Dafine se virou, retomando a luta com a tábua, com os ombros tensos e a frustração intensa no ar. Leônidas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se completamente desarmado. A sede ainda estava lá, mas a vergonha inesperada e a crueza da realidade o atingiram com força. Ele deu um passo para trás, a bermuda florida e a camiseta chamativa, parecendo ainda mais ridículas em contraste com a cena de devastação e a indignação genuína daquela mulher tão linda. Sem mais uma palavra, ele se virou e se afastou do quiosque, deixando a mulher para trás em sua batalha contra os estragos da tempestade.
Leônidas se afastou do quiosque, com a imagem da mulher irritada e a sensação de ter sido repreendido ainda frescas em sua mente. Encontrou um tronco caído na areia, a poucos metros de distância, e sentou-se. O sol, que começava a aparecer entre as nuvens dispersas, revelava ainda mais a extensão da destruição.
De onde estava, ele a observava. Apesar do cansaço e da sujeira, havia uma beleza selvagem naquela mulher, uma força bruta que o intrigava. Ela não era uma jovem e nem deslumbrante como suas ex-esposas, mas uma mulher mais madura, talvez nos seus trinta e poucos anos, com um corpo curvilíneo realçado pelo short jeans curto e a camiseta simples. O cabelo castanho escuro estava completamente bagunçado, com alguns fios teimosos grudados no rosto suado, mas isso apenas adicionava um charme autêntico à sua aparência.
Ela se movia com uma energia quase furiosa, chutando um pedaço de madeira do quiosque e murmurando palavrões. Era evidente que a tempestade havia levado não apenas parte de seu negócio, mas também uma boa dose de sua paciência.
Leônidas, acostumado a decifrar mentes e comportamentos em reuniões de conselho, tentava entender aquela mulher. A raiva genuína, a resiliência em meio ao caos… algo nela o impedia de simplesmente ir embora. A sede, que ainda o incomodava, tornou-se secundária. Uma curiosidade inusitada o dominou.
Com um suspiro, Leônidas se levantou do tronco, novamente com a roupa de "turista" parecendo um uniforme de disfarce, e caminhou de volta em direção ao quiosque. A mulher estava agora tentando desenterrar algo da areia, com as mãos sujas e os dentes cerrados em frustração.
— Moça… — Leônidas tentou, com uma voz mais suave desta vez, quase um murmúrio.
— Eu sei que não está atendendo, mas… você se importaria de me dar uma água? Eu… eu posso pegar, se você disser onde está.
Ela parou, com o corpo tenso, e se virou lentamente, com os olhos escuros cintilando com uma irritação renovada, quase como se ele fosse um mosquito persistente. Ela apontou com o dedo sujo para um tambor azul de plástico, meio enterrado na areia, a poucos metros dela.
— É só pegar, moço! — Ela disse, com a voz áspera e carregada de impaciência.
— Ou vai desidratar morrer seco.
— Por acaso é cego? Não está vendo que eu tô ocupada aqui?
Leônidas piscou, um pouco atônito com a franqueza. Nunca em sua vida alguém havia perguntado se ele era cego. Era uma pergunta absurda, mas, naquele contexto de caos e desespero, soava menos como uma ofensa e mais como um desabafo.
Ele desviou o olhar para o tambor, depois para ela, que já havia voltado à sua tarefa de desenterrar sabe-se lá o quê. Sem dizer mais nada, ele se aproximou do tambor, pegou uma garrafa de água mineral, a última que havia lá dentro, em meio a cervejas, refrigerantes.
Agradeceu com um aceno de cabeça, mas a mulher já estava novamente imersa em sua batalha contra os estragos da tempestade, ignorando-o completamente. Leônidas bebeu toda a água, sentindo o frescor do líquido, mas também a estranha sensação de ter sido completamente despojado de sua autoridade e status.
Com a garrafa vazia em sua mão, um novo dilema se apresentou. Em sua pressa para o que seria uma breve visita de negócios, ele não havia sequer pensado em levar dinheiro vivo, e a máquina de cartão, obviamente, não funcionaria sem energia ou internet. Ele, o magnata que movimentava milhões, estava sem um centavo no bolso. Olhou para a mulher, que agora tentava içar uma lona pesada sobre o buraco no telhado, xingando em voz baixa.
Com um suspiro, Leônidas se aproximou novamente.
— Moça… — ele começou, com a voz um pouco mais hesitante.
— Eu… eu não tenho dinheiro aqui comigo, e a máquina de cartão… bem, você sabe. O pix não está passando.
Dafine parou, com a lona quase escorregando de suas mãos, e o encarou novamente, com os olhos estreitados.
— E eu com isso, moço? Não trabalho de graça. Primeiro toma a água, depois diz que não tem como pagar, aí aí.
— Não, claro que não. — Leônidas tentou se explicar.
— Eu gostaria de pagar pela água. Mas como não tenho dinheiro, e as comunicações estão fora… Eu poderia te ajudar com os reparos.
— Em troca da água. Parece que está com dificuldades.
Ela o estudou por um momento, com as sobrancelhas arqueadas em ceticismo, o cansaço visível em cada linha de seu rosto. Ele, com aquela roupa ridícula e o jeito de quem nunca havia pegado em um martelo na vida, oferecendo ajuda. A cena era quase hilária, mas ela estava desesperada.
— Ajudar? Você? — Ela riu, um som irônico.
— Ok, moço do comercial de cervejas, me ajude. O telhado quebrou e preciso pregar umas tábuas ali em cima antes que a próxima chuva molhe tudo de novo. A escada está ali.
Leônidas sentiu uma pontada de orgulho ferido pela forma como ela o chamou, mas ignorou. A escada de madeira, velha e instável, estava encostada na parte lateral do quiosque. Ele a posicionou com certa dificuldade, foi subindo degrau por degrau, sentindo o olhar da mulher sobre ele. O martelo era pesado e pouco familiar em suas mãos acostumadas a canetas e contratos.
Ele encontrou uma tábua solta e, com uma concentração quase cômica para alguém tão poderoso, ergueu o martelo. Mirou o prego e… PAH! Em vez da madeira, o martelo acertou em cheio o seu próprio dedo.
Um grito abafado escapou de Leônidas, um som inesperado. Ele soltou o martelo, que caiu fazendo barulho, e levou a mão ferida à boca, se mexendo com dor, de repente perdeu o equilíbrio. Com um berro, ele despencou na areia, com a bermuda florida subindo e revelando suas pernas pálidas.
Dafine, que o observava, explodiu em uma gargalhada alta e descontrolada. Ela ria tanto que teve que se apoiar no quiosque, com a barriga doendo, as lágrimas escorrendo pelo rosto sujo.
— Ai meu Deus! — ela conseguiu dizer entre as risadas.
— Eu não acredito! Que desastre!
— Machucou?
A risada dela se intensificou, misturada com um som de exasperação. Ela se recompôs um pouco, secando as lágrimas.
— Tá vendo? Eu sabia que você não era do tipo que pegava no pesado! Vem cá, deixa eu ver essa mão.
— Tudo bem?
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Fafa
Tem alguém que se interessou por um grande desafio 🤭🤭🤭🤭
2025-07-11
3
Fafa
Poderia ter ajudado ela, coitada!
2025-07-11
1
Fafa
Naquele momento em que tudo estava praticamente destruído, quem iria se preocupar de quem ele era ou o que queria. Queriam apenas salvar o que ainda restava e reconstruir o que o tempestade destruiu. O grande magnata era um homem comum como qualquer outro
2025-07-12
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