Capítulo 2

O helicóptero, um modelo sofisticado e silencioso, aguardava. Ele subiu sozinho, o barulho das pás cortando o ar enquanto a máquina elevava-se sobre a selva de pedra. A cidade, com seus arranha-céus e trânsito caótico, encolheu-se rapidamente sob seus pés, tornando-se um mero borrão à medida que o helicóptero ganhava altitude.

A viagem foi longa, mas Leônidas não se importou. Sua mente estava imersa em cálculos e estratégias, ignorando a vastidão azul do oceano abaixo. Não havia interesse em paisagens paradisíacas ou na promessa de águas cristalinas. A ilha era apenas um ponto no mapa, um local de negócios. Ele não tinha a menor intenção de se demorar, de se misturar com os organizadores do reality show ou de se permitir qualquer tipo de relaxamento.

Sua presença ali era estritamente profissional, uma aparição breve para selar o acordo e garantir que a máquina de publicidade da "Prime Boi" funcionasse a todo vapor. Leônidas estava ali para trabalhar, para ver seu império crescer, e nada mais. A ilha, com toda a sua beleza natural, era apenas mais um palco para a demonstração de seu poder e influência.

O plano de Leônidas de uma visita rápida e puramente profissional desmoronou junto com o céu. Pouco depois de sua chegada à ilha, uma tempestade tropical avassaladora desabou com fúria. Raios rasgavam o céu, o vento uivava como um animal ferido e a chuva caía em cortinas impenetráveis. Em poucas horas, as antenas de comunicação caíram, silenciando telefones e cortando qualquer acesso à internet, isolando quase completamente a ilha do mundo exterior. Casas simples foram destruídas, e uma parte significativa do resort, incluindo alguns dos luxuosos bangalôs à beira-mar, foi severamente danificada.

Leônidas, acostumado a ter controle absoluto sobre cada aspecto de sua vida, viu-se preso. Contrariado, e fervendo de impaciência, ele foi forçado a passar a noite no resort, ouvindo a fúria do temporal lá fora, enquanto sua mente trabalhava incansavelmente para reestabelecer a comunicação. O sono veio a contragosto, leve e perturbado.

Ao amanhecer, a chuva havia diminuído para uma garoa fina e o vento se acalmara. A ilha, no entanto, parecia ter sido virada de cabeça para baixo. Árvores caídas, destroços espalhados e a paisagem antes paradisíaca agora marcada pela força da natureza. Leônidas, com a frustração borbulhando, decidiu que não podia ficar parado esperando. Precisava de respostas sobre pendências, precisava de uma maneira de sair dali.

Sem o helicóptero, que estava impossibilitado de voar, e sem a comunicação, a única opção era explorar a ilha a pé. Com o terno impecável e os sapatos sociais totalmente inadequados para a lama e os escombros, Leônidas iniciou sua caminhada pela pequena cidade costeira que servia de base para o resort.

Enquanto caminhava, a realidade da situação o forçou a uma decisão inusitada. Sujo de lama e com a roupa amarrotada, ele entrou na única lojinha aberta, uma que vendia suvenires e roupas de praia. Com um suspiro de resignação, ou talvez um lampejo de ironia em seus olhos amargos, Leônidas comprou o que precisava para se adaptar.

Ele emergiu da loja irreconhecível. Vestia uma bermuda florida com padrões tropicais extravagantes, uma camiseta amarela berrante com a frase "Eu Amo Surfar" estampada em letras azuis-claras, um boné igualmente exótico e óculos de sol espelhados que escondiam seu olhar severo. Nos pés, chinelos de borracha substituíam seus sapatos de couro lustroso.

A cena era quase cômica. Há pelo menos vinte anos, desde os tempos de faculdade, Leônidas não se vestia com tamanha informalidade, muito menos com algo tão… descompromissado. A roupa não se encaixava nele, parecia um disfarce, mas era o único jeito de continuar sua busca por uma saída daquele paraíso (agora nem tanto) isolado. Cada peça de roupa era um lembrete do quão fora de seu elemento ele estava, um desconforto que, de alguma forma, parecia intensificar sua determinação.

Ele retornou ao resort para guardar suas coisas, tirou informações e foi andar.

Leônidas, com sua nova e estranha vibe de turista, prosseguiu seu caminho pela ilha castigada. A praia, antes um cartão-postal, agora exibia a fúria da tempestade: coqueiros inclinados, areia espalhada em montes irregulares, e detritos arrastados pela maré. Avistou um quiosque de praia, ou o que restava dele, e sentiu uma pontada de sede. Decidiu arriscar.

Aproximou-se, notando o estrago. O telhado de palha estava parcialmente desabado, expondo o interior do pequeno estabelecimento, que parecia ter sido atingido por uma bomba de lama e folhas. Uma mulher n.egra, de cabelos cacheados e despenteados, suja de terra e com uma expressão de cansaço e frustração, lutava para mover uma tábua pesada.

— Com licença, moça. Você poderia me vender uma água de coco, por favor? — Leônidas perguntou, com sua voz habitualmente grave e imponente, que, naquele contexto, soou quase inoportuna.

A mulher parou bruscamente o que estava fazendo, ergueu a cabeça e fixou nele um par de olhos irritados. Ela o avaliou de cima a baixo, da bermuda florida aos chinelos, com um ar que beirava o desprezo.

— Água de coco? Sério, moço? — Ela retrucou, com a voz embargada pela raiva contida e pelo cansaço.

— Você não está vendo o estrago? O telhado caiu! Tá tudo sujo, cheio de lama, e você vem me pedir água de coco como se eu fosse um robô?

— Uma máquina de vendas?

Leônidas, acostumado a ser prontamente atendido, sentiu um lampejo de irritação.

— Eu só perguntei se estava atendendo. Não há necessidade de ser rude. — Ele tentou manter a compostura, mas sua voz denotava um tom de comando.

A mulher largou um martelo com um baque seco, foi batendo as mãos na bermuda suja.

— Rude? Rude é você, que chega aqui depois de uma tempestade dessas, com essa roupa de quem acabou de sair de um comercial de cerveja, e não percebe a situação!

— Não estou atendendo! Não estou limpando porque eu quero, estou limpando porque se eu não fizer, perco o pouco que tenho!

— O freezer tá cheio e já era. Tô cheia de coisas pra fazer.

Leônidas ficou em silêncio por um instante, processando a explosão. Nunca ninguém havia falado com ele daquela forma, especialmente uma funcionária de um estabelecimento qualquer. Ele, o magnata, o homem que movia montanhas, estava sendo tratado com desprezo por uma vendedora de água de coco.

— Olha, eu… — Leônidas começou, um pouco sem saber o que dizer.

— Não tem "olha, eu"! — Ela o interrompeu, apontando para o interior do quiosque com um gesto amplo e irritado.

— Vê isso aqui? Isso era o meu sustento! E agora? Agora é entulho! Então, por favor, vá procurar sua água de coco em outro lugar, porque aqui, o máximo que você vai encontrar é sujeira e uma mulher que está prestes a explodir!

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Comments

Fafa

Fafa

😂😂😂😂😂😂😂😂
Fico só imaginando a imagem dele vestindo desse jeito kkkkkkkkkk

2025-07-11

4

Fafa

Fafa

Realmente, não tem outro jeito a não ser ficar quieto

2025-07-11

1

Fafa

Fafa

O mundo da voltas meu carro, e as coisas estão do avesso

2025-07-11

1

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