a voz monótona e sem emoção, como se estivesse lendo um contrato. Ela teria um quarto luxuoso, todas as suas necessidades atendidas, do alimento às roupas, mas a liberdade seria uma ilusão cruel. Sua comunicação com o mundo exterior seria inexistente, cortada de todos os contatos. Sua locomoção estritamente restrita aos limites daquela mansão labiríntica, um labirinto sem saída. Ele a informou que sua família e amigos receberiam mensagens tranquilizadoras, garantindo que ela estava "bem" e "em viagem" para algum lugar distante, uma desculpa elaborada. "Ninguém sentirá sua falta por muito tempo", ele disse, seus olhos encontrando os dela, transmitindo uma possessividade perturbadora, quase animal. "Ou se sentirem, não saberão onde procurar. Esta mansão é uma fortaleza, invisível ao mundo lá fora."
Anastacia ouvia cada palavra, processando a informação com uma frieza que a surpreendia em sua própria capacidade de compartimentalizar o terror. A raiva se misturava ao terror, ao medo de ser esquecida, de ser apagada, mas a determinação começava a ganhar terreno, crescendo como uma semente de esperança em solo árido. Ele era o mestre da distração, sim, tentando desorientá-la com o choque e a imposição de suas regras absurdas. Mas ela não cederia. Enquanto ele falava sobre os detalhes de sua "nova vida", uma vida que não era dela, ela o estudava com a intensidade que ele havia usado nela. A forma como seus olhos se moviam quando ele fazia uma pausa, a leve inclinação de sua cabeça quando ele considerava uma frase, os músculos tensos de seu maxilar. Ele a via não como um ser humano com vontades, com sonhos e uma vida própria, mas como uma peça em seu tabuleiro de xadrez pessoal, um objeto a ser controlado. E peças, ela sabia, podiam ser movidas, podiam ser sacrificadas, ou, se fossem inteligentes o suficiente, podiam até mesmo virar o jogo contra o próprio mestre.
Ela permitiu que um silêncio pesado e tenso preenchesse a sala quando ele terminou sua explanação. Quando Joe esperava uma resposta, um sinal de submissão, um desespero, ou talvez até lágrimas, Anastacia fez algo inesperado, algo que o pegou de surpresa. Ela caminhou, com passos firmes, até uma das telas embutidas na parede e tocou a superfície fria e lisa com a ponta dos dedo, seus dedos pairando sobre um dos gráficos que exibiam números e símbolos estranhos. "Isso é um fluxo de capital de alguma operação?", ela perguntou, a voz calma, quase acadêmica, desviando completamente do foco da conversa, ignorando a declaração de seu cativeiro. "Os padrões parecem indicar uma lavagem de dinheiro sofisticada, mas há uma anomalia aqui, um pico que não se encaixa no perfil operacional usual. Parece... um desvio incomum."
Joe a observou, surpreso, seu rosto exibindo uma rara expressão de genuína perplexidade. Seu plano de desestabilização havia sido momentaneamente desviado por sua prisioneira. A tática de Anastacia era ousada, um movimento inesperado: em vez de reagir com desespero, ela usou sua inteligência aguçada para se focar em algo que ele valorizava, que estava dentro de seu domínio, mostrando que ela era mais do que uma vítima, mais do que uma mera distração. Ele se aproximou, uma sobrancelha elegantemente arqueada, o interesse substituindo a surpresa. "Interessante", ele murmurou. Aquele era um jogo interessante, um que ele não esperava. Ele era o mestre da distração, mas ela acabara de virar o roteiro, usando a distração como uma arma, uma forma sutil, mas poderosa, de afirmar que, mesmo em cativeiro, sua mente permanecia livre, e ela não seria tão fácil de quebrar. A verdadeira batalha estava apenas começando, e Joe sentiu um misto de frustração e um perigoso fascínio pela mulher em suas garras.
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Atualizado até capítulo 100
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