O Julgamento dos Invasores e a Sabedoria da Xamã

A brisa úmida da floresta acariciava a pele de Maya enquanto ela caminhava ao lado de Volkar. Ele ainda trajava a veste de camuflagem tribal, mas seu porte altivo e a energia vibrante que emanava de seu corpo tornavam impossível disfarçar sua origem estelar. Dois dos seus guerreiros vinham logo atrás, silenciosos, atentos, quase etéreos.

— Meu avô vai querer saber tudo — murmurou Maya, lançando um olhar de lado. — Principalmente sobre os homens que capturamos.

— Eu responderei com a verdade — disse Volkar, com voz grave, porém respeitosa. — E deixarei que ele decida. Este é o mundo de vocês.

Quando adentraram a clareira principal da aldeia, os tambores já haviam silenciado. Um círculo se formava ao redor da fogueira central. No centro, os oito invasores estavam ajoelhados, com os pulsos amarrados por cipós encantados, sustentados por pequenos cristais da floresta. Seus rostos expressavam confusão, medo e, em alguns, ainda uma arrogância que se desfazia com o tempo.

A xamã, uma anciã de olhos de âmbar e pele marcada pela sabedoria dos séculos, mantinha-se em pé, apoiado em seu bastão de madeira sagrada. Seu semblante era solene. Quando viu Maya, esboçou um leve sorriso, mas seus olhos se estreitaram ao encontrar Volkar.

— Vejo que os antigos retornaram — disse o velho com voz firme, mas sem hostilidade. — Seja bem-vindo, guerreiro de Zyron.

Volkar inclinou-se em reverência.

— Honra estar diante do guardião desta tribo.

— Esses homens — continuou a xamã, apontando com o cajado — profanaram o coração da Terra. Quebraram os selos da caverna e arrancaram os cristais com violência. Não sabiam o que faziam, e mesmo assim o fizeram.

Um silêncio reverente caiu sobre os presentes. Maya se aproximou do avô e falou com calma:

— O Guardião da Caverna foi ferido. Os cristais extraídos se esvaziaram. Apenas os que devolvemos à Mãe Terra mostraram força.

— Eu vi — murmurou a velha. — A luz subiu ao céu. A árvore cantou em silêncio.

Ele fitou Volkar com intensidade.

— E o que busca aqui, guerreiro das estrelas?

Volkar hesitou por um momento, então respondeu com verdade:

— Busco cristais puros para restaurar a energia vital da minha nave. Mas mais do que isso... busco sabedoria. Vi coisas hoje que meu povo esqueceu. A reverência, a troca, a energia viva da natureza. E essa jovem, Maya, é a ponte entre os nossos mundos. Ela sente o que esquecemos.

A xamã permaneceu em silêncio por longos instantes. Observava cada gesto, cada palavra dita e não dita. Depois, apontou para os homens ajoelhados.

— E esses?

Maya tomou a palavra:

— Eles viram o que não deviam. Mas, se formos como eles e retribuirmos com violência, não seremos diferentes.

— Então o que sugere? — perguntou o xamã.

— Que fiquem na aldeia até a lua cheia — disse Maya. — Que cuidem da terra, aprendam com ela. Que vejam o que destruíram e conheçam o valor do que ignoraram. Depois... serão soltos. Mas não poderão contar o que viram. A floresta cuidará disso.

A velha anciã assentiu devagar.

— Que assim seja.

Ele então fitou Volkar mais uma vez.

— E você... voltará?

Volkar respondeu, com os olhos dourados brilhando sob a luz do fogo:

— Não sei ainda. Mas algo me prende aqui mais do que os cristais.

A xamã sorriu de leve.

— Então a Mãe Terra já começou o seu trabalho em você, guerreiro. Que ela seja generosa.

O Julgamento dos Invasores e a Sabedoria da Xamã.

A Revelação da Alma Gêmea

O círculo ao redor da fogueira havia se dissipado, mas a presença dos anciãos permanecia. A noite parecia mais densa, como se até o tempo aguardasse em silêncio a decisão que se formava entre mundos.

A xamã, envolta em véus naturais, com os cabelos prateados como raízes de luar, se aproximou. Seus olhos tinham a profundidade de quem já havia visto muitas eras passarem. Em suas mãos, o bastão de cura adornado com penas de pássaros que só nasciam à beira da caverna sagrada.

— Vejo que o cristal não é a única coisa que você veio buscar — disse ela com voz baixa, mas firme, olhando para Volkar. — Sente isso, não sente?

Volkar manteve os olhos em Maya por um instante antes de responder:

— Sinto algo que não consigo explicar. Desde que a vi, algo pulsa aqui — ele tocou o próprio peito. — Como se ela fosse o centro de tudo o que perdi... e de tudo o que preciso reencontrar.

O chefe da tribo, um homem de cabelos longos e pele marcada pelo tempo, avô de Maya, fitava a cena com atenção e sabedoria silenciosa. Ele deu um passo à frente e ergueu a mão.

— E é por isso que pedes a semente da Árvore da Energia? Para salvar seu povo... ou porque algo em ti já sabe que a missão é muito maior do que tua nave?

Volkar respirou fundo, e dessa vez sua voz saiu mais suave.

— Peço permissão. Para levar a semente da árvore e alguns cristais energizados. Minha nave precisa ser restaurada, mas o que vi aqui hoje... A forma como vocês tratam o que é sagrado... É o que meu planeta perdeu. Precisamos resgatar isso.

Ele hesitou.

— E se eu tiver permissão, gostaria de levar Maya... e sua mãe. Para nos ensinar.

A xamã, de olhos cerrados, estendeu as mãos para Maya.

— Venha, neta da Terra. Traga tua essência até aqui.

Maya deu dois passos à frente, seu coração disparado. Não compreendia ainda o que a anciã queria, mas algo dentro dela dizia que era o momento. A xamã então fez um gesto para Volkar.

— Guerreiro estelar, segure as mãos dela.

Ele hesitou por um segundo, e então estendeu as mãos, firmes, quentes, fortes. Quando os dedos de ambos se tocaram, um brilho começou a pulsar do contato, e os olhos dos dois mudaram de cor ao mesmo tempo: os dele, antes dourados como as supernovas, agora irradiavam um azul celeste profundo; os dela, antes âmbar terrosos, agora vibravam em tons lilás e prata.

Um murmúrio ecoou entre os presentes. O ar ficou denso, pesado e mágico. A própria fogueira pareceu silenciar suas labaredas.

— O laço foi selado — murmurou a xamã com reverência. — A Mãe das Estrelas uniu o sangue antigo ao ventre da Terra. Estás diante de tua companheira predestinada, Volkar de Zyron.

O guerreiro se ajoelhou, dominado por uma emoção que jamais havia sentido antes. Ele pousou a mão sobre o peito, com o punho fechado, e baixou a cabeça diante de Maya.

— Maya... você é muito mais do que eu poderia imaginar. Você é o elo perdido. A resposta da profecia. A razão pela qual eu ainda respiro.

Ele a fitou com reverência.

— Não quero apenas sua ajuda. Quero sua presença. Sua alma está ligada à minha. Não por escolha, mas por destino. E se aceitar... quero levá-la comigo. Para Zyron. Para o meu mundo. Como minha companheira de alma. Como minha rainha.

Maya, ainda com os olhos vibrando em luz, não respondeu de imediato. A revelação era intensa demais, e dentro dela, memórias ancestrais começavam a despertar, como se algo há muito adormecido estivesse finalmente florescendo.

A xamã sorriu, emocionada.

— O universo segue seu curso. Mesmo entre estrelas e florestas, quando duas almas estão entrelaçadas, o destino encontra o caminho.

O chefe da tribo assentiu.

— Vocês têm minha bênção.

E enquanto os dois ainda mantinham as mãos unidas, um fio de luz dourada os envolveu — como um selo espiritual, ancestral e sagrado — e se elevou ao céu, unindo os mundos.

O Presente da Árvore Viva

O céu já tingia o horizonte com tons azulados, uma aurora suave que pintava a floresta ao redor da caverna com luz translúcida. Maya caminhava à frente, os pés descalços tocando o chão sagrado, como se a própria Terra reconhecesse seus passos. Volkar a seguia em silêncio, o coração ainda vibrando com a revelação que mudara tudo o que acreditava ser apenas missão.

A xamã, a alguns passos atrás, entoava um cântico baixo, antigo, invocando as bênçãos da Grande Árvore.

Ao entrarem na câmara interna da caverna, o lago resplandecia como um espelho vivo. No centro, a Árvore da Energia, com seu tronco cristalino e folhas cintilantes, se erguia como um farol da natureza. De seus galhos pendiam frutos translúcidos em tons de âmbar e esmeralda, como joias vivas.

Volkar estancou.

— Nunca vi nada assim… Ela… está viva. Ela me sente?

Maya assentiu, parando ao lado dele.

— Ela sente tudo. Não responde a ordens. Só a pedidos sinceros. É a guardiã do ciclo. Quando respeitada, ela entrega seu dom.

A xamã aproximou-se, com as mãos estendidas, orientando com um gesto solene.

— Volkar de Zyron… se tua intenção é verdadeira, ajoelha-te diante dela. Pede com teu coração. A árvore escuta os que carregam verdade.

O guerreiro se ajoelhou, ainda vestindo o traje camuflado como nativo, mas com a alma já despida de arrogância, e pôs uma das mãos sobre o peito.

— Guardiã da vida e da energia, eu venho de um mundo que esqueceu as raízes do respeito. Pedimos apenas, minha raça e eu, uma segunda chance. Levo comigo o amor da tua filha, Maya, e peço tua bênção. Permita-me levar uma semente. Uma única centelha, para recomeçarmos com honra.

O silêncio caiu por alguns instantes… até que um leve tremor percorreu o chão. A árvore vibrou, e uma de suas folhas brilhou intensamente antes de cair suavemente sobre a superfície do lago. Ao tocar a água, um fruto translúcido, como cristal líquido, se desprendeu e flutuou até a borda.

Maya caminhou até ele, com reverência, e o recolheu com ambas as mãos. O fruto pulsava luz, como se tivesse vida própria. Ela se virou para Volkar.

— Ela aceitou teu pedido. Entregou uma de suas sementes. Essa semente pode curar… mas também ensinar. Ela não é tua. É de todos que aprenderem a respeitar.

Volkar recebeu o fruto com as duas mãos e baixou a cabeça em reverência.

— Prometo, Maya. Pelo meu sangue e pela minha alma, que Zyron será diferente. E que tua linhagem nunca será esquecida entre nós.

A xamã se aproximou.

— O tempo corre. A luz que ainda resta se apressa para ver vocês partir. Amanhã, ao amanhecer, leve a semente e os cristais. Leve também a mensagem. Mas saiba… o amor que você encontrou aqui… é eterno. Proteja-o. Ou perderá mais do que um planeta.

Volkar fitou Maya com intensidade.

— Voltarás comigo?

Ela hesitou.

— Preciso conversar com minha mãe… e com meu avô. Mas… sim. Sinto que minha missão está entre as estrelas.

Ela sorriu. Ele a envolveu com o olhar de quem reencontrou o que nem sabia que procurava.

E a Árvore pulsou uma última vez. A luz iluminou o lago e os uniu em um abraço sagrado de raízes, águas e cosmos.

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